OS PÁSSAROS
Essa é a história de alguém que não esqueceu. Condenado a sempre lembrar, como o personagem de Borges. A memória é um tijolo na retina. A minha primeira lembrança dele é clara: estávamos nós, no Beco da Lama, no centro da cidade, noite de folia de Carnaval. Depois do Desfile das Kengas, restavam apenas uns poucos animados e muito suor. Eu sorria, ele me olhava, foi tudo. Vieram os anos de luta, de golpes e ódios: “Fora petê!” e “Minha bandeira jamais será vermelha!”. Nas ruas, o revi. Dessa vez, não me reconheceu.
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