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do Rio Nilo a água pertence a reinos divinos, vinculando deuses aos seres humanos. Esse significado atribuído por culturas é muito importante, visto que pode impactar significativamente nas atividades e na forma de se explorar este recurso hídrico, pois, devido ao forte valor simbólico e religioso, as pessoas podem passar a tomar ações frente a conservação e preservação da água. Apesar de sua indiscutível importância, em diversos lugares no planeta, houve transformações que levaram a divergências de percursos, crenças, valores e práticas distintas que culminaram nos conflitos contemporâneos em torno da água. De forma mais abrangente, para além dos limites brasileiros, a maior parcela da sociedade urbana atual passou a enxergar a água como recurso hídrico no sentido utilitarista, e não mais como um bem natural, que deve atender tanto a subsistência humana em harmonia com a manutenção dos ecossistemas, quanto aos vários sentidos e relações que são associados a ela. Essa nova visão utilitarista passou a modificar a forma que muitas comunidades enxergam esse bem natural, pois as transformações acarretadas pela urbanização alteraram a qualidade da água nos rios e córregos urbanos, que foram precarizados e deteriorados. Como consequência, a relação entre as pessoas e corpos d’água se modificou substancialmente, perdendo laços afetivos e trazendo uma experiencia sensorial pouco atrativa. De acordo com Dictoro (2016, p. 96) “As águas, quando limpas, transparentes podem encantar os olhos de quem as contemplam, já quando estão sujas, poluídas denunciam o desrespeito dos seres humanos com elas. Limpas, manifestam a vida, sujas expressam a dor, a morte.” Dessa forma, nota-se que a natureza parece estar cada dia mais distante de nossa vivência, é necessário reintegrá-la à funcionalidade antropológica da cidade. “Na origem dos atuais problemas socioambientais existe uma lacuna fundamental entre o ser humano e a natureza, que é importante eliminar. Essa lacuna está pautada no distanciamento das relações humanas com a natureza, para isso é preciso “reconstruir nosso sentimento de pertencer à natureza” (SAUVÉ, 2005, p. 317). De acordo com Sauerbronn (2016) muitos estudos na área da psicologia ambiental têm indicado que quanto maior for o contato das pessoas com ambientes naturais, maiores são as chances de uma vida com mais saúde e qualidade. Logo, se percebe que a reconciliação entre pessoas e as águas, principalmente nas áreas urbanas (onde essa relação foi mais afetada e




















