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Ricardo Vale planeja priorizar a redução da pobreza no DF
Eleito para seu segundo mandato de deputado distrital, Vale demonstra sintonia fina com a pauta do terceiro governo de Lula
Ao assumir seu segundo mandato como deputado distrital pelo PT, Ricardo Vale adiantou sua prioridade número um: trabalhar para a redução da pobreza na capital federal. A despeito do conturbado início de ano e da tentativa de golpe deflagrada no último dia 8 de janeiro, com ataques simultâneos às sedes dos 3 Poderes da República, Vale ressalta seu otimismo e esperança em dias melhores para Brasília e para o país.
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Você foi eleito deputado distrital pela primeira vez em 2014. O que destacaria desse mandato e que até hoje faz seus olhos brilharem?
Tenho muito orgulho do mandato que eu fiz aqui na Câmara. Foi um período muito conturbado para nós do PT. Logo que eu me elegi, primeiro, Agnelo (Queiroz, ex-governador do DF) não foi reeleito, foi muito mal votado. Em seguida, houve o impeachment da Dilma (Rousseff), a prisão do Lula. Depois começamos o ‘Lula Livre’. Naquela conjuntura, na qual se começou todo um processo para destruir o PT e a imagem dos petistas. Enfim, não foi fácil aquele mandado. Nós passamos praticamente o ano tentando impedir o impeachment da Dilma.
Mesmo assim, tivemos 26 projetos aprovados. Muito disso foi fruto de audiências públicas aqui com vários segmentos da sociedade. Leis importantes como a Lei de Combate ao Machismo nas Escolas, que tem a ver com a pauta da mulher, além da questão dos assentos preferenciais no metrô para idosas, para mulheres gravidas, mulheres com criança de colo, deficientes físicos e por aí vai. Tivemos projetos na área de cultura, esporte e educação.
Nós mudamos a lei do Programa de Descentralização Financeira e Orçamentária (PDAF), que hoje permite a um parlamentar botar dinheiro direto nas escolas públicas do DF. Das lutas que nós travamos, al- gumas coisas a gente não conseguiu aprovar, mas foram lutas importantes. A Lei do silêncio, que foi uma luta que eu travei aqui, e hoje em dia impede de ter música em muitos locais.
Eu tenho muito orgulho daquele mandato e esse novo mandato não será diferente. Nós vamos fazer um mandato muito ligado aos movimentos sociais, daremos uma atenção especial para os mais pobres mesmo. A gente tem visto muita gente pobre e desempregada. A gente quer de alguma forma dar uma atenção especial para essa população carente do DF. O que me enche os olhos, nesse mandato, é ajudar os pobres do DF.
Em 2018, você não foi eleito, mesmo tendo obtido quase 8000 votos. A que você atribui essa derrota?
Uma delas foi a conjuntura política mesmo. Todos nós do PT fomos muito mal votados naquela eleição. Chico Vigilante viu sua votação cair. A própria Arlete (Sampaio), que já tinha sido vice-governadora, deputada, enfim, não foi bem votada. Eu não fui bem votado. (Geraldo) Magela, um cara que já foi secretário, deputado federal, também. O PT foi massacrado. Esse foi um fator. A gente também errou muito a nossa comunicação. Fizemos muita coisa boa, mas não conseguimos nos comunicar.
Nós estamos, agora, organizando tudo. Vai ser tudo maravilhoso. Eu diria que o grande culpado mesmo de a gente ter ficado com o primeiro suplente _ com mais 2 mil votos, eu teria ficado na Câmara _ foi a conjuntura política. Mas eu não abri mão de defender o que eu acreditava. Eu era presidente da Comissão de Direitos Humanos, que defendi negro, LGBTQI, mulheres e minorias, foi muito atacada pelo (Jair) Bolsonaro. Acho que nós perdemos em 2018 por conta disso, de sermos vivas bandeiras daquilo em que a gente acredita. E agora voltamos por conta disso também.
O que traz você de volta à Câmara Distrital depois de 4 anos?
Primeiro, um desejo coletivo de um grupo político. Sozinho não voltaria. Muitas pessoas acreditaram que era possível a gente voltar. Muita gente se dedicou, muita gente me incentivou, vamos lá que pode dar certo. Isso pesou muito e acho que isso foi o grande motivo que fez eu colocar meu nome de novo, foi a quantidade de pessoas que falavam e acreditavam que era possível. Que era possível a gente ganhar.
Segundo, foi que a gente se organizou, começou um trabalho com tempo, organização e aproveitamos essa pauta, né? A pauta da volta da democracia, o Lula como presidente, a gente colou muito na imagem e nas bandeiras do PT.
Encontramos uma sociedade muita iludida, muita gente sem esperança no Bolsonaro, em meio a uma cultura de intolerância, de ódio. Enfim, a gente foi em uma linha contrária a isso e deu certo. Estamos aqui. Estou muito feliz e confiante que vamos fazer um bom mandato.
E o que você pretende fazer nesse mandato? Algo específico? Algum projeto que você tem vontade de fazer, alguma continuidade do que você começou em 2015?
Eu assumi alguns compromissos importantes com segmentos da nossa cidade que acreditaram nesse projeto. E o primeiro deles que eu podia colocar, o que vai ser um projeto e que não vai ser fácil, mas eu assumi um compromisso com os estudantes e vou trabalhar pela tarifa zero, para garantir que estudantes andem em ônibus e metrô de forma gratuita. Não só para escola, como faculdade e também nos deslocamentos para atividades esportivas, para um curso, a gente quer ampliar o passe livre. Eu devo estar protocolando nos próximos dias esse projeto aqui na Câmara.
Um outro projeto prioritário é a volta do debate da Lei de Silêncio. Muita gente de bares, restaurantes e comércio veio, que acreditou e pediu para que a gente voltasse para a Câmara, quer tentar solucionar esse problema, que é grave aqui no DF, pois desemprega muita gente, não só músico, como garçons e cozinheiros, que já deixou muitos empresários pequenos e médios a ver navios. Então a gente vai trabalhar nessa questão.
Uma outra prioridade será a agricultura familiar. Parece que não, mas o DF tem uma produção agrícola grande. Quando eu fui deputado pela primeira vez, propus uma lei que obrigava o Governo de comprar 30% da produção da agricultura familiar local e destinar para a alimentação escolar do DF. Eu quero aumentar isso para 50%, que o governo compre mais, já que é uma alimentação saudável, de qualidade, sem agrotóxico, Com isso você incentiva o emprego no campo, né? Já que na cidade a gente tem visto muito desempregado.
Já a Lei do Machismo, aprovada em 2017 não teve a atenção que merecia pelo Governo Ibaneis. A gente tem visto muitas mulheres sendo vítima de violência, muito feminicídio, muita violência contra a mulher. E eu quero que esse projeto, que essa lei, ela realmente vigore, que a gente possa realmente discutir isso nas escolas públicas, para que daqui
Pol Tica
a 8 a 10 anos, mais ou menos, a gente tenha uma sociedade menos machista.
A gente tem que fazer um processo de educação. Isso leva um tempo. Só com as escolas, através da educação, que a gente vai transformar essa realidade.
Por último, também assumi um compromisso com os profissionais da educação, os professores, diretores da escola. A ideia é aproximar as escolas da comunidade, levar a cultura para dentro das escolas, esportes através de projetos. Escola tem que estar perto da sociedade.
Neste início de ano, a gente viu acontecer coisas a gente jamais imaginaria que poderia acontecer novamente. O Brasil sofreu uma tentativa de golpe, as sedes dos 3 Poderes da República foram atacadas e destruídas. Muita coisa se atribui a responsabilidade disso à inoperância das forças policiais do DF. Houve negligência do GDF?
Acho, primeiro, que tem um grande culpado para que as coisas tenham chegado a esse ponto: o ex-presidente Bolsonaro. Ele tencionou demais as instituições, foi um cara que dividiu a sociedade, o tempo todo falando de urna eletrônica, falando que se perdesse a eleição, não aceitaria o resultado. E assim foi inflando muita gente. A consequência foi essa quantidade de gente intolerante, gente que é pautada pelas ‘fake news’ e ainda utiliza o nome de Deus. E foi justamente essa massa que tentou... Gente que foi manipulada, gente do Exército, do governo bolsonarista, do agronegócio, gente poderosa, muitos dos quais ficaram acampados em frente aos quarteis.

E aí veio o problema da tentativa de golpe. Houve falhas grotescas, não só do Governo DF, da Secretaria de Segurança, mas também do Governo Federal. Foi um fato triste, lamentável da nossa história, mas isso não está resolvido, né? Não resolveu. A gente tem que destruir o bolsonarismo e temos que fortalecer a nossa democracia. Esse pessoal que está aí, esse pessoal que não acredita e nem respeita as instituições, ainda está aí fora, e tem gente que financia, gente poderosa que não gosta de democracia, só quer saber de ganhar dinheiro.
Qual sua opinião sobre o afastamento do governador Ibaneis? Achou necessária ou foi um exagero?
Eu acho muito ruim o que aconteceu, afastar o governador. Eu acho tudo isso muito ruim, assim como o impeachment de presidente, de gente que foi eleita pelo povo. Agora o afastamento (de Ibaneis) foi correto diante de tudo que aconteceu, já que ele era responsável pela segurança do DF, mas tem que ter um prazo e fazer investigação séria, procu- rar identificar os culpados de tudo isso. O governador falhou. Confiou em gente que não deveria. Tem de fazer a CPI e punir os responsáveis.
Despois desse começo de ano conturbado, quais são suas expectativas?
Apesar de tudo o que aconteceu recentemente, toda essa crise, tentativa de golpe, estou com muita esperança no país. Muito esperança no governo Lula. Acho que a sociedade brasileira experimentou dois modelos de governo. Teve muita confusão, muita mentira na cabeça das pessoas, mas agora ter um governo democrático de volta, muita gente que está aí, especialmente os mais jovens, não lembram o que foi o governo Lula, das transformações que foram feitas, a inclusão social assegurada. Estou cheio de esperança de que isso voltará.
Dá para manter todo esse otimismo também no DF? Acho que a partir do momento que você tem uma mudança nacional, você tem uma onda positiva vindo aí, de um governo sério e democrático. Isso chega aqui também. As políticas públicas irão chegar aqui também. As políticas públicas do governo Lula vão chegar ao DF. A área social do governo Ibaneis, por exemplo, deixou muito a desejar. Ele mesmo reconheceu isso. E a partir do momento que o governo Lula retomar suas políticas sociais, isso vai ter reflexos no DF, seja Ibaneis ou Celina, a gente vai navegar nessas ondas boas, onde espero que esse país entre e não saia nunca mais.