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“Liderança feminina”
Na última semana de dezembro de 2022 o Brasil assistiu ao anúncio das 11 mulheres que desempenharão papel de Ministras de Estado no terceiro mandato do presidente Lula. Nunca na história deste país a mulher teve tanta oportunidade de protagonismo no âmbito do governo. E pelo que tudo indica, a participação de mulheres na tomada de decisões importantes é uma tendência que deve se consolidar num futuro próximo. Para uma reflexão sobre liderança feminina, Luciana Campos convidou a educadora Natália Leite para esta entrevista. Jornalista de formação, Natália lançou, em 2014, junto com a comunicadora Ana Paula Padrão, o projeto Escola de Você, um portal de educação à distância voltado ao incentivo do empreendedorismo e da autoestima feminina. Em 2015, associou-se à educadora e administradora Soraia Schutel para fundar a Sonata Brasil, empresa gaúcha voltada para o desenvolvimento de líderes entre mulheres.
LC: Natália, existe diferença entre o estilo de liderança feminino e o masculino? Com que peculiaridades a mulher pode contribuir, estando no exercício de um cargo de liderança?
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Natália Leite: Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que, quando falamos do estilo de liderança masculino ou feminino, não nos referimos necessariamente ao homem ou à mulher.
Estamos falando de princípios vitais, polaridades complementares presentes em todo ser humano. Essa premissa é necessária para não se interpretar erroneamente o que eu vou falar. Não obstante, quando trazemos mais mulheres para cargos de liderança numa empresa, aumentamos algumas características que estão mais presentes no sexo feminino, como conexão com o interior, com o sensorial, escuta, empatia, interesse genuíno em chegar a soluções diplomáticas para a geração e preservação da vida. No mundo dos negócios, temos um excesso de características masculinas, que precisam ser equilibradas: dureza, assertividade, foco, produtividade. Esse mundo ainda está muito permeado pela lógica industrial, cartesiana, pela compartimentalização sem integração. Entretanto, como foi evidenciado pela própria pandemia, o mundo está precisando desse olhar de maior atenção ao indivíduo, à saúde física e mental. As pessoas estão questionando o modelo antigo de produção e querendo promover mudanças em suas vidas que contemplem suas necessidades pessoais.
LC: É possível formar líderes? O que é necessário estar no currículo desse tipo de capacitação?
Natália Leite: Sim! É claro que existem pessoas que têm uma capacidade de liderança natural, mas mesmo quem não nasceu com essa facilidade tem como se desenvolver para caminhar nessa direção. Acredito que a maior parte das pessoas tem um bom potencial para, dentro da sua própria realidade, se desenvolverem e se tornarem referências. Ao contrário do que ocorria no passado, as lideranças do nosso tempo, que é um tempo de transformações muito rápidas, precisam ter outras competências além do conhecimento técnico. Essas competências não fazem parte do currículo da escola tradicional, não são óbvias e podem ser ensinadas: humildade, para nos relacionarmos com todos os tipos de pessoas, pois todos podem trazer contribuições importantes; antifragilidade e a capacidade de melhorarmos a partir do erro; engajamento, para nos comprometermos com o projeto; intuição, que é a capacidade para ver além do que os olhos enxergam, com base no conhecimento acumulado e na própria sensibilidade.
LC: Segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e do relatório Women in Businesss da Grant Thornton, de 2002, ainda temos proporcionalmente poucas mulheres em cargos de liderança, tanto na esfera pública quanto na privada. Faltam mulheres capacitadas para exercer esses cargos?
Natália Leite: Definitivamente não faltam mulheres capacitadas para isso. Nós já somos maioria nas escolas e universidades. No entanto, há duas grandes barreiras: as externas, que têm a ver com cultura e com a estrutura da sociedade, e as internas, que têm a ver com autoestima. Externamente, existem várias barreiras invisíveis impostas pela cultura, verdadeiros acordos tácitos sociais, como, por exemplo, a mulher ter que cuidar dos filhos e dos idosos, ter que assumir a maior parte das tarefas domésticas. Internamente, mesmo quando a mulher é muito preparada e capacitada, é frequente que mesmo assim ela não se ache pronta, sempre precisando de mais um curso ou mais um título. Para vencer as barreiras internas, é necessário trabalho individual. Para vencer as externas, é preciso nos organizarmos para trabalhar com outras estratégias. Daí a importância do trabalho das guerreiras sociais, que combatem e fazem barulho denunciando o que não está bom, e do papel das construtoras sociais, que focam em ajudar cada mulher a se trabalhar internamente para construir autoestima e segurança e a enxergar o valor que têm.
LC: Por que é importante a ampliação da participação de mulheres nas diretorias de empresas privadas e órgãos públicos?
Natália Leite: A sustentabilidade dos negócios e das relações depende disso. O jeito antigo de gerenciar, focado
