Delírios de uma quarentena tropical

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ESPECTROS DO TREM

23 de julho de 1971, chove em São Paulo, Ivani senta-se em uma cadeira da escrivaninha e datilografa, alheia ao som do telefone e ao apito do trem que passava em frente ao edifício. Os raios de sol nem tinham chegado à cama, eu sabia: ele viria. Entraria por aquela porta, no auge da minha loucura, a via torta, duas portas, dois destinos, mas só havia um: ele viria. Eu me precipitei, levantei, caí. Não era uma fraqueza comum, era nas veias. O sangue que tanto me acusaram de não ter corria, velozmente, por cada veia. E não conseguia ficar em pé. A cabeça estava certa, o corpo se contorcia e a certeza que ele viria me angustiava. Por quê?

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