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Vou ao Louvre
Talvez ninguém acredite que nunca fui ao Louvre, embora venha a Paris em todas as primaveras.
Sou desse tipo de mulher que ascendeu socialmente graças a um casamento bem calculado, e para mim, me interessam muito mais as grifes fantásticas e carésimas que encontro aqui e posso ostentar de volta ao Brasil do que as visitações a museus e as idas a espetáculos ou outros tipos de programas culturais. A roda de amigos da qual faço parte só se interessa por futilidade e ostentação, então não vejo a necessidade de aprender nada.
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Mas acordei com uma baita depressão, sentindo falta de um amigo gay, pois acho esse o melhor tipo de amigo que alguém pode ter a sorte de ter. Já tive vários, mas a AIDS chegou no princípio dos anos 80 dizimando quase todos eles, e os que não partiram por conta dessa doença, foram embora por motivos outros, porém sempre mortais.
Ouvi no saguão do hotel um grupo de turistas que se dizia ávido para conhecer o Louvre, e que lá, não deixariam sob nenhuma hipótese de contemplar uma tal de Mona Lisa. Senti que minhas visceras estavam às gargalhadas, imaginando que eu tirara a sorte grande, pois sem esforço descobri onde poderia encontrar uma biba francesa e famosa, apesar de lisa. O detalhe dela ser lisa a mim não importava de jeito nenhum, pois tenho euros suficientes para ela e para mim.

Me sentindo animada subi ao meu apartamento, tomei um delicioso banho de espumas e espumante, esperando até que a água esfriasse. Ato contínuo me vesti, e usei na medida, nuvens do meu perfume predileto. Telefonei para a recepção e solicitei que providenciassem um táxi, e pedi que assim que ele chegasse, que eles me avisassem, e eu desceria imediatamente.

Enquanto esperava ficava fazendo milhares de suposições sobre a biba, desde seu aspecto físico e psicológico mas já podia apostar que ela além de chiquíssima seria muito divertida. Foram os quinze minutos mais longos da minha vida, até entrar no carro e pedir ao motorista para me levar ao Louvre.
Estava sentindo a inquietação que uma criança sente ao ir à Disney pela primeira vez

Assim que o carro parou, paguei pela corrida e nem quis esperar pelo troco, pois estava com muita pressa para ser feliz. Com meu francês pífio me acanhei para pedir uma informação, porém lembrando dos turistas que visitam nosso país e que falando de qualquer jeito se fazem entender por nós, me animei e perguntei onde poderia encontrar a Mona Lisa.
Informação obtida, fui caminhando quase num voo, e ao finalmente deparar-me com a placa onde se lia Monalisa, quase caí dura para trás.
Mon Dieu, porquoi, digo, por que ninguém havia me dito que a tal era apenas uma tela? E que Mona mais feia era aquela? Deprimi...
Perdi a noção do tempo, portanto nem posso dizer se demorei muito ou não ali, num estado de catatonia, totalmente indefesa.
Quando me recuperei já estava deitada em minha cama no hotel, sem saber como voltei, se havia dormido, enfim, esse lapso temporal se fez presente para sempre na minha memória. Lembrei que havia encomendado um bolo para
CONTOS EM CONTA-GOTAS

hoje à noite, então resolvi tomar outro longo banho para afastar de vez toda a decepção sofrida mais cedo.



Novamente deixei a água encher a banheira, e coloquei vários tipos de sais. Desta vez sem espumante na água, porque enquanto eu relaxava no banho, ia bebendo vagarosamente meu champagne predileto . Que delícia aquele contraste da água bem quente com a bebida que ia descendo pela minha garganta seca, bem gelada.
Não ia sair naquela noite, então vesti uma camisola longa de seda e deitei-me naquela enorme cama enquanto esperava a minha encomenda.
Estava cochilando quando ouvi uma leve batida na porta do apartamento, e meio tonta fui andando bem devagar e descalça receber a minha encomenda. Fiquei em estado de choque novamente, me perguntando por que tanta surpresa naquele dia.
-Jean Pierre, como é que você me encontrou aqui em Paris?
Não ouvi a resposta, acho que nem me interessei por ela, porque sempre que estávamos juntos a gente vivia só e tão somente de amor e paixão.