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o edifício
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As transformações dos não-lugares podem se adequar a diversas escalas, sendo importante reconhecer o potencial de espaços vazios ou construídos na contribuição a melhoria da vitalidade urbana de uma cidade. No caso de Santa Isabel, além das áreas subutilizadas das margens de seus córregos, encontra-se no município muitos edifícios abandonados e terrenos baldios, que não oferecem nenhuma função social para a cidade, alguns já bem datados, com mais de 100 anos. A posse dessas edificações está distribuída entre o poder público e privado. Dentre tantos, destaca-se neste trabalho o Casarão da Família Almeida Machado, por sua relevância histórica no município. Este edifício está localizado no cruzamento entre a Rua Monte Serrat (que conduz e dá acesso a Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat, outro edifício de grande relevância histórica e importância turística, localizado sobre um mirante em um dos pontos mais altos da cidade) e a Avenida Prefeito João Pires Filho (paralela ao córrego Araraquara) que conecta Santa Isabel a Rodovia Arthur Matheus. A construção está bem próxima ao principal eixo comercial da cidade localizado na Avenida República, destacada na figura 65. O terreno do Casarão possui 2.770,00 m2.
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Figura 65: Croqui de Localização dos Terrenos do Casarão e Pouso de Tropeiros Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da Prefeitura Municipal, 2021
O edifício foi construído em 1890 (SANTOS, 2017) e encontra-se fechado desde 1992. Desde então, por consequência do seu abandono e falta de manutenção, a estrutura vem se degradando. Os resultados do abandono da edificação podem ser observados na figura 67, invadida por vegetação, sendo descaracterizada e invisibilizada por outdoors e propagandas. O estado atual do edifício pode ser observado nas figuras 66 e 67.

Figura 66: Fachada principal do Casarão, degradado e descaracterizado. Fonte: acervo do Autor, 2021
Figura 67: Fachada principal do Casarão, degradado e descaracterizado. Fonte: acervo do Autor, 2021

Inicialmente o edifício possuía uso residencial, e ao longo dos anos foi ganhando novas funções, conforme relato dos herdeiros. O edifício é referência na cidade, sendo conhecido pela população como Casarão da Família Machado, ou simplesmente Casarão. Segundo Camargo (2008) apud. Santos (2017) o terreno do Casarão histórico era maior que o atual e havia uma área destinada para o comercio de pinga. O produto chegava em Santa Isabel em barris, era engarrafado e rotulado pela família e depois era vendido em um dos cômodos da casa. “O quintal abrigava ainda horta, pomar, minas d’agua, pasto e o limite do terreno era o ribeirão Araraquara, usado na época pelas lavadeiras. Foi somente com a urbanização e o crescimento da cidade que o terreno foi limitado pela abertura da Avenida João Pires Filhos e a Rua Monte Serrat”. (SANTOS, p. 26, 2017) Além de servir como uso residencial e comercial, o Casarão exerceu um papel fundamental para os tropeiros, visto que serviu como pousada para estes viajantes. Em meados de 1930, Santos (2017) revela que a família construiu 14 quartos anexos à residência para serem alugados pelos tropeiros e romeiros que passavam pela cidade. “O abandono do edifício como comercio, ocorreu na década de 1960, com o pequeno progresso que a cidade passou, o comercio de pinga e a pousada fecharam, assim, o Casarão a partir de 1986 passou a ser apenas residência da família. A casa foi abandonada desde meados de 1992 quando a Dona Serafina, última proprietária, faleceu.” (SANTOS, p. 26, 2017) Apesar de ser vítima de abandono e sofrer com a passagem do tempo, sem manutenção, o patrimônio ainda resiste a intempéries e vandalismos. Ademais, por este ser vizinho da antiga fábrica de farinha e “Pouso de Tropeiros”, o Casarão também é conhecido como “Casarão da Fábrica de Farinha”
Configura-se como um dos poucos edifícios históricos da cidade de Santa Isabel que não sofreu modificação. O Casarão possui um enorme valor para a história da cidade, ainda que, atualmente, parte do assoalho, portas e janelas ainda existem.
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Figura 68: Plantas e Fachadas atuais do Casarão Fonte: Tâmisa Santos, 2016. Editado pelo autor.
Figura 69: Ambientes internos do Casarão Fonte: Tâmisa Santos, 2016. Editado pelo autor.
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Entretanto, o terreno do Casarão está localizado em uma ZEPAM7 próximo a algumas APPs. Logo, não viabiliza novas construções, apenas aquelas com baixo impacto ambiental. Assim, propõe-se um projeto de conservação do casarão e paralelamente, um projeto de ampliação e restauro do prédio vizinho (antigo Pouso de Tropeiros) que funciona como uma casa de rações atualmente (figuras 70 e 71).

Figura 70: Fachada principal do antigo “Pouso de Tropeiros”. Fonte: Acervo do Autor, 2021.
Figura 71: Fachada lateral do antigo “Pouso de Tropeiros”. Fonte: Acervo do Autor, 2021. Portanto, nota-se a necessidade de resgatar estes dois marcos importantes na formação da cidade, pois configuram-se como dois edifícios que conservam características originais e que marcaram a cidade de Santa Isabel histórica e economicamente. É uma forma de resgatar o patrimônio arquitetônico importante, preservar a ZEPAM, promover a qualificação e apropriação de espaços subutilizados no centro da cidade, melhorando a qualidade e vitalidade urbana para os locais e turistas.

7 As ZEPAMs (Zonas Especiais Proteção aos Mananciais) compreendem as áreas que exigem tratamento diferenciado, de acordo com a sua vocação econômica, geográfica, cultural e fatores urbanísticos e ambientais. (Lei Complementar No 184/16, 2016).







