Delírios de uma quarentena tropical

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MEMÓRIAS DO SEMPRE NASCER

Lembro com clareza: estávamos sentados à mesa, eu, aos 12, e meu avô. O chapéu de palha, a voz de barítono, o perfume amadeirado e o amor pelas mulheres faziam dele um personagem dos anos vinte. Vovô se interessava por magia, sonhava em se encantar e perscrutar os segredos dos homens. Na minha visão de menino, nem precisava, ele transformava o meu mundo com as histórias. No fim de uma tarde quente, ensinou-me que o homem deveria ser “bem lido e bem corrido”. Essas palavras tornaram-se dois candeeiros na jornada. Durante anos, lembrei-me desse alumbramento.

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