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a água e seus significados antropológicos
a água e seus significados antropológicos
“Sem água não há vida e a humanidade não sobrevive sem ela” (TEIXEIRA & QUINTELA, p. 9, 2010). A água é o elemento base para a manutenção da vida dos seres vivos e o ser humano, por sua vez, também possui uma relação de dependência com ela. Há um relacionamento íntimo que as pessoas mantêm com a água e que foi sendo alterado com o passar do tempo. Segundo Pereira (2010), existe uma relação de respeito, gratidão, medo, cumplicidade e estranhamento com a natureza, o que se apresenta como causa direta da preservação ambiental das localidades nas quais as populações tradicionais (indígenas) habitam. No Brasil por exemplo, segundo Gorski (2008) foi muito expressiva a relação dos nativos indígenas com a água, podendo ser notada no significado de algumas palavras adotadas pelas tribos, como: Icatu (água boa); Barueri (águas correntes); Iguatemi (água verde); Ipiranga (rio vermelho) e Tietê – Ty (rio) ete (verdadeiro). Quanto aos aspectos simbólicos, os rios têm uma vital relevância para os povos indígenas. Segundo BRASIL (2007) a água é considerada, por algumas tribos, um elemento que estimula o crescimento físico e o amadurecimento psicossocial, visto que eles tinham a água fortemente relacionada às suas origens. Essa atração pela água é carregada de um instinto de sobrevivência e valor simbólico que ela recebeu de diferentes culturas ao redor do mundo. Sua simples presença indica vida. Revela frescor, textura e leveza. Em diferentes partes do mundo, a água assume papeis distintos atribuídos pelo ser humano e que vão além de seu uso primordial como fonte vital de consumo. Esses novos papeis fortaleceram a relação com este elemento. De acordo com Dictoro (2016), a água também tem valores antropológicos dados por diversas culturas, que a ela atribuíram símbolos e significados próprios.
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“As relações Homem-Água perpassam essa relação de sentido utilitarista, voltada apenas para fins de uso econômico e de sobrevivência, e configuram outras relações como simbólicas, religiosas, culturais, emocionais, místicas e de respeito.” (DICTORO, p. 94, 2016) Algumas religiões consideram a água como elemento sagrado, Oestigaard (2009) apud. Dictoro (2016), pontua que em muitas religiões presentes em diferentes comunidades na bacia
do Rio Nilo a água pertence a reinos divinos, vinculando deuses aos seres humanos. Esse significado atribuído por culturas é muito importante, visto que pode impactar significativamente nas atividades e na forma de se explorar este recurso hídrico, pois, devido ao forte valor simbólico e religioso, as pessoas podem passar a tomar ações frente a conservação e preservação da água. Apesar de sua indiscutível importância, em diversos lugares no planeta, houve transformações que levaram a divergências de percursos, crenças, valores e práticas distintas que culminaram nos conflitos contemporâneos em torno da água. De forma mais abrangente, para além dos limites brasileiros, a maior parcela da sociedade urbana atual passou a enxergar a água como recurso hídrico no sentido utilitarista, e não mais como um bem natural, que deve atender tanto a subsistência humana em harmonia com a manutenção dos ecossistemas, quanto aos vários sentidos e relações que são associados a ela. Essa nova visão utilitarista passou a modificar a forma que muitas comunidades enxergam esse bem natural, pois as transformações acarretadas pela urbanização alteraram a qualidade da água nos rios e córregos urbanos, que foram precarizados e deteriorados. Como consequência, a relação entre as pessoas e corpos d’água se modificou substancialmente, perdendo laços afetivos e trazendo uma experiencia sensorial pouco atrativa. De acordo com Dictoro (2016, p. 96) “As águas, quando limpas, transparentes podem encantar os olhos de quem as contemplam, já quando estão sujas, poluídas denunciam o desrespeito dos seres humanos com elas. Limpas, manifestam a vida, sujas expressam a dor, a morte.” Dessa forma, nota-se que a natureza parece estar cada dia mais distante de nossa vivência, é necessário reintegrá-la à funcionalidade antropológica da cidade. “Na origem dos atuais problemas socioambientais existe uma lacuna fundamental entre o ser humano e a natureza, que é importante eliminar. Essa lacuna está pautada no distanciamento das relações humanas com a natureza, para isso é preciso “reconstruir nosso sentimento de pertencer à natureza” (SAUVÉ, 2005, p. 317). De acordo com Sauerbronn (2016) muitos estudos na área da psicologia ambiental têm indicado que quanto maior for o contato das pessoas com ambientes naturais, maiores são as chances de uma vida com mais saúde e qualidade. Logo, se percebe que a reconciliação entre pessoas e as águas, principalmente nas áreas urbanas (onde essa relação foi mais afetada e







