3 minute read

CONTOS CLÁSSICOS

Mas os jovens leitores não concordaram com este final e enviaram inúmeras cartas para o jornal, pedindo mais capítulos de Pinóquio.

Mas por que Collodi pretendia terminar a história de Pinóquio desta forma? Vezzani acredita que ele “queria terminar a história com uma espécie de lição de moral, ou seja, se você não for um bom menino, pode acontecer algo ruim”.

Advertisement

Por fim, Collodi foi convencido a continuar a história, que acabou se tornando um imenso sucesso em todo o mundo — mas só depois da morte do autor.

Reflexo de uma época

Com as aventuras de Pinóquio, Collodi nos apresenta os problemas do seu tempo.

“O que caracteriza o romance original é que ele mostra a imagem da Itália daquela época, mas, ao mesmo tempo, é um romance universal. Seu protagonista, Pinóquio, comete erros com frequência, mas logo os reconhece devido ao seu caráter bondoso”, diz Vezzani.

“Ele vive diversas aventuras que o fazem amadurecer e permitem que ele compreenda que as pessoas devem equilibrar a parte divertida da vida com a necessidade de trabalhar e cumprir com suas obrigações”, acrescenta.

“Estes são os temas universais do romance, que fazem com que todos reconheçam alguma parte do livro nas suas vidas e explicam por que é um dos livros mais traduzidos do mundo”, conclui Vezzani.

A história de Pinóquio mostra os danos causados pela pobreza e as dificuldades para seguir adiante:

“- Como se chama o seu pai?

- Gepeto.

- E o que ele faz para ganhar a vida?

- É pobre.

- E ganha muito?

- Ganha o suficiente para nunca ter um centavo no bolso.”

A imagem de Gepeto criada por Walt Disney, de um relojoeiro bonachão sem grandes dificuldades financeiras, está longe do personagem original.

No livro de Collodi, Gepeto não só é muito pobre, como também não conserta relógios — ele é carpinteiro. E, embora seja apresentado como um velhinho carinhoso, seus vizinhos o consideram “um verdadeiro tirano com as crianças”. E este tipo de contradição é comum ao longo do livro.

“Podemos ver uma sátira da corrupção e críticas das classes sociais”, afirma Vezzani.

“Mas, ao mesmo tempo, também podemos ver os problemas que a Itália estava sofrendo naquele momento, como a pobreza, por exemplo. Gepeto tem dificuldade para conseguir comida. E Pinóquio também. A população italiana também enfrentava essas dificuldades. Isso se perde nas versões cinematográficas, como a da Disney.”

“Collodi conseguiu criar uma história para crianças, que também expressa algo profundo sobre a sociedade, sobre a dificuldade de tornar-se adulto. Ele criou Pinóquio, cuja humanidade é excepcional”, acrescenta.

Grandes diferenças

Junto com Pinóquio, o Grilo Falante também aparece como um dos personagens mais queridos do público infantil, conhecido como a voz da consciência na versão da Disney. Mas, logo no começo do livro original, Pinóquio mata o grilo quando ele está dando conselhos.

“Ao ouvir estas últimas palavras, Pinóquio saltou enfurecido, pegou no banco um martelo de madeira e o atirou contra o Grilo Falante. Talvez ele não acreditasse que fosse acertá-lo, mas por azar atingiu-o na cabeça, tanto que o pobre Grilo apenas teve fôlego para fazer ‘cri-cri-cri’ antes de ficar grudado na parede.”

A partir deste momento, o Grilo Falante ainda se aproxima em algumas ocasiões, mas em espírito.

“É algo que a Disney nunca faria porque poderia ser considerado muito sombrio”, avalia Vezzani.

E a Fada Azul é boa, mas tortura Pinóquio, fazendo o boneco acreditar que ela morreu por culpa dele.

“Aqui jaz a menina de cabelo azul que morreu de dor após ter sido abandonada por seu irmãozinho Pinóquio.”

Percebe-se que, no livro, a figura da fada-madrinha tem um caráter mais lúgubre em algumas ocasiões.

Contos Cl Ssicos

“Fiquei muito impressionada com a mistura da presença da morte sempre seguida de risadas, da comédia, o que me pareceu algo muito adulto”, afirma Barbera.

“É uma história de aventura na qual Pinóquio vive diversas peripécias, algumas das quais ficaram muito famosas com as adaptações para o cinema, como na versão da Disney. Mas, no romance original, existem diversos personagens e aventuras que nunca foram incluídos nas adaptações cinematográficas. Podemos observar que o romance original inclui muitos episódios que as pessoas não conhecem porque só estão no romance”, explica Vezzani.

Para quem ainda não leu o livro, Barbera afirma que os leitores vão descobrir “um texto que pode nos dizer algo sobre o que é ser humano, o que é transformar-se em um ser humano e o que é crescer”.

This article is from: