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Os perigos do cartão de crédito

Imagine a seguinte situação: um indivíduo que ama assistir filmes em casa vai almoçar num Shopping Center. Lá, resolve entrar numa loja de eletrodomésticos e se depara com uma TV de última geração que custa R$ 4,8 mil. Ele lembra então que tem R$ 8 mil na conta corrente do banco e nenhuma reserva financeira. Ou seja, comprar a TV à vista e ficar com R$ 3,2 mil está fora de cogitação. Quando já está indo embora um vendedor lhe pergunta: Gostou? Você pode levar por R$ 399 em 12x no cartão/sem juros. Bingo! O estrago está feito.

Hoje é bastante comum ouvir “educadores financeiros” nas redes sociais incentivando o uso do cartão de crédito como principal modalidade de pagamento. A justificativa estaria nas “milhas” ou até mesmo um “cashback”. O problema é que nas redes sociais quem tem voz geralmente não estudou profundamente sobre o que fala, e provavelmente nunca ouviu falar de Hebert Simon, racionalidade limitada ou economia comportamental.

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Os programas de milhas de cartões de crédito no Brasil são os “benefícios” mais comuns e costumam compensar os clientes por suas compras, normalmente por meio de pontos que podem ser resgatados por passagens aéreas, produtos, serviços e outros incentivos oferecidos pelos programas. Enquanto pelo cashback os usuários podem receber um percentual de suas compras de volta na fatura do cartão ou diretamente numa conta bancária.

No entanto, como diz o ditado: “Não existe almoço grátis!” O que não te contaram é que 99% dos seres humanos irão mudar o padrão de consumo com esses tipos de “benefícios”, e o destino é apenas um cedo ou tarde: o endividamento. E é aí que cartão de crédito irá gerar dinheiro. Obviamente não para você, mas para o sistema financeiro. Eles não estão preocupados se você conseguirá pagar sua fatura do cartão em dia, aliás é o contrário.

Como geralmente o sistema financeiro ganha com os cartões de crédito:

1) Taxas de juros: Quando os usuários não pagam a totalidade da sua fatura do cartão de crédito no prazo de pagamento, eles são cobrados por juros sobre o saldo devido.

2) Taxas de manutenção: Alguns bancos cobram uma taxa mensal ou anual.

3) Taxas de pagamento atrasado: Alguns bancos cobram uma taxa extra se o pagamento da fatura do cartão de crédito estiver atrasado.

4) Taxas de saque: Alguns bancos cobram uma taxa extra pelo uso do cartão de crédito para fazer saques em dinheiro.

5) Receita com compras: Os sistemas financeiros também ganham uma pequena porcentagem das compras feitas com o cartão de crédito.

E como funciona sua mente?

Um dos ramos de estudo que mais cresceu nas últimas décadas foi a economia comportamental, que mistura o que sabemos sobre psicologia e economia. E as conclusões são que nós humanos não somos tão racionais como imaginávamos. É por isso que somos facilmente seduzidos por palavras como “liquidação”, “desconto”, “oportunidade” etc.

Em janeiro de 2021, o Banco Central informou que o endividamento das famílias havia alcançado 49,1% da renda disponível, o maior patamar desde julho de 2016. Isso significa que as famílias estão gastando quase metade de sua renda para pagar dívidas. O crédito pessoal e o rotativo do cartão de crédito são as principais fontes de endividamento das famílias brasileiras.

Se você quer ser o mais próximo do racional em suas decisões de consumo, você precisa ter a “dor” de trocar o dinheiro por mercadorias no ato da compra. E não num futuro abstrato. Do contrário você terá o prazer do consumo sem nenhum ônus imediato de ter menos dinheiro na conta. Além disso, é muito importante você saber exatamente quanto você ganha por hora de trabalho. E quando você estiver comprando qualquer coisa tente sempre comparar e se perguntar, isso vale x horas ou x dias de trabalho? Obviamente, ao pagar à vista sobram bons argumentos para negociar descontos.

* Humberto Nunes Alencar, servidor público, Analista de Orçamento do Ministério do Planejamento, mestre em economia e doutorando em Direito pelo IDP.

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