Vozes da modernidade: A lírica de Adoniran Barbosa como ponto de encontro do samba e da crônica

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Se nas décadas de 50 e 60 o Brasil se encontra em um momento transitório no encaminhar da modernização, a capital paulistana já tinha se consolidado como o protótipo de desenvolvimento urbano a ser adotado pelo país, pois surge como precursora desse mesmo fortalecimento industrial. Sua idealização como cidade modelo é concomitante à propagação de uma determinada concepção de desenvolvimento que serviria como base ideológica para a implantação do capitalismo industrial no Brasil. 2.1.1. Desenvolvimento e progresso O desenvolvimento de São Paulo é demonstrativo de como a modernidade é consequência de uma série de fatores ligados à expansão das atividades e das trocas entre seres humanos. Considerando que antes da primeira metade do século XX também estava inserida na estrutura tradicional de relações campo e cidade, de onde esta era dependente da economia daquela, São Paulo passou a desenvolver farta indústria na década de 20, consolidando-a nos decênios seguintes (MATOS, 2007, p. 61). O aparecimento de uma São Paulo industrializada é sintomático de alterações no comércio mundial e local que influenciaram na composição de uma nova rota comercial, fator relacionado ao surgimento da navegação a vapor que ocasionou a solidificação de um mercado dependente do litoral para prosperar. Essa modificação fortaleceu as cidades litorâneas, enfraquecendo as trocas comerciais interioranas. Esse ciclo de utilização do espaço correspondia a uma evolução histórica cuja marca era igualmente passageira. Só nas grandes cidades do litoral – Rio e São Paulo – é que a expansão urbana aparentava ter uma base bastante sólida para poder ser irreversível: São Paulo contava com 240 mil habitantes em 1900, 590 mil em 1920, ultrapassava um milhão em 1928 e, hoje [o livro data sua escritura em 1955], duplica esse número. Mas, no interior, as espécies urbanas nasciam e desapareciam; a província se povoava e despovoava ao mesmo tempo. (...) Se excetuarmos as regiões mais remotas, o abandono em que caíra o Brasil central em princípio do século XX não refletia de modo algum uma situação primitiva: era o preço pago pela intensificação do povoamento e das trocas nas regiões costeira, em virtude das condições de vida moderna que se instauravam; ao passo que o interior, por ali ser o progresso demasiado difícil, regredia em vez de acompanhar o movimento no ritmo lento que é o seu. (LEVI-STRAUSS, 1996, pp. 106-107)

O pioneirismo paulistano, que concerne ao surgimento de uma urbanização alinhado ao fortalecimento de uma indústria nascente, fundamentou o que seriam as bases da noção de desenvolvimento corrente nas metrópoles brasileiras. A rapidez com que a urbanização de São Paulo tomou força a partir


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