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Em Poucas Palavras
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HARRY POTTER E A LÍNGUA QUE NÃO MORRE
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Heri Poter und der Philosofisher Stain é o título da mais recente tradução da célebre obra de J. K. Rowling. E Arun Viswanath, o autor da tradução, diz que já começou a traduzir o segundo título da série: Heri Poter un di Soides-Kamer. Sim, é isto mesmo! Harry Potter está sendo traduzido para o ídiche! O primeiro título corresponde ao Harry Potter e a Pedra Filosofal e o segundo ao Harry Potter e a Câmara Secreta. Quem diria que isto iria acontecer um dia? O ídiche mostra que as notícias sobre sua morte foram um tanto precipitadas. Ele ainda respira e, como se vê, aspira atrair leitores juvenis. O tradutor é neto e filho de eminentes idichistas e como tal se esforçou muito para aprender e difundir o idioma, educando amigos e quantos mais conseguiu alcançar em todas as faixas etárias. Até que um dia sua esposa lhe disse provocativamente: “Você quer mesmo criar crianças que falam ídiche num mundo onde não há Harry Potter em ídiche?”
Dentro da melhor tradição machista, onde a esposa tem sempre razão, ele não apenas concordou com ela, como pôs as mãos à obra. Melhor para nós todos, pois o ídiche é repositório de um imenso acervo cultural judaico, que não pode e não merece morrer. ü
POPULAÇÃO 3 X 0 GOVERNO
Éadmirável a resiliência da democracia em Israel. Nas terceiras eleições para o Parlamento (Knesset) em menos de um ano, o percentual de comparecimento de eleitores foi o maior em mais de 20 anos: 71,52%. A terceira eleição produziu um resultado semelhante ao das duas anteriores, o que fez muitos preverem que o país caminhava para uma quarta eleição. Mesmo assim, não há uma única voz que questione o processo democrático e advogue pela sua obsolescência. Além disso, é digna de nota a quantidade insignificante de votos (19 mil num total de mais de 4,5 milhões) que recebeu o partido supremacista judaico de extrema direita. A última colocação, que receberam nesse pleito, os coloca à margem da sociedade israelense.
Realmente, necessitar de três (ou mais) eleições para definir um governo é exasperante, mas isto não está enfraquecendo a democracia israelense. ü


ULTRAJE REVOLTANTE
Um pequeno parágrafo perdido dentro das longas 181 páginas do plano “Peace to Prosperity”, apresentado no começo do ano pelo governo dos Estados Unidos, está tirando o sono de alguns cidadãos israelenses.
O fatídico parágrafo propõe um redesenho das fronteiras de Israel, de uma forma tal que um conjunto de 10 cidades de imensa maioria árabe ao norte de Tel Aviv e vizinhas da linha verde (a linha de armistício da guerra de 1949) passe a fazer parte do novo Estado da Palestina.
Quase todos os 250.000 moradores destas cidades se revoltaram. “Como é possível que esta fantasia tenha aterrissado no plano norte-americano?”, pergunta um professor de Direito da Universidade de Haifa, morador da cidade Baka-al-Garbia. Sua indignação é a mesma de muitos, tanto que espontâneas manifestações de repúdio a essa parte do plano surgiram em sua cidade e em muitas outras.
E não há a menor dúvida que este dispositivo do plano é muito problemático. Os árabes em Israel têm justas reclamações pois, lamentavelmente, os sucessivos governos de Israel não alocam fundos em suas comunidades nas mesmas proporções que nas comunidades de maioria judaica. É visível até ao mais distraído passante o desnível entre a qualidade da infraestrutura entre uma cidade árabe e uma judaica.
Mas os árabes em Israel também têm elogios: contam com acesso pleno à educação de primeira qualidade, idem para os serviços de saúde, vivem numa democracia igualitária, não são censurados, não têm medo da polícia, vivem onde bem entendem e se deslocam com a mesma liberdade do que os demais cidadãos do estado.
Tudo o que almejam é aprimorar a alocação de verbas em Israel e não trocar seu país natal por uma Palestina ditatorial cujas últimas eleições aconteceram há quase 15 anos, que oferece serviços de péssima qualidade, é corrupta e infestada por milicianos.
O “ultraje revoltante” do título da nota vai, então, para os que, mesmo tendo ciência dessa realidade, denunciem um suposto apartheid em Israel. A primeira coisa que vem à cabeça é: “Será que não percebem o quão antinatural é o segregado e oprimido se revoltar contra a sua libertação?” Mas depois cai a ficha: “O pior é que sim, percebem”. ü
Oque indicam as contrapropostas dos palestinos às principais propostas de convivência entre os judeus e os árabes em Israel-Palestina? Vejamos a lista abaixo:
1937 – Comissão Peel Proponente: Reino Unido, a potência mandatária na região. • Resumo da proposta: divisão do território num Estado Árabe e num Estado Judaico. • Contraproposta palestina: nenhuma, pois a presença de um Estado Judaico na região é inaceitável. 1947 – Resolução 181 da ONU Proponente: ONU. • Resumo da proposta: divisão do território num Estado Árabe e num Estado Judaico. • Contraproposta palestina: ne

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nhuma, pois a presença de um Estado Judaico na região é inaceitável. 1967 – Após a Guerra dos Seis Dias Proponente: Israel. • Resumo da proposta: abertura de negociações diretas para um acordo de convivência. • Contraproposta palestina: não à paz com Israel, não ao reconhecimento de Israel, não às negociações com Israel (conforme a reunião da Liga Árabe em agosto de 1967, pois a presença de um Estado Judaico na região seria inaceitável). 1993 – Acordos de Oslo Proponente: Israel e palestinos. • Resumo da proposta: reconhecimento pelos palestinos do Estado de Israel, reconhecimento de Israel ao direito de autodeterminação dos palestinos, autogoverno palestino em áreas da Cisjordânia e na Faixa de Gaza, criação de um Estado Palestino a ser declarado após a conclusão de negociações sobre Jerusalém, aspectos de segurança e a questão dos refugiados palestinos. • Contraproposta palestina: não aplicável neste caso, pois houve um acordo. 2000 – Cúpula de Camp David Proponente: Estados Unidos da América. • Resumo da proposta: estabelecimento de negociações diretas entre as partes, com a mediação dos EUA, considerando que “nada será definitivo até que tudo esteja acordado” (uma tentativa de ultrapassar a dificuldade das fases posteriores aos Acordos de Oslo). • Contraproposta palestina: apesar de não existirem documentos escritos, é sabido que as negociações falharam porque os palestinos não concordaram em abrir mão do “direito ao retorno”, que garantiria o direito dos palestinos a morar em Israel (algo semelhante a você comprar um apartamento com direito a morar no apartamento do vizinho). 2002 – Iniciativa Saudita Proponente: Arábia Saudita, reafirmada pela Liga Árabe em 2002, 2007 e 2017. • Resumo da proposta: um conjunto de 10 parágrafos sugerindo a normalização das relações entre Israel e os países da Liga Árabe em troca da retirada plena dos territórios conquistados por Israel em 1967 (incluíndo Jerusalém) e um “acordo justo” (sem definir qual seria) para a questão dos refugiados palestinos. • Contraproposta palestina: a OLP aceitou a proposta, o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, a rejeitou reafirmando que a presença de um Estado Judaico na região é inaceitável. 2011 – Iniciativa Israelense Proponente: Partidos de esquerda de Israel. • Resumo da proposta: retirada de Israel da Cisjordânia e da Faixa de Gaza (sem especificar se seria completa ou não), com a manutenção da soberania israelense no bairro judaico de Jerusalém e o estabelecimento do Monte do Templo como zona neutra. • Contraproposta palestina: Nenhuma. 2020 – Paz e Prosperidade Proponente: Estados Unidos da América. • Resumo da proposta: estabelecimento de um Estado Palestino em áreas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, significativa ajuda financeira norte-americana a esse Estado, manutenção do exército israelense em áreas estratégicas da Cisjordânia. • Contraproposta palestina: Nenhuma.
Como se vê, houve uma significativa evolução na posição dos palestinos, que até 1993 não aceitavam a presença de um Estado Judaico na região. O caminho é cheio de solavancos, mas de uma forma geral os palestinos e os árabes se movem em direção de um acordo... ü

A GUERRA DOS SEIS MINUTOS
Confirmando as previsões dos especialistas cujo ódio ao atual governo norte-americano enfraquece a capacidade analítica, a terceira guerra mundial aconteceu durante os poucos minutos do dia 8 de janeiro nos quais 16 mísseis balísticos (dos quais quatro falharam) foram lançados do Irã contra duas bases do exército iraquiano onde também estão estacionadas algumas tropas do ocidente.
Uma hora antes dos ataques, o governo iraniano avisou o governo iraquiano sobre os locais onde os ataques ocorreriam e como seriam conduzidos. Também recomendou que nenhuma pessoa ou equipamento, militar ou civil, estivesse por perto durante os ataques para não haver casualidades. Os iranianos explicitaram que não iriam alvejar nenhuma instalação e que estavam avisando previamente para que não atingissem pessoas ou equipamentos em locomoção pela área.
Os mísseis que não falharam cumpriram a sua dupla missão de se enterrar na areia do deserto e de permitir aos iranianos alardear em sua imprensa submissa que haviam vingado o assassinato do comandante da brigada Al Quds, atingido por um drone do exército americano cinco dias antes. A brigada Al Quds tem a nada simpática missão de espalhar a revolução dos Aiatolás pelo mundo, desestabilizando governos e comunidades ao redor do planeta, através da violência e do terrorismo. Seu comandante era considerado um terrorista por quase todos os governos do mundo democrático. Foi a guerra (mundial ou não) mais curta da história da humanidade. E ela teve um resultado bem interessante. Além dos mísseis iranianos, também foi enterrada na areia do deserto iraquiano a percepção “vendida” pelo governo norte-americano anterior que só haviam duas condições de lidar com o Irã: ou através da guerra total ou através do apaziguamento. Tendo este governo, então, optado pela alternativa do apaziguamento, cujo resultado foi o oposto ao pretendido, com a expansão das ações da brigada Al Quds, notadamente na guerra civil da Síria, na guerra civil do Iêmen e na desestabilização do governo libanês. Muito provavelmente o apaziguamento levaria a uma guerra total.
O novo governo americano mostrou que há uma terceira alternativa: a dissuasão. Ainda é cedo para avaliar o resultado desta estratégia, mas já se pode dizer que até este momento a reação iraniana foi de contenção de seu esforço em desestabilizar a região pela exportação de sua “revolução” (leia-se governo teocrático shiita). ü
Uma matéria do excelente jornal israelense Times of Israel começa assim: “No final da década de 1930, o presidente das Filipinas, Manuel Quezon, recebeu mais de 1.200 judeus da Alemanha e da Áustria em um improvável paraíso no arquipélago do Pacífico. Com sua política de portas abertas, mesmo quando a maioria das nações as fechava aos judeus, esses judeus escaparam da crescente ameaça de Hitler e chegaram à capital das Filipinas.
Não fosse a interferência do governo dos Estados Unidos, no entanto, poderia haver milhares de judeus resgatados.
O embaixador filipino em Israel contou que, embora Quezon desejasse levar dezenas de milhares de judeus para as Filipinas e instalá-los permanentemente na ilha de Mindanao, seus esforços foram frustrados pelo governo dos EUA, que o limitou a aceitar 1.000 judeus por ano, durante um período de 10 anos.
O pouco conhecido resgate foi comemorado em 27 de janeiro, Dia Internacional da Memória do Holocausto, nas Nações Unidas em Nova York, bem como no centro cultural recentemente inaugurado da embaixada das Filipinas em Tel Aviv, o Balai Quezon.” Em 1898, depois da derrota da Espanha na guerra Hispano-Americana, as Filipinas foram cedidas pela Espanha aos Estados Unidos, que governaram o país como um protetorado até a invasão japonesa em 1942. Assim, durante os anos 1930 o governo filipino não tinha liberdade para conceder vistos, sendo obrigado a receber autorização do governo dos EUA para tal. O Departamento de Estado norte-americano aplicou nas Filipinas as mesmas políticas de restrição à imigração judaica em larga escala vigentes nos EUA.
A matéria completa pode ser lida no site do jornal (timesofisrael.com), procurando pelo título “Little known Philippines’ WWII rescue of Jews was capped by US interference”. Ela relata sobre filmes e livros baseados no evento, bem como vários testemunhos pessoais. É uma história que merece ser conhecida, pois ela mostra que você tem que olhar para os dois lados da estrada ao atravessá- -la, mesmo que seu avô tenha sido atropelado por um caminhão vindo da direita. ü
