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Maíra Carvalho: “No cinema, eu me sinto em casa”

exatamente assim que a diretora de Arte, pesquisadora e produtora Maíra Carvalho diz que se sente quando está em uma sala de cinema.

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Com mais de 40 produções cinematográficas em seu currículo – o que inclui o filme ‘O último cine Drive-In’, de seu irmão Iberê Carvalho, e com o qual ganhou os prêmios de Melhor Direção de Arte no Festival de Gramado e no Guarnicê, ambos em 2015 – de mais 2 filmes: “O Homem Cordial” e “Maria”, ambos de seu irmão. Neste bate papo com a revista Plano B, ela fala da grande expectativa de melhora do setor audiovisual com o fim do governo Bolsonaro e a retomada dos incentivos à cultura brasileira, um dos compromissos assumidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste seu terceiro mandato.

O que te levou a trabalhar com Cinema?

Foi uma vontade muito grande de criar desde cedo, desde criança. E a partir do momento em que eu descobri que era possível se viver de cinema... ali no final dos anos 90, início dos anos 2000, quando a gente teve a retomada do cinema brasileiro, comecei a pensar nisso de uma forma mais pragmática e pensar em o que eu teria que fazer para viver de cinema.

Então, foi o amor à arte que me levou a trabalhar com o cinema. E as pessoas a minha volta que sempre me apoiaram, minha parceria com o meu irmão Iberê Carvalho, um apoio muito grande dos meus pais e da família, tem uma parceria grande também com minha outra irmã, Jana Ferreira.

Acho que foi isso. Já a área que me atraiu desde sempre foi a direção de arte.

Está produzindo algum trabalho novo? Pode falar um pouco?

No momento acabei a filmagem de um longa-metragem, o Cartório das Almas do diretor Leonardo Belo. Um filme fantástico, muito interessante, que fala sobre a relação vida e morte.

Esse filme terminou no meio de dezembro de 2022 e agora, no início de ano, estou no período de organização do que vai ser produzido durante o ano, mas tem 2 filmes para serem lançados em 2023: ‘O Homem Cordial’ de Iberê Carvalho e ‘Maria’, também de Iberê Carvalho.

Talvez tenha outros filmes para serem lançados e alguns filmes a serem rodados, ainda a serem confirmados. Assim, estou sempre fazendo alguma coisa em fases diferentes.

O Governo (local e Federal) tem dado incentivos ao setor cultural? Ao cinema especificamente?

A gente vive um momento complicado ainda, apesar de já ter tido a mudança de governo. Mas o novo governo, que tem um empenho muito grande em apoiar e financiar a cultura, as artes em geral e o cinema especificamente, eles precisam de um tempo para agir e para essas ações chegarem até nós realizadores.

Então, a gente ainda vive um momento de ressaca dos 4 anos de Governo Bolsonaro, que foram bem difíceis para gente, junto com a pandemia, que agravou toda a crise. De qualquer forma, vivemos um momento de muita esperança nacionalmente.

No governo local, a gente adoraria que houvesse mais incentivo e mais motivação de apoio a cultura, mas o que a gente vê do Governo Ibaneis, não é exatamente isso. Há uma morosidade e uma lentidão. Diferentes dos Governos anteriores. A gente esperava que houvesse mais incentivo, mas quem sabe o Governo Federal sendo mais ativo, isso também influencia o local.

Brasília está na rota de grandes cineastas? Produções? Comparado ao eixo Rio-SP?

Essas produções, comparada ao eixo Rio-São Paulo, não. Brasília não chega nem perto. Lá que se concentra maior parte das produções e as grandes produções, lá onde se concentra dinheiro, lá onde se concentra a maior parte dos profissionais do cinema brasileiro. Brasília não tem estrutura para ser equiparar a esses dois estados e não tem financiamento. Então acaba que muitas pessoas saem daqui para esses estados, para esse eixo.

Embora Brasília tenha um potencial muito grande, até por suas características climáticas, de ter um período muito grande de seca, essa previsibilidade do clima é ótima para se organizar produções e filmagens, e várias outras questões que facilitam as produções no DF, mas infelizmente não está na rota das grandes produções do Brasil.

Após a crise da Covid, o setor da produção de filmes já voltou ao mesmo ritmo antes da Covid?

Não voltou como era antes, porque também teve a questão política que agravou muito a situação, mas o mercado no eixo Rio-São Paulo está muito aquecido pelos streamings, a produção mais comercial, com financiamento privado e estrangeiro está muito aquecida. Mas a produção independente, que é o formato que se produz mais no DF, por exemplo, não voltou como era antes, mas não só por conta da pandemia, mas principalmente pela questão política.

Considerando o preço das entradas dos cinemas, para cobrir os altos investimentos. O cinema consegue cumprir um papel social de inclusão para quem não pode pagar entrada?

Não, o setor exibidor do cinema, ele em geral não tem esse caráter social, o que faz esse caráter mais social de pulverização e de acesso ao cinema, são mais os cineclubs, as ongs, as faculdades, as escolas. O setor exibidor comercial não supre essa função de forma alguma. E não só as entradas são caras, mas os locais são distantes em geral, que dificulta o acesso, né?

Hoje os cinemas estão concentrados em shoppings, o que já exclui grande parte das pessoas que são convidadas a entrarem nos shoppings, né?

A pandemia prejudicou muito as salas de exibição, estima-se que somente 40% do público de sala de cinema tenha voltado às salas depois da pandemia. Quando a gente ficou isolado e não existia sala de cinema aberta, a não ser os drive-ins.

Já o drive-in de Brasília segue de vento em popa. Durante a pandemia esteve sempre lotado e segue com o público muito bom, mas por ter uma característica muito específica, né? Então as pessoas vão pelos eventos também, não somente pelo cinema, mas é isso o setor está com um déficit, em relação ao período antes da pandemia, de 60% de público, que se perdeu e que se acostumou a ver filmes em casa, no sofá. Com essa facilidade do acesso, promovida pelo streaming.

Apesar dos percalços, qual sua expectativa para o cinema feito no DF

Estamos otimistas e esperamos que aumente as produções para o DF e também que aumente o número de público para salas de exibição. Pois assistir um filme em uma sala de exibição é sempre uma experiência única. E bem diferente de ver filmes em casa. Por isso, eu queria agradecer a oportunidade de a gente falar sobre o cinema, o que é sempre bom, e dizer que estou disponível para outras trocas. Obrigada e seguimos em frente

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