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Sem nome

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Carnaval

Carnaval

SEM NOME

Durante anos dessa jornada, busquei conhecer os mistérios do divino: Machu Picchu, Brasília, Fátima, Ávila, Cachoeira, Aparecida e tantos lugares sagrados. Eu queria compreender o significado da transcendência e a essência da alma, como o último jovem dos anos setenta. Tranquei-me nas bibliotecas e mergulhei na filosofia, de Agostinho a Kant. Deus se escondia.

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Março de 2013, em Curitiba, dancei por sete noites e sete dias num capela franciscana até ouvir o chamado do coração, como o do Bituca, na curva de um rio. E para lá viajei.

Era verão e aconteceu o seguinte: após um retiro de silêncio, eu me preparava para

voltar à Natal, quando Cristina me advertiu: “Você não pode partir sem conhecer o Seu Valdemar”. O que teria de especial naquele octogenário? Aprendi: quando estamos diante do Mistério, o coração se alumia. No alpendre da casa de taipa, ele me acolheu. “O que veio fazer aqui, moço?”, perguntou-me com delicadeza. “Vim conhecer o senhor”, respondi-lhe com um sorriso. Ele gargalhou e sorrimos juntos, nós e os ipês amarelos, testemunhas.

Do alpendre, falou-me da fé, da vida e de um amor infinito. Contou-me que fora casado por 66 anos e que a esposa, ainda doente, não se separava dele um minuto sequer. “É, eu não podia sair de perto dela, jamais”, confidenciou. E assim cumpriram os votos até “quando Deus a levou”. Solvi o último gole de café, enquanto ocultava uma lágrima desobediente.

Naquela tarde aprendi ainda que há sempre uma esperança entre um gole de café e um pôr do sol. E essa esperança também se chama Deus.

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