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ser classificado de forma tão generalizante e aberta para um instrumento de percussão, aponta para tradições anteriores à formação desse fazer moderno. São pontos que se tornam mais curiosos quando se observa a forma assumida pelo canto em relação à lírica. Pois a partir de uma primeira impressão, percebe-se o uso da construção clássica de um samba do estilo novo, onde o estribilho e a segunda estão bem colocados, ocorrendo de um segno, que compreende como pontos de referência o começo do cantar do estribilho e o fim da segunda, leva a repetir a estrutura lírica mais de uma vez. Contudo, ao ser repetida, a segunda é encerrada com seu verso final sendo repetido constantemente para com alternância com a interjeição “silêncio!”. Proposta que assim retoma o jogo dos textos-melodia do samba de bumbo. Indica-se assim a possibilidade do samba representado apontar para o apego à tradição caro aos sambistas paulistanos, que investem em seus sambas referências aos fazeres passados. Mas a presença da repetição do monóstico final referenciando ao samba paulista de tradição rural também aponta para um significado mais coerente as referências simbólicas investidas no texto. Se o samba é enunciado pelo silêncio, a reverberação do som na quietude cria o eco que vibra a música. Assim ao dizer que o samba “infezou” é porque ele ecoa no território citado, que como visto é envolvido pelo silêncio. E é esse eco que traz a promessa de eternidade que sugere o festejo – promessa que, aliás, fundamenta os textosmelodia do samba de bumbo. É na consideração da música como fazer infinito, seja pelo seu ressoar e mais ainda pela memória a que a se atribui, que se estruturam as referências metalinguísticas emergentes nessa canção. 4.5.3. Samba do Arnesto Compartilhando o compacto de 1955 dos Demônios da Garoa que continha “Saudosa Maloca” e que obteve “um feito raro, dois sucessos ao mesmo tempo e repercussão em todo o país” (MATOS, 2007, p. 133), “Samba do Arnesto” é corresponsável pela revelação do Adoniran compositor ao grande público. Composta em 1953, em parceria com Alocin, sua influência no imaginário popular paulistano ressoou de maneira que estigmatizasse a pessoa que serviu