Devarim 41 (ano 15, abril de 2020)

Page 47

GENEBRA, DA UTOPIA PARA O PROJETO Paulo Geiger

E

ste artigo foi escrito e entregue a Devarim dias antes da revelação do Deal of the Century, o plano de paz de Trump para Israel e os palestinos. Evidentemente os detalhes não eram conhecidos, mas podia-se intuir sua direção geral, considerando seu autor e as circunstâncias, algumas semanas antes das eleições em Israel. Este artigo não é, portanto e no entanto, um contraponto ao plano de Trump, mas uma indicação – mais do que isso, uma constatação – de que, seja qual for o plano, ele terá de ser transformado num acordo, e não numa imposição, mas também de que seja qual for o plano, ele pode ser a base de uma negociação e de um acordo. Sem isso, não haverá uma paz verdadeira, sustentável, construída sobre o consenso de que um acordo é melhor do que uma vitória momentânea enquanto o conflito perdura. O autor deste artigo não é contra o plano de Trump em si mesmo (embora não acredite que seja aceito pela outra parte do conflito, nem mesmo que seja aceitável para ela). Se foi lançado como ponto de partida para uma renovada negociação que leve a um acordo, bem-vindo seja. Se for aceito, realmente aceito, em sua integralidade, melhor ainda. Standing ovation. Mas de nada valerá como solução se for enfiado goela abaixo, imposto. Vitórias não substituem acordos, nenhuma das vitórias israelenses foi melhor que o acordo de paz com o Egito e com a Jordânia. O grande perigo é (Israel) não negociar com base nessa proposta, não fazer nenhuma concessão e se agarrar à proposta e a seus detalhes como o mínimo aceitável (culpando os palestinos pela recusa), e com isso avançar ainda mais no caminho, que a certa altura será sem volta, que leva ao fim da ideia de dois estados. O futuro de um só estado será o de ou não ser judaico ou não ser democrático, e o presente será o de uma imposição pela força, ou de sua própria destruição, se outras forças prevalecerem. As condições do acordo de Genebra não são melhores, para os israelenses, do que as do plano de Trump. Mas Genebra é uma prova de que no meio do caminho pode-se achar um ponto de inflexão que transforme utopia em realidade.

Por que Jerusalém, símbolo de espiritualidade, de múltiplos credos, não pode ser a cidade única de todos os seus habitantes? Roma resolveu. É uma cidade 100% italiana, todos os seus habitantes são cidadãos italianos, mas ela abriga um outro estado.

Revista da Associação Religiosa Israelita-A R I

|  d e v a r i m   |  45


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.