Vozes da modernidade: A lírica de Adoniran Barbosa como ponto de encontro do samba e da crônica

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Merece atenção que em “Aguenta a mão, João” a narrativa é inconvencional em sua apresentação, onde o apelo ao falar cotidiano corresponde ao burburinho de vozes pertencentes ao círculo social no qual estão inseridos João e Cibide. Do burburinho, pressupõe-se o estabelecimento de uma narrativa fragmentada, colocada como um plano dialogal, ou seja, de um apelo múltiplo que se dirige a João para cantar o conselho. Suas pistas estão dadas na interpretação de Djavan, que canta como se abordasse o personagem título, de forma informal e coloquial como em uma conversa, e no retorno da voz de Adoniran, que ao utilizar a sentença “ta dando dó na gente”, mostra que a situação de Cibide é preocupação de um coletivo. São informações que são atiradas na canção de forma quebrada, como numa bricolagem de falares. Trata-se de confusão referente à multiplicidade polifônica inerente ao viver cotidiano. O personagem título, sua desgraça e a moral internalizada nessas vozes para interpretar o acontecimento serve de ponto de encontro que referencia o burburinho, concentrando-o no assunto apresentado e nas formas com que o corpo social encara esse tema. 4.4.2. Quem bate sou eu! Composto por Adoniran Barbosa em parceria com Artur Bernardo, em 1956, “Quem bate sou eu!” é conhecida pela interpretação dos Demônios da Garoa em um período onde estes se consagraram tocando as canções de Adoniran. Samba que versa sobre a temática da destruição, é exemplo de onde a concepção lírico-musical dada pelo compositor propicia a base para que os experimentalismos do intérprete se reapropriem da canção. Ô de Casa, quem bate? Quem bate, sou eu. Sou eu amigo que vem pedir-te abrigo Cheguei embriago no barraco, o seguinte aconteceu: Fui acende o fugão De querosene explodiu. Incendiô, queimô tudo que era meu (ADONIRAN BARBOSA & ARTUR BERNARDO, 2002)

Esse samba também é estruturado conforme o esquema padrão do estilo novo, correspondendo assim a um estribilho que embala a canção que é acrescido de uma segunda que complementa narrativamente a poética apresentada. O


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