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Ressurreições
RESSURREIÇÕES
A criatura arfava nas ruas de Botafogo, fugia dos predadores, dos homens e dos pequenos diabos com pedras na mão. Na solidão noturna, tremia e olhava o Corcovado. Sentindo o fim, fechou os olhinhos e silenciou. Era tanta tristeza que a Lua Nova se apiedou da criatura (o Leitor sabe que a velha Lua é na verdade uma bruxa milenar).
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Como em toda fábula, aconteceu o momento do Mistério, aquele em que as palavras enfraquecem. Eram 23 horas, na Voluntários da Pátria, quando o bicho sentiu um leve sopro e um sussurro: −Não tema, você terá poderes especiais. −Eu sou tão frágil.
− Descobrirá uma potência que vem das eras.
Com hesitação, a criatura aceitou se transformar. A Lua a transformou na Imperatriz a parir mundos novos. Do chamado à aventura ao retorno com o elixir, percorreu, com inteireza, toda a jornada de luta.
Em uma noite de março, foi alvejada com quatro tiros na cabeça. “Esse será o seu fim”, pensavam os algozes. Esqueceram que ela trazia consigo a força de todos os arcanos. Não calou, a voz dela nunca esmoreceu. Tornou-se muitas, uma multidão luzidia a ofuscar as estrelas.
Nunca saberemos, Caro Leitor, o nome dessa heroína de pele preta. De certo mesmo, é que ela renasce sempre e sempre com a noite e brilha sem fim.