LAVAR AS MÃOS SEM LAVAR AS MÃOS Rabino Sérgio R. Margulies ElenaLux/iStockphoto
E
ra o mês de outubro do ano de 1347. Navios chegavam da Criméia para a Sicília. Traziam, além de carga e passageiros, ratos. Esses ratos, por sua vez, traziam doença que se espalhava pela Europa, causando inúmeras vítimas. Em janeiro do ano seguinte – 1348 – a doença foi julgada eliminada. No entanto, com a chegada da primavera naquele ano, voltou a se alastrar de modo avassalador. Além das condições climáticas, a inexistência de um sistema sanitário – uma vez que o esgoto era eliminado nas próprias ruas a céu aberto – provocou muitíssimas vítimas. Os registros apontam 25 milhões de pessoas. Em qualquer período e lugar este número é assustador, e se torna ainda mais apavorante por corresponder a um terço da população europeia do século XIV. Era a peste bubônica, cuja causa era na época desconhecida. A ignorância foi instantaneamente preenchida pelo preconceito que atribuiu a culpa aos judeus. Judeus foram – como bodes expiatórios – acusados de intencionarem a morte de cristãos a ser executada através da feitiçaria e do envenenamento de poços d´água. A falsidade da acusação foi irrelevante diante do ódio que impregnava as massas. Um ódio alimentado pelo preconceito que destilava há tempos, tanto é que, anos antes, em 1337, judeus de Provença foram acusados de trazer doenças que se espalhavam pela Europa. E um ódio que contava com a complacência de muitos, como o Czar Ivan IV, que corroborava as agressões ao afirmar que “os judeus importam ervas danosas à nossos reinos”, e o Imperador Carlos IV, que deu imunidade às hordas que matavam, queimavam e torturavam judeus e suas comunidades. Muitos se aproveitavam para confiscar propriedades dos judeus e
Diante do medo, o ódio impregnado e o preconceito cultivado são forças que, manipuladas, podem sobrepor a razão e as hierarquias institucionais. E mais, alavancar o fanatismo.
Revista da Associação Religiosa Israelita-A R I
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