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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

a pandemia e a demanda por espaços públicos

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Os recentes acontecimentos de escala global influenciados pela COVID-19 reiteraram os problemas da desigualdade social ao demonstrar que a pandemia não é um território monolítico, visto que a forma em que as pessoas foram expostas ao vírus estavam perpassadas de privilégios, que determinavam a condição que elas tinham para se isolar, a condição que tinham para se tratar, a possibilidade de poder estarem inseridas em um lugar com boa qualidade ambiental e salubre, dentre outras situações que variavam conforme a situação econômica e social de cada indivíduo e/ou família. Diante desse cenário, a falta de espaços públicos de boa qualidade ambiental se torna ainda mais preocupante, pois muitas famílias dependem deles para suprir uma falta de área de lazer e/ou recreação dentro de seus lotes. Elas precisam de um espaço para estabelecer contato com a natureza e seus fenômenos, uma vez que: “[...] a organização interna dos edifícios pressupõe uma ideia de cidade, a ausência de determinados espaços nas moradias, como por exemplo a ausência de espaços de lazer, busca ser resolvidas nos espaços públicos.” FILHO (2003, p. 15). Ademais, essa nova realidade levanta outra discussão acerca de novas configurações para esses espaços livres, de desenhos para atender uma nova dinâmica onde as pessoas precisam entrar em contato com eles e ao mesmo tempo, respeitar as medidas de segurança do isolamento social. Logo, a pergunta que fica é: como apresentar através do design uma nova organização para apropriação desses espaços públicos?

o reconhecimento e reapropriação dos não-lugares no centro de santa isabel

A ocupação urbana de Santa Isabel acabou voltando as costas para seus córregos, criando vazios perdidos e que hoje são despercebidos pela população, a não ser em épocas de enchentes ou quando o odor se intensifica, visto que atuam como esgoto a céu aberto. Esse tipo de tratamento influi negativamente na experiencia sensorial das pessoas com os córregos, o que culmina na sua degradação, uma vez que, sua aparência de abandono dificulta a criação de um senso de comunidade e identidade com essas áreas, assim, são comumente encontrados resíduos descartados inadequadamente sobre trechos dessas vielas hídricas, o que intensifica o assoreamento de suas margens e a proliferação de pragas que colocam em risco a saúde de muitos. Esses espaços ambientalmente degradados e não atrativos, geram certa repulsa, apatia e falta de segurança para estabelecer novos vínculos entre cidadão e a cidade, sendo assim, a

atual situação dos córregos caracteriza-os como não-lugares. Busca-se então, ressignificar e incorporar esses não-lugares ao tecido funcional da cidade.

a construção de uma cultura urbana – a reconexão com os córregos

O projeto será um plano paisagístico a ser previsto ao longo das margens dos córregos urbanos do centro de Santa Isabel, destaca-se neste trabalho o córrego Araraquara. Neste plano será designado áreas para ciclovias, passeios com dimensões mais adequadas ao fluxo e as atividades a que se destinam, com o intuito de tornar a mobilidade mais inclusiva e segura, além de ampliar a função dessas áreas (que atualmente funcionam apenas como áreas de transição) para áreas de permanência, com áreas de descanso que aumentem o contato entre pedestre e esses elementos tão importantes na conformação da malha da cidade: os córregos. A reconfiguração e ressignificação desses elementos hídricos como áreas de transição e permanência irão ajudar a estabelecer novos eixos de circulação para os pedestres, mais fruição nas quadras, e uma cidade mais caminhável e com um sistema de circulação não-motorizada integrado, alinhado aos interesses socioambientais.

a desarticulação legal e a persistência da degradação ambiental

Há muitos fatores que contribuem para o desrespeito das leis ambientais que regem sobre as Áreas de Preservação Permanente (APP). Segundo Mello (2008) a desarticulação entre gestão urbana e gestão ambiental, somada a falta de informação da sociedade sobre a importância da conservação dessas áreas, é o que dificulta o equilíbrio e diretrizes mais assertivas sobre as possibilidades de intervenção dentro das APPs urbanas. Nesse sentido “[...] é importante um gerenciamento que abranja não só os aspectos ambientais de saneamento como também considere os efeitos da ocupação urbana. É necessário trabalhar com a complexidade do território como um todo” (MELLO, 2008, p. 11) Para combater esse cenário, serão estudadas medidas de contenção de impacto ambiental, através de formas alternativas de ocupação urbana aliadas aos parques lineares, visando a amortização da degradação ambiental e conservação dos recursos naturais. Assim, os rios serão recuperados como paisagem e infraestrutura do meio ambiente.

patrimônio histórico e preservação da memória

Para reforçar a importância da valorização da memória através do reconhecimento e disseminação da história da ocupação e desenvolvimento da cidade, assim como de sua cultura, propõe-se a requalificação de um patrimônio histórico da cidade (atualmente abandonado), através de um projeto de conservação do Casarão da Família Almeida Machado em conjunto com a implantação de um edifício anexo que servirá de apoio para acomodar o programa de viés cultural. O casarão se encontra paralelo ao córrego Araraquara, portanto, estará vinculado ao trajeto do planejamento urbano do parque linear.

métodos de pesquisa

A metodologia de desenvolvimento e pesquisa do trabalho constituiu-se basicamente de revisão bibliográfica para embasamento teórico e conceitual, em conjunto com estudos de caso. Examinando a relação entre os rios inseridos dentro das áreas urbanas e a perspectiva de autores que pesquisaram sobre essa temática para entender quais as linhas de raciocínio para as novas formas de lidar com esses cenários. Alguns dos principais autores e obras que nortearam a discussão teórica desta monografia são: Sandra Soares de Mello (Na Beira Rio tem uma cidade: urbanidade e valorização dos corpos d’água, 2008); Jan Gehl (Cidades para Pessoas, 2013); Teresa de Sá (Lugares e não lugares em Marc Augé, 2014) e Eugenio F. Queiroga & Alessandra N. Queiroz (Unidades de Paisagem: Materiais e Metodologia para uma Avaliação Paisagística e Ambiental – Ensaios, 2012).

capítulos

A monografia se divide em 6 capítulos, sendo: capítulo 1 – abordagem sobre a relação entre seres humanos e a água, a importância da conservação dos recursos naturais e conceituações de termos urbanísticos que serão adotados como princípios para a leitura urbana; capítulo 2 - revisão histórica sobre os temas debatidos no primeiro capítulo, falando sobre o desenvolvimento das mudanças da relação entre o ser humano e a água e as principais perspectivas sobre esse assunto nos dias de hoje; capítulo 3 – diretrizes legais, realizando uma síntese sobre as principais leis que englobam a temática do trabalho; capítulo 4 – estudos de caso para repertório projetual; capítulo 5 – análise sobre o local de intervenção: Santa Isabel; capítulo 6 – apresentação da proposta projetual e por fim, as considerações finais, onde é retomado os principais aspectos da pesquisa, ressaltando os desafios e benefícios que podem ser revelados com a inserção do parque linear no meio urbano da cidade de Santa Isabel.

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