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Estreante na oposição, Ciro Nogueira admite compor chapa presidencial em 2026

Por: Rócio Barreto

Às vésperas de completar 30 anos de mandato, o senador do PP está convicto que tomou a decisão certa de ficar ao lado de Bolsonaro na eleição passada

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Pela primeira vez desde que chegou a Brasília em 1995, como deputado federal, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) decidiu ocupar um lugar na fileira da oposição ao governo federal. Fato até então inédito, depois de ter integrado a base governista dos últimos 5 presidentes da República, Fernando Henrique Cardoso a Jair Bolsonaro, de quem foi ministro da Casa Civil em meio à pandemia e denúncias de irregularidades na compra de vacinas. Não demorou muito para des- pontar como homem forte e ponto de equilíbrio do governo Bolsonaro, o que o levou a se opor à candidatura de Lula na região que deu ao atual presidente sua maior vantagem eleitoral, o Nordeste. Após os primeiros seis meses da terceira gestão de Lula à frente do Palácio do Planalto, Ciro Nogueira segue convicto de que tomou a decisão correta.

Apesar da vitória de Lula, o Brasil parece seguir dividido. Há chance de uma pacificação?

É difícil, eu até gostaria muito que acontecesse, mas sinceramente eu não tenho mais essa expectativa. Tenho esperança, mas expectativa não, porque o Lula que veio está se confirmando as minhas previsões de um Lula muito diferente do que era o Lula do passado. O Lula que assumiu em 2003 unificou o país, colocou o presidente do Banco de Boston para ser o presidente do Banco Central, que era o (Henrique) Meireles, uma pessoa que veio unificar o país. Hoje não, ele veio com o intuito de dividir mais ainda, parece que o tempo que ficou em Curitiba o afetou muito, transformou ele numa pessoa raivosa, amarga, o que é muito ruim, porque o Lula de 2003 era uma Lula que unia, um Lula mais doce, mais fraterno. Dessa vez ele veio para acentuar mais essa divisão.

O ex-presidente Jair Bolsonaro está próximo de perder seus direitos políticos. Neste caso, quem deverá liderar a direita nas próximas eleições?

Se isso acontecer, será a maior injustiça que o Judiciário já cometerá na história. Basta comparar do que Bolsonaro está sendo acusado, ao que o Lula foi acusado no passado e permitiram que ele fosse candidato. Basicamente, ele vai ser condenado porque reuniu embaixadores. É completamente desproporcional. Se isso acontecer, espero que não aconteça, que não cometam essa injustiça, quem vai liderar é o próprio Bolsonaro. A população vai se revoltar, surgirá um sentimento de injustiça, o que vai deixar Bolsonaro muito maior, vai ser o maior eleitor nas eleições municipais de 2026, mesmo se não puder ser candidato. Tenho dúvidas se ele será candidato à presidente, caso ele seja inocentado e fique elegível. Pode vir candidato ao Senado.

Se ele não for candidato, o candidato natural é o Tarcísio, por ser governador de São Paulo. Se Tarcísio não quiser e optar por ser candidato a reeleição, pode ser o (Romeu) Zema, por ser candidato de Minas Gerais. Em ordem de sucessão, serão eles. Em caso de liderança, ninguém tira Bolsonaro.

Em seis meses de governo, Lula escorregou várias vezes em suas declarações e já foi derrotado em 2 ocasiões na Câmara. Teremos mais embates pela frente?

O Lula está sendo derrotado porque o Lula que veio assumir a Presidência pensa que ainda está em 2002, quando ele chegava para os partidos políticos, entregava os ministérios de porteira fechada, entregava as estatais e com isso tinha os votos. Hoje não dá, não é mais assim o Congresso. Os tempos mudaram, graças a Deus! Graças a Bolsonaro, que mudou essa relação, blindou estatais e os ministérios, e mesmo assim conseguiu ter a maioria para aprovar o que queria. Quem elegeu Bolsonaro a primeira vez foi as redes sociais, não tinha tempo televisão, não tinha partido político, quem elegeu mesmo foi a população através das redes sociais, então aquilo mexeu com as pessoas. Hoje um deputado vota uma matéria, em um minuto, um segundo o eleitor dele está lá, criticando ou apoiando. Antigamente o eleitor não se lembrava nem em quem tinha votado. Hoje as pessoas estão muito próximas, as pessoas ao entrarem em um avião são abordadas, chegam em um restaurante são abordadas, chegam nos seus estados de origem são abordadas. Então é difícil aquele antigo toma lá, dá cá hoje. Os parlamentares estão sendo mais fiscalizadas, estão tendo de prestar rotineiramente contas. Então, ou Lula chama essas pessoas para serem sócios no sucesso, o Congresso, os aliados, ou não tem a menor chance. Lula não está nesse novo tempo, o Lula que está aí hoje, é um Lula analógico, fora do digital.

A CPMI do 8 de janeiro tem uma maioria governista, qual sua expectativa? Quem corre o risco de sair mais chamuscado: governo ou oposição?

Não existe CPI que seja boa para o governo. Nunca existiu e nem nunca vai existir. O governo já perdeu, ele pode até chegar no final, fazer um relatório fictício, que no dia seguinte vai ser jogado no lixo, porque o que importa em CPI são os fatos que ela descobre, que se tornam públicos e o que a opinião pública diz. Aquela imagem, antes mesmo da CPI, do general lá, dentro do Palácio, já mudou a narrativa. Agora se descobre que o G.Dias falsificou documentos, então esses fatos já prejudicaram fatalmente o governo. Porque o governo tinha criado uma narrativa no passado, que foi destruída pelas imagens. Então nada que a CPI possa fazer no que diz respeito a maioria ou relatório, vai tirar aquelas imagens do imaginário das pessoas. Então o governo já perdeu a CPI.

O senhor já foi aliado de Lula, o que levou a mudar de lado?

É verdade. Acho que o Bolsonaro mudou tudo isso, porque agora nós temos opção, não tínhamos. Eu sou o que sempre fui, desde a época de PUC no Rio de Janeiro, uma pessoa o com viés de direita, mas não tenho esse viés de direita no que diz respeito a costumes e armamento. Mas, no que diz respeito a liberar a iniciativa privada, diminuir o tamanho do Estado, acabar esse fosso que existe entre o serviço público e o serviço privado das pessoas, sou muito, eu sou até mais do que o Bolsonaro. Agora nós temos um grande líder, temos uma direita que está mais forte do que nunca. Antigamente nós não tínhamos, ou você se tinha o PT ou uma falsa direita, que era o PSDB naquela época, e agora que eles são mesmo do mesmo saco, acabaram se unindo. Apesar de terem se digladiado a vida toda. Então, eu estou muito feliz de estar ao lado do presidente Bolsonaro na oposição e na defesa dos valores da direita no nosso país.

Qual sua avaliação até agora do governo Lula 3?

O governo não começou. Um governo em que que você chega e pergunta ao presidente os nomes de seus ministros _ e eu aposto o que quiser _ e ele não sabe o nome dos ministros, e nem o número de ministérios. Ele não fala o nome dos ministros, só se ele ler, porque ele não sabe. Ele não conhecia essas pessoas, são pessoas que não tem identificação e não estavam preparadas com o ministério. Então, é um governo que não começou, é um governo que ele vendeu para população, que ia ser melhor do que o Lula 1 e o Lula 2. Existe uma frustração sem tamanho. O próprio presidente, hoje acho uma pessoa triste, decepcionado com ele e seu próprio governo.

Ele tinha, no passado, 3 figuras que comandavam o governo por ele, que era o Zé Dirceu, o (Antônio) Palocci e o Márcio Thomaz Bastos. Figuras que tinham estatura, que tinham autoridade sobre ele para corrigir os rumos. Hoje ele não tem ninguém que faça isso. Ele está um Lula em que as pessoas não tem coragem de corrigir os rumos, mostrar no que está errando.

Como homem forte do governo Bolsonaro, o senhor comandou a articulação política e garantiu um equilíbrio na sustentação ao presidente Bolsonaro no Congresso. Como se vê agora atuando do outro lado da moeda? Como está sendo a missão de ser um dos líderes de maior influência na oposição?

Estou muito feliz, orgulhoso da minha atuação. Acho que as pessoas que me acompanham estão muito felizes com isso. Acho que é necessário ter uma oposição, uma oposição que começa agora, não a que nós tivemos como era a do PT, que era contra tudo e contra todos. Nós fazemos uma posição ao governo e não ao Brasil. Um exemplo claro é essa questão do arcabouço fiscal, chegou lá como uma pedalada fiscal, e nós estamos melhorando, graças ao trabalho do nosso grande relator, Cláudio Cajado, melhorou muito. Eu sou o senador que mais apresentou emendas para aumentar a rigidez, o controle dos recursos públicos, para que a gente não venha com uma explosão inflacionária. Queremos melhorar o que está aí, não sendo contra tudo. Acho que esse é o nosso papel e eu espero continuar, como sou líder da minoria. Vou continuar esse papel, tentando melhorar tudo o que for apresentado pelo governo.

Essas emendas que senhor ao novo arcabouço fiscal são um sinal da sua discordância em relação a política econômica do governo federal? Como avalia as ações do Ministério da Economia, bem como os discursos de Lula mais à esquerda no seu terceiro mandato?

Hoje nós temos um risco de agravamento da nossa situação financeira e fiscal, por conta de um governo que não trouxe estabilidade ao país. O presidente atua como se fosse um comentarista de futebol, falando coisas fora do contexto e criando cortinas de fumaça. Por exemplo, quando ele ataca o Banco Central por conta dos juros. As pessoas têm que lembrar que quando ele foi presidente da primeira vez, ele pegou um governo com 27% de taxa de juros. Terminou o primeiro mandato com a mesma taxa juro que ele condena hoje, que é 13,75%. Então isso é uma cortina de fumaça, uma instabilidade que ele está trazendo por conta de um governo fraco e de um presidente que fala coisas indevidas, que trazem instabilidade ao país.

O senhor tem pedido celeridade na votação do novo Marco Temporal para os povos indígenas. Como o senhor tem visto essa matéria e qual a importância dessa nova legislação? Qual a relação com o agro?

Primeiro, eu tenho todo o respeito e valorizo muito nossos povos originários, que têm que ser preservado, mas também é preciso dar condições a eles para que possam progredir, dar acesso a serviços que a modernidade nos trouxe. Porém, não tem mais cabimento aumentarmos reservas indígenas no nosso país. Nós temos que valorizar o agronegócio no nosso país, com respeito ao meio ambiente. Já provamos que temos como produzir com respeito, preservando as reservas.

Acho que essa discussão tem que ser decidida pelo Congresso, não pelo Judiciário. Pois a atribuição do Congresso é legislar, do Judiciário julgar. A legislação feita pelo Congresso respeita a maioria. Por isso que eu pedi que o assunto seja levado ao plenário. Pois o Supremo está julgando, por falta de uma legislação do Congresso Nacional. Hoje temos maioria no Senado para aprovar a proposta. Não tem cabimento deixarmos de submeter a decisão ao plenário. Só quero que seja levado ao plenário. E se for, vai ser aprovado para que a gente possa preservar o que já existe. Não existe mais necessidade de novas áreas indígenas no nosso país. Por exemplo, a reserva dos Yanomanis tem que ser preservada, mas ela é maior do que Santa Catarina, para 20 mil índios. Não há necessidade de se ampliar mais. Acho que isso é o correto e temos de respeitar a vontade soberana do plenário do Congresso Nacional. A matéria já foi votada na Câmara, agora tem que ser submetida ao Senado Federal.

Qual o seu plano B?

Muita gente fala que eu não vou ser candidato no meu estado, é impossível eu não ser candidato. Eu posso ser candidato ao governo, é um sonho que eu tenho, ou posso vir para o Senado. Também não posso me negar a buscar uma posição nacional, na qual eu precise sair como candidato a vice-presidente representando o Nordeste. É uma coisa que também não está fora do meu radar.

Vice do Nordeste e presidente do Sul ou sSdeste?

É uma coisa desse tipo, é uma consequência natural. A candidatura ao governo do Piauí ou ao Senado depende de mim. Essa composição nacional não depende só de mim, depende de uma série de fatores e avaliações, e de quem será candidato a presidente.

Sua previsão para os próximos anos?

Espero que haja uma correção de rumos nesse governo, que o presidente Lula volte, saia um pouco dessa amargura, desse radicalismo, e volte a ser aquele Lula do passado, que tentava unificar o país. Acho que é o que nós precisamos, chega de brigas, chega de divisão nas famílias. Chega de viajar para exterior, que se foque mais aqui. Parece que o Lula, pela frustração dele, quer fugir dos problemas. Ele já provou, no passado, que tinha capacidade e agora está frustrando a população, mas eu ainda tenho uma expectativa de que ele mude. Não sou daqueles que vai torcer contra o piloto porque eu estou dentro do avião, temos que torcer que dê certo.

Ciro Nogueira, por Ciro Nogueira

É um sonhador que não perde a esperança nunca. E que tenhamos um país muito melhor.

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