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Um jovem carioca
Tenho 22 anos de idade, sou madrich do Movimento Juvenil Judaico Sionista Hashomer Hatzair, moro no bairro da Tijuca na cidade do Rio de Janeiro, curso História na Universidade Federal do Rio de Janeiro, amo as artes e escrevo poemas.
Como madrich do Hashomer Hatzair, não posso deixar de dizer que é um movimento que a cada dia me inspira, me ganha, me arrebata. Nele, o prazer da troca, da comunhão, da empatia, e de noção educacional freireana de que vivemos no mundo e com o mundo, não tem preço. Entender que nada se faz sozinho, que nada pode parecer impossível de mudar quando estamos diante de um desafio, é gracioso, me dá coragem. Nessa tnuá, tive contato direto com os valores e princípios judaicos com uma educação não formal potente e realizadora, judaica e sionista, que foram fundamentais na minha formação enquanto pessoa. Valores e princípios estes que me influenciaram a sempre almejar o respeito ao próximo e à diferença, a intelectualidade e a criticidade. E o poema que agora publico, certamente é uma extensão e fruto dessa educação shômrica transformadora.
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Gabriel Richards
O que escrevi é algo que fala de corpo, dos sentidos humanos, de alma, afetos, imaginação. É tudo aquilo que em parte um jovem sente e tenta traduzir com palavras: eis um poema. Lembra o leitor, ou a leitora, que o diafragma existe e que se for usado para gargalhar, é uma boa! Propõe-se a alegria como um escape para aguentar o peso da realidade. Ou melhor: a alegria como ferramenta que detona e nos livra do que pode nos destruir enquanto sujeitos. E se legitima por intermédio de um sábio do século XVIII que gosto muito: o Baal Shem Tov. Fundador do Chassidismo, deixou como legado que o entusiasmo através do canto, da oração e da dança – e também de outras manifestações ordinárias – espantam o sofrimento na vida e aproxima o humano à dimensão do sagrado.
O poema convida a quem o lê a enxergar, na recontextualização de nomes e personagens da Bíblia Hebraica e numa benção da tradição judaica, a possibilidade do rompimento como abertura, rumo a uma interpretação razoável, poética. Utilizando a repetição como técnica alusiva ao sagrado subjetivo e coletivo: uma maneira de explicitar o afeto e a intimidade com a tradição, o sagrado e o profano. Mescla caminhos explorando a imaginação.
Poder ouvir. Que privilégio! Que poesia! Poder sentir. Quão envolvente é! Quão doce é o sabor! A produção de alegria é meu trabalho preferido. Gargalhar, mover no ritmo natural do próprio corpo o diafragma é para alguns, sinal de benção de D’us.
Há um sábio judeu chamado Israel Ben Eliezer que viveu no século XVIII e dizia que saber viver, é viver com alegria. Eu concordo fervorosamente com essa ideia.
O estado de alegria é o antídoto da devastação subjetiva. Do que é o eu saudável. Do que nos compõe enquanto sujeitos.
Tudo aquilo cravado, magoado, estacionado, dilacerado, irrompe-se com o estado de alegria. Adão, Eva, Abraão. Romper. Romper. Rompeu. Romperá. Tudo que é sagrado rompe! Não percebes que o mistério feminino é rompido no milagre do encontro consentido com o cano que jorra sementes? Ou com o dedo que também rompe e pode gerar sementes de vida e prazer ao corpo?
Baruch atá Adonai, elohêinu melech haolam, shehechiánu, vekimánu, vehiguiánu la zman haze.
(Abençoado sê Tu, Adonai nosso Deus, Soberano do tempo e do espaço, que nos mantém com vida, em existência plena e nos fazes chegar a este momento.)
Baruch atá Adonai, elohêinu melech haolam, shehechiánu, vekimánu, vehiguiánu la zman haze.
(Abençoado sê Tu, Adonai nosso Deus, Soberano do tempo e do espaço, que nos mantém com vida, em existência plena e nos fazes chegar a este momento.) Baruch atá Adonai, elohêinu melech haolam, shehechiánu, vekimánu, vehiguiánu la zman haze.
(Abençoado sê Tu, Adonai nosso Deus, Soberano do tempo e do espaço, que nos mantém com vida, em existência plena e nos fazes chegar a este momento.)
Itshak. Itshak. Hak. Hak. Hak. Ha. Ha. Ha. Ha. Rompeu. Uma sábia senhorita uma vez me disse que assim esse justo foi nomeado: porque sua mãe riu de D’us quando o mesmo lhe disse: Tu, varoa, mesmo com mais de 90 anos, terás um filho. E não é que a abençoada anciã caiu na gargalhada?
Sendo assim, veio Itshak. O homem de D’us que gerou gargalhada em sua progenitora. Rompeu. Tudo que é sagrado se move e você precisa ver, você precisa crer. Você tem que se mexer. Você tem que tecer. D’us é alegria, irmão! Baal Shem Tov já falou! Ele ia subindo o morro com aquela roupa preta, sua barba proeminente e seu olhar cativante que me arrebatava. O que ele fez? Com o toque de sua mão na minha, com a força contra o morro que engendrava, como um cata-vento pega a energia do vento, ele me carregava com energia própria somada paradoxalmente a específica energia mecânica de D’us. Pena que era um sonho. Mas eu entendi o recado. O Baal Shem Tov queria que eu entendesse o que é a fé, e o que a alegria representada por ele naquele sonho era capaz de fazer. A alegria pode te puxar e te elevar ao mais alto e sublime dos morros. Onde o ar puro e os humildes na favela do meu corpo moram.
Gabriel Richards é madrich no Movimento Juvenil Judaico Sionista Hashomer Hatzair.