ELOGIO AOS FANTASMAS
Era véspera de São João de 2020, eu ia para o Carrefour apressada, um carro cinza me seguiu. Três buzinas, fingi não ser comigo, aprendi a me tornar invisível aos assobios e sorrisos maliciosos. Onde já se viu um flerte em plena pandemia? De relance, vi que um homem dirigia o Fiat Doblò com olhar lascivo. Um frio percorreu meu corpo. Tentei desanuviar. Lembrei-me daquela noite em Buenos Aires quando conheci Martin, traços morenos, um guaraná e um sorriso. Apesar do portunhol e da timidez, conversamos horas sobre o tempo, religião, ditadura, tango e amores. Chovia na Avenida 9 de Julio, quem se importa? Senta-
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