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Elogio do humano
ELOGIO DO HUMANO
Viajamos juntos no mesmo ônibus. Torci para que ninguém sentasse ao meu lado, o plano era fingir um sono. Para isso, deveria respirar o mínimo possível nas quase cinco horas entre Recife e Natal.
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Ouvi na web rádio: o Pantanal estava pegando fogo e os indígenas e os caboclos seriam os culpados. O ódio me subia à espinha, mas tinha que me fingir de morta. Para completar: o pneu furou. Era tragédia demais para um dia.
Desci praguejando, ele sorria por baixo da máscara. Até me pareceu um bom sujeito. Na br-101, o lusco-fusco do fim do dia pintava a barra de um ocre-alaranjado. O meu parcei-
ro de viagem começou a cantarolar um canto triste e grave. No vai sumindo do sol, aquela voz era o lamento de um mundo que acabara de findar sem esperança. Éramos ali, nós, todos mortais.