Revista Plano B Brasília n.º 05

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6 Enfermagem: profissão da resistência e luta por direitos

10 Escritora Hulda Rode lança autobiografia sobre emagrecimento

14 Estreante na oposição, Ciro Nogueira admite compor chapa presidencial em 2026

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Quer começar a investir e não sabe por onde começar?

20 Rênio Quintas, um farol da cultura na capital federal

24 Sahara Ocidental espera reconhecimento de sua soberania pelo governo brasileiro

27 Rosa Parks A Flor Negra Do Alabama

28 Racismo, Uma Ode À Imbecilidade

32 Ainda pequeno, mas um avanço

34 Vou ao Louvre

36 Seus brincos

38 Saúde e Inteligência Artificial

40 Quero Você Eleita convida

bancada feminina da Câmara dos Deputados

42 Dfstar: a Missão do Pioneirismo e Excelência no atendimento

46 O novo ‘Lobby do Batom’

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SUMÁRIO

EXPEDIENTE EDITORIAL

Diretor Executivo

Chefe de Redação: Paulo Henrique Paiva

Colaboradores: Adriana Vasconcelos, Ana Beatriz Barreto, Humberto Alencar, Itamar Ramos, Romulo

Neves, Luciana Campos, Renata Dourado, Paulo

César, Wilson Coelho

Design Grafico: Alissom Lázaro

Redação: Adriana Vasconcelos

Fotografia: Ronaldo Barroso

Tiragem: 10.000 exemplares

Redação: Comentários sobre o conteúdo editorial, sugestões e criticas às matérias: planob@gmail.com

Aviso ao leitor: acesse o site da Revista Plano B e tenha acesso a todo o conteúdo na íntegra, inclusive a Revista Digital.

www.revistaplanob.com.br

Maio/2023

Ano 01 – Edição 05 – R$ 14,90

Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores.

A Revista Plano B não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

As nuvens da política

Como bem dizia o ex-governador mineiro Magalhães Pinto, a política é como nuvem, cada hora que se olha está de um jeito. Para o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que está perto de completar 30 anos de mandato, esta mudança demorou. Só este ano ele fez sua estreia nas fileiras da oposição, após ter integrado a base governista de 5 diferentes presidentes da República, de Fernando Henrique Cardoso a Jair Bolsonaro. Convencido que a divisão política no país, que prevaleceu durante a disputa presidencial de 2022, está longe de acabar, ele já tem planos ambiciosos para o futuro. A despeito de ter apoiado o PT nos 2 primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Nogueira não só planeja seguir firme na oposição, como admite compor uma eventual chapa presidencial nas próximas eleições como representante do Nordeste.

Já o movimento feminino brasileiro decidiu agir para acelerar a mudança do cenário político nacional, que apesar do sistema de cotas de gêneros implantado no país está longe de garantir a paridade de gênero em espaços de Poder.

Foi diante desse cenário que a Quero Você Eleita , um laboratório de inovação política que tem a advogada e cientista política Gabriela Rollemberg como cofundadora, decidiu reeditar o chamado ‘Lobby do Batom’, inspirada na mobilização promovida pela bancada feminina na última Assembleia Nacional Constituinte.

As mulheres, na verdade, não querem mais ficar à mercê os ventos da política para garantir seu espaço de direito nas mesas de negociação dos grandes debates nacionais. Por isso, um dos objetivos pré-definidos do novo ‘Lobby do Batom’ é garantir a reserva de, no mínimo, 30% de cadeiras para as mulheres nos Parlamentos. Se possível já na eleição municipal de 2024.

Nós, aqui, seguiremos acompanhando, para ver para onde as nuvens se movimentarão!

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Enfermagem: profissão da resistência e luta por direitos

Já tem uns três anos que você sempre está lendo notícias sobre a enfermagem nos noticiários. Durante a pandemia, a profissão ganhou destaque pela atuação contra a COVID-19 e pela defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). De lá pra cá, começou uma luta por direitos negados a uma profissão que existe há dois séculos, mas sobrevive acumulando frustações há mais de 30 anos.

No dia 12 de maio de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o PLN 5 que virou a lei n 14.581 que se refere as fontes de custeio para o pagamento do piso salarial nacional da enfermagem e no dia 18 do mesmo mês, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Roberto Barroso, revoga a liminar que suspendia a Lei número 14.434, que instituía o piso. Uma vitória que chegou com anos de atraso para a categoria e após uma longa novela de narrativas.

A luta pelo piso salarial nacional da enfermagem não é nova, e muito menos começou na pandemia. Ela vem desde 1988, desde antes da Constituinte, quando a deputada Benedita Domingues propôs o Projeto de Lei, sem êxito.

Em meio ao caos do enfrentamento a epidemia de COVID-19, e aqui eu digo não só a responsabilidade de assumir a linha de frente na imunização da população brasileira, mas sobreviver e trabalhar em meio a desordem que a saúde pública brasileira vivia durante o desgoverno do ex-presidente da República que negociava a compra de vacina de maneira escusa.

Naquela época faltavam vacinas, equipamentos de proteção individual (EPI), leitos, oxímetros, servidores, medicamentos, e até estrutura física para o enfretamento a doença. Entretanto, mesmo diante do medo de morrer ou infectar algum familiar, os enfermeiros assumiram protagonismo na luta contra a doença, receberam o reconhecimento da população brasileira e o título de heróis.

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COMPORTAMENTO

Mas, infelizmente a titulação não paga as contas e a dignidade para estes profissionais fazia-se a cada momento mais e mais necessária.

Um enfermeiro da rede privada em Brasília ganha aproximadamente de 2 a 3 mil reais por mês para trabalhar 44 horas semanais. Para viver, a categoria busca mais de dois ou até três empregos.

Agora, assumir três empregos e exaustivas cargas horárias neste cenário nada favorável da pandemia tornava-se mais complicado do que já era. Por isso, os profissionais se uniram em prol da dignidade da enfermagem.

Neste período, foram realizados diversos atos nacionais para denunciar a situação descrita acima. O primeiro, foi em Brasília, em frente ao Palácio do Planalto.

O que era pra ser um ato pequeno e silencioso, ganhou o mundo, quando seguidores bolsonaristas foram agredir verbalmente e fisicamente uma enfermeira que protestava. Para o presidente do Sindicato dos Enfermeiros do DF, Jorge Henrique Sousa, este fatídico dia foi um marco. O bolsonarista Renan, de certa forma, deu voz a enfermagem. “Me lembro que dei entrevista para os maiores jornais e mídia do Brasil. Nas entrevistas sempre falava sobre as nossas condições de trabalho e acho que tudo isso fez com que a gente ganhasse a visibilidade que precisávamos para ter o apresso e reconhecimento da sociedade”, explicou.

Depois ocorreu uma vigília no Museu Nacional da República, organizada pelo Sindicato dos Enfermeiros do DF com projeção dos nomes dos 109 profissionais ceifados pela Covid.

A diretora de Comunicação da entidade, Nayara Jéssica, comentou que o ato também lembrou da negligência histórica, e que a ordem era ganhar visibilidade para conseguirem reconhecimento.

Após os dois atos, em maio de 2020, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) apresenta um Projeto de Lei o PL 2564/20, que propõe o piso salarial da enfermagem aos enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares e parteiras de todo o Brasil.

Com o piso, enfermeiras e enfermeirosde todo país receberão R$ 4.750, os técnicos de enfermagem R$ 3.325, auxiliares de enfermagem e parteiras R$ 2.375. Sendo que os técnicos devem receber 70% do piso dos enfermeiros e os auxiliares e parteiras 50% do mínimo pago aos enfermeiros.

O texto foi aprovado no dia 29 de novembro de 2021 no Senado e seguiu para o rito na Câmara dos Deputados, quando foi aprovado no dia 4 de maio de 2022.

O presidente Jorge, comenta que neste dia de votação na Câmara, tinham mais de 10 mil profissionais em Brasília. Eles

ocuparam todo o Congresso. “Acredito que esta mobilização fez toda a diferença. Isso foi decisivo para que a votação fosse praticamente unânime na Câmara dos Deputados”, disse ele.

Porém mesmo com a aprovação, havia o medo do PL ser inconstitucional e os movimentos sindicais correram para que fosse criada e aprovada a Emenda Constitucional número 124, a que tornava o Projeto de Lei do Piso constitucional. Em julho, a EC 124 é aprovada e, no dia 4 de agosto, sancionada pelo então presidente Jair Bolsonaro.

Durante todo este tramite na Câmara dos Deputados e no Senado Federal o Sindicato doa enfermeiros do DF juntamente com as entidades sindicais de todo Brasil não pararam com as mobilizações para pressionar a aprovação do PL.

Mas, o lobby dos hospitais particulares foi muito forte, e após ver a lei sancionada, não aceitaram pagar o piso e recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF). Atendendo a ADI do 7222, entidade que representa hospitais, clínicas e estabelecimentos privados de saúde, o ministro do STF, Luiz Roberto Barroso suspendeu os efeitos da Lei do Piso. Ele solicitou que fossem indicadas as fontes de custeio para pagamento do Piso.

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Para a enfermeira Marcela Vilarim Muniz, a decisão do Barroso foi uma afronta à dignidade dos enfermeiros, que trabalham em condições precárias, recebem muito pouco e carregam uma responsabilidade enorme sob a vida do paciente. A primeira paralisação da enfermagem foi no dia 21 de setembro de 2022, por conta da decisão monocrática do ministro. Cerca de 2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras da enfermagem de todo o Brasil cruzaram os braços. Somente em Brasília, mais de 10 mil pessoas participaram do ato em frente ao STF.

Mais uma vez, a enfermagem ganhava todos os noticiários por conta do descaso que passavam na luta por direitos.

Como a temática já se estendia há anos, o deputado federal Mauro Benevides (PDT-CE) propôs a Emenda Constitucional 127 que prevê auxílio financeiro para custear o piso. A EC foi aprovada, mas o Piso continuava suspenso.

No dia 1 de janeiro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assume a presidência com a promessa de resolver o imbróglio da enfermagem. Então, no dia 18 de abril de 2023, o presidente assina o PLN 5 - que garante a abertura de crédito orçamentário para o Piso Salarial da Enfermagem em todo o Brasil. E no dia 26 de abril de 2023, o projeto foi aprovado no Congresso Nacional, em sessão conjunta. No Dia Internacional da Enfermagem, 12 de maio, o chefe de Estado sanciona a

Lei das Fontes de que garantem os recursos para o pagamento do piso para os estados, municípios, entidades filantrópicas e hospitais privados que atendam até 60% pelo SUS.

O ato foi publicado no Diário Oficial da União (DOU), e na noite do mesmo dia, a portaria do Ministério da Saúde (MS) que trata dos repasses dos 7,3 bilhões de reais para o pagamento do Piso da Enfermagem foi publicada.

Não havendo mais razão de manter a suspenção do piso, o ministro Barroso revoga a liminar que suspendia o pagamento do mínimo da enfermagem. O julgamento do STF ainda está em votação, sem previsão de acabar.

A expectativa é que em agosto o valor de 4,750 reais esteja no contracheque dos enfermeiros e das enfermeiras da rede privada de todo o país. Já para a rede pública é necessária uma lei que modifique os valores e a tabela de remuneração dos profissionais.

O presidente do SindEnfermeiro-DF lembra que a ordem agora é não aceitar que nenhum profissional receba menos que o piso e negociar a implantação no piso na Secretaria de Saúde do DF (SES) o mais rápido possível. Após isso, a luta será pela redução da jornada para 30 horas. Outra luta histórica, que acumula derrotas, mas é extremante necessária para o não adoecimento da categoria e para a melhoria do atendimento à população.

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COMPORTAMENTO

Escritora Hulda Rode lança autobiografia sobre emagrecimento

Vencer a obesidade é possível? Sim! A reportagem da revista Plano B entrevistou a escritora e empresária, Hulda Rode, para falar sobre o seu novo livro que aborda sobre uma doença que afeta mais de 96 milhões de pessoas no Brasil: a obesidade.

Aobra aborda o sucesso da cirurgia bariátrica e acompanhamento multiprofissional para emagrecer mais de 62 quilos e adotar um novo estilo de vida saudável. Um livro que fala sobre a importância das boas amizades e rede de apoio para: fazer boas escolhas, reconstruir a autoestima e despertar o feminino para viver novos começos. Confira:

Você tem uma trajetória na área da saúde?

Sim. Eu atuo há muitos anos no segmento de saúde, especialmente, nas ações comunitárias que envolvem a comunidade de pessoas com doenças raras. Ao longo desses 15 anos, percebemos uma lacuna na área de comunicação, e como era uma estudiosa de assuntos relacionados ao tema quando aprofundei o meu conhecimento em condições complexas em saúde, percebi que havia um campo para explorar e contribuir. Hoje, meu envolvimento com a comunidade é a conclusão do mestrado em Bioética e ajudamos os pacientes, familiares e pacientes a escreverem o primeiro livro e gerar fontes de renda extra por meio da venda de projetos literários.

Mesmo sendo uma profissional de comunicação, você se tornou uma escritora? Como veio essa vocação?

Desde quando era criança tinha o dom para escrita. A forma que conecto com o mundo é por meio da palavra. Eu sempre tive esse sonho de ser escritora, gostava de ler as nossas referências literárias, como Machado de Assis e grandes nomes da atualidade, como Fabrício Carpinejar e Martha Medeiros, e me modelava. Esperava que um dia pudesse ser alguém como eles. O chamado despertou em 2017, quando olhei para um registro de infância e estava ali escrevendo, percebi este seria o meu destino, me aprofundei no processo de

aprender a mecânica do mercado editorial, e na minha estante acumulo 4 livros, dois profissionais e outros dois acadêmicos: Hei de Vencer – a história de José Léda (2019), À espera do que nos espera (2021), Guardiões da vida – quem são eles (2011) e Pirenópolis X3: Tradições, Cotidiano e Turismo (2011) e um manual direcionado para pessoas que irão escrever o primeiro livro (2022).

E agora você está com o novo livro venci a obesidade, e agora? Como surgiu a ideia da obra?

Esse livro surgiu da minha própria história. É uma autobiografia e nele compartilho a minha trajetória de enfrentamento da obesidade. O projeto tem como pano de fundo a década dos anos 2000 onde o assunto ainda era um tabu em nossa sociedade e as opções terapêuticas ainda pouco limitada. A produção conta com as narrativas e os dilemas sociais

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ENTREVISTA

que enfrentei, e o sucesso de tratar uma das doenças que mais causa comorbidade em nosso sistema de saúde brasileiro: a obesidade.

Precisar conversar mais sobre a sobre a obesidade. Ela é uma doença que afeta mais de 96 milhões de pessoas no Brasil. Graças aos avanços da medicina, venci a obesidade, mas e agora? Fui gordinha na época em que estar acima do peso era um tabu em nossa sociedade, em que a palavra bullying ainda não existia dentro das escolas e os dilemas sociais eram velados, mas eu sobrevivi. Neste livro, compartilho a experiência que foi emagrecer de 120 para 62 quilos, e a sensação que é estar há 13 anos com o peso estável. Posso declarar que: eu tenho uma obesidade tratada.

Para quem ele é direcionado?

Apesar de ser uma autobiografia, este livro não é sobre mim. É um livro direcionado para pessoas que sofrem uma jornada que eu venci. Ele foi escrito pensando nas pessoas que sonham em emagrecer um dia, mas não têm, ainda, a força necessária para desenvolver novos hábitos, ou as que até já se submeteram aos tratamentos médicos, mas não obtiveram sucesso. Este livro tem muitos desabafos de quem sabe o que é viver na pele com o excesso de peso e que aprendeu a enfrentar essa montanha-russa da vida e, aos poucos, foi conhecendo o seu novo corpo. Um corpo mais leve, porém, com cicatrizes e registros do excesso de pele. Vencer a obesidade é possível para quem assume as rédeas da vida e escolhe viver novos destinos.

No livro exponho as minhas dores e a forma que lutei contra dilemas, como lidar com o excesso de peso, a falta do manequim adequado, a pressão social, a falta de oportunidades no mercado de trabalho, o preconceito e tantas outras situações que o obeso enfrenta. O livro tem a proposta de educar a sociedade sobre os caminhos para alcançar uma qualidade de vida por meio do emagrecimento saudável.

Qual a mensagem que o seu livro traz?

Escolhas. Acredito que esta seja a principal mensagem. Até onde podemos superar os nossos próprios limites? Quando a vida passa por um processo de escolha entre viver ou morrer, quais são as decisões que precisam ser enfrentadas? O meu livro apresenta reflexões sobre uma das doenças que mais atinge as pessoas no Brasil e no mundo. Emagrecer mais de 62 quilos é um processo de escolhas. Uma luta diária contra a balança e o guarda-roupa. Uma escolha de viver um novo começo, e também da a importância da rede de apoio e da modelagem de pessoas que podem acrescentar algo em sua vida, como bons amigos e profissionais de saúde especializados para ajudar na adoção de hábitos alimentares saudáveis para que juntos possamos enfrentar esse grande problema que é a obesidade.

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O que te levou a emagrecer?

A morte de um amigo!

Emerson Sena Santos, era um grande amigo que faleceu em 2009, e por detrás da parada cardiorrespiratória, havia um problema maior: o excesso de peso. Quando recebi o comunicado de seu irmão, percebi que eu seria a próxima. E recentemente, apesar de não ter vínculo com a história do livro, o primo de segundo grau da minha mãe Adarilene, Ednilson Andrade do Nascimento, o rei Momo mais conhecido de Brasília, faleceu no dia 30 de maio, ele já estava internado há algum tempo, e o pano de fundo das complicações era a obesidade. É uma notícia que me fragiliza porque ele pesava mais de 200 quilos. No livro compartilho alguns dilemas que os obesos enfrentam, tais como: comprar roupa, andar de avião, frequentar salas de cinema, na época que não existia assentos extras. O ponto que mais me sensibilizou na história do Ednilson foi o sepultamento, porque as funerárias não possuem o preparo adequado para acolher os obesos, e vi ali muito constrangimento. São cenas como estas: mortes evitáveis que nos conduzem a construir novos roteiros para a nossa existência.

Existem muitas técnicas de emagrecimento, por que você optou pela cirurgia bariátrica?

Durante as duas décadas, adotei as principais técnicas de emagrecimento, que envolviam o acompanhamento multidisciplinar que envolvem diversos especialistas, medicamentos orais, mas em nenhum deles tive eficácia. Vivi o que chamam de “efeito sanfona”, e em 2009, tive conhecimento por meio de uma amiga, Juliane Velasques, sobre a cirurgia bariátrica. Ela tinha se submetido ao procedimento e vi que seria um caminho. Como éramos próximas, pude receber informações, porque nesta época, a cirurgia bariátrica era uma

novidade no campo médico, mas vi que seria a minha grande oportunidade de vencer a obesidade, e 13 anos depois mantenho o peso e cuido da minha saúde.

Onde encontrar o seu livro?

O meu livro Venci a obesidade, e agora? está sendo lançado e fiz uma proposta diferente. Montei uma turnê da gratidão que irá passar pelas de cidade de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, porque em cada lugar eu tenho um amigo, um profissional e uma instituição para agradecer. Nossa agenda e noites de autógrafos acontecerão na livraria da Travessa, nas seguintes datas: 05 de julho – Brasília (Casa Park); 27 de julho – São Paulo (Shopping Iguatemi – Faria Lima); 02 de agosto –Rio de Janeiro (Ipanema). O livro pode ser encontrado no site da Editora Escreva e em breve estará disponível na Amazon e outras lojas virtuais, e livrarias Loyola, Martins Fontes e Vila.

Ficha técnica

Título: Venci a obesidade, e agora?

Autora: Hulda Rode

Fotocolagem: Taís Marcato (Capa)

ISBN: 978-65-85019-08-8 (livro impresso)

Editora: Escreva

Páginas: 156

Preço: R$ 59,90

Informações: www.escrevalivros.com.br

Sobre a autora Apaixonada por empreendedorismo e livros, Hulda Rode fundou a Escreva, uma editora que conecta novos autores ao mercado editorial. Atualmente, se dedica à produção de biografias e coordena o programa de Mentoria de Novos Autores.

Empresária, escritora, mentora e palestrante. Autora dos livros: Manual do Autor – O caminho para escrever o seu livro (2022); À espera do que nos espera: reflexões sobre a vida de solteira (2021) e Hei de vencer: história de José Léda (2019). Acadêmica vitalícia na Academia Nacional de Ciências, Letras e Artes. Alumni Academy for Women Entrepreneur (Embaixada dos EUA), Future Females Business School (UK in Brazil) e Programa de Líderes de Impacto Social (Transforma Brasil). Acelerada pelos programas Start Osasco, Black Start e Ginga Imerso, vinculados ao Sebrae for Startups. Mestranda em Bioética pela Universidade de Brasília.

Formada em Jornalismo pela Universidade Paulista, acumula 16 anos de experiência em comunicação corporativa. Vencedora de duas edições do Prêmio Café Brasil de Jornalismo (2017 e 2019)

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Estreante na oposição, Ciro Nogueira admite compor chapa presidencial em 2026

Às vésperas de completar 30 anos de mandato, o senador do PP está convicto que tomou a decisão certa de ficar ao lado de Bolsonaro na eleição passada

Pela primeira vez desde que chegou a Brasília em 1995, como deputado federal, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) decidiu ocupar um lugar na fileira da oposição ao governo federal. Fato até então inédito, depois de ter integrado a base governista dos últimos 5 presidentes da República, Fernando Henrique Cardoso a Jair Bolsonaro, de quem foi ministro da Casa Civil em meio à pandemia e denúncias de irregularidades na compra de vacinas. Não demorou muito para des-

pontar como homem forte e ponto de equilíbrio do governo Bolsonaro, o que o levou a se opor à candidatura de Lula na região que deu ao atual presidente sua maior vantagem eleitoral, o Nordeste. Após os primeiros seis meses da terceira gestão de Lula à frente do Palácio do Planalto, Ciro Nogueira segue convicto de que tomou a decisão correta.

Apesar da vitória de Lula, o Brasil parece seguir dividido. Há chance de uma pacificação?

É difícil, eu até gostaria muito que acontecesse, mas sinceramente eu não tenho mais essa expectativa. Tenho esperança, mas expectativa não, porque o Lula que veio está se

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Às vésperas de completar 30 anos de mandato, o senador do PP está convicto que tomou a decisão certa de ficar ao lado de Bolsonaro na eleição passada

confirmando as minhas previsões de um Lula muito diferente do que era o Lula do passado. O Lula que assumiu em 2003 unificou o país, colocou o presidente do Banco de Boston para ser o presidente do Banco Central, que era o (Henrique) Meireles, uma pessoa que veio unificar o país. Hoje não, ele veio com o intuito de dividir mais ainda, parece que o tempo que ficou em Curitiba o afetou muito, transformou ele numa pessoa raivosa, amarga, o que é muito ruim, porque o Lula de 2003 era uma Lula que unia, um Lula mais doce, mais fraterno. Dessa vez ele veio para acentuar mais essa divisão.

O ex-presidente Jair Bolsonaro está próximo de perder seus direitos políticos. Neste caso, quem deverá liderar a direita nas próximas eleições?

Se isso acontecer, será a maior injustiça que o Judiciário já cometerá na história. Basta comparar do que Bolsonaro está sendo acusado, ao que o Lula foi acusado no passado e permitiram que ele fosse candidato. Basicamente, ele vai ser condenado porque reuniu embaixadores. É completamente desproporcional. Se isso acontecer, espero que não aconteça, que não cometam essa injustiça, quem vai liderar é o próprio Bolsonaro. A população vai se revoltar, surgirá um sentimento de injustiça, o que vai deixar Bolsonaro muito maior, vai ser o maior eleitor nas eleições municipais de 2026, mesmo se não puder ser candidato. Tenho dúvidas se ele será candidato à presidente, caso ele seja inocentado e fique elegível. Pode vir candidato ao Senado.

Se ele não for candidato, o candidato natural é o Tarcísio, por ser governador de São Paulo. Se Tarcísio não quiser e optar por ser candidato a reeleição, pode ser o (Romeu) Zema, por ser candidato de Minas Gerais. Em ordem de sucessão, serão eles. Em caso de liderança, ninguém tira Bolsonaro.

Em seis meses de governo, Lula escorregou várias vezes em suas declarações e já foi derrotado em 2 ocasiões na Câmara. Teremos mais embates pela frente?

O Lula está sendo derrotado porque o Lula que veio assumir a Presidência pensa que ainda está em 2002, quando ele chegava para os partidos políticos, entregava os ministérios de porteira fechada, entregava as estatais e com isso tinha os votos. Hoje não dá, não é mais assim o Congresso. Os tempos mudaram, graças a Deus! Graças a Bolsonaro, que mudou essa relação, blindou estatais e os ministérios, e mesmo assim conseguiu ter a maioria para aprovar o que queria. Quem elegeu Bolsonaro a primeira vez foi as redes sociais, não tinha tempo televisão, não tinha partido político, quem elegeu mesmo foi a população através das redes sociais, então aquilo mexeu com as pessoas. Hoje um deputado vota uma matéria,

em um minuto, um segundo o eleitor dele está lá, criticando ou apoiando. Antigamente o eleitor não se lembrava nem em quem tinha votado. Hoje as pessoas estão muito próximas, as pessoas ao entrarem em um avião são abordadas, chegam em um restaurante são abordadas, chegam nos seus estados de origem são abordadas. Então é difícil aquele antigo toma lá, dá cá hoje. Os parlamentares estão sendo mais fiscalizadas, estão tendo de prestar rotineiramente contas. Então, ou Lula chama essas pessoas para serem sócios no sucesso, o Congresso, os aliados, ou não tem a menor chance. Lula não está nesse novo tempo, o Lula que está aí hoje, é um Lula analógico, fora do digital.

A CPMI do 8 de janeiro tem uma maioria governista, qual sua expectativa? Quem corre o risco de sair mais chamuscado: governo ou oposição?

Não existe CPI que seja boa para o governo. Nunca existiu e nem nunca vai existir. O governo já perdeu, ele pode até chegar no final, fazer um relatório fictício, que no dia seguinte vai ser jogado no lixo, porque o que importa em CPI são os fatos que ela descobre, que se tornam públicos e o que a opinião pública diz. Aquela imagem, antes mesmo da CPI, do general lá, dentro do Palácio, já mudou a narrativa. Agora se

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descobre que o G.Dias falsificou documentos, então esses fatos já prejudicaram fatalmente o governo. Porque o governo tinha criado uma narrativa no passado, que foi destruída pelas imagens. Então nada que a CPI possa fazer no que diz respeito a maioria ou relatório, vai tirar aquelas imagens do imaginário das pessoas. Então o governo já perdeu a CPI.

O senhor já foi aliado de Lula, o que levou a mudar de lado?

É verdade. Acho que o Bolsonaro mudou tudo isso, porque agora nós temos opção, não tínhamos. Eu sou o que sempre fui, desde a época de PUC no Rio de Janeiro, uma pessoa o com viés de direita, mas não tenho esse viés de direita no que diz respeito a costumes e armamento. Mas, no que diz respeito a liberar a iniciativa privada, diminuir o tamanho do Estado, acabar esse fosso que existe entre o serviço público e o serviço privado das pessoas, sou muito, eu sou até mais do que o Bolsonaro. Agora nós temos um grande líder, temos uma direita que está mais forte do que nunca. Antigamente nós não tínhamos, ou você se tinha o PT ou uma falsa direita, que era o PSDB naquela época, e agora que eles são mesmo do mesmo saco, acabaram se unindo. Apesar de terem se digladiado a vida toda. Então, eu estou muito feliz de estar ao lado do presidente Bolsonaro na oposição e na defesa dos valores da direita no nosso país.

Qual sua avaliação até agora do governo Lula 3?

O governo não começou. Um governo em que que você chega e pergunta ao presidente os nomes de seus ministros _ e eu aposto o que quiser _ e ele não sabe o nome dos ministros, e nem o número de ministérios. Ele não fala o nome dos ministros, só se ele ler, porque ele não sabe. Ele não conhecia essas pessoas, são pessoas que não tem identificação e não estavam preparadas com o ministério. Então, é um governo que não começou, é um governo que ele vendeu para população, que ia ser melhor do que o Lula 1 e o Lula 2. Existe uma frustração sem tamanho. O próprio presidente, hoje acho uma pessoa triste, decepcionado com ele e seu próprio governo.

Ele tinha, no passado, 3 figuras que comandavam o governo por ele, que era o Zé Dirceu, o (Antônio) Palocci e o Márcio Thomaz Bastos. Figuras que tinham estatura, que tinham autoridade sobre ele para corrigir os rumos. Hoje ele não tem ninguém que faça isso. Ele está um Lula em que as pessoas não tem coragem de corrigir os rumos, mostrar no que está errando.

Como homem forte do governo Bolsonaro, o senhor comandou a articulação política e garantiu um equilíbrio na sustentação ao presidente Bolsonaro no Congresso. Como se vê agora atuando do outro lado da moeda? Como está sendo a missão de ser um dos líderes de maior influência na oposição?

Estou muito feliz, orgulhoso da minha atuação. Acho que as pessoas que me acompanham estão muito felizes com isso. Acho que é necessário ter uma oposição, uma oposição que começa agora, não a que nós tivemos como era a do PT, que era contra tudo e contra todos. Nós fazemos uma posição ao governo e não ao Brasil. Um exemplo claro é essa questão do arcabouço fiscal, chegou lá como uma pedalada fiscal, e nós estamos melhorando, graças ao trabalho do nosso grande relator, Cláudio Cajado, melhorou muito. Eu sou o senador que mais apresentou emendas para aumentar a rigidez, o controle dos recursos públicos, para que a gente não venha com uma explosão inflacionária. Queremos melhorar o que está aí, não sendo contra tudo. Acho que esse é o nosso papel e eu espero continuar, como sou líder da minoria. Vou continuar esse papel, tentando melhorar tudo o que for apresentado pelo governo.

Essas emendas que senhor ao novo arcabouço fiscal são um sinal da sua discordância em relação a política econômica do governo federal? Como avalia as ações do Ministério da Economia, bem como os discursos de Lula mais à esquerda no seu terceiro mandato?

Hoje nós temos um risco de agravamento da nossa situação financeira e fiscal, por conta de um governo que não trouxe estabilidade ao país. O presidente atua como se fosse um comentarista de futebol, falando coisas fora do contexto e criando cortinas de fumaça. Por exemplo, quando ele ataca o Banco Central por conta dos juros. As pessoas têm que

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lembrar que quando ele foi presidente da primeira vez, ele pegou um governo com 27% de taxa de juros. Terminou o primeiro mandato com a mesma taxa juro que ele condena hoje, que é 13,75%. Então isso é uma cortina de fumaça, uma instabilidade que ele está trazendo por conta de um governo fraco e de um presidente que fala coisas indevidas, que trazem instabilidade ao país.

O senhor tem pedido celeridade na votação do novo Marco Temporal para os povos indígenas. Como o senhor tem visto essa matéria e qual a importância dessa nova legislação? Qual a relação com o agro?

Primeiro, eu tenho todo o respeito e valorizo muito nossos povos originários, que têm que ser preservado, mas também é preciso dar condições a eles para que possam progredir, dar acesso a serviços que a modernidade nos trouxe. Porém, não tem mais cabimento aumentarmos reservas indígenas no nosso país. Nós temos que valorizar o agronegócio no nosso país, com respeito ao meio ambiente. Já provamos que temos como produzir com respeito, preservando as reservas.

Acho que essa discussão tem que ser decidida pelo Congresso, não pelo Judiciário. Pois a atribuição do Congresso é legislar, do Judiciário julgar. A legislação feita pelo Congresso respeita a maioria. Por isso que eu pedi que o assunto seja levado ao plenário. Pois o Supremo está julgando, por falta de uma legislação do Congresso Nacional. Hoje temos maioria no Senado para aprovar a proposta. Não tem cabimento deixarmos de submeter a decisão ao plenário. Só quero que seja levado ao plenário. E se for, vai ser aprovado para que a gente possa preservar o que já existe. Não existe mais necessidade de novas áreas indígenas no nosso país. Por exemplo, a reserva dos Yanomanis tem que ser

preservada, mas ela é maior do que Santa Catarina, para 20 mil índios. Não há necessidade de se ampliar mais. Acho que isso é o correto e temos de respeitar a vontade soberana do plenário do Congresso Nacional. A matéria já foi votada na Câmara, agora tem que ser submetida ao Senado Federal.

Qual o seu plano B?

Muita gente fala que eu não vou ser candidato no meu estado, é impossível eu não ser candidato. Eu posso ser candidato ao governo, é um sonho que eu tenho, ou posso vir para o Senado. Também não posso me negar a buscar uma posição nacional, na qual eu precise sair como candidato a vice-presidente representando o Nordeste. É uma coisa que também não está fora do meu radar.

Vice do Nordeste e presidente do Sul ou sSdeste?

É uma coisa desse tipo, é uma consequência natural. A candidatura ao governo do Piauí ou ao Senado depende de mim. Essa composição nacional não depende só de mim, depende de uma série de fatores e avaliações, e de quem será candidato a presidente.

Sua previsão para os próximos anos?

Espero que haja uma correção de rumos nesse governo, que o presidente Lula volte, saia um pouco dessa amargura, desse radicalismo, e volte a ser aquele Lula do passado, que tentava unificar o país. Acho que é o que nós precisamos, chega de brigas, chega de divisão nas famílias. Chega de viajar para exterior, que se foque mais aqui. Parece que o Lula, pela frustração dele, quer fugir dos problemas. Ele já provou, no passado, que tinha capacidade e agora está frustrando a população, mas eu ainda tenho uma expectativa de que ele mude. Não sou daqueles que vai torcer contra o piloto porque eu estou dentro do avião, temos que torcer que dê certo.

Ciro Nogueira, por Ciro Nogueira

É um sonhador que não perde a esperança nunca. E que tenhamos um país muito melhor.

17 CAPA

Quer começar a investir e não sabe por onde começar?

Oíndice Ibovespa começou a subir novamente e uma das perguntas que eu escuto de amigos e familiares com frequência é: quero começar a investir na Bolsa de Valores, por onde eu começo?

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, não precisa de muito dinheiro para começar a investir no mercado financeiro. Ao contrário, talvez seja o único lugar em que com R$ 100 de fato você consegue investir em algo. O que precisa é de disciplina, paciência e olhar de longo prazo. Ou seja, comece mesmo que seja com pouco dinheiro.

Então seguem alguns pontos importantes:

1) Monte uma conta em alguma corretora de valores. Pode ser a corretora do seu próprio banco mesmo.

2) Não espere aprender “tudo” sobre investimentos para começar a investir, principalmente se a ideia é começar com pouco dinheiro a cada mês.

3) Invista um valor fixo todos os meses, mesmo que seja um valor pequeno.

4) Estabeleça metas para você investir. Incrivelmente você vai acabar arrumando dinheiro para isso.

5) Não crie metas difíceis de serem cumpridas. Se a sua meta for, por exemplo, investir R$ 1 mil por mês durante 12 meses, e logo nos primeiros meses você conseguir investir mais, é excelente. É muito melhor do que uma meta irreal e você simplesmente desistir.

6) Se eu fosse indicar algo didático para as pessoas aprenderem a investir eu diria para começarem pelo Tesouro Direto atrelado à taxa SELIC (renda fixa) e Fundos Imobiliários, por pelo menos um ano, antes de começar a pensar em ações ou outros tipos de investimentos.

7) A ideia de começar pelos Fundos Imobiliários é porque fica mais claro a diferença entre investir e especular. E seu objetivo deve ser investir. E não especular.

8) Já escrevi sobre a diferença entre especular e investir, mas resumidamente o investidor pensa em ser sócio e acumular patrimônio e ter mais renda. Então ele não se preocupa muito com o curto prazo. Já o especulador está sempre atrás de uma “oportunidade” e de tentar ganhar dinheiro rápido. Comprar algo barato e vender caro.

9) Alguns estudos recentes da FGV mostraram que a grande maioria dos especuladores não só não ganharam dinheiro

no mercado financeiro, como perderam dinheiro. Além do tempo perdido na frente do computador obviamente.

10) Uma das especulações mais conhecidas para entender o processo é no mercado imobiliário. Pessoas compram imóveis na planta com a ideia de vender quando houver uma valorização. Já o investidor de imóveis busca aumentar o número de imóveis para ter mais aluguel, e não se preocupa muito com o curto prazo.

11) Antes de começar a investir, faça um plano de saúde para você e sua família e tenha seguro do que de fato for importante, por exemplo, seu carro. Não adianta você ter dinheiro investido e ter que vender tudo inesperadamente porque seu carro foi roubado etc.

12) Fuja de “vendedores” de fundos de investimentos por aí que vão te empurrar produtos ruins com promessas de retornos mirabolantes (bem acima de 1% ao mês). Normalmente “vai dar ruim” e alguém vai ficar com seu dinheiro. Invista seu dinheiro de preferência por meio daquela corretora do banco tradicional mesmo.

13) No longo prazo notícias tem pouca influência sobre o resultado que você vai ter e sobre o patrimônio que você vai acumular. Então se você gosta de acompanhar o que está acontecendo no Brasil e no mundo excelente, não deixe isso virar uma ansiedade para mudar sua estratégia de investir todos os meses um pouco.

14) Por meio do mercado de ações você pode ser sócio das principais empresas do Brasil e do mundo. Ser sócio de empresas que você inclusive consome seus produtos e conhece como as brasileiras VIVO, AREZZO, RENNER etc. Ou mesmo empresas estrangeiras como APPLE, MICROSOFT, DISNEY...

15) E por último, não espere aprender tudo para começar. Isso porque você nunca vai saber tudo. É um processo. E começar é o mais importante no longo prazo.

* Humberto Nunes Alencar, Analista de Orçamento do Ministério do Planejamento. Mestre em economia pelo IDP e doutorando em direito pela mesma instituição. Dá aulas online para pessoas que querem aprender mais sobre economia e finanças pessoais. Contatos: 061 - 994054114 e Instagram: @humbertoalencar.bsb

Humberto Alencar*
18 ECONOMIA

Rênio Quintas, um farol da cultura na capital federal

O maestro conta que assistiu Brasília crescer em todos os níveis: materialmente, espiritualmente, socialmente e culturalmente

Por:Rócio Barreto

Nascido no Rio de Janeiro, em 1955, Rênio Quintas chegou em Brasília com 5 anos de idade para a inauguração da capi tal federal. Maestro instrumentista e arranjador, ele tornou-se um ativista cultural na cidade ao lado da companheira Célia Porto. Sua ligação com a música foi herdada dos pais � ambos eram pianistas. O pai, também jornalista, costumava acordar os filhos ao som de música clássica ao piano. Foi um dos fundadores do movimento candango pela dinamização da cultura ao lado de nomes emblemáticos no Distrito Federal como Vladimir Carvalho, Maria do Rosário Caetano, Ezio Pires e Severino Francisco.

Como Maestro reconhecido nacionalmente, como vê a cultura e a música no Brasil e no DF nos últimos anos?

A cultura e a música brasileira das mais fantásticas e privilegiadas do planeta. Nosso povo é criador, apesar de todos os pesares, de todos os massacres que a gente sofre. Nossa criatividade é uma das mais ricas e mais variadas expressões da cultura humana, do planeta terra, do nosso país. Considero que a cultura ela tem como perspectiva a sensação de pertencimento. E isso que explica um pouco essa resistência do povo brasileiro, a grandeza do que criamos e do que fazemos. Sofremos muito de uns anos para cá, assistimos

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uma inversão de valores primeiro, quando a gente tinha as grandes gravadoras, a gente não conseguia gravar limpeza, falando estritamente da música, das músicas independentes. Os músicos independentes tiveram que apelar para o estúdio feito em casa, que começou como um tornado lá no final da década de 60. Depois, com o advento da música dependente do ceder, a gente adquiriu uma certa velocidade, um mercado paralelo. Mesmo sem nível para competir com as grandes gravadoras, ele acabou estabelecendo parâmetros mínimos para poder investir. Com o advento do streaming, voltamos à situação anterior, porque são gigantes big techs dominaram totalmente as plataformas e os pagamentos são irrisórios e a pulverização dos trabalhos é gritante. Então, estamos enfrentando isso. Agora é uma questão que está colocada no planeta inteiro. Estamos aqui na luta para conquistar agora aqui em Brasília, a cena brasileira fantástica. O celeiro de artistas que a gente cria aqui, a quantidade de criadores, a quantidade de músicos bons que vão para o mundo inteiro. São premiados internacionalmente em todas as linguagens. Aí eu não me prendo só a música não, me prendo a todas linguagens. Somos premiados no mundo inteiro e aqui carece de uma cena que a gente possa transformar o nosso mercado interno em consumidor dos nossos trabalhos. Esse é o click que está faltando. Temos que fazer formação de plateia, temos que criar políticas culturais com mais eficiência para chegamos à população. Apesar de estarmos muito avançados nas políticas públicas e culturais. Nós temos o maior fundo de cultura do país em termos proporcionais e uma lei de incentivo à cultura que reflete várias frentes, o que é um diferencial, mas esse arcabouço não foi capaz de criar uma massa crítica suficiente para que a gente consiga alcançar aqui o mercado de consumo do Distrito Federal. São 3.000.000 de pessoas que gostam de música, então assim a nossa diáspora com a grande mídia ainda é muito grande.

O pessoal da música, da cultura em geral, tem recebido apoio do Governo Federal e do DF?

As políticas públicas voltadas para a cultura são muito avançadas aqui no Distrito Federal, nós criamos uma lei orgânica da cultura, a lei 934, de 2017, assim como avançamos pelo lado do Marco Regulatório da Organizações da Sociedade Civil, que são fatores que impulsionam muito a cultura. O problema é que que os governos insistem em não obedecê-las. As políticas de governo não têm a cultura como como fundamento. A cultura tinha que ser prioridade no meu entendimento. A cultura é que vai revolucionar o planeta, pois catalisa as emoções e faz as pessoas se sentirem cada vez mais humanas. A sensação de pertencimento é o que nos tira da barbárie. Então a arte, a cultura, vinculadas às forças

do Estado, fundamentam a possibilidade de a gente ter um Brasil melhor, uma cidade melhor. E agora temos o presidente Lula, que nos dá uma esperança, porque o governo anterior, que não merece nem ser citado, é um governo que tentou realmente destruir a base de toda a cultura que conhecemos, na verdade, de toda a civilização que conhecemos. E graças à força do povo brasileiro, resistimos, não fomos mortos por causa dessa pandemia horrorosa. Nossa área, então, foi duramente atingida. Fomos os primeiros a parar e os últimos a voltarmos, mas estamos voltando, estamos aí investindo, acreditando e vamos em frente.

Nesse momento um artista ou agente cultural consegue sobreviver dignamente sem apoio do Governo, apenas com bilheteria?

É bastante improvável. Na realidade, a cultura é um direito, tem que ser impulsionada, incentivada pelo Estado. Então, a pessoa que quer ser totalmente independente, vai conseguir algumas coisinhas, mas não vai ter um resultado que mantenha uma sustentabilidade nos trabalhos. Por isso, as políticas culturais são fundamentais, como por exemplo, a Lei Paulo Gustavo, a Lei Aldir Blanc 2, que acabam dando o suporte necessário, após as demandas que ficarem reprimidas nesses anos de pandemia. Sem elas, dificilmente teríamos a volta das relações normais. Por isso que esse apoio é estruturante, para que a gente possa refazer o tecido cultural, refazer a relação com a própria plateia. Tivemos de promover uma reeducação de plateia, porque as redes invadiram tudo. Tem

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todo um contencioso relacionado com as televisões, com as mídias e a gente com os shows ao vivo, tudo isso é um caldo de cultura que a gente precisa avaliar, mas eu acredito que é essencial nos dias de hoje políticas públicas culturais.

Na sua opinião, o que é preciso para uma maior divulgação da cultura popular no Brasil?

Vou repetir, precisamos de políticas públicas voltadas à cultura. Os geniais pontos de cultura são uma forma bem grande de pertencimento, de apropriação dos saberes culturais ancestrais dos nossos mestres. E a partir dessa fortaleza, estabelecemos o patamar de crescimento sustentável de toda a cultura popular brasileira. Eu acho que a grande aposta é essa. Por isso que acredito muito em um Ministério da Cultura fortalecido, como está agora no governo Lula.

Qual seria seu conselho para um artista que está começando agora?

Eu diria ao artista que está começando agora, seja autêntico no que você faz, seja criador, crie conteúdo, estabeleça relação de crescimento e de apoio ao seu pensar, com os trabalhos que você vai vendo, que vão te dar suporte para que você consiga chegar na sua forma de se expressar. A gente sempre tem metas, mas fundamental é que a gente tenha a nossa própria forma de se expressar. É que vai fazer a diferença. Existe uma limitação do ponto de vista de mercado, pois os grandes investidores só investem em coisas massificadas,

mas existe uma possibilidade real de você chegar lá sendo autêntico, tendo o seu trabalho.

Há algum trabalho seu a ser lançado esse ano?

Bom meus projetos de curto prazo são seguir tocando em vários festivais, em várias frentes. Estou tocando uns shows com a Celia Porto, fazendo um reviver do CD que lançamos do Legião Urbana. O trabalho que ela tem de interpretar em MPB. Assim, vamos tocando o barco nessa seara aí. E os meus trabalhos voltados para minha criação, né? Eu estou fazendo um projeto de arranjos para a Orquestra Sinfônica e escrevendo um livro falando sobre as minhas experiências na música e no planeta. São os meus projetos mais próximos.

Alguma consideração final?

Agradeço a revista Plano B pelo interesse no meu trabalho, solicitando essa entrevista e colocando a arte e a cultura como expressão máxima da liberdade humana. A cultura, ela tem em seu bojo a possibilidade realmente de transformar a sociedade para melhor. Nós temos todas as possibilidades de sermos um país muito melhor do que somos com um investimento maciço em cultura. Eu acredito que a cultura é um catalizador de toda a expressão a nossa brasilidade. A cultura brasileira é um fenômeno de diversidade, de riqueza que pode transformar a nossas vidas. E podemos levar isso para o planeta inteiro. É nisso que eu acredito.

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CULTURA
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RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

Sahara Ocidental espera reconhecimento de sua soberania pelo governo brasileiro

A luta pela independência da República Árabe Saharaiu Democrática se arrasta desde 1976, quando o território saiu dos domínios da Espanha e 50 anos após a criação da Frente Polisário

ARepública Árabe Saharaui Democrática – RASD foi proclamada em 27 de fevereiro de 1976, data que partiu o último soldado espanhol de seu território. Localiza-se no litoral do Atlântico ao norte da África, possui um território de 286 mil quilómetros quadrados, uma população de cerca de um milhão de habitantes, que falam oficialmente árabe e espanhol, e possui uma enorme riqueza natural.

Para combater a ocupação espanhola, em 10 de maio de 1973, foi criada a Frente Popular de Libertação de Saguia el Hamra e Río de Oro (Frente POLISARIO), que une todas as forças políticas da RASD. Com a saída da Espanha, o território saharaui foi ocupado pela Mauritânia e por Marrocos. Iniciou-se uma nova batalha, que levou a Frente Polisário a derrotar e fazer um acordo com a Mauritânia, que se retirou das terras ocupadas. Marrocos, entretanto, usou mais força para manter a ocupação e construiu um muro de 2.700 quilômetros, separando ao meio o país que estava se libertando do colonizador europeu.

No âmbito internacional a Frente Polisário estabeleceu relações sólidas com a maioria dos países, sobretudo na África e América Latina, o que levou a que mais de 84 nações reconheçam a soberania da RASD com a instalação de embaixadas e representações diplomáticas, com plenos direitos. A RASD,

inclusive, desde 1985, é um dos países fundadores da União Africana, enquanto Marrocos não faz parte.

Na América Latina e Caribe, mais de 30 países reconhecem a RASD, que possui embaixadas funcionando no México, Panamá, Equador, Venezuela, Uruguai, Nicarágua, Cuba, Peru, entre outros países. Colômbia, Bolívia e Belize estão em processo de implantação das embaixadas.

Mesmo o Brasil sendo um país que tem em sua Constituição Federal a defesa da soberania e autodeterminação dos povos, somente em 2016 o governo brasileiro concedeu o estatus de representação a Frente Polisário, e infelizmente ainda não reconheceu a soberania da RASD, que garantiria o pleno direito a possuir representação diplomática em Brasília.

No final de 2022, chegou ao Brasil o novo representante da Frente Polisário, o embaixador Ahamed Mulay Ali, que tem realizado inúmeras atividades em busca do reconhecimento, por parte do presidente Luis Inácio Lula da Silva. O embaixador tem contado com o apoio da Associação Brasileira de Solidariedade e Autodeterminação do Povo Saharaui – ASAARAUI, presidida pela ex-deputada federal, Maria Maninha.

Todos os anos, no dia 10 de maio, a ASAARAUI tem realizado atos em frente a embaixada do Marrocos, denunciando a ocupação, o roubo das riquezas e o desrespeito aos direitos humanos do povo saharauis, sempre com a participação de movimentos, parlamentares e partidos politicos, reforçando a solidariedade ao

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RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

povo saharaui. Também realizou atos culturais, reuniões com parlamentares federais e distritrais e movimentos sociais.

Para marcar os 50 anos de criação da Frente Polisário, o embaixador Ahamed Mulay Ali concedeu uma entrevista ao Programa Letras e Livros, na TV Comunitária, conduzida pelo jornalista Pedro César Batista.

Abaixo alguns trechos da entrevista concedida pelo embaixador.

Qual o caminho para alcançar a expulsão do invasor, a soberania e a autodeterminação do povo saharaui?

Ahamed Mulay - Há uma arma fundamental para o povo vencer, quando há unidade do povo sempre há vitória, quando há divisão, o inimigo ganha; todo o povo saharaui está dentro da Frente Polisário, tem gente de esquerda, de direita, tribos, nacionalistas, gente que não gosta de política, todos estão dentro da Frente Polisário. A luta que travamos é o resultado de um programa definido de 4 em 4 anos, durante os congressos da Frente Polisário. Ano passado, durante um congresso foi definido o programa para derrotar Marrocos, que nos obriga a seguir combatendo de armas na mão contra o invasor.

Como Marrocos fez o muro para separar o povo saharaui?

AM - Marrocos construiu um muro que divide nosso país, há uma parte livre e outra que está presa e controlada militarmente pelo invasor. O muro tem 2.700 quilômetros e 8 milhões de minas terrestres, basta procurar na internet, buscar o ‘muro da vergonha”, que encontrará todas as informações. Foi construído tendo como exemplo a política que Israel pratica contra os palestinos. Diariamente, nossos combatentes atacam os marroquinos. A Frente Polisário não tem nenhum problema com o povo marroquino, enfrenta o rei e sua família, que massacra o povo saharaui e prejudica também os marroquinos.

Como tem se dado a solidariedade ao povo saharaui?

AM - Acreditamos que todos os povos amantes da democracia e da justiça apoiam a luta do povo saharauii contra Marrocos. Temos tido apoio de gente de dezenas de países, como aqui no Brasil, onde a Associação Brasileira de Solidariedade e Autodeterminação do Povo Saharaui – ASAARAUI tem feito, há muitos anos, um trabalho grandioso, com a publicação de materiais, realização de reuniões e manifestações de solidariedade e apoio. O mesmo tem se dado com povos

de várias partes do mundo, especialmente aqui na América Latina e Caribe.

Quais a decisões dos tribunais internacionais sobre a luta do povo saharaui?

AM - No contexto jurídico, o Tribunal de Haia, as Nações Unidas, os Países Não Alinhados, a Unidade Africana e o Tribunal Europeu de Justiça defendem e avalizam o direito do povo saharaui sobre a soberania de seu território. Possuimos governo, Presidencia da República, Parlamento e Poder Judiciário. A RASD é membro da União Africana, enquanto o Reino do Marrocos não integra este fórum regional. Os organismos internacionais apoiam a luta do povo saharaui, o direito a soberania para poderem decidir o seu futuro, possuirem o controle de suas riquezas naturais e livremente organizarem a construção do Estado da República Árabe Saharaui Democrática, com seu governo, parlamento, Forças Armadas e a estrutura própria de uma nação soberana.

O que leva a imprensa a omitir a luta pela soberania da RASD?

AM - A posição dos meios de comunicação tem sido de esconder a luta do povo saharui, mas chegará um dia que a imprensa falará de nossa luta, infelizmente somente falam quando há muitos mortos, o que terminará acontecendo no atual confronto contra Marrocos, pois o nosso exército segue combatendo e não parará de lutar enquanto não conquistar a plena soberania e a autodetrermninação de nossa nação.

Como funciona o Estado da RASD?

AM - Somos o único Estado no mundo em que os funcionários não têm salário, nem os soldados do Exército, ninguém tem salário, lutamos por nossa dignidade, soberania e a independência. O soldado marroquino vai a guerra para receber o salário. O soldado saharauii vai para libertar seu povo, isso

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RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

explica as vitórias que temos conseguido. Há dias, 800 soldados marroquinos desertaram, abandonando seus postos. Isso fortalece a moral de nossos soldados e do povo saharaui.

O que levou o Marrocos a ocupar a RASD?

AM - Marrocos rouba nossas riquezas, ocupa militarmente o maior banco de pesca do mundo, usa esse dinheiro para comprar apoio parlamentar em várias partes do mundo, como se comprovou com os parlamentares da União Europa, inclusive a vice-presidente do Parlamento e outros 7 eurodeputados estão presos, devido a descoberta do Marrocosgate, ocorrida durante a Copa no Katar. A polícia encontrou malas de dinheiro marroquino com eles, que atuavam como agentes do rei para comabter a luta do povo saharaui. O mesmo se dá no Brasil, com a embaixada do Marrocos usando muito dinheiro, roubado da RASD, para conseguir apoio a ocupação. Marrocos só tem dinheiro e corrupção. A RASD tem as decisões das cortes internacionais e o direito internacional a seu favor.

O que a solidariedade brasileira pode fazer para ajudar a luta do povo saharaui?

AM - Agradecemos muito o trablaho desenvolvido pela associação de Solidariedade e pela autodeterminação do povo saharaui – ASSARAUI, que tem realizado reuniões e

dado apoio há muitos anos a luta de nosso povo. Partindo do ato generoso da maioria dos países da América Latina e do Caribe, que já reconheceram nosso país, inclusive em várias capitais abrimos embaixadas, é nossa aspiração e sonho, o ápice e a concretização do estabelecimento de relações diplomáticas entre a República Federativa do Brasil e a República Árabe Saharaui Democrática e celebrá-lo como uma conquista. A deputada federal Érika Kokay está presidindo o Grupo Parlamentar de Amizade Brasil – RASD, o que acreditamos que muito ajudará nesta ação. Levando a verdade aos parlamentares e ao governo brasileiro sobre as decisões das Cortes Internacionais, que reconhecem a soberania e autodeterminação do povo saharaui contra o invasor marroquino. Sempre acreditamos na coerência da Nação Irmã do Brasil. Estamos convencidos de que é um dos países mais bem colocados no mundo pelo seu passado como nação que defende a soberania e autodeterminação dos povos, como previsto em sua Constituição, para compreender o elevado significado de um gesto de solidariedade e generosidade para com uma justa causa de liberdade e democracia, como é a luta do povo saharaui contra um invasor. Desejamos que Sua Excelência, o senhor Presidente da República do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva , reconheça o Estado saharaui e assim possamos abrir mais uma embaixada no Continente Latino, em Brasília, o quanto antes.

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Rosa Parks A Flor Negra Do Alabama

Depois de um dia de trabalho, sofrido ou rotineiro, a costureira Rosa Parks sobe em seu ônibus que faz o itinerário de sua casa. Um ônibus relativamente vazio, mas era anos 1950 nos Estados Unidos da América, mais precisamente na cidade de Montgomery, Alabama. Era época do Only White (só para brancos). As pessoas de cor (“colored ”) deveriam sentar nos bancos de trás, e Rosa se acomodou nos primeiros bancos destinados aos negros. No decorrer do percurso o ônibus foi lotando e lotou. E Rosa foi questionada pelo motorista por que ela não se levantou para ceder seu lugar para uma das pessoas brancas que estavam em pé. A senhora Parks como uma montanha inabalável permaneceu firme em seu propósito de não ceder. Esse ato seria um marco na luta pelos direitos civis na América. Ela foi presa por violação da lei de segregação racial apesar de estar sentada em um lugar que era destinado aos negros. Isso gerou um boicote aos ônibus de Montgomery, levando prejuízos ao sistema de transporte. A convergência de fatores fez o ato da senhora Parks tomar proporções gigantescas, entre elas o despertar do pastor Martin Luther King Jr. como um dos líderes do movimento antissegregacionista. O incidente com Rosa Parks lembra o mesmo ocorrido com Mahatma Gandhi algumas décadas antes em um trem na África do Sul, quando foi pedido para se retirar da primeira classe que era destinada aos brancos e fosse para os vagões das classes “inferiores”. Rosa permaneceu plantada e Gandhi foi arrancado do vagão, mas isso mudariam suas vidas e o mundo. Ahimsa (não violência) e Satyagraha (apego à verdade) foram suas armas contra a barbaridade do racismo. Gandhi afirmava categoricamente que para ele sempre se constituiu um grande mistério de como o ser humano poderia sentir prazer na humilhação de seu semelhante.

Certa vez o pai de Martin Luther king e ele foram numa loja de sapatos, quando foram pedidos para mudarem de lugar, fato esse que ele relata em sua autobiografia: “Aquela foi a primeira vez que vi o papai tão furioso. Aquela experiência me revelou, numa idade bastante nova, que meu pai não havia se subordinado ao sistema, e desempenhou um grande papel na formação de minha consciência. Ainda me recordo a caminhar ao seu lado, rua abaixo, quando me dissera - ‘Eu não me importo quanto tempo ainda viverei com este sistema, mas eu nunca irei aceitá-lo’

Há 60 anos Martin Luther king pronunciaria um dos discurso mais emblemáticos da humanidade: I Have a Dream ( Eu tenho um sonho). No qual ele propõe um sociedade diferente da qual os seus olhos estavam vendo: “Agora é hora de sair do vale escuro e desolado da segregação para o caminho iluminado da justiça racial. Agora é hora [aplausos] de retirar a nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a sólida rocha da fraternidade. Agora é hora de transformar a justiça em realidade para todos os filhos de Deus”. Essas palavras poderiam perder o sentido e sua contundência ou na pior das hipóteses lembrar um tempo remoto e animalesco e vergonhoso da humanidade, mas das profundezas de um coração humano ainda ecoa-se um grito: “Eu não consigo respirar”.

Itamar Ramos*
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*Itamar Ramos – graduado em letras UNEB

Racismo, Uma Ode À Imbecilidade

Por JOSÉ GURGEL

Omundo mesmo havendo na composição de sua população uma forte mistura de raças, não raro, acontecem manifestações imbeciloides de intolerância racial, que muitas vezes ocorre de forma sutil, passando muitas vezes despercebido por quem não é vítima.

O racismo muitas vezes se manifesta em forma de piadas de mau gosto, músicas, xingamentos, violência sem motivo lógico ou até mesmo evitando contato físico.

Muitas vezes nos calamos, muitas vezes fingimos, minimizamos e achamos que não passa de brincadeira, mas, na

verdade, a coisa é muito séria, principalmente quando atinge nossas crianças ou filhos de pessoas queridas e conhecidas.

Aí é que nossa revolta ganha corpo e voz. Esse comportamento imbecil apenas é repetido por crianças que vê nos pais o espelho e repetem, pois ninguém nasce racista, aprende-se através de exemplos, palavras ou gestos de intolerância racial, religiosa ou mesmo de classes.

Isso, por mais que soe ou pareça natural para alguns, para muitos é uma afronta, pois tenta diminuir a importância do ser humano.

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Nessa semana foi a vez de um jogador de futebol ser agredido com palavras de ódio e racismo durante uma partida de futebol.

Foi notícia em quase todos os noticiários do mundo, foi covarde e cruel, contra um cidadão que trabalhando, usando de suas habilidades para entreter aquele bando de cretinos dentro do estádio.

A revolta do jogador foi natural, sobre a forma grosseira como foi tratado, deixando-o transtornado a ponto de vir a público nas redes sociais desabafar.

O desabafo emocionado, indignado contra essa agressão gratuita me tocou e vi que muito temos ainda que aprender, vendo o quão danosa é qualquer tipo de manifestação racista.

Pois racismo é ódio, machuca e muito. Contra isso só uma boa educação que mostre que somos iguais e não podemos ser definidos pela cor da nossa pele, por posses, seja lá qual for a diferença.

Racismo é crime!!

AMOR, SUBLI ME AMOR

Com o tempo esfriando estou evitando sair, fico na frente do computador pra tentar escrever alguns artigos, mas quem disse que consigo, o Caixa Preta não para de me telefonar.

O cabra fica me tentando a dar uma chegada lá no Porcão, lá na nossa mesa preferida, com os costumeiros coices do doce Galak ele fica à vontade pra contar os casos cretinos e as novidades do nosso quadrado.

TIJOLADAS DO CAIXA

Foi no Porcão que ele sugeriu que a Esplanada fosse rebatizada de Rota 171,pra fazer inveja aos americanos, que já contam com a famosa Route 66, mas segundo o Caixa Preta a nossa será muito mais emblemática, conhecida no mundo inteiro ela já está, só falta torná-la oficial.

Mas aproveitando o papo, mesmo com o frio e as moscas, aquela sujeira peculiar, a catinga de gordura, o Caixa que é um gozador nato, estava pra lá de inspirado, não perdoava ninguém.

É cada tijolada que parece bomba de Napalm, como exemplo citava um stand up, onde uma claque de comissionados, puxas sacos de plantão davam gritinhos histéricos de satisfação, sempre quando os participantes falavam alguma asneira ensaiada em casa, a galera ia ao delírio.

As mentiras foram tantas que até agora não consegue-se mensurar qual a mais deslavada, parecia até o Show do Sílvio Santos, dinheiro era o que não faltava nas promessas, isso sem falar nas juras de amor.

Muitos amam o Guará, nasceram, cresceram, estudaram por aqui, mas na primeira oportunidade caíram fora, para poder sentir saudades bem longe daqui.

Realizado lá no auditório da Administração pela passagem do aniversário do Guará, com farta distribuição de comendas, só faltou o Dentinho, muita gente boa sequer foi citada. Confesso que esperava mais no aniversário do Guará, mas fazer o que? Apenas repetiu a mesmice, satisfazendo o ego e a incapacidade reinante.

Pobre Guará!

QUENTÃO

O Caixa Preta me disse que apesar do frio, com o mês de Junho trazendo aquela vontade louca de dançar um forró, tomar um quentão, comer aquelas iguarias juninas, ouvir o

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TIJOLADAS DO CAIXA

som da sanfona, rever amigos, aproveitando pra tirar os agasalhos do armário.

As animadas festas que temos no Guará, pelo que podemos prever, voltarão com força total que com toda certeza valeu a pena esperar.

O pessoal está se preparando, a animação é grande, o frio nos anima pra balançar o esqueleto no gostoso ritmo do forró, tudo isso pra marcar as boas lembranças de festejos juninos animados que acontecerão aqui no Guará.

Confesso que estou morrendo de vontade de dançar um forró nas noites frias de São João.

Com Junho chegando, sentimos que estamos no mês do quentão, fogueira, canjica, forró, as famosas quadrilhas,

onde o povo que acostumado a dançar, continua dançando mostrando os dentes como verdadeiras hienas alienadas. No Planalto Central falar de quadrilha é cair na vala comum, pois por aí temos a Capital Mundial do Forró, aqui temos a Capital Mundial de Quadrilhas, esse título está difícil de ser tomado por qualquer região, até que o pessoal tem se esforçado, mas com o envio de muitos quadrilheiros para a região, talvez esse título seja realmente imbatível, são muito os especialistas, dá uma vontade danada de gritar : Socorro São João! Mas que besteira estou falando, essas são outras quadrilhas.

Temos de falar é da saudável quadrilha junina que agrada a todos, quando chega o São João a turma cai no forró e extravasa a alegria numa festa tradicionalmente nossa.

ANÁLOGO Á ESCRAVIDÃO

O negócio é farrear com mais de mil, como diz o velho Lua numa de suas músicas, afinal ninguém é de ferro.

Copiosas lágrimas escorrem pelo meu rosto, tive que me controlar, aos gritos clamei aos céus: Meu Deus, que país é esse em que vivemos?

Revoltado e incrédulo com o que estava acontecendo, custei muito a crer com a triste notícia onde um pobre senador do Espírito Santo, vivendo em uma situação análoga a escravidão, sofrendo uma grande injustiça e humilhação, com um salário miserê de apenas R$ 33.700,00, isso sem contar benefícios como o auxílio-alimentação, moradia, transporte e plano de saúde, é de cortar o coração.

Até os gastos de R$ 20.000,00 que tinha com cartão de crédito vai ter que cortar, pois está com um saldo negativo de R$ 1,3 mil, com pagamentos agendados de R$28,3 mil, que coisa mais triste.

Como pode um ser humano suportar tamanha humilhação, a Organização das Nações Unidas - ONU tem que tomar conhecimento dessa mancha nos direitos humanos aqui no país.

Estou em lágrimas ao ver a declaração desse pobre senador, pois ninguém consegue acreditar como ele pode passar o mês com esse salário de fome que recebe, enquanto o povo se esbalda com um nababesco salário-mínimo de R$ 1.320,00.

Digo-lhes sinceramente que nem eu e nem a grande maioria de brasileiros desempregados, sairíamos de casa para ganhar esse insignificante salário de senador, pois bom mesmo é viver com esse salário de marajá que é o salário-mínimo aqui na República de Bananas, que hoje é um verdadeiro luxo pra qualquer cidadão pois a grande maioria nem emprego tem.

Esse salário pago ao pobre senador é humilhante e imoral, pois segundo a declaração do mesmo:“Na minha carreira anterior, eu recebia a cada dois dias o que eu recebo hoje por mês como senador. E ainda tendo que ouvir ataques, ofensas, ingratidão e até traição de colegas senadores”.

O que convenhamos, esse salário que o contribuinte lhe paga é um salário de quem trabalha em regime de escravidão, melhor virar um sem teto e viver como pedinte.

Isso é a pátria de chuteiras!!!

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Ainda pequeno, mas um avanço

Enquanto sofre boicote dos representantes de setores mais reacionários da sociedade quando se fala de mudanças climáticas, o governo federal parece ter optado por atacar o problema pelas beiradas. Nada mal para um tema que requer um tratamento transversal por sua própria natureza.

O obscurantismo sob o qual vivemos nos últimos anos fez o governo federal perder de vista, entre outras referências, os parâmetros estabelecidos pelas Nações Unidas em seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Para além da atenção que cada um dos dezessete objetivos merece per se, os chamados ODS impõem um entrelaçamento de agendas capaz de produzir a trama que coloca a sustentabilidade à frente de qualquer aspecto particular, coisa bem diferente do que se viu por estas bandas ao longo de quase meia década de porteiras abertas para o desatino.

Felizmente derrotada na eleição presidencial, a agenda da acumulação de capital às custas da irresponsabilidade ambiental resolveu se vingar via representação parlamentar, cuja composição tem se mostrado bastante receptiva a tal insanidade. Prova disso deu a Câmara dos Deputados quando, simultaneamente, soltou amarras para permitir mais destruição da Mata Atlântica e mutilou a reforma administrativa do governo Lula 3 para enfraquecer os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas.

Não faltaram críticas à atuação do governo nestes episódios — ou mesmo à falta dela, na opinião até de alguns aliados. Mas é bem plausível a justificativa de que a correlação de forças na Casa não permitiria uma atuação mais incisiva, sob pena de comprometer outras agendas num futuro nem tão remoto assim.

Seja como for, no que dependeu exclusivamente do Executivo, este primeiro semestre trouxe duas medidas de algum modo alvissareiras no campo da mobilidade. Curiosamente, não vieram dos ministérios dos Transportes ou das Cidades, mas da área econômica, o que não deixa de ser altamente significativo.

A primeira dessas medidas, logo no início do ano, foi a nova política de taxação dos combustíveis, que tem entre seus critérios o estímulo ao uso de fontes de energia renováveis. Pode-se questionar se a diferença nas alíquotas será capaz de produzir alterações importantes nos hábitos de consumo ou nas opções dos gestores das frotas. Mas não há como negar que traz de imediato uma sinalização e, quem sabe, uma expectativa de consolidação do critério ao longo do tempo.

Quanto à segunda medida, é bem verdade que carrega o pecado original de enxergar a indústria automotiva como motor privilegiado da economia. Todavia, registrada essa ressalva, é forçoso reconhecer que a inclusão de veículos de transporte coletivo e, de novo, do desincentivo ao uso de combustíveis fósseis representa uma significativa evolução em relação ao regime automotivo dos governos Lula 2 e Dilma, por exemplo, com foco quase exclusivo na popularização da mobilidade motorizada individual.

Claro que as duas iniciativas são ainda tímidas. Além disso, o noticiário deixa uma forte suspeita de que não houve muita articulação entre elas, nem alguma diretriz política mais robusta. De todo modo soa promissora a perspectiva de que há uma sensibilidade razoavelmente disseminada na área econômica a ponto de inspirar os tecnocratas no momento da elaboração de suas medidas.

* Paulo Cesar Marques da Silva é professor da área de Transportes da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília. Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University of London (University College London) (2001).

Paulo Cesar Marques da Silva *
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“Mas não há como negar que traz de imediato uma sinalização e, quem sabe, uma expectativa de consolidação do critério ao longo do tempo”
MOBILIDADE

CONTOS EM CONTA-GOTAS

Vou ao Louvre

Talvez ninguém acredite que nunca fui ao Louvre, embora venha a Paris em todas as primaveras.

Sou desse tipo de mulher que ascendeu socialmente graças a um casamento bem calculado, e para mim, me interessam muito mais as grifes fantásticas e carésimas que encontro aqui e posso ostentar de volta ao Brasil do que as visitações a museus e as idas a espetáculos ou outros tipos de programas culturais. A roda de amigos da qual faço parte só se interessa por futilidade e ostentação, então não vejo a necessidade de aprender nada.

Mas acordei com uma baita depressão, sentindo falta de um amigo gay, pois acho esse o melhor tipo de amigo que alguém pode ter a sorte de ter. Já tive vários, mas a AIDS chegou no princípio dos anos 80 dizimando quase todos eles, e os que não partiram por conta dessa doença, foram embora por motivos outros, porém sempre mortais.

Ouvi no saguão do hotel um grupo de turistas que se dizia ávido para conhecer o Louvre, e que lá, não deixariam sob nenhuma hipótese de contemplar uma tal de Mona Lisa. Senti que minhas visceras estavam às gargalhadas, imaginando que eu tirara a sorte grande, pois sem esforço descobri onde poderia encontrar uma biba francesa e famosa, apesar de lisa. O detalhe dela ser lisa a mim não importava de jeito nenhum, pois tenho euros suficientes para ela e para mim.

Me sentindo animada subi ao meu apartamento, tomei um delicioso banho de espumas e espumante, esperando até que a água esfriasse. Ato contínuo me vesti, e usei na medida, nuvens do meu perfume predileto. Telefonei para a recepção e solicitei que providenciassem um táxi, e pedi que assim que ele chegasse, que eles me avisassem, e eu desceria imediatamente.

Enquanto esperava ficava fazendo milhares de suposições sobre a biba, desde seu aspecto físico e psicológico mas já podia apostar que ela além de chiquíssima seria muito divertida. Foram os quinze minutos mais longos da minha vida, até entrar no carro e pedir ao motorista para me levar ao Louvre.

Por
Ângela Beatriz Sabbag
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Hoje vou pedir um bolo no quarto do hotel para comemorar um mês dessa minha estadia em Paris.

Estava sentindo a inquietação que uma criança sente ao ir à Disney pela primeira vez

Assim que o carro parou, paguei pela corrida e nem quis esperar pelo troco, pois estava com muita pressa para ser feliz. Com meu francês pífio me acanhei para pedir uma informação, porém lembrando dos turistas que visitam nosso país e que falando de qualquer jeito se fazem entender por nós, me animei e perguntei onde poderia encontrar a Mona Lisa.

Informação obtida, fui caminhando quase num voo, e ao finalmente deparar-me com a placa onde se lia Monalisa, quase caí dura para trás.

Mon Dieu, porquoi, digo, por que ninguém havia me dito que a tal era apenas uma tela? E que Mona mais feia era aquela? Deprimi...

Perdi a noção do tempo, portanto nem posso dizer se demorei muito ou não ali, num estado de catatonia, totalmente indefesa.

Quando me recuperei já estava deitada em minha cama no hotel, sem saber como voltei, se havia dormido, enfim, esse lapso temporal se fez presente para sempre na minha memória. Lembrei que havia encomendado um bolo para

CONTOS EM CONTA-GOTAS

hoje à noite, então resolvi tomar outro longo banho para afastar de vez toda a decepção sofrida mais cedo.

Novamente deixei a água encher a banheira, e coloquei vários tipos de sais. Desta vez sem espumante na água, porque enquanto eu relaxava no banho, ia bebendo vagarosamente meu champagne predileto . Que delícia aquele contraste da água bem quente com a bebida que ia descendo pela minha garganta seca, bem gelada.

Não ia sair naquela noite, então vesti uma camisola longa de seda e deitei-me naquela enorme cama enquanto esperava a minha encomenda.

Estava cochilando quando ouvi uma leve batida na porta do apartamento, e meio tonta fui andando bem devagar e descalça receber a minha encomenda. Fiquei em estado de choque novamente, me perguntando por que tanta surpresa naquele dia.

-Jean Pierre, como é que você me encontrou aqui em Paris?

Não ouvi a resposta, acho que nem me interessei por ela, porque sempre que estávamos juntos a gente vivia só e tão somente de amor e paixão.

COMPORTAMENTO

Seus brincos

Minhas atenções estavam todas voltadas para você. Acho que no fundo, bem inconscientemente, sabia que seria nossa despedida.

“ O revez do parto”, como disse o poeta.

O outro lado da moeda da vida que não queremos encarar, quando o amor é forte.

Que dilema: ver minha passarinha tão frágil, tão insegura, tão amedrontada, sem falar mais uma palavra. Mas, para quê palavras quando se sabe ler o olhar?

E o seu olhar me dizia, que aquela situação não era para você.

A mulher que foi e sempre será minha heroína, meu exemplo de garra, de fortaleza, de sagacidade, de independência....

A quem eu sempre recorria nos momentos de dor e de aflição.. E sempre encontrei colo e apoio.

Desde cedo, percebi o quanto você é especial. Parecia um sol, irradiando alegria e amor, para todos ao seu redor.

E desde cedo, também, decidi que queria ficar perto de você. Te elegi como minha melhor amiga.

Entre nós, não tinha competição, não tinha certo nem errado. Era um respeito mútuo, conquistado à base de uma convivência com muita admiração e amor.

Quantas viagem, quantas noitadas, quantas gargalhadas, quantos momentos felizes, que agora, deixam uma melancolia, uma vida sem cor e uma dor imensa de saudade.

Não fui egoísta em lhe querer daquele jeito. Naquela madrugada, liberei você para sair do corpo, cansado de tantas lutas, e a mente adoecida, que também me fazia adoecer.

Como é difícil não ter mais sua presença, mãe. Mas, como sou grata pela linda parceria e cumplicidade que criamos.

Com você aprendi tanta coisa do pouco que sei sobre a vida.

Renata Dourado*
“E me espere, porque vamos continuar nossa parceria. Nossa história ainda terá muitos capítulos porque o amor é capaz de continuar em todas as dimensões.”
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Naquela madrugada, no quarto frio de UTI, não consegui pregar o olho.

Sua simplicidade, seu desprendimento, sua capacidade de ajudar da forma mais genuína e verdadeira, quem quer que fosse, sobretudo os mais necessitados, contribuíram para formar a mulher que hoje eu sou.

Meu coração ainda está partido e, possivelmente, continuará assim.

Às vezes, parece que estou em um sonho, onde você viajou e vai voltar a qualquer momento com o sorriso mais lindo que já vi na minha vida e o abraço que me fazia esquecer minhas dores.

Parece que vou ouvir: “ Mamãe chegou”!! Como essa frase alegrava meu coração....

Sigo, sangrando, mas sigo porque você me ensinou assim.

Você é e sempre será minha deusa, minha musa, meu amor. Faça festas, dance seu forró, com sua flor no cabelo, seu perfume francês e seu batom vermelho.

E me espere, porque vamos continuar nossa parceria. Nossa história ainda terá inúmeros capítulos porque o amor é capaz de continuar em todas as dimensões.

Enquanto isso, sigo usando seus brincos. Uma forma simbólica de lhe ter por perto.

Te amo, para sempre.

* Renata Dourado é formada em Jornalismo pelo Uniceub e trabalha na TV Bandeirantes há mais de 13 anos.

Atualmente, apresenta o Band Cidade Segunda Edição, jornal local, que vai ao ar, ao vivo, de Segunda à Sexta, às 18h50. Também apresenta o Band Entrevista, que vai ao ar, aos sábados, às 18h50.

Formada em Psicanálise e Mestranda Especial da UNB em psicologia clínica.

37 COMPORTAMENTO

Saúde e Inteligência Artificial

Inteligência artificial é o tópico quente do momento. A Apple acaba de lançar óculos de realidade virtual que prometem revolucionar a maneira como nos comunicamos e nos divertimos. Elon Musk pediu uma pausa no desenvolvimento de ferramentas como o GPT-4 por considerar que são tão poderosas que podem trazer danos imensuráveis à humanidade.

Na medicina, a incorporação da tecnologia tem sido rápida. A revista TIME lançou uma edição especial sobre o futuro da medicina, em que apresenta inovações tecnológicas que impactarão profundamente a saúde. Alguns exemplos: no diagnóstico por imagem, algoritmos avançados analisarão imagens médicas e as cruzarão com um extenso banco de dados, resultando em diagnósticos precisos e eficientes. Na assistência farmacêutica, a inteligência artificial associada às prescrições médicas minimizará a possibilidade de erros ao analisar informações sobre dosagens de medicamentos e interações medicamentosas.

Cada vez mais caminha-se em direção à medicina personalizada. Diversos dispositivos estão sendo desenvolvidos com capacidade para monitorizar sinais vitais, taxas de açúcar no sangue, padrão da microbiota intestinal e outros elementos que permitirão uma análise individualizada e o planejamento de uma proposta terapêutica específica para cada paciente. Análise genética personalizada já é possível e permitirá um cuidado específico para as necessidades de cada perfil.

Apesar de todas as maravilhas que vêm sendo anunciadas, a humanidade experimenta uma epidemia de doenças relacionadas ao estilo de vida, como a obesidade e doenças associadas a ela, como diabetes e fígado gorduroso, e de doenças mentais, como ansiedade e depressão. Após a pandemia de covid-19, esses dois tipos de doenças aumentaram significativamente.

Há relação entre desenvolvimento acelerado da tecnologia e os males epidêmicos de que vem sofrendo a humanidade? Algumas hipóteses podem ser aventadas.

À medida que nossa interação com as máquinas aumenta, diminui o contato social e humanizado. A cada dia passamos mais tempo interagindo de forma virtual. As demandas,

que antes nos chegavam nos locais e nos turnos normais de trabalho, chegam agora a todo momento via WhatsApp. Temos cada vez menos disponibilidade para o lazer, para a prática de exercícios físicos e para nos alimentarmos de modo mais natural e saudável.

A velocidade do mundo virtual não consegue paralelo com a realidade, o que contribui para aumentar nossos sentimentos de ansiedade e de incapacidade em cumprir expectativas. Na área do cuidado à saúde, parece que quanto mais tecnologia incorporada, menos tempo dispomos para o contato com os profissionais de saúde. Em muitas situações, o médico passa mais tempo alimentando dados nos sistemas de softwares do que no contato direto com seus pacientes. As marcações de consultas e orientações são feitas por assistentes virtuais, dentro de fluxogramas estereotipados e engessados. Estariam todos esses avanços se refletindo realmente numa maior satisfação do usuário do sistema de saúde?

O principal papel da tecnologia deveria ser a liberação dos seres humanos para tarefas que a máquina não pode fazer, como atividades que envolvem empatia, afeto, contato físico, acolhimento. Mas isso não parece estar acontecendo na prática. Queremos mesmo interagir cada vez mais com máquinas em nossas atividades cotidianas e passar nosso tempo de lazer dentro da realidade virtual proporcionada por óculos tecnológicos, mas cada vez mais sozinhos e fechados dentro de nossas casas? Isso supre nossas necessidades emocionais, respeita o ser humano como um indivíduo completo, com dimensões biopsicossociais? Talvez precisemos, mais do que nunca, utilizar a inteligência humana para manter a inteligência artificial dentro de limites saudáveis e compatíveis com nossa sanidade mental. É hora de considerar o impacto da tecnologia em nossa vida diária e garantir que ela nos liberte, em vez de nos aprisionar.

Luciana Campos * * Luciana Campos é mestre em Ciências Médicas pela USP, médica gastroenterologista atuante no setor público e privado e pesquisadora clínica no L2 Instituto de Pesquisas.
38 SAÚDE

Quero Você Eleita convida bancada feminina da Câmara dos Deputados

É o início de uma mobilização para organizar o novo ‘Lobby do Batom’, cuja a meta é assegurar 30% das cadeiras do Legislativo para mulheres, até que se alcance a paridade

Com o objetivo de desejar boas-vindas para a bancada feminina da Câmara Federal, a Quero Você Eleita promoveu no último dia 14 de junho um café da manhã para apresentar a mobilização pela qual pretende organizar o novo ‘Lobby do Batom’, inspirado no movimento que surgiu durante a última Assembleia Nacional Constituinte. Entre as presentes as deputadas federais Benedita da Silva (PT-RJ), Soraya Santos (PL-RJ), Yandra Moura (União Brasil-SE) e Laura Carneiro (PSD-RJ), além da vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, da ministra Maria Claudia Bucchianeri (TSE), e da secretária de Aquicultura do Ministério da Pesca, Tereza Nelma

Realizado no Gentil Café, em Brasília, o encontro reuniu lideranças e representantes da política, do TSE, da indústria, do comércio, de instituições e de organizações da sociedade civil com o propósito de aumentar a representatividade feminina nos espaços de liderança e poder. Entre os objetivos já definidos pela Quero Você Eleita e outras sete entidades ligadas ao movimento feminino _ Conecta, Elas Pedem Vista, Vamos Juntas, Mulheres Negras Decidem, A tenda das candidatas e Observatório de Violência contra as Mulheres _ está a proposta de reserva de no mínimo 30% de cadeiras paras as mulheres, sendo metades delas ocupadas por mulheres negras, nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais, até se chegar a paridade.

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De caráter suprapartidário, assim como costuma ser a atuação da bancada feminina na Câmara, o encontro foi organizado pela advogada e cientista política, Gabriela Rollemberg , cofundadora da Quero Você Eleita, um laboratório de inovação política com foco na eleição de mais mulheres. Como anfitriã, coube a ela receber a atual coordenadora da Bancada Feminina, a ex-constituinte Benedita da Silva, hoje com 81 anos, que anunciou que o atual mandato de deputada federal será o seu último.

Uma homenagem feita pela poetisa e consultora da Quero Você Eleita, Mayrla Silva , à Benedita da Silva emocionou a todos os presentes. A deputada agradeceu, entre lágrimas, o gesto, lembrando sua trajetória no Parlamento e sua solidão quando chegou lá como única mulher negra na Constituinte e onde sequer havia um banheiro feminino para as 26 parlamentares mulheres. Por fim, disse estar feliz de ver outras mulheres negras chegando para ocupar o espaço que merecem.

A procuradora da Mulher da Câmara Federal, Soraya Santos, reforçou a importância do legado de Benedita, lembrando que graças ao ‘Lobby do Batom’ muitos avanços foram garantidos na Constituinte. Entre eles a inclusão no texto constitucional do direito a igualdade entre homens e mulheres e a licença maternidade.

Yandra Moura, que comanda hoje o Observatório da Mulher na Política, destacou que Benedita da Silva abriu espaço para as gerações seguintes, permitindo que ela própria se tornasse a primeira deputada federal eleita pelo estado de Sergipe.

Juntas somos imbatíveis

Maria Claudia Bucchianeri, ministra do TSE, trouxe à tona uma questão de extrema urgência: a necessidade de reserva de cadeiras para as mulheres nas próximas eleições para que de fato a equidade seja alcançada.

Celina Leão, vice-governadora do DF, destacou a importância da mobilização da bancada feminina da Câmara, da qual foi coordenadora durante seu mandato como deputada federal, ressaltando “que juntas somos imbatíveis”.

CNDL, Menthalidade Feminina, DICAS (Instituto de Desenvolvimentos da Criança e Adolescente), Sindicato do Vestuário, Sindicato de Madeira e móveis, SEBRAE, Boehringer, Elas no orçamento, Assessoria Diversidade AGU, Sindeletro. POLÍTICA

O evento contou com o apoio da FIBRA e TV ALBA, aos quais se uniram também a OAB-DF, Observatório de Violência Política, ABRADEP, Grupo Mulheres do Brasil, Elas Pedem Vista, Juristas Negras, Elas no Poder, Vamos Juntas, Representativa, Iniciativa Cidadã, Mulheres Negras Decidem, 41

DFSTAR: a Missão do Pioneirismo e Excelência no atendimento

Allisson Barcelos Borges, diretor médico do Hospital DFSTAR, partilha sua visão de como manter o hospital numa posição de excelência e protagonismo.

Há 4 anos era inaugurado em Brasília o DFSTAR, o hospital de primeira linha da Rede D’Or em Brasília. Desde então, a instituição vem se consolidando como local de medicina de excelência, destacando-se pelo pioneirismo em diversos tipos de tratamentos e procedimentos no Distrito Federal. O sucesso foi tamanho que já existe uma proposta aprovada de expansão da estrutura, que deve ampliar significativamente o potencial de aten-

dimento. À frente da diretoria médica desde 2020, o Dr. Allisson Barcelos Borges , médico radioterapeuta pela Universidade de São Paulo e Hospital de Amor de Barretos, é uma figura chave na coesão e na articulação da equipe técnica multidisciplinar e tem grande responsabilidade na posição de destaque que o hospital vem assumindo na cidade. Foi o convidado de Luciana Campos para a entrevista do mês.

42 EMPREENDEDORISMO

“Quando cheguei, o hospital estava em obras e acabei me envolvendo muito com esse fantástico projeto, sendo estimulado pelo Dr. Rodrigo Lima, diretor do DF STAR na época, e pelo Dr. Guilherme Villa, que era diretor executivo da Rede na regional DF. Quando o Dr. Rodrigo saiu da direção, o Dr. Pedro Loretti assumiu a direção do hospital e me convidou para o cargo de gerente médico do hospital. Nesse tempo construímos um hospital forte assistencialmente e fomos buscando o reconhecimento de Brasília como um hospital de ponta. Em dezembro de 2020”

LC: Allisson, como foi sua trajetória até se tornar diretor médico do Hospital DFStar?

ABB: Eu nasci em Itumbiara, interior de Goiás, e de lá fui fazer minha faculdade de medicina em Uberaba-MG, na Universidade de Uberaba. Através de um grande amigo e colega de turma, o Dr. Guilherme Carrara, conheci o mundo da Oncologia. Entrei na residência de Radioterapia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP em São Paulo. Quando terminei a minha residência, trabalhei em Goiânia-GO por dois anos e após, me mudei para Barretos, trabalhando no hospital de Amor por 4 anos e meio. Recebi um convite do Prof. Paulo Hoff e da Dra. Karina Moutinho para vir para a Rede D’Or para montar o serviço de Radioterapia do Hospital DF STAR. Fui o primeiro médico contratado do hospital, chegando em Brasília em 02/01/2019. Quando cheguei, o hospital estava em obras e acabei me envolvendo muito com esse fantástico projeto, sendo estimulado pelo Dr. Rodrigo Lima, diretor do DF STAR na época, e pelo Dr. Guilherme Villa, que era diretor executivo da Rede na regional DF. Quando o Dr. Rodrigo saiu da direção, o Dr. Pedro Loretti assumiu a direção do hospital e me convidou para o cargo de gerente médico do hospital. Nesse tempo construímos um hospital forte assistencialmente e fomos buscando o reconhecimento de Brasília como um hospital de ponta. Em dezembro de 2020, Dr. Pedro foi convidado a assumir a

direção do Hospital Vila Nova Star em São Paulo, e então fui promovido a diretor. Mas, sem dúvidas, o apoio incondicional da minha família, especialmente da minha esposa Patrícia, os ensinamentos de serenidade dos meus pais Paulo Serrano e Cida e as mãos de Deus foram e são fundamentais. Isso porque saí da minha cidade natal com 15 anos para estudar, nunca mais voltei, casei-me em 2012 e, por duas vezes, mudamos de cidade. Especialmente, a mudança de Barretos para Brasília foi uma decisão muito difícil, pois adorávamos a cidade e o trabalho, nossos dois filhos, Maria Júlia e Mateus, estavam adaptados e tanto Patrícia como eu estávamos numa crescente profissional. Agora, olhando para trás, vemos que foi uma decisão acertada, por tudo que construímos em Brasília.

43 EMPREENDEDORISMO

LC: Qual é a sua missão nesse cargo?

ABB: A minha missão dada pela companhia é consolidar o DFSTAR como referência em saúde no cenário nacional, através de uma alta qualidade técnica e alta qualidade percebida.

LC: Quais são seus principais desafios à frente do DFSTAR?

ABB: Acho que não só do DFSTAR, mas o principal desafio hoje no mercado de saúde é saber equacionar recursos, mantendo o foco na qualidade assistencial e na jornada do paciente, bem como no desenvolvimento de lideranças capazes de replicar nosso modelo.

LC: Além da competência técnica, que habilidades comportamentais, ou soft skills, você considera mais importantes para o exercício de cargos de liderança como o seu?

ABB: Creio que a habilidade no relacionamento entre pessoas, a disponibilidade e a montagem de um time forte são essenciais para qualquer liderança. Cerca de 90% do nosso tempo a gente passa interagindo, seja com pacientes, colaboradores e médicos. Então saber se posicionar, cobrar os resultados e ao mesmo tempo ser compreensivo nas mediações é fundamental. E a disponibilidade também é essencial para que a entrega ocorra, especialmente em saúde. Os nossos pacientes, colaboradores e corpo clínico precisam que estejamos atentos 24/7, pois soluções para determinados problemas, em um hospital, muitas vezes não respeitam o horário comercial. O time é o que suporta e entrega os resultados, e saber motivá-lo é chave para a unidade atingir o seu objetivo. Nesse momento, dar o exemplo e ser um líder - não um chefe - faz toda a diferença.

LC: Que papel o DFSTAR deseja desempenhar no cenário dos estabelecimentos de saúde do DF? Quais são as perspectivas futuras para o desenvolvimento do hospital?

ABB: O nosso papel é ser um dos principais hospitais do país. Trouxemos e trazemos tecnologias e procedimento inéditos no Brasil e, na nossa região, procedimentos que antes só eram realizados em outros grandes centros como São Paulo. Fizemos, por exemplo, a primeira radioembolização hepática do Centro-Oeste, e a primeira radiocirurgia funcional, utilizando o Gamma Knife Icon, aparelho de alta precisão indicado para radiocirurgias intracranianas. Conseguimos, nesses 4 anos de história, duas acreditações internacionais, sendo uma da Joint Comission – JCI. Então, o nosso papel é de mantermos o pioneirismo no cenário regional e nacional, fazendo com que nossos pacientes não precisem mais da ponte área para ter acesso a procedimentos e equipes de ponta. No futuro de curto prazo, deslumbramos a expansão do hospital e temos um projeto já aprovado na Rede D’Or para dobrar o tamanho do hospital.

LC: Num serviço de saúde de excelência, além da implementação de inovações tecnológicas, é fundamental estimular o desenvolvimento humano, as relações interpessoais dentro da equipe de profissionais e o relacionamento com o usuário final, que é o paciente. Como o DFStar trabalha essa questão?

ABB: O DFSTAR é Rede D’Or e essa é uma grande preocupação da Rede, pois, em resumo, é gente cuidando de gente. Hoje temos uma série de programas corporativos que visam o desenvolvimento de lideranças e a educação continuada dos nossos colaboradores e corpo clínico. Temos, dentro do hospital, uma unidade do IDOR, braço da Rede que apóia, incentiva e desenvolve atividades de ensino e pesquisa no nosso hospital. Acreditamos que não adianta apenas termos os melhores equipamentos e os melhores processos. Se não tivermos a cultura de segurança do paciente pulverizada na ponta, em quem lida diretamente com o paciente, seremos apenas um hospital bonito.

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EMPREENDEDORISMO

ARTES PLÁSTICAS

Aquarela sobre papel 100% algodão

Flávia Mota Herenio @motaflaviafm

O novo ‘Lobby do Batom’

Cofundadora da Quero Você Eleita, Gabriela Rollemberg acredita que este é o caminho para se ampliar a participação feminina nos espaços de Poder

Inspirada no movimento que surgiu durante a última Assembleia Nacional Constituinte _ através do qual a minoritária bancada feminina, com apenas 26 deputadas federais, conseguiu negociar grandes conquistas para as brasileiras, como a inclusão no texto constitucional da garantia de igualdade de direitos entre homens e mulheres e a licença maternidade _, a advogada e cientista política Gabriela Rollemberg tem trabalhado para reeditar o chamado ‘Lobby do Batom’. Cofundadora da Quero Você Eleita , um laboratório de inovação política com foco na eleição de mais mulheres para cargos do Poder, ela já apresentou sua ideia às principais lideranças femininas da Câmara dos Deputados. Seu próximo passo, é mobilizar também a bancada do Senado e ampliar o apoio que vem costurando junto a sociedade civil organizada.

Como surgiu a ideia de relançar o ‘Lobby do Batom’, quase 40 anos depois da Constituinte?

Com a possibilidade da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional no 9/2023, conhecida como “PEC da Anistia”, que prevê um novo perdão aos partidos políticos que não destinaram o percentual mínimo de recursos públicos para as candidaturas de mulheres e negros nas últimas eleições, analisando o cenário político em que praticamente todos os partidos políticos estão unidos pela sua aprovação, entendemos a necessidade urgente da sociedade civil caminhar de mãos dadas com as banca-

da feminina da Câmara e do Senado, de modo a potencializar as suas forças nessa temática e em todas as demais que visam evitar os retrocessos e promover avanços nos direitos das mulheres. A ideia é se inspirar no mesmo movimento que aconteceu na Assembleia Constituinte, em que todas as parlamentares trabalharam juntas em defesa das mulheres, mas que dessa vez essa atuação seja conjunta com a sociedade civil organizada.

Quais as principais bandeiras que serão levantadas por esse novo movimento?

Estamos trabalhando na construção de consensos mínimos entre os movimentos, institutos e coletivos, tendo sido já delimitada uma agenda ideal de avanços estruturantes para esse primeiro momento:

• Reserva de no mínimo 30% de cadeiras para as mulheres nos cargos proporcionais até se chegar à paridade entre homens e mulheres nos parlamentos do país;

• Rejeitar o perdão amplo aos partidos políticos que descumpriram as regras de destinação dos recursos do fundo eleitoral e partidário;

• Constitucionalizar a destinação de recursos do fundo eleitoral e fundo partidário para candidaturas de mulheres negras e homens negros;

46 POLÍTICA

• Nas ações eleitorais de cassação das chapas proporcionais em decorrência de candidaturas fictícias de mulheres, proteger as mandatárias para que não sejam cassadas, bem como prever a aplicação da sanção aos dirigentes partidários; e

• Assegurar que ao menos as vagas ocupadas por mulheres nos Tribunais sejam sucedidas por mulheres e negras, na mesma proporção, bem como que a próxima vaga no Supremo Tribunal Federal seja ocupada por uma jurista negra com reconhecida trajetória de defesa dos Direitos Humanos.

Por que as mulheres não conseguiram avançar em sua representação mesmo depois das cotas de 30%?

A cota de 30% que define a obrigatoriedade de lançamento de candidaturas femininas para os Parlamentos, só passou a ser aplicada de forma obrigatória a partir da eleição de 2010. Anteriormente, o que havia era mera previsão de reserva de percentual de candidaturas, o que não trazia eficiência. Mesmo com a obrigatoriedade de lançar candidatas,

os partidos políticos vêm burlando a cota, lançando candidaturas fictícias, conhecidas vulgarmente como candidaturas laranja. Levou algum tempo até que o TSE entendesse que essa fraude deveria levar à cassação de toda a chapa, como vem acontecendo atualmente. No geral, os partidos querem apenas mulheres candidatas, não que elas sejam de fato eleitas. É o que se verifica na forma de distribuição dos recursos dos fundos eleitoral e partidário para campanha eleitoral, pois mesmo havendo obrigação prevista em decisão judicial do STF de destinação de pelo menos 30% dos recursos para as candidatas desde a eleição de 2018, o que ocorreu desde então foram sucessivas anistias para perdoar desvios desses recursos para outras finalidades, que não a eleição de mulheres. Temos boas ações afirmativas previstas em lei e na Constituição. No entanto, não estão sendo efetivamente aplicadas no decorrer dos anos, o que apenas prejudica a qualidade da democracia brasileira. Se a nova anistia for aprovada, será uma década de anistias na temática da participação feminina na política.

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POLÍTICA

O que mais afasta as mulheres da política?

Toda mulher que se lança no desafio da política coloca em risco a sua própria existência, não importa o cargo, o partido, ou o país. A política ainda é construída por homens para homens. Infelizmente, ainda costuma ser um ambiente tóxico e violento, no qual há muitos obstáculos para a eleição das mulheres bem como para a sua permanência nos mandatos. Elas não são bem vindas, incomodam o status quo, basta ver um recente levantamento que apontou que mesmo sendo minoria na Câmara, as deputadas da atual legislatura são alvo de 70% das representações no Conselho de Ética. Elas sofrem violência política constantemente pelo simples fato de serem mulheres. Precisamos garantir a autossustentabilidade dos mandatos femininos. Não basta eleger mulheres, temos que garantir que elas queiram permanecer na política.

Qual o maior desafio que a Quero Você Eleita enfrentou desde a sua criação em 2020?

A persistente falta de recursos para as candidaturas femininas, apesar da previsão expressa de destinação de percentual mínimo dos recursos. Trabalhamos com candidaturas de diversos partidos, sejam elas proporcionais ou majoritárias, mas, no geral, elas são procuradas de última hora, para cumprir a cota ou para ser vice, não têm acesso à estrutura partidária na pré-campanha, e mesmo quando crescem nas pesquisas não recebem o devido investimento para se viabilizar. O que acaba sendo mais comum é colocar as mulheres para pavimentar o caminho dos homens e fortalecer candidaturas masculinas. Infelizmente, a violência política começa nos partidos.

Quando o Brasil atingirá a paridade de gênero na política?

Se começar a cumprir as suas próprias regras legais e constitucionais, teremos uma potente aceleração nos percentuais construídos até aqui. Da mesma forma, há grande possibilidade de avanços significativos se aprovada a cota de cadeiras para as eleições municipais do próximo ano. No entanto, se mantido o ritmo atual de crescimento percentual, há estimativas que mencionam aproximadamente 120 anos, o que é absolutamente inaceitável.

Qual a diferença que as mulheres podem fazer na política?

As mulheres têm se destacado com mandatos inovadores que promovem o pertencimento, pedagogia política, construção coletiva, escuta ativa e diálogo inclusivo. As mulheres são atravessadas por outros desafios pessoais, profissionais e até mesmo fisiológicos, trazem novas perspectivas. Somos metade da população, metade da força de trabalho, praticamente a metade dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, não faz sentido ignorar esse potencial na elaboração de leis e políticas públicas. A nossa participação na arena política produz novos conceitos e inovações até mesmo na nossa linguagem: feminicídio, economia do cuidado, dignidade menstrual, violência política de gênero... Mudar o vocabulário muda a nossa forma de compreender o mundo e de nos organizar.

Que mensagem deixaria para as mulheres que têm medo de entrar na vida pública?

Tem uma frase de uma música de uma cantora maravilhosa do Recôncavo Baiano, Sued Nunes, que é nosso lema “eu sou uma, mas não sou só”. É preciso reverenciar todas as mulheres que deram a vida para que pudéssemos alcançar os nossos direitos. Apesar de todos os desafios, todas as que vieram antes de nós apenas provaram que quanto mais mulheres na política, mais a gente muda a política, a cultura e a sociedade. Ainda há muito para ser mudado. Estamos todas no mesmo barco, precisamos estar unidas e remando na mesma direção. Se estiver com medo, saiba que não está sozinha, estamos aqui pra te dar a mão!

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POLÍTICA
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