
2 minute read
Saúde e Inteligência Artificial
Inteligência artificial é o tópico quente do momento. A Apple acaba de lançar óculos de realidade virtual que prometem revolucionar a maneira como nos comunicamos e nos divertimos. Elon Musk pediu uma pausa no desenvolvimento de ferramentas como o GPT-4 por considerar que são tão poderosas que podem trazer danos imensuráveis à humanidade.
Na medicina, a incorporação da tecnologia tem sido rápida. A revista TIME lançou uma edição especial sobre o futuro da medicina, em que apresenta inovações tecnológicas que impactarão profundamente a saúde. Alguns exemplos: no diagnóstico por imagem, algoritmos avançados analisarão imagens médicas e as cruzarão com um extenso banco de dados, resultando em diagnósticos precisos e eficientes. Na assistência farmacêutica, a inteligência artificial associada às prescrições médicas minimizará a possibilidade de erros ao analisar informações sobre dosagens de medicamentos e interações medicamentosas.
Advertisement
Cada vez mais caminha-se em direção à medicina personalizada. Diversos dispositivos estão sendo desenvolvidos com capacidade para monitorizar sinais vitais, taxas de açúcar no sangue, padrão da microbiota intestinal e outros elementos que permitirão uma análise individualizada e o planejamento de uma proposta terapêutica específica para cada paciente. Análise genética personalizada já é possível e permitirá um cuidado específico para as necessidades de cada perfil.

Apesar de todas as maravilhas que vêm sendo anunciadas, a humanidade experimenta uma epidemia de doenças relacionadas ao estilo de vida, como a obesidade e doenças associadas a ela, como diabetes e fígado gorduroso, e de doenças mentais, como ansiedade e depressão. Após a pandemia de covid-19, esses dois tipos de doenças aumentaram significativamente.
Há relação entre desenvolvimento acelerado da tecnologia e os males epidêmicos de que vem sofrendo a humanidade? Algumas hipóteses podem ser aventadas.
À medida que nossa interação com as máquinas aumenta, diminui o contato social e humanizado. A cada dia passamos mais tempo interagindo de forma virtual. As demandas, que antes nos chegavam nos locais e nos turnos normais de trabalho, chegam agora a todo momento via WhatsApp. Temos cada vez menos disponibilidade para o lazer, para a prática de exercícios físicos e para nos alimentarmos de modo mais natural e saudável.
A velocidade do mundo virtual não consegue paralelo com a realidade, o que contribui para aumentar nossos sentimentos de ansiedade e de incapacidade em cumprir expectativas. Na área do cuidado à saúde, parece que quanto mais tecnologia incorporada, menos tempo dispomos para o contato com os profissionais de saúde. Em muitas situações, o médico passa mais tempo alimentando dados nos sistemas de softwares do que no contato direto com seus pacientes. As marcações de consultas e orientações são feitas por assistentes virtuais, dentro de fluxogramas estereotipados e engessados. Estariam todos esses avanços se refletindo realmente numa maior satisfação do usuário do sistema de saúde?
O principal papel da tecnologia deveria ser a liberação dos seres humanos para tarefas que a máquina não pode fazer, como atividades que envolvem empatia, afeto, contato físico, acolhimento. Mas isso não parece estar acontecendo na prática. Queremos mesmo interagir cada vez mais com máquinas em nossas atividades cotidianas e passar nosso tempo de lazer dentro da realidade virtual proporcionada por óculos tecnológicos, mas cada vez mais sozinhos e fechados dentro de nossas casas? Isso supre nossas necessidades emocionais, respeita o ser humano como um indivíduo completo, com dimensões biopsicossociais? Talvez precisemos, mais do que nunca, utilizar a inteligência humana para manter a inteligência artificial dentro de limites saudáveis e compatíveis com nossa sanidade mental. É hora de considerar o impacto da tecnologia em nossa vida diária e garantir que ela nos liberte, em vez de nos aprisionar.







