Revista Plano B Brasília n.º 08

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6 Geração eólica no mar pode acelerar transição energética no Brasil

9 A Engenharia no Trânsito

10 Lula e as relações internacionais

12 Batalha contra a manipulação de resultados esportivos

15 Agora é a China

16 A nova fase da Cultura brasileira

20 Coração do Brasil

22 Dicas da nutricionista Márcia Arruda

24 Vacina da hepatite B foi primeira a prevenir contra um tipo de câncer

26 Substituição da gotinha na prevenção à pólio aumentará proteção

30 Tijoladas do Caixa

33 Crônicas do Dia a Dia

34 Quem paga mais tributos no Brasil e nos EUA? Os mais pobres? Ou os mais ricos?

36 As razões por trás de ciclones cada vez mais fortes e frequentes no Sul, segundo especialistas

38 Brasil investe menos em educação que países da OCDE

40 Omeprazol: os riscos de tomar remédio contra gastrite e refluxo por muito tempo

44 A arte de conseguir emprego contatando chefes nas redes sociais

46 Não terceirizem a responsabilidade!

48 Serinter assume coordenação regional do Fonari

50 Investigado por beijo, presidente da federação espanhola renuncia

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SUMÁRIO

EXPEDIENTE EDITORIAL

Diretor Executivo

Chefe de Redação: Paulo Henrique Paiva

Colaboradores: Adriana Vasconcelos, Ana Beatriz

Barreto, Humberto Alencar, Itamar Ramos, Romulo Neves, Luciana Campos, Renata Dourado, Paulo

César, Wilson Coelho

Design Grafico: Alissom Lázaro

Redação: Adriana Vasconcelos

Fotografia: Ronaldo Barroso

Tiragem: 10.000 exemplares

Redação: Comentários sobre o conteúdo editorial, sugestões e criticas às matérias: revistaplanobbrasilia@gmail.com

Aviso ao leitor: acesse o site da Revista Plano B e tenha acesso a todo o conteúdo na íntegra, inclusive a Revista Digital.

www.revistaplanob.com.br

Agosto/2023

Ano 01 – Edição 08 – R$ 14,90

Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores.

A Revista Plano B não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

Os efeitos do governo Lula 3

O terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a mudar o cenário em algumas áreas do governo federal. Os primeiros nove meses do ano já são suficientes para vislumbrar as mudanças de rumo.

É neste contexto que o Ministério do Esporte planeja criar uma agência reguladora para atuar na fiscalização da manipulação de resultados e eventos em diversas modalidades esportivas. A ideia foi anunciada durante audiência pública na Comissão de Esporte do Senado, no último dia 20 de setembro, diante da proliferação de denúncias sobre a manipulação de resultados de competições esportivas.

De acordo com a secretaria-executiva do Ministério dos Esportes, Juliana Agatte, a futura agência atuaria nos moldes de outras agências reguladoras já existentes e fiscalizaria não só as denúncias de manipulação de resultados, como também outras para coibir casos de racismo, violência e outras formas de discriminação em arenas esportivas.

A recriação do Ministério da Cultura, após quatro anos de retrocesso na área, também começa a colher frutos dos novos tempos sob a terceira gestão de Lula. Sob o comando de Margareth Menezes, a pasta agora conta novamente com a colaboração de Márcia Rollemberg, que reassumiu a secretaria Nacional de Cidadania e Diversidade Cultural.

E o resultado disso, conforme revelou Márcia em entrevista à revista Plano B, já pode ser comprovado em números: este ano o setor cultural já recebeu R$ 3,8 bilhões da Lei Paulo Gustavo, com a adesão de todos estados e do DF. E nos próximos cinco anos, as políticas públicas do setor poderão contar com o aporte de mais de R$ 3 bilhões.

Por Adriana Vasconcelos

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Geração eólica no mar pode acelerar transição energética no Brasil

Fonte renovável ampliará capacidade do país em 3,6 vezes, estima CNI

Por: Bruno de Freitas Moura - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Adaptação Rócio Barreto

6 ECONOMIA

Em algumas regiões do país, mais notadamente nas dunas do Nordeste, grandes turbinas eólicas fazem parte da paisagem. Essas espécies de ventiladores gigantes são geradoras de energia elétrica a partir da força dos ventos. Se depender do que aponta uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), essas estruturas vão ser mais comuns também na paisagem marítima, com usinas eólicas offshore (fora de terra firme), com a vantagem de explorar ventos mais constantes e com maiores velocidades.

Essa nova fronteira de geração de energia limpa pode fazer o Brasil aumentar em 3,6 vezes a capacidade total de produção de energia elétrica e potencializar a transição para um mundo com cada vez mais combustíveis renováveis.

O cenário é traçado pelo estudo Oportunidades e Desafios para Geração Eólica Offshore no Brasil e a Produção de Hidrogênio de Baixo Carbono, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), lançado nesta terça-feira (12), em Brasília, no evento Diálogo Pré-COP 28: O Papel da Indústria na Agenda de Clima.

O encontro tem a participação de representantes do setor produtivo, governo e sociedade civil para debater assuntos da Conferência da ONU sobre Mudanças Climática (COP), que será realizada em Dubai, Emirados Árabes Unidos, entre 30 de novembro e 12 de dezembro.

Potencial de geração

De acordo com o estudo, em 2021, o mundo tinha capacidade instalada para a geração de 55,9 gigawatt (GW) por meio de usinas eólicas offshore, basicamente na China e na Europa. A estimativa é que o parque eólico offshore global alcance o patamar de 260 GW em 2030 e 316 GW dez anos depois. Para isso, estão previstos investimentos de até US$ 1 trilhão.

O levantamento da CNI aponta que o Brasil tem grande potencial ainda inexplorável com capacidade de chegar a 700 GW, ou seja, 3,6 vezes a capacidade total de energia elétrica já instalada e conectada ao Sistema Interligado Nacional (194 GW). Porém, o estudo não indica quando o Brasil alcançará esse patamar. Até 30 de agosto, havia no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) 78 pedidos de licenciamento para usinas eólicas no mar, somando potencial de geração de 189 GW.

Transição energética

A inclusão dessa energia limpa na matriz energética brasileira é vista como ponto primordial para o Brasil perseguir o Acordo de Paris - tratado sobre mudanças climáticas assinado por 195 países e adotado em 2015. Nele, o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e em 50% até 2030, tendo como base as emissões de 2005. Além disso, no ano passado, o país assumiu o compromisso de alcançar emissões líquidas neutras até 2050, ou seja, não contribuir para o efeito estufa, tanto diminuindo as emissões, quanto capturando carbono da atmosfera.

“A eólica offshore vem para somar rumo a essa expansão de renováveis e com o objetivo de manter a matriz energética elétrica do Brasil cada vez mais limpa e sustentável”, avalia o gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo.

O levantamento identificou que as regiões do litoral brasileiro com maior potencial para a geração estão na costa nordestina, entre Piauí, Ceará e no Rio Grande do Norte; entre os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, no Sudeste; e na Lagoa dos Patos, litoral do Rio Grande do Sul.

7 ECONOMIA

Hidrogênio verde

Se o Brasil viabilizar a geração de todo o potencial apontado no estudo da CNI, o país terá excesso de energia. Além de deixar a matriz energética mais limpa e sustentável, haverá a chance de vender o superávit para outros países, assim como avançar na chamada economia do hidrogênio de baixo carbono.

O hidrogênio verde, como também é conhecido, é produzido a partir das fontes renováveis de energia, como a eólica, e pode ser utilizado como combustível em setores intensivos de consumo energético, como o petroquímico, siderúrgico e de cimento. Outra utilização do hidrogênio verde é na fabricação de fertilizantes, produto muito importado pelo Brasil.

Como o hidrogênio tem grande desempenho comparado às baterias convencionais utilizadas na indústria de veículos elétricos, pode ganhar cada vez mais escala na nova indústria automotiva.

Outra característica do hidrogênio é a capacidade de poder armazenar energia. Isso permitiria ao sistema de geração e transmissão de energia elétrica do país manejar mais adequadamente a oferta de acordo com a demanda. De acordo com a CNI, isso reforça a ideia de que a economia do hidrogênio de baixo carbono é potencial consumidora do combustível limpo gerado pelas eólicas.

Competidor global

O fato de o Brasil ser visto pela CNI como forte competidor no mercado global de energia eólica offshore fez com que a confederação tratasse o tema como prioridade no plano de retomada da indústria, apresentado ao governo federal neste ano.

“A consolidação dessa cadeia de valor no Brasil pode impulsionar a economia e facilitar a retomada da industrialização. Além de oferecer uma fonte de energia limpa e renovável,

Experiência no offshore

o setor deve gerar empregos, estimular o desenvolvimento tecnológico e científico, reduzir a dependência de fontes não renováveis e colaborar para a segurança energética do país”, diz o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

A possibilidade de exportar o hidrogênio verde para outros países, especialmente do Hemisfério Norte, é um dos fatores que favorecem a instalação de eólicas offshore na costa norte nordestina, pela proximidade de portos que fariam esse comércio.

“A vocação principal da região Nordeste para produção de hidrogênio de baixo carbono e seus derivados seria para exportação para o continente europeu. A distância entre o Porto do Pecém (São Gonçalo do Amarante-CE) e o Porto de Rotterdam, na Holanda, é cerca de 7,5 mil quilômetros ou de nove dias por transporte marítimo”, cita o documento.

Quando o assunto é licenciamento ambiental, são levadas em conta questões como processos migratórios de aves e espécies marinhas. A CNI acrescenta preocupações com os múltiplos usos do espaço oceânico, como pesca, navegação, turismo e a extração de óleo e gás. O documento explica que a complexidade logística e os custos associados à instalação e à manutenção de parques eólicos offshore requerem aportes significativos e um ambiente regulatório favorável.

O Decreto 10.946, de janeiro de 2022, regulamenta a cessão de uso de espaços físicos e o aproveitamento dos recursos naturais em águas da União para o desenvolvimento da energia elétrica a partir de empreendimento offshore. Mas, segundo a CNI, não é suficiente para trazer segurança jurídica aos investidores. A confederação lembra que tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que regulamenta o modelo de cessão de áreas, a cobrança de outorgas e os critérios para a realização dos leilões, como funciona na indústria do petróleo.

Davi Bomtempo defende a criação de um marco regulatório das eólicas offshore. “É importante para orientar todo o desenvolvimento dessa atividade.”

A CNI observa que a tendência é que os projetos de geração eólica offshore sejam implementados em locais cada vez mais distantes da costa, o que representa desafios e oportunidades para empresas que atuam no mercado de óleo e gás no Brasil, “devido a sua expertise em operações realizadas em águas profundas”.

A Petrobras indica ter interesse nesse desafio. Em março, a estatal firmou uma parceria com a multinacional norueguesa Equinor para avaliar sete projetos de eólica offshore no Brasil, com potencial para gerar até 14,5 GW.

“Esse acordo vai abrir caminhos para uma nova fronteira de energia limpa e renovável no Brasil, aproveitando o expressivo potencial eólico offshore do nosso país e impulsionando nossa trajetória em direção à transição energética”, disse à época o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates.

8 ECONOMIA

A Engenharia no Trânsito

Vira e mexe ouve-se alguém perguntando onde está a Engenharia de Tráfego do Distrito Federal, que deixa nossas cidades e as ligações entre elas padecerem de tantos e tão intensos engarrafamentos dia após dia. Com efeito, é só ouvir o noticiário de manhã dominado pelos relatos de congestionamentos para se convencer de que nossos engenheiros de tráfego são ou muito preguiçosos ou muito incompetentes. Nada é mais falso, no entanto.

Como atuo nessa área de formação há trinta anos aqui nesta cidade, minha frustração é dobrada. Além da eventual perda de tempo no trânsito, com o consequente e significativo comprometimento da qualidade de vida, sofro com a baixíssima oferta de oportunidades de colocação para quadros técnicos tão qualificados como os que a Universidade de Brasília faz questão de formar.

Governo após governo, o trânsito no Distrito Federal é tratado como mera matéria de fiscalização. Como a exceção que confirma a regra, merece destaque o singelo período do governo Cristovam em que o DETRAN da capital federal foi dirigido pelo saudoso psicólogo Luís Miúra. Não por acaso, o período ficou marcado pelo programa Paz no Trânsito, que transformou a realidade de nosso quadradinho. Miúra soube colocar em prática o que costumamos frisar no primeiro dia de aula de nossos cursos: para dar certo, qualquer programa de trânsito precisa estar muito bem equilibrado no tripé formado pela Engenharia, pela Educação e pela Fiscalização. Sendo um tripé, as três pernas têm que ter as mesmas dimensões e a mesma robustez.

Entretanto a Engenharia, responsável pelas adequadas produção do espaço e operação dos dispositivos de controle da circulação, não tem merecido atenção digna por parte de nossos governantes. A equipe de engenharia do DETRAN-DF, composta por profissionais muito bem qualificados, é mínima. Não bastasse o tamanho, os recursos técnicos que são disponibilizados pelos gestores são de dar pena. Os sis-

temas de controle semafórico, só para dar um exemplo, têm uma defasagem de décadas não em relação às referências internacionais, mas a inúmeras cidades aqui mesmo do Brasil.

Fugindo da armadilha da comparação com as megacidades da região mais rica do país, vou ficar com um exemplo nordestino: a cidade de Fortaleza há muito vem investindo na qualificação da gestão do trânsito e alcança hoje um grau de excelência que a coloca na posição de modelo até para programas internacionais, como aqueles promovidos pela OMS/OPAS, pela Iniciativa Bloomberg, pela FIA etc. Sintomaticamente, o órgão gestor da área tem o sugestivo nome de AMC - Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania.

Para não entrar em muitos aspectos, chamo atenção para a profícua parceria entre a AMC e as instituições públicas UECE (Universidade Estadual do Ceará) e UFC (Universidade Federal do Ceará). No caso da UFC, que conheço mais de perto, é de dar inveja a parceria que resulta, pelo lado da AMC, na destacada formação de seu corpo técnico e, pelo lado do PETRAN (o programa de pós-graduação em transportes da universidade), no rico portfólio de projetos de pesquisa e na vasta produção acadêmica.

Aqui em nosso quadrado, vontade não falta de investir em uma simbiose do tipo, nem do lado da Universidade de Brasília, nem do lado dos quadros técnicos do DETRAN-DF. Da parte dos governantes, porém, infelizmente não podemos dizer o mesmo...

*

Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University of London (University College London) (2001).

Paulo Cesar Marques da Silva *
Paulo Cesar Marques da Silva é professor da área de Transportes da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília.
9 MOBILIDADE
“Não por acaso, o período ficou marcado pelo programa Paz no Trânsito, que transformou a realidade de nosso quadradinho.”

Lula e as relações internacionais

OBrasil voltou ( Brazil is back). Este tem sido um dos motes do governo federal. Depois da opção do ex-presidente Jair Bolsonaro de se afastar dos principais cenários internacionais, sob o argumento de que ser pária era melhor que participar, Lula colocou em marcha um plano, tão intenso quanto ousado, de retomada de visitas e articulações.

Até setembro de 2023 ele já visitou a Argentina (22/01), o Uruguai (25/01), os Estados Unidos (09/02), a China (11/04), os Emirados Árabes (15/04), Portugal (21/04), a Espanha (25/04), o Reino Unido (05/05), o Japão (17/05), a Itália (20/06), de novo a Argentina (03/07), a Colômbia (08/07), a Bélgica (16/07), o Cabo Verde (19/07), o Paraguai (14/08), a África do Sul (22/08), Angola (25/08), São Tomé e Príncipe (27/08), a Índia (09/09), Cuba (12/09) e, mais uma vez, os Estados Unidos (15/09). Ufa!

precisão, que vai ser necessário enfrentar os problemas internos para que os cenários internacionais ajudem a mudar as difíceis questões. Lula não pode pairar sobre a política interna e se transformar em um personagem mais presente lá fora que aqui. O jogo é duro.”

Nas visitas ocorreram articulações bilaterais e multilaterais. Sessões de trabalho no G7 (Grupo dos Sete, dos países mais industrializados do mundo), no G20 (Grupo dos Vinte, fórum de cooperação econômica internacional, com 19 países mais a União Europeia, e que representam 85% do Produto Interno Bruto global, em que o Brasil responde agora pela presidência), no Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, Brasil também na presidência), nos BRICS (mecanismo internacional de cooperação entre os cinco países: Brasil, Rússia, Índia , China e África do Sul, que teve recente adesão de Arábia Saudita, a Argentina, o Egito, os Emirados Árabes, a Etiópia e o Irã, e há muitos outros na fila),

na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), nas Nações Unidas (ONU) etc. Todas movimentaram as dinâmicas brasileiras e as suas relações internacionais. Da mesma forma, Brasília recebeu diversos personagens e personalidades, além de chefes de Estado e de Governo, com o objetivo de retomar os interesses comuns e expor as diferenças. Belém do Pará foi palco, em agosto, da Cúpula da Amazônia, a partir da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), em que o Brasil exerce um papel fundamental.

Os principais temas desses eventos foram, além dos bilaterais, a guerra Rússia-Ucrânia, os blocos regionais que o Brasil participa, os temas ambientais, em especial a Amazônia, as relações comerciais, a desigualdade e a fome, além da eterna demanda da diplomacia brasileira por uma reestruturação da governança global, que é, em verdade, a reivindicação do Brasil de ter assento no Conselho de Segurança da ONU.

Cada uma das visitas foi feita com a presença de delegações, além do usual entourage, que mais atrapalharam que ajudaram. Não por culpa desses grupos. Mas em decorrência do hiato temporal que está a ser compensado pela diplomacia lulista, associada ao poder gravitacional que o velho líder ocupa no imaginário internacional. Dito de outra forma, o Brasil está de volta porque Lula voltou. Alguns deslizes e equívocos, além de uma ou outra posição derivada de um esquerdismo infantil, mais que conhecido, e que não apagaram o esplendor deste ano e da admiração de outros países.

Melillo Dinis
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“Contudo, é possível apontar, com muito mais
POLÍTICA

Fato: há uma maior presença com respeitabilidade. Outro fato: o governo Lula vai muito melhor quando o Presidente está lá fora do que quando ele aqui está. São tantos problemas conjunturais e desafios estruturais, no país, que o peso das viagens em sua idade é sublimado pela leveza de seus contatos e reuniões sobre temas como guerras, fome e extremos climáticos!

Após os fatos, a análise. Isso tem impacto na política interna? Tem. Nada excepcional, mas o noticiário promove, em que pese as críticas das redes sociais, o Brazil is back na forma de um road show. Boa visibilidade, apesar de algumas gafes.

O que isso significa para a economia? Ainda não é possível oferecer um resultado, mas temas como o Acordo Mercosul-União Europeia, relações com a China e incremento das exportações, especialmente de commodities, apontam para uma melhor situação em um mundo reglobalizado após a pandemia de COVID-19. Temos que refazer as contas.

Contudo, é possível apontar, com muito mais precisão, que vai ser necessário enfrentar os problemas internos para

que os cenários internacionais ajudem a mudar as difíceis questões. Lula não pode pairar sobre a política interna e se transformar em um personagem mais presente lá fora que aqui. O jogo é duro. Em uma perspectiva de fim de ano (sim, é quase Natal), há muito a se resolver internamente, especialmente na política e na economia, que nem sempre andam juntas, mas que estão conectadas como sempre. Ademais, a popularidade de Lula na opinião pública e nos diversos setores sociais ainda é claudicante, com um desencanto pela política que atinge a todos os atores, mas que reverbera primeiro no mandatário da vez, neste caso o Lula.

Lula terá um pouco de paz no período de sua cirurgia, agendada para o dia 29 de setembro. Apenas um pouquinho e por um período pequeno. É que as dores da política são muito mais difíceis que as dores do peso dos anos. O Brasil está de volta, mas sem avançar internamente, nem tanto.

* Advogado e analista político em Brasília.
POLÍTICA

Batalha contra a manipulação de resultados esportivos

O Ministério do Esporte vai entrar em campo e propor uma agência reguladora para combater não só manipulações de resultados, mas também a discriminação e violência nas arenas esportivas

Por: Luciano Nascimento – Repórter da Agência Brasil - São Luís

Adaptação de Rócio Barreto

OMinistério do Esporte planeja criar uma agência reguladora para atuar na fiscalização da manipulação de resultados e eventos em diversas modalidades esportivas. A ideia de criação da estrutura foi apresentada no último dia 20 de setembro, durante audiência pública na Comissão de Esporte do Senado diante a proliferação de denúncias sobre a manipulação de resultados de competições esportivas.

A secretaria-executiva do Ministério dos Esportes, Julia-

na Agatte, disse que a futura agência atuaria nos moldes de outras agências reguladoras já existentes, como o Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), entre outras.

“A gente entende que o tema assume essa relevância de uma agência. É importante que ela tenha uma autonomia, apesar de vinculada ao Ministério do Esporte. Além da discussão da manipulação de resultados, a gente quer abarcar nessa discussão também temas como o racismo no mundo do esporte, violência e ao combate a todas as formas de discriminação e violência nas arenas esportivas”, disse.

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Batizada inicialmente de Agência Nacional de Proteção e Fomento à Integridade Esportiva, o órgão atuaria no aperfeiçoamento de ações para fiscalizar e combater a manipulação de resultados. Segundo Juliana, as ações seriam feitas em conjunto com outros órgãos como a Polícia Federal, o Ministério Público, a Interpol, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), entre outros.

“Ela atuaria não só no futebol, mas em todas as modalidades esportivas. Ela tem o enfoque de fiscalização, mas tem uma parcela muito importante da discussão de prevenção [à prática de manipulação] e educação nos valores do esporte”, propôs.

vas por meio de quota fixa (as bets). O texto, que incorpora a Medida Provisória 1182/23, que regulamentou o tema, foi aprovado pela Câmara dos Deputados e encaminhado para análise do Senado.

Lavagem de dinheiro

O assessor especial do Ministério da Fazenda para o tema da regulamentação das apostas esportivas, José Francisco Mansur, disse que a iniciativa do governo visa combater não só a manipulação de resultados e eventos esportivos, mas também a lavagem de dinheiro.

A proposta também trata da prática de publicidade abusiva por parte das casas de apostas em canais, que fomentam os canais esportivos e as programações de esporte das TVs abertas, fechadas e mídias sociais. Essas casas patrocinam ainda 39 clubes de futebol das séries A e B, modalidades olímpicas, não olímpicas e paralímpicas.

A discussão sobre a criação de um órgão de regulação e fiscalização ocorre em meio ao debate do projeto de lei que regulamenta as apostas esporti-

Pelo texto, ficam proibidas propagandas que veiculem afirmações infundadas sobre as probabilidades de ganhar ou sobre possíveis ganhos que os apostadores podem esperar. As peças publicitárias não poderão sugerir ou dar margem para o entendimento de que a aposta pode ser uma alternativa ao emprego, solução para problemas financeiros, fonte de renda adicional ou forma de investimento financeiro.

“A gente entende que o tema assume essa relevância de uma agência. É importante que ela tenha uma autonomia, apesar de vinculada ao Ministério do Esporte. Além da discussão da manipulação de resultados, a gente quer abarcar nessa discussão também temas como o racismo no mundo do esporte, violência e ao combate a todas as formas de discriminação e violência nas arenas esportivas”
“Se tiverem recursos para fazê-lo que o façam como lazer, mas não caiam nas mentiras que, às vezes, são contadas de que apostas são um meio para enriquecer. Estudos do mundo inteiro mostram isso não é verdade”
13 CAPA

Esse tipo de publicidade, de acordo com Mansur, tem o potencial de favorecer o vício em apostas: “A aposta é um lazer, não é um mecanismo para se ficar rico, as pessoas não devem ter a ilusão de que irão enriquecer apostando”, defendeu.

E acrescentou: “Se tiverem recursos para fazê-lo que o façam como lazer, mas não caiam nas mentiras que, às vezes, são contadas de que apostas são um meio para enriquecer. Estudos do mundo inteiro mostram isso não é verdade”.

Mansur disse que além do projeto, o governo criou um grupo de trabalho interministerial, que além da Fazenda é integrado pelas pastas de Esporte, Justiça e Controladoria-Geral da União. Integram o grupo ainda a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o Comitê Paralímpico Brasileiro, a Associação Nacional de Jogos e Loterias, entre outros. O objetivo é elaborar uma portaria especifica contra a manipulação de resultados e eventos. A intenção é utilizar mecanismos de tecnologia para identificar, em tempo real, se uma aposta está fora de um padrão comum, em diferentes esportes.

“Isso vai ligar um alerta no sistema do governo e, em uma escala de um a cinco. Se chegarmos a um nível três de suspeita de manipulação, teremos mecanismos para oficiar as empresas para retirar essa aposta”, explicou Mansur, que esclareceu ainda que o sistema emitiria notificações para diferentes órgãos para as devidas apurações e investigações.

O projeto para coibir a manipulação de resultados foi encaminhado pelo governo federal após o escândalo sobre manipulação do resultado de jogos dos campeonatos brasileiros de Futebol das séries A e B, investigado pela Operação Penalidade Máxima, pelo Ministério Público (MP) do Estado de Goiás no final de 2022.

A investigação apurou a existência de uma organização criminosa especializada em corromper atletas profissionais de futebol para assegurar a ocorrência de determinados eventos nas partidas e, com isso, para garantir o lucro de integrantes da organização em apostas esportivas.

O promotor do Ministério Público de Goiás Fernando, Martins Cesconetto, disse que a apuração teve início após denúncia de um dirigente do clube goiano de futebol Vila Nova, relacionada à manipulação de resultados em partidas da série B do Brasileirão. O MP descobriu que a organização

criminosa oferecia a atletas profissionais valores entre R$ 50 mil a R$ 500 mil reais para que eles praticassem determinadas condutas nas partidas, como receber cartões amarelos, vermelhos, cometer pênalti ou garantir o placar parcial em etapas. As manipulações ocorreram em 13 partidas de futebol, sendo oito do Campeonato Brasileiro da Série A de 2022, uma da Série B de 2022 e quatro de campeonatos estaduais realizados em 2023.

“Essas ações eram para garantir o lucro desses apostadores em inúmeras apostas feitas em casas esportivas em detrimento, óbvio, da imprevisibilidade, da lisura e moralidade decorrente de qualquer competição esportiva”, atestou Cesconetto.

O promotor disse ainda que a organização criminosa apresentava uma estrutura com divisão de tarefas distribuídas em diferentes núcleos: um financiador, que atuava para garantir a existência de verbas para pagar os atletas cooptados, assegurar o abastecimento de contas em casas de apostas para a execução das apostas; o núcleo de apostadores que entrava em contato com os jogadores profissionais oferecendo as quantias e mandando os valores para as contas dos atletas ou de laranjas; o de intermediadores que aproximavam os atletas dos aliciadores; e o núcleo de apoio operacional que garantia o controle das contas e os pagamentos.

Até o momento foram denunciadas 32 pessoas e a Justiça Desportiva firmou nove acordos com atletas profissionais de não persecução penal, que resultaram no pagamento de R$ 640 mil reais em multas. Cesconetto frisou, entretanto, que as investigações mostraram que o esquema envolvia uma pequena parcela dos atletas.

“Temos uma plena certeza que é uma minoria de jogadores que cedem a essas tentações. Ao mesmo tempo em que nos deparamos com inúmeros episódios em que os atletas cederam e concordaram em fazer os eventos manipulados, nos deparamos com inúmeros episódios em que os atletas recusaram e rechaçaram qualquer oferta desse tipo, porque já sabem que é crime”, disse.

Na avaliação do promotor, além da repressão é preciso também investir na prevenção desse tipo de crime. E recomentou: “Se ficarmos apenas na ótica de atuação na esfera repressiva, não vai ser suficiente para coibir essas condutas. É necessário que tenhamos também uma atuação sob o

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“Essas ações eram para garantir o lucro desses apostadores em inúmeras apostas feitas em casas esportivas em detrimento, óbvio, da imprevisibilidade, da lisura e moralidade decorrente de qualquer competição esportiva”

CONTOS EM CONTA-GOTAS

Agora é a China

Mari, Quero lhe informar que depois de um tempinho sem viajar resolvi conhecer a China. Sei que é longe pra burro, pra jegue, porque até nos mais modernos aviões vão ser horas intermináveis de voo.

O que me acalma é que vou na primeira classe, onde o conforto proporcionado, principalmente nos voos de longas distâncias é muito maior que na classe executiva, por exemplo.

Minha primeira parada será em Pequim, porque como você pode perceber pelo nome, deve ser uma cidade onde o pecado é livre e sem a maldita culpa ao cometê-lo. Acho que vai ser o máximo poder transgredir todas as leis morais que engessam nossas vontades.

E se é para pecar vou pecar com força, farei tudo que sempre consegui reprimir dentro de mim.

Em seguida Xangai, onde minha educação rígida de boa moça nunca me permitiu lançar um impropério sequer, nem quando dava uma topada com o dedão numa pedra .

Vou xingar a politica, as desumanidades cometidas contra pessoas e animais, vou xingar juízes de futebol, e mais um sem número de pessoas e situações vividas cotidianamente onde o meu maior desejo era o de xingar sem moderação.

Creio que a terceira parada será em Nanquim. Já imaginou uma cidade todinha de tinta? Onde a pessoa pode escrever e desenhar tudo o que lhe der na telha?

Amiga, desculpa, mas acho que agora torturei você.

E por último vou para Cantão, pois se qualquer cantinho do planeta me fascina, imagina sua amiga aqui num cantão. A minha preocupação é que o Cantão seja menos privado do que os cantinhos, e que tudo que se deseja fazer lá seja passível das bisbilhotices das outras pessoas. Mas ao mesmo tempo que temo por isso, outra parte de mim me tranquiliza, alertando-me que não conheço ninguém por aquelas paragens.

Minha querida amiga, ainda não desisti de fazermos uma viagem juntas, pois tenho certeza de que será pura diversão. Aproveito para dizer que conto com a sua discrição. Não conte ao Zeca que vim para cá e nem as coisas que pretendo encontrar em cada uma dessas localidades, pois você sabe tanto quanto eu o quanto ele é culto, e se eu por acaso estiver pensando e escrevendo coisas que não tenham nada a ver, ele ficará total e irremediavelmente decepcionado comigo. Não quero dar nenhuma chance para que essa catástrofe aconteça.

viés preventivo, integrado com todos os atores envolvidos, incluindo também clubes, federações, fiscalizações, sejam nas casas de apostas que venham a atuar legalmente nesse sistema e empresas que realizam esse monitoramento e os órgãos de fiscalização para que tenham uma comunicação maior”.

Marivalda, para você que me conhece desde criancinha, não vou mentir e dizer que sou boa em geografia, pois eu nem sei o nome de todas as capitais do nosso Brasil.

O dinheiro tem me proporcionado muitas oportunidades, e até um tantinho do saber, mas para não cometer imensas e irreparáveis gafes, decidi que voltarei aos bancos escolares. Já cansei de não ter a mínima noção acerca das cidades as quais visito, e por isso mesmo, visitando-as, minha memória não absorve tudo o que foi visto e vivenciado.

Se quiser fazer alguma encomenda, me telefona o mais breve possível, pois sabe que sempre tenho grande prazer em atender você . Não se acanhe, pode encomendar sem limites.

Já estou com saudade de comer arroz com feijão antes mesmo de partir daqui. A viagem não será muito longa, afinal o Zeca não pode ficar longe de mim por muito tempo . Aquele homem me ama, assim como eu a ele.

Querida, antes do até logo quero que saiba que na próxima viagem vou levar você comigo.

Bem, agora é ding-ling e seja o que Deus quiser.

Até breve, Kate

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“Vou xingar a politica, as desumanidades cometidas contra pessoas e animais, vou xingar juízes de futebol, e mais um sem número de pessoas e situações vividas cotidianamente onde o meu maior desejo era o de xingar sem moderação.”

A nova fase da Cultura brasileira

A retomada e reconstrução das políticas culturais têm por trás mulheres em cargos estratégicos, como a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e a secretaria Nacional de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg

Arecriação do Ministério da Cultura, após quatro anos de retrocessos, assegurou uma nova dinâmica a partir da nomeação de mulheres para a condução das novas políticas públicas do setor. A convite da ministra Margareth Menezes, a mineira e candanga, Márcia Rollemberg, voltou a ocupar o cargo de secretária Nacional de Cidadania e Diversidade Cultural.

O resultado disso já pode ser comprovado em números: este ano o setor cultural já recebeu R$ 3,8 bilhões da Lei Paulo Gustavo, com a adesão de todos estados e do DF. E nos próximos cinco anos, as políticas públicas do setor poderão contar com o aporte de mais de R$ 3 bilhões.

Trazendo na bagagem novas experiências, como a de primeira-dama do governo do Distrito Federal de 2015 a 2018 e após criar com a filha, Gabriela Rollemberg, a startup Quero Você Eleita , com o objetivo de ampliar a presença feminina em espaços de poder, na sua volta ao Ministério da Cultura, Márcia Rollemberg recebeu como missão colocar em prática a Política Cultura Viva , através da qual pretende reativar a colaboração federativa e promover a municipalização da cultura.

Confira aqui sua entrevista à revista Plano B!

Como é ter retornado, depois de quase 10 anos, para a Secretaria Nacional de Cidadania e Diversidade

16 ENTREVISTA

Cultural, neste importante momento de recriação do Ministério da Cultura?

Como diz a nossa querida Ministra Margareth Menezes: o Ministério da Cultura voltou. E uma das pautas prioritárias do Governo Lula é a ampliação da rede de Pontos de Cultura. Então é uma grata e desafiadora missão estar de volta a Secretaria Nacional de Cidadania e Diversidade Cultural, uma vez que participamos da consolidação do Cultura Viva, que foi criado em 2004, como um programa, e passou a ser uma política de estado, com a aprovação da lei no 13.018/2014.

E agora retomo ao mesmo lugar, oito anos depois, com novos desafios, depois de um ciclo de recrudescimento e desmonte das políticas culturais no país, inclusive com a extinção do Ministério da Cultura, que simbolizaram retrocessos e paralisações que prejudicaram a implementação do Cultura Viva, bem como a expansão do Sistema Nacional de Cultura.

O momento é de reconstrução e retomada das políticas culturais, tendo a Política Cultura Viva como um dos principais eixos para reativar a colaboração federativa e promover a municipalização da cultura, sempre com o compromisso na promoção dos direitos culturais e no respeito à diversidade cultural, priorizando os povos, grupos, comunidades e populações, e valorizando a sua capacidade e potência cultural, mesmo vivendo, em sua maioria, à margem do conjunto das políticas públicas, em especial de cultura.

Este ano o setor cultural já recebeu R$ 3,8 bilhões da Lei Paulo Gustavo, com adesão de todos os estados e DF. Uma lei emergencial, que está reativando o fomento à cultura, e todos os arranjos produtivos que envolve. Mas a grande transformação será o aporte de R$ 3 bilhões, por pelo menos cinco anos, nas políticas de cultura. A Política

Nacional Aldir Blanc possibilitará que o Ministério da Cultura pactue com estados, municípios e sociedade civil, e de forma gradativa, consolide a política cultural de base comunitária, que é a Política Nacional Cultura Viva - a PNCV, dentre outras, nacionais e setoriais, de grande relevância para o desenvolvimento país.

O que é a Política Cultura Viva e qual é a sua importância?

A Política Cultura Viva reconhece, conecta e fomenta os fazedores de cultura, agentes e núcleos culturais que tradicionalmente realizam em suas comunidades, uma formação cidadã, ações educativas, artísticas, práticas identitárias, de celebração, de modos de vida e de ofícios, de pertencimento, de transmissão de saberes entre as gerações. Que desenham o Brasil de raiz, profundo, popular e tradicional, das cidades, do campo, das florestas e das águas.

Iniciou-se como o Programa Arte, Educação e Cidadania, instituído em 6 de julho de 2004. Foi um Programa criado pelo Ministro Gilberto Gil, em um período de transformação das políticas públicas de cultura, durante a institucionalização do Sistema Nacional de Cultura.

Nos últimos anos, após retrocessos e paralisações que afetaram sua implementação e expansão, a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural vai atuar como indutora na rede nacional de pontos de cultura, em parceria com a Comissão Nacional de Pontos de Cultura, reconstruir as instâncias de gestão compartilhadas com estados e municípios, para definir responsabilidades, qualificar os instrumentos e integrar o Cadastro Nacional de Pontos e Pontões de Cultura.

A retomada dos investimentos diretos do Ministério, com os dois editais, em curso, que somam R$ 61,5 milhões, com as políticas de descentralização de recursos para estados e municípios, com a implementação da Lei Aldir Blanc 2, que definirá em sua regulamentação um piso nacional de investimentos para a Cultura Viva, podemos afirmar que temos uma oportunidade única de efetivar uma inédita pactuação federativa, garantindo a continuidade e fortalecimento dessa política e permitindo que alcance a totalidade dos municípios do Brasil.

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Pode explicar o que é o Edital de Premiação Sérgio Mamberti e o Edital para termos de compromisso cultural com Pontões de Cultura, e qual é o seu impacto nas políticas culturais?

O Edital de Premiação Sérgio Mamberti, no valor de R$ 33,5 milhões, é uma iniciativa que promove e valoriza a diversidade cultural no Brasil. Fazemos uma homenagem a Sérgio Mamberti, que foi um Mestre das Artes Cênicas, mas sobretudo um defensor incansável da inclusão e da diversidade cultural em suas diversas formas na macropolítica da cultura. Esse edital terá um impacto significativo, reconhecendo, certificando e premiando as diversas expressões culturais: Culturas Populares e Tradicionais; Culturas Indígenas; Diversidade: pessoas idosas, com deficiência, LGBTQIA+, pessoas em sofrimento psíquico; e os Pontos de Cultura Viva. Isso contribui para uma sociedade mais inclusiva e plural, fortalecendo a luta pela igualdade de direitos.

Além disso, lançamos o Edital de fomento à Pontões de Cultura, no valor de R$ 28 milhões, que mediante um plano de trabalho anual, celebrará Termos de Compromisso Cultural - um instrumento de parceria específico do Cultura Viva, com 46 Organizações da Sociedade Civil reconhecidas como Pontões de Cultura, sendo 31 territoriais e 15 temáticos, no sentido de realizar atividades formativas, de reconhecimento dos grupos culturais , garantindo o DNA da política e a ação em rede.

Uma ação que mobiliza e forma no mínimo 610 Agentes Cultura Viva, que tem Comitês Gestores em cada Pontão, com no mínimo cinco pontos de Cultura. A proposta é ativar e ampliar as redes territoriais, temáticas, setoriais, identitárias de Pontos de Cultura, visando uma gestão compartilhada com os governos estaduais e municipais da Política Cultura Viva no período de 12 (doze) meses.

Como você vê a liderança da Ministra Margareth Menezes, uma mulher negra, na formulação de políticas culturais públicas que promovem a diversidade cultural e a igualdade de gênero?

Estou muito feliz e honrada por trabalhar sob a liderança da Ministra Margareth Menezes, uma mulher negra com uma trajetória tão extraordinária e singular. A presença dela como Ministra da Cultura representa um marco histórico, pela

primeira vez essa voz, esse lugar de fala acontece nesta posição e espaço de poder e decisão. Margareth traz consigo uma experiência que é profundamente enraizada em suas origens, em sua ancestralidade e em sua vivência como filha de uma família oriunda da pesca artesanal. Ela superou desafios e criou sua própria marca, como artista e produtora independente, o que a torna uma voz autêntica e que representa tantas vozes no cenário cultural brasileiro.

Sua liderança traz uma perspectiva que enriquece imensamente a formulação de políticas culturais e públicas. Representa não apenas a classe de artistas e as mulheres negras, mas também todas as comunidades e grupos que não são ouvidos ou tocados pela política de cultura. Margareth contribui de maneira significativa para nossa capacidade de tomar decisões mais assertivas, é uma inspiração para todas nós na busca por uma sociedade mais inclusiva e igualitária, e que traz a cultura de paz, a capacidade de mediação e o respeito em seu jeito de fazer política.

Com sua experiência de primeira-dama do DF e seu protagonismo em cargos estratégicos dentro da gestão pública, como você enxerga os desafios enfrentados pelas mulheres nos espaços de poder atualmente e que medidas você considera essenciais para superar esses desafios?

É inegável que nosso país, como muitos outros, ainda enfrenta estruturas profundamente machistas, o que se reflete na sub-representação das mulheres em diversos espaços de decisão, seja no Parlamento, Executivo, Judiciário, e também na iniciativa privada. A luta por representatividade é uma batalha contínua e fundamental. As mulheres que já ocupam esses espaços têm um papel crucial como portas de abertura para novas lideranças femini-

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ENTREVISTA

nas, possibilitando que outras mulheres alcancem posições de destaque.

Minha trajetória de retorno à Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, agora sob a liderança de Margareth Menezes, é marcada por uma perspectiva de sororidade e colaboração. Acredito que, nesse momento, estamos vivendo um ciclo feminino, uma conjunção astral que nos inspira a retomar e reativar nossos esforços com confiança.

É importante reconhecer que enfrentamos desafios complexos e que muitas vezes a sociedade civil expressa uma demanda intensa e ansiosa por soluções. Respeito profundamente as demandas, e também reconheço o papel do gestor público na busca por soluções que sejam implementadas com segurança jurídica e efetividade. Ouvir as pessoas é fundamental, afinal, temos de construir políticas públicas tendo como princípio «Nada sobre nós, sem nós». Essa abordagem inclusiva é o lema das pessoas com deficiência, mas vale para todos os segmentos da sociedade.

A sororidade e a dororidade (que trata das dores que unem as mulheres negras para além do machismo), desempenham um papel crucial nesse contexto. As mulheres precisam se apoiar mutuamente, compartilhar experiências e conhecimentos, e unir esforços para superar os desafios que enfrentam. A união das mulheres é uma força transformadora que contribui para construir uma sociedade mais igualitária e justa.

Poderia nos contar mais sobre a iniciativa que você e sua filha criaram, a startup que incentiva as mulheres a alcançarem cargos de poder? Como isso se relaciona com a importância da participação feminina na política e nas políticas públicas?

A iniciativa é uma resposta à necessidade de incentivar e apoiar as mulheres em sua jornada para ocupar cargos de poder, especialmente na esfera política. Reconhecemos que o Brasil ainda enfrenta desafios significativos em termos de representação feminina na política, e estamos em uma posição única para promover mudanças nessa área. Começamos nossa iniciativa durante a pandemia, trabalhando com mais de 200 candidatas a vereadoras para entender as barreiras que as mulheres enfrentam ao entrar na política.

Neste último ciclo, nosso trabalho se estendeu a uma pesquisa mais ampla sobre inovação política promovida por mulheres. Sabemos que as mulheres têm desempenhado um papel fundamental na política brasileira, como evidenciado pela bancada feminina, que completou 10 anos de existência. No entanto, enfrentamos o desafio de não apenas conquistar esses espaços, mas também de mantê-los. A manutenção do poder feminino é fundamental, e projeto é um laboratório de

inovação política que promove a criação de redes para estabelecer conexões entre mulheres em diferentes áreas como o judiciário, executivo, parlamento e sociedade civil.

Desde que assumi a Secretaria de Cidadania e Diversidade que não estou mais envolvida na iniciativa, mas a Quero Você Eleita continua comprometida em ampliar e manter a participação feminina na política, como evidenciado no trabalho em torno da PEC da Anistia. Ajudando para que as mulheres estejam envolvidas na esfera pública para garantir que as políticas públicas atendam às suas necessidades e as da sociedade como um todo. Quando investimos nas mulheres, investimos em toda a sociedade, e estamos comprometidas em ampliar essa polifonia e promover a equidade de gênero em todos os setores.

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Coração do Brasil

Dia 8 de outubro é dia do nordestino e todo ano nesta data meu coração se enche de orgulho por ter nascido na região mais rica do país. O Nordeste é rico em cultura, ritmos, recursos naturais, poesia, beleza, folclore, gastronomia, paisagens e, principalmente, pessoas. Não vivo lá, mas é de lá que eu vim, é lá que estão fincadas as minhas raízes e a origem de tudo que eu sou.

O Nordeste é uma região tão plural quanto o Brasil. Só de sotaques diferentes na região consigo contar pelo menos três. No Piauí e no Ceará, a gente fala anasalado e chia só quando o ésse vem antes de tê: “revixta”, “surfixta”, “dentixta”. No Maranhão, todas as consoantes são pronunciadas com precisão, especialmente se tem um agá depois de um ene: “bichinio”, “gatinio”, “maninio”, “Maranião”. Na Bahia, da voz manhosa e melodiosa do baiano, usa-se muito o “pronto”, em outros estados do Nordeste também. Eu, particularmente, sou muito fã do “pronto”. Ele é colocado na frente das frases mais aleatórias como interjeição de decisão ou afirmação, mas também como forma de apaziguar qualquer situação. É quase uma forma de dizer “calma, está tudo bem agora”. É um acalento para o coração. O “bom Dia” dos paraibanos, pernambucanos e potiguares é uma das maiores assinaturas da região.

Os neologismos e expressões nordestinas são valiosos demais para serem abolidas, por isso, eu tento ao máximo não deixar de usá-las e explico com calma e orgulho o que significa cada coisa que digo e ninguém entende. “Bonito pra chover”, “caçar conversa”, “viçar”, “rebolar no mato”, “aperreada”, “arrudear”, “mangar”, “frescar”, etc. No Piauí, de onde eu vim, vocabulário próprio é tão múltiplo que precisou ser consolidado na Grande Enciclopédia Nacional do Piauiês, uma preciosidade literária escrita pelo brilhante jornalista Paulo José Cunha. Uma obra-prima que conta com três volumes. Um favor que o Paulo fez ao Brasil.

Tem gente que não entende quando nordestino se chateia ao ver alguém misturando os regionalismos e nos tratan-

do como se o Nordeste fosse um só lugar: uma região onde as pessoas passam férias e os nativos falam engraçado. “Ah, que legal, você é de Recife, meu vizinho nasceu lá também, no Ceará”. “Que bacana, você nasceu no Piauí, já passei as férias lá uma vez, na Praia do Futuro”. “Uau, você se formou na Universidade Federal da Paraíba, eu conheço Natal”. Eu aposto que todo nordestino já ouviu algo parecido. Eu já ouvi. É ofensivo porque somos a segunda maior região do Brasil e temos várias identidades pulsantes e distintas.

Tem gente que chama nordestino de “Paraíba” ou de “baiano” de forma pejorativa. Eu desisti de me ofender. Aceito, altiva, qualquer associação da minha pessoa com o Nordeste.

Eu tenho um orgulho danado de ser nordestina e não baixo minha cabeça para nenhuma tentativa de depreciação das minhas origens.

Desde a infância, sempre quis ser jornalista, profissão que exerço há 14 anos. Desde sempre, me incomodava quando não via telejornais ou programas nacionais apresentados por pessoas com sotaque nordestino. Os jornalistas da região que trabalhavam em rádio e TV fora do Nordeste eram obrigados a neutralizar o sotaque. Um verdadeiro assassinato de um regionalismo tão identitário. Hoje em dia, isso mudou. Ainda temos muito o que avançar, mas eu mesma já participei de alguns cursos e media trainings para TV aqui na capital do país, onde vivo há 18 anos. E me sinto feliz em ver que ninguém é mais obrigado a neutralizar sotaque nordestino. Eles corrigem postura, figurino, dicção, projeção de voz, entre outros detalhes. Mas o sotaque não. Afinal, como diria o baiano Caetano Veloso, gente é pra brilhar.

Viva o Nordeste!

*Mila Ferreira, repórter do Correio Braziliense. Formada em Jornalismo pelo IESB e pós-graduada em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global pela PUC-RS

Mila Ferreira*
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“Os jornalistas da região que trabalhavam em rádio e TV fora do Nordeste eram obrigados a neutralizar o sotaque. Um verdadeiro assassinato de um regionalismo tão identitário. Hoje em dia, isso mudou.”

Dicas da nutricionista Márcia Arruda

Entre Brasília e Natal, a nutricionista Márcia Arruda não consegue parar diante da demanda de suas clientes. Ela acabou ampliando ainda mais essa clientela durante a pandemia com os atendimentos onlines e assim atende gente de todo o Brasil. Em entrevista à revista Plano B, ela explicou um pouco sua forma de trabalhar e detalhou o Método Márcia Arruda, de emagrecimento saudável e sustentável. Confira aqui!

O que eu comi foi só isso mesmo?

É, aí aqui ó, o paciente ele vai me dar tudo, eles mandam para mim três refeições por dia, “eu estou comendo, o horário, o que é”... E aí eu tiro um horário do dia para fazer o visto. Dar a chamada que eu falo, né? E adesão muito grande, assim, eu já atendi muitas pessoas, nesse método.

Esse método, a senhora criou em 2011, qual o nome?

Era Método Top Line, foi criado como Método Top Line em 2011 aqui em Brasília. E hoje esse método é chamado Método Márcia Arruda, emagrecimento saudável e sustentável. Criei em 2011, trabalhava só com estética e via a necessidade que as pessoas tinham de ir mais além, de implantar outras coisas, Então, pensei em tratar de forma interna, pra depois tratar o externo.

Doutora Márcia, hoje uma pessoa leiga que vai ler essa matéria na revista, como é que ela poderia conhecer a senhora e ter acesso ao seu trabalho, tem algo na internet?

Eu tenho um Instagram, meu site, além de vários artigos científicos de revistas científicas lançadas. Colocando meu nome, já vai na área de emagrecimento, revistas científicas de acupuntura, de estética. É só colocar Márcia Arruda. Tem pessoas que não têm acesso ao método. Chegando, eu trabalho muito com a reprogramação nutricional.

E o que que vem a ser essa reprogramação? Seria um estudo alimentar, uma forma das pessoas se alimentarem melhor?

Então, isso acontece de acordo com cada indivíduo. Na pré-consulta, eu já vou analisando o paciente, os hábitos de vida dele, sua rotina, trabalho, estudos, família, hábito familiar, para fazer justamente essa reprogramação, sem ter um impacto, traçar dentro da rotina, com pequenos ajustes progressivos. Procuro também algo que vá abranger a família toda. Por isso, falo não é dieta, é uma reprogramação nutricional. Tenho uma coletânea de e-books. Meu paciente já tem acesso a esses e–books, com sopas saudáveis, nutritivas, funcionais. Tem aquele paciente que analisei e vi que adora comer doce. Não vou tirar o doce dele, porque se eu tirar vou ganhar outro problema que é a ansiedade, vou ajustar e deixar esse doce mais saudável. Então, pensando nisso eu criei esse livro de doces e delícias saudáveis. Delícias saudáveis, sobremesas, saladas, sucos detox, então eles têm todo esse acesso na plataforma.

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O paciente vai continuar comendo?

Vai continuar comendo, mas de forma consciente, porque eu trabalho com a questão da nutrição comportamental de forma consciente. Se o paciente precisar, de acordo com a avaliação, vou passar formulações, suplementações. Eu faço exame também, a biossonância magnética no ato da consulta, que já me entrega muita coisa.

Fala um pouco desse seu teste de DNA

Fazemos o teste do DNA, que traz também o perfil estético. Trabalho com alguns laboratórios, já tem uns 8 anos que trabalho na parte genética e o teste do DNA deixa minhas condutas bem mais assertivas, porque nós trabalhamos no alvo.

A senhora falava de pontos, de marcadores nesse teste, são quantos marcadores?

Olha, são muitos, depende do laboratório, normalmente vai mais de 200 marcadores, que já me dão uma leitura muito boa, muito ampla, para eu tratar aquele paciente. Tanto que em todos os meus três pilares: nutrição, estética e atividade física, após análise, eu já indico para outros profissionais. Vejo que o paciente tem um marcador lá que vai ter necessidade de um endocrinologista, então já em caminho. Vejo que precisa de acompanhamento com outro especialista, já indico.

Fale um pouco dos métodos.

O método são três pilares: alimentação, exercício físico e estética, que vem como consequência. É toda uma união, uma junção, que estão inseridos no método e, em consequência, vem a parte estética!

A senhora falou desses três pontos necessários à saúde, mas quais estão inseridos no método? Fale também um pouco das suas maquiagens.

A pessoa perdeu peso, a pele ficou flácida, ficou mais solta, aí ela queria fazer a aplicação de botox, queria fazer esses procedimentos no rosto, queria dar uma renovada, para renovar o 100%. Então, no meu método já tenho essa preocupação de a pessoa emagrecer e já vou trabalhando com isso, por isso que eu já entro com a nutrição, com exercício e com alguns tratamentos estéticos, e quando vejo que a pessoa vai ter uma chance de ter um grau de flacidez maior, já vamos antecipando.

Quando o paciente terminou com o resultado que ele esperou, vai para a estética. E na estética temos várias coisas, desde a limpeza de pele, até o profissional que faz harmonização e correções. Às vezes, tem algumas imperfeições que precisam realmente de algumas correções.

Quanto custa esse tratamento? Qual a média?

Para um tratamento de emagrecimento completo, com esses pilares todos que eu falei, vai de pessoa para pessoa. Não tenho um valor padrão. Vai ser de acordo com a necessidade de cada um. Um tratamento completo para emagrecimento, os dois primeiros meses fica em torno de R$ 5 mil. E de acordo com o que for precisando, os tratamentos estéticos, que são mais acessíveis para as pessoas. Você encontra um Botox bom, de referência em torno de R$ 850 R$ 900. O preenchimento também que está mais acessível para toda a população. Um preenchimento, um ML, está em torno de R$ 1 mil. Não tem como precisarmos o valor. Cada caso é um caso.

Ficar mais bonita e saudável está ao alcance de todos?

As pessoas, às vezes, acham que é uma coisa inacessível e não é. Nós temos vários tipos de tratamentos que a gente vai adaptando para cada pessoa, para cada necessidade que ela tenha. Não é obrigado a fazer o método completo, pode optar até em fazer um acompanhamento só nutricional. Desmembramos o método, para quem quer dar o primeiro passo e não tem condições de fazer o tratamento completo, ou por falta de tempo, ou questão financeira mesmo.

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ENTREVISTA

Vacina da hepatite B foi primeira a prevenir contra um tipo de câncer

Ovírus HBV, causador da hepatite B, é um antígeno silencioso, que pode demorar anos até ser notado pelo hospedeiro. Quando isso acontece, entretanto, muitas vezes o estrago provocado já resultou em uma cirrose ou um câncer de fígado. Disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças, adolescentes e adultos, a vacina contra a hepatite B é a principal forma de prevenir essa doença, que pode ser transmitida sexualmente, pelo contato com o sangue e durante a gestação, da mãe para o bebê.

Infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Raquel Stucchi destaca que a vacina contra a hepatite B foi a primeira vacina contra algum tipo de câncer a ser disponibilizada, porque o vírus da hepatite B é o principal causador de câncer de fígado.

“A vacinação diminuiu drasticamente os casos de hepatite B e o risco de cirrose e câncer de fígado. Por isso, a vacina é importante. E por que na infância? Primeiro, a adesão na

infância é mais fácil. Ela é feita com outras vacinas nos primeiros meses de vida e pode ser feita no berçário, assim que a criança nasce. E a resposta das crianças contra a hepatite B é de 100%, e, com a criança se mantendo saudável depois, essa proteção é para a vida toda.”

A hepatite B é frequentemente lembrada como infecção sexualmente transmissível (IST), mas a vacinação contra a doença após o parto é considerada fundamental para garantir que não haja transmissão do vírus da mãe para o bebê, o que é chamado na medicina de transmissão vertical.

Integrante do calendário do adulto e da gestante, a vacina contra a hepatite B deve ser administrada também nos bebês logo após o nascimento. O Programa Nacional de Imunizações, que completa 50 anos em 2023, recomenda que os recém-nascidos recebam essa vacina nas primeiras 24 horas de vida, e, preferencialmente, nas primeiras 12 horas, ainda na maternidade.

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Vírus da hepatite B é principal causador de câncer de fígado
SAÚDE

O pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que essa agilidade garante que o bebê não seja contaminado pelo vírus da hepatite B, caso sua mãe viva com a infecção.

Ele acrescenta que impedir a formação de um quadro crônico é também contribuir para o bloqueio do vírus.

O calendário vacinal da criança prevê que a proteção contra a hepatite B também se dá por meio da vacina pentavalente, que deve ser aplicada aos 2 meses, aos 4 meses e aos 6 meses. Além dessa forma de hepatite, a vacina previne contra difteria, tétano, coqueluche, e Haemophilus influenzae B, causador de um tipo de meningite.

Já a partir dos 7 anos completos, quando não houver comprovação vacinal contra a hepatite B ou quando o esquema vacinal estiver incompleto, a recomendação é completar três doses com a vacina específica da hepatite B, com intervalo de 30 dias da primeira para a segunda dose, e de 6 meses entre a primeira e a terceira. Essa recomendação inclui adolescentes, adultos e, especialmente, gestantes.

A Sociedade Brasileira de Imunizações informa que, em 3% a 29% dos vacinados, pode ocorrer dor no local da aplicação. Já endurecimento, inchaço e vermelhidão acometem de 0,2% a 17% das pessoas. O pós-vacinação também pode ter febre bem tolerada e autolimitada nas primeiras 24 horas

após a aplicação, para de 1% a 6% dos vacinados. Cansaço, tontura, dor de cabeça, irritabilidade e desconforto gastrintestinal são relatados por 1% a 20%.

Eventos adversos mais graves que isso são considerados raros ou muito raros. Púrpura trombocitopênica idiopática foi registrada em menos de 0,01% dos vacinados, de modo que não foi possível estabelecer se foi coincidência ou se de fato tinha relação com a vacinação.

A bula da vacina contra a hepatite B também prevê uma frequência muito rara de anafilaxia em adolescentes e adultos vacinados, na proporção de um caso a cada 600 mil. Essa ocorrência é ainda mais rara em crianças.

Um quinto das mortes por hepatite

O Ministério da Saúde mostra que o vírus HBV chega a causar um terço dos casos de hepatite notificados no Brasil e estava relacionado a um quinto das mortes por hepatite entre 2000 e 2017. Na maioria dos casos, a pessoa infectada não apresenta sintomas e é diagnosticada décadas após a infecção, com sinais relacionados a outras doenças do fígado, como cansaço, tontura, enjoo/vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados.

A hepatite B ainda é considerada uma doença sem cura, e o tratamento disponibilizado no SUS visa a reduzir o risco de progressão da doença, que pode causar cirrose, câncer hepático e morte. Raquel Stucchi explica que o tratamento, com antivirais, se estende por toda a vida.

“Se não fizer o teste, a pessoa só vai descobrir que tem o vírus quando já tem uma cirrose avançada ou quando desenvolve o câncer de fígado. O diagnóstico é feito facilmente, até em testes rápidos”, afirma.

Após a infecção, a doença pode se desenvolver de duas formas, a aguda e a crônica. A aguda se dá quando a infecção tem curta duração, e a forma é crônica quando a doença dura mais de seis meses. O risco de a doença tornar-se crônica depende da idade na qual ocorre a infecção, e os bebês estão mais sujeitos a ter uma hepatite crônica no futuro.

As formas mais importantes de transmissão da hepatite B são o contato com o sangue e o contato sexual sem preservativo. A infectologista explica que contato com o sangue inclui a realização de procedimentos e compartilhamento de utensílios sem a higiene necessária.

“Na transfusão de sangue esse risco praticamente não existe mais, pela triagem que é feita nos doadores, mas o contato com o sangue inclui procedimentos médicos, odontológicos ou estéticos sem a higienização adequada. E também manicures, alicates de unha sem esterilização, tatuagens, piercings.”

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Substituição da gotinha na prevenção à pólio aumentará proteção

Na América Latina, pelo menos 14 países já fizeram a mudança

As gotinhas que entraram para a história da imunização ao eliminarem a poliomielite no Brasil ganharam uma previsão de aposentadoria, e a substituição da vacina oral contra a doença pela aplicação intramuscular significará uma proteção ainda maior para os brasileiros.

No último dia 7 de julho, o Ministério da Saúde anunciou que vai substituir gradualmente a vacina oral poliomielite (VOP) pela versão inativada (VIP) do imunizante a partir de 2024. A decisão foi recomendada pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), que considerou as novas evidências científicas que indicam a maior segurança e eficácia da VIP.

Apesar da novidade, o Ministério da Saúde fez questão de destacar que o Zé Gotinha, símbolo histórico da importância da vacinação no Brasil, vai continuar na missão de sensibilizar as crianças, os pais e responsáveis, participando das ações de imunização e campanhas do governo.

A poliomielite é uma doença grave e mais conhecida como paralisia infantil, por deixar quadros permanentes de paralisia em pernas e braços, forçando parte dos que se recuperam a usar cadeiras de rodas e outros suportes para locomoção. A enfermidade também pode levar à morte por asfixia, com a

paralisia dos músculos torácicos responsáveis pela respiração. Durante os períodos mais agudos em que a doença circulou, crianças e adultos com casos graves chegavam a ser internados nos chamados “pulmões de aço”, respiradores mecânicos da época, dos quais, muitas vezes, não podiam mais ser retirados.

A partir dos 2 meses

A vacinação contra a poliomielite no Brasil é realizada atualmente com três doses da VIP, aos 2, 4 e 6 meses de idade, e duas doses de reforço da VOP, aos 15 meses e aos 4 anos de idade.

A partir do primeiro semestre de 2024, o governo federal começará a orientar uma mudança nesse esquema, que deixará de incluir duas doses de reforço da vacina oral, substituindo-as por apenas uma dose de reforço da vacina inativada, aos 15 meses de idade. O esquema completo contra a poliomielite passará, então, a incluir quatro doses, aos 2, 4, 6 e 15 meses de idade.

A facilidade de aplicação e o baixo custo contribuíram para que as gotinhas tivessem sido a ferramenta para o Brasil e outros países vencerem a poliomielite,

Por: Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro Adaptação Rócio
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SAÚDE

explica a presidente da Comissão de Certificação da Erradicação da Pólio no Brasil, Luíza Helena Falleiros Arlant. A comissão é uma entidade que existe no Programa Nacional de Imunizações (PNI) junto à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Em 2023, o programa completa 50 anos.

“Em 1988, havia mais de 350 mil casos de pólio no mundo. Crianças e adultos paralisados. Naquela época, o que era preciso fazer? Pegar uma vacina oral que pudesse vacinar milhões de pessoas em um prazo curto para acabar com aquele surto epidêmico. Eram muitos casos no mundo todo, uma tragédia”, contextualiza Luíza Helena.

Ciência evoluiu

O sucesso obtido com a vacina oral fez com que a pólio fosse eliminada da maior parte dos continentes, mas pesquisas mais recentes, realizadas a partir dos anos 2000, mostraram que a VOP era menos eficaz e segura que a vacina intramuscular. Em casos considerados extremamente raros, a vacina oral, que contém o poliovírus enfraquecido, pode levar a quadros de pólio vacinal, com sintomas semelhantes aos provocados pelo vírus selvagem.

Desde então, países de todo o mundo vêm substituindo gradativamente a vacina oral pela inativada, o que já foi feito por ao menos 14 países na América Latina. A meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a vacina inativada substitua a oral em todo o mundo até 2030.

A presidente da Comissão de Certificação da Erradicação da Pólio no Brasil acrescenta que a vacina inativada produz menos eventos adversos que a oral, e também traz maior segurança para a pessoa vacinada e para a coletividade.

Para compreender essa diferença, é preciso conhecer melhor o funcionamento dessas duas vacinas. A oral contém o poliovírus atenuado, isto é, ainda “vivo”, porém enfraquecido, de modo que não cause mais a doença. Já a vacina inativada recebe esse nome porque o vírus já foi inativado, “morto”, e não há mais chances de que possa sofrer mutações ou e se reverter em uma forma virulenta.

Estudos sobre o tema têm se intensificado a partir dos anos 2000, conta Luiza Helena, e constatou-se que o poliovírus atenuado que entra no organismo com a imunização pode sofrer mutações e voltar a uma forma neurovirulenta ao ser excretado no meio ambiente com as fezes. Já se tinha conhecimento dessa possibilidade, pondera a pesquisadora, mas hoje se sabe que ela é mais frequente do que se acreditava.

“Hoje a gente sabe que o vírus mutante eliminado pelo intestino pode acometer quem está do lado, e, se essa pessoa não estiver devidamente vacinada, ela pode ter pólio”, afir-

ma ela, que acrescenta que alguns fatores contribuem para elevar esse risco, como as baixas coberturas vacinais contra a poliomielite nos últimos anos e a existência de populações sem saneamento básico, o que pode provocar o contato com esgoto ou água contaminada por fezes que contêm poliovírus selvagens ou mutantes.

Baixas coberturas

Segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), as doses previstas para a vacina inativada contra a pólio atingiram a meta pela última vez em 2015, quando a cobertura foi de 98,29% das crianças nascidas naquele ano.

Depois de 2016, a cobertura entrou em uma trajetória de piora que chegou a 71% em 2021. Em 2022, a cobertura subiu para 77%, mas continua longe da meta de 95% das crianças protegidas.

O percentual a que se refere a cobertura vacinal mostra qual parte das crianças nascidas naquele ano foi imunizada. Isso significa que não atingir a meta em sucessivos anos vai criando um contingente cada vez maior de não vacinados. Ou seja, se considerarmos os últimos dois anos, 29% das crianças nascidas em 2021 e 23% das nascidas em 2022 estavam desprotegidas. Como mais de 1,5 milhão de bebês nascem por ano no Brasil, somente nesses dois anos foram mais de 780 mil crianças vulneráveis a mais no país.

As coberturas nacionais também escondem desigualdades regionais e locais. Enquanto o Brasil vacinou 77% dos bebês nascidos em 2022, a cidade de Belém vacinou apenas 52%, e o estado do Rio de Janeiro, somente 58%.

Área livre da pólio

O Brasil não detecta casos de poliomielite desde 1989 e, em 1994, recebeu da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a certificação de área livre de circulação do poliovírus selvagem, em conjunto com todo o continente americano.

A vitória global sobre a doença com a vacinação fez com que o número de casos em todo o mundo fosse reduzido de 350 mil, em 1988, para 29, em 2018, segundo a OMS. O poliovírus selvagem circula hoje de forma endêmica apenas em áreas restritas da Ásia Central, enquanto, em 1988, havia uma crise sanitária internacional com 125 países endêmicos.

27 SAÚDE

SAÚDE

Segundo a pesquisadora, é importante ressaltar que, enquanto houver poliomielite no mundo, todas as pessoas estão sob risco de adquirir a doença.

Sequelas

Com a eliminação da doença, é cada vez mais raro conhecer alguém que viva com as sequelas da pólio, mas essa já foi uma realidade muito mais frequente no Brasil. O ator e músico Paulinho Dias, de 46 anos, conta que teve a doença menos de duas semanas após seus primeiros passos, com 11 meses de idade.

“A pólio afetou meus membros inferiores. Da cintura para baixo, afetou ambas pernas, porém, a maior sequela foi na perna direita, em que fiz mais de dez cirurgias, entre elas de tendão, de nervo que foi atrofiando e de alongamento ósseo, porque a perna começou a ficar curta, porque não acompanhou o crescimento da outra. An-

tes dessa cirurgia, quase não encostava o pé no chão.”

Paulinho se lembra de relatos da mãe de que inúmeras crianças no entorno também tiveram pólio. A falta de informação na época, em 1977, fazia com que muitas famílias buscassem benzedeiras na ausência de outros recursos, dando ainda mais tempo para agravamento dos casos e disseminação do vírus.

“Eu sempre fui a favor das vacinas, mas confesso que nunca fui panfletário em relação a elas até a pandemia de covid-19, que a gente viveu. E também, em pleno século 21, com o risco de a pólio voltar e o risco de outras doenças preveníveis por vacinas voltarem por conta da desinformação, movimentos antivacinistas, medos bobos. Sempre que eu posso, falo para as pessoas se vacinarem, porque é um ato de amor. Vacinem seus filhos, poupem de sofrimento.”

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“Crianças com desnutrição, com verminoses ou doenças intestinais podem ter interferências na resposta à vacina oral. Já a vacina inativada, não. Ela protege muito mais, sua resposta imunogênica é muito mais segura, eficaz e duradoura. Há uma série de vantagens sobre a vacina oral. Tudo isso não foi descoberto em uma semana, foram estudos publicados que se intensificaram a partir de 2000.”
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TIJOLADAS DO CAIXA

Torre de Babel

Fico até assustado com a quantidade de mensagens que recebo sobre esses malfeitos por aqui.

Aqui no Guará está cada dia mais difícil andar em alguma calçada, pois a proliferação dos famigerados puxadinhos ainda é o que existe de mais danoso para a nossa já precária mobilidade urbana, tornando a vida dos pedestres um verdadeiro inferno na terra.

Mobilidade e acessibilidade aqui no Guará são apenas palavras de dicionário, acabaram com as calçadas, pobre de quem precisar utilizá-las principalmente se for cadeirante e tiver algum tipo de deficiência física, os idosos coitados nem se fala.

Os moradores já não aguentam mais tanto descaso, está na hora de dar um basta nessas aberrações que têm tirado o meu sono e o de muitos moradores da cidade, cada dia aparece uma novidade em matéria de desleixo com o nosso plano urbanístico, que sem uma fiscalização eficiente, muitas vezes com a benção da própria Administração, que empurra toda responsabilidade em cima de outros órgãos que também são omissos, situação que em nada ajuda o crescimento ordenado da cidade.

Ocupam as calçadas, passeios, adentram áreas públicas

Por: José Gurgel
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TIJOLADAS DO CAIXA

tirando dos transeuntes o direito de ir e vir infringindo todos os códigos, leis de mobilidade e acessibilidade, pois no Guará parecem valer só no papel pois nada se aplica por aqui, uma zorra total.

Pequenos problemas que podem ser sanados com uma ação enérgica por parte dos responsáveis, mas o que se vê são acordos imorais que ferem o direito do contribuinte, que aturam essa inércia.

Hoje não estamos muito longe da Torre de Babel. Pobre Guará.

Ideias Separatistas

Encontrei com o Caixa Preta, pela cara dele vi logo que alguma ideia de gerico estava passando pela cabeça do maluco.

A onda agora era separação territorial, tem até um jumento fazendo campanha pra separar o Sul e demais regiões do Nordeste, o velho Caixa estava com umas ideias meio estranhas, coisa que não me agradou em nada, mas tive que rir da proposta do cabra.

Foi chegando e soltando a bomba: -Velho Gruja, vamos fazer um plebiscito para colocar o Guará na União Europeia-

Inspiração ou Cansaço

UE já que a Inglaterra caiu fora. Quase caí ouvindo essa do cabra, ainda bem que estava sentado, pois uma ideia dessas mata qualquer cristão do coração.

Falei para o Caixa que isso não seria possível, pois apesar do ar imponente, o Guará é apenas uma Região Administrativa do DF, que segundo as leis, não poderá jamais fazer parte da UE.

O cabra subiu nas tamancas, dizendo que isso não era possível, ele jamais aceitaria tamanha discriminação. Ele já se imaginava falando outra língua e usufruindo das benesses do euro, pois o real estava caindo mais do que bêbado em ladeira.

Mas ele não se deu por vencido e tascou outra maluquice: - Então vamos nos separar do DF! Tá na moda, tem maluco aí que já criou até bandeira. Nós já não obedecemos ao GDF mesmo, então nada mais natural que cair fora.

- Vamos nos separar, o pessoal do Plano que se vire! Aqui temos o que precisamos, qualquer coisa que faltar a gente importa. Não esqueça que a feira dos importados pertence a região administrativa do Guará.

Barrando a PPP do Cave, poderemos ter a sede da Eurocopa por aqui! Que tal a ideia?

Alguma coisa estranha estava acontecendo comigo, tirando toda a minha inspiração, será o cansaço ou a idade começou a cobrar a conta?

Enquanto eu esperava o meu amigo Caixa Preta, estava sentado com uma bem gelada sobre a mesa, apenas observando o que se passava em volta, o mundo não está fácil.

Muito se fala, mas temos que continuar batendo nessa tecla, aqui pelo Guará, obedecer leis vigentes não faz parte do manual da turma que chega para tomar conta da cidade, principalmente quando se trata do plano urbanístico, que ha muito não é respeitado por aqui. Cada um que chega, talvez por comodidade, simplesmente deixa rolar.

Com isso o Guará está se tornando uma cidade sem padrões mínimos de convivência social entre seus moradores, pois as ruas estão deixando de serem residenciais para se transformarem em verdadeiros centros comerciais, criando sérios problemas de mobilidade e de vizinhança pacífica. O que mais me intriga em tudo isso é a proliferação de puxadinhos, gambiarras e quiosques, que não me deixam mentir. Porém, atentem para os bloquinhos que surgem do nada nas quadras residenciais, onde não é permitido tais edificações.

Parece que algum apadrinhado recebeu umas dezenas de licenças, que já deveriam ter sido cassadas ou revistas, mas dando uma volta na cidade, encontramos dezenas deles já construídos e alguns sendo construídos na encolha.

Muita gente querendo saber qual o santo protetor que dá cobertura para mais esse acinte, pois a construção de tais edifícios nas entradas de quadras, além de não serem permitidas, estão gerando uma série de aborrecimentos aos moradores das quadras e, a principal das queixas é a falta de estacionamentos.

Basta ! O Guará não aguenta mais tanto descaso

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TIJOLADAS DO CAIXA

Casinha no Campo

Mais uma semana começando, estou diante do computador tentando escrever algum artigo, o telefone toca, adeus sossego,é o Caixa Preta querendo conversar, espero que ele tenha um bom assunto pra aproveitar.

Pedimos logo a nossa cerveja que o Galak trouxe, numa alegria que parecia rumo ao cadafalso, resmungando ou rosnando, não entendi nada, mas a presença do Caixa o irritava.

O assunto que o velho Caixa queria falar era das redes sociais aqui do Guará, onde o principal assunto era o sonho do restaurante comunitário por aqui, o que passou a ser a principal conversa em grupos de What’sApp, onde os magnatas pediam a implantação dos mesmos, pois ouviram falar que estão servindo até café da manhã.

Tudo rapidamente encampada por aqueles cheios de conversas que vivem a se aproveitar de situações como essa para tentar ficar na vitrine ou faturar algum com as propagandas.

Mas nada de tocar nas principais necessidades para tornar o Guará um lugar melhor pra se viver.

É de dar dó a indigência mental de certos líderes de araque que sempre aparecem por aqui, principalmente se tiver mídia.

Alguns vivem em um mundo imaginário, criados por eles mesmos, pois vai desde a criação do Guará até a promulgação da República, não cansam de alardear os feitos aos quatro cantos, não percebendo o quão ridículos são, na tentativa de aparecer a qualquer custo, nem que para isso tenham que passar o dia grudados no celular, nos diversos grupos de What’s App.

Muitos deles já tentaram carreira política, mas a população teve bom senso e não deu o aval para que esses malucos chegassem lá, mas os delírios continuam.

Talvez seja a hora de pensar no que disse uma figuraça dessas numa reunião com a comunidade: A qualidade de vida do Guará está caindo e vai cair muito mais , quem quiser qualidade de vida que compre um terreninho na roça e se mude pra lá.

Né mole não!!

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Crônicas do Dia a Dia

Moro na roça, fazem uns dez anos.

Mudei para lá , depois que me aposentei.

Sempre tive um pé na roça, ao contrário de um antigo político, que se gabava de “ ter um pé na cozinha”.

Nasci e cresci na roça, sou de formação Engenheiro Agronômo,produtor rural, trabalhei quarenta e dois anos na área, de forma que, essa volta às origens, foi vamos dizer, uma continuação dos meus afazeres.

Gosto e procuro preservar os animais, aves e tenho uma boa reserva legal de mato nativo.

Não consinto caçadas nos meus domínios.

Me sinto bem no meio deles.

Quando volto à cidade, faço -o somente por necessidade.

E, matuto sertanejo que sou, na primeira semana, costumo dormir pouco.

O barulho de uma moto, o ronco de um carro com o som ligado, os sons normais da cidade, me tiram o sono.

Fico à tardezinha , na calçada em frente à minha casa, em uma espreguiçadeira, observando o movimento e cumprimentando os conhecidos.

Moro em uma cidade pequena no interior do Goiás, que ainda permite esse luxo.

E um certo dia, observei a quantidade de pássaros que passavam em meu raio de visão.

Notei que estão aumentando, variedade e quantidade.

Na outra tarde, munido de caneta, agenda e relógio, resolvi anotar os avoantes.

No período das 17:00 até às 18:00 horas, passaram no meu Azimute as seguintes espécimes:

- 65 columbiformes ( rolinhas, pombas do bando, verdadeiras, asa branca);

- 20 pistacideos( araras, periquitos);

- 16 anuns pretos;

- 7 não identificados;

- 3 urubus;

- 1 espécime de sabiá, carcará, curicacão, e beija flor.

Foram 115 aves que consegui ver, durante uma hora, a maioria voltando para seus locais de dormida.

Ainda não tive o mesmo trabalho de observação na fazenda, mas achei o número bem acima do que vejo no dia a dia, na roça.

Talvez a falta de predadores ( só um , carcará e nenhum caçador), talvez a facilidade do alimento residual jogado pelos citadinhos, principalmente arroz, talvez a arborização, estão fazendo as aves procurarem a “segurança” das cidades, preferindo- a “ paz” da áreas rurais .

Antônio Conselheiro já dizia que as coisas iriam mudar, anos e anos atrás.

Será que ele estava certo?

* Engenheiro Agronômo ( UFGO/ 1979), Produtor rural. Divide o tempo entre Trindade (GO) e a Fazenda Garça Branca, Sertão de Irecê (BA). Avô de Cecília e Helena

Welington Alencar*
33 POLÍTICA

ECONOMIA

Quem paga mais tributos no Brasil e nos EUA? Os mais pobres? Ou os mais ricos?

Émuito comum encontrar nas redes sociais a comparação do preço de produtos no Brasil com o preço nos EUA. De modo geral, o objetivo é fazer uma crítica ao modelo brasileiro. A questão é: essa comparação faz sentido?

A comparação tende a esconder problemas muito mais complexos, principalmente os que referem a forma como os tributos são cobrados em cada um dos países. E de quem são cobrados. No Brasil os tributos se concentram no consumo de bens e serviços. É nessa hora que a população mais paga. Enquanto nos EUA, a tributação se concentra mais sobre a renda e o patrimônio. Ou seja, quem ganha mais ou tem mais bens, paga mais. E essa lógica vale para a maioria dos países desenvolvidos.

Carga Tributária:A carga tributária brasileira é conhecida por ser uma das mais altas do mundo, cerca de 34% do PIB. Nos Estados Unidos, a carga tributária é de cerca de 24% do PIB, mas pode variar de estado para estado. Isso contribui também para os produtos serem mais caros no Brasil, mas não é a principal justificativa.

Complexidade: A matriz tributária brasileira é conhecida por sua complexidade. Existem diversos impostos em diferentes níveis de governo (federal, estadual e municipal). Além disso, há uma série de obrigações acessórias que as empresas devem cumprir, o que aumenta a burocracia.

O sistema tributário americano é mais simplificado. A principal fonte de receita do governo federal é o imposto de renda pessoal e o imposto de renda das empresas. Embora também existam impostos estaduais e locais, a complexidade é menor,

No Brasil, a carga tributária afeta principalmente os mais pobres. Seguem três causas:

Impostos Indiretos: Uma grande parte da receita tributária no Brasil é gerada por impostos que incidem sobre o consumo de bens e serviços. Esses impostos são incorporados nos preços, e todos os consumidores, independentemente de sua renda, pagam as mesmas alíquotas.

Sistema Previdenciário: As contribuições para a Previdência Social, como o INSS, também são regressivas, pois são baseadas em uma porcentagem da renda do trabalhador, com tetos máximos. Isso significa que os contribuintes de renda mais alta contribuem com a mesma quantia que os

de renda mais baixa, apesar de sua capacidade de pagamento ser maior.

Isenções e Deduções: Certas políticas fiscais, como isenções e deduções, tendem a beneficiar mais os contribuintes de renda mais alta, pois eles têm mais recursos para aproveitar essas vantagens fiscais. Isso ocorre, por exemplo, nas deduções do Imposto de Renda da Pessoa Física - IRPF.

Nos Estados Unidos, os ricos proporcionalmente pagam mais do que no Brasil. Seguem 3 aspectos:

Imposto de Renda Progressivo: O Imposto de Renda Federal dos EUA é progressivo e possui várias faixas de alíquotas, com as alíquotas mais altas aplicadas à renda mais elevada.

Créditos Tributários: Os EUA também têm vários créditos e deduções fiscais que ajudam a reduzir a carga tributária para famílias de renda mais baixa.

Tributos sobre a Herança: O tributo sobre herança nos EUA é aplicado apenas a patrimônios significativos. A grande maioria não paga esse imposto porque suas propriedades estão abaixo do limite de isenção, que é cerca de US$ 11,7 milhões por pessoa. Em linhas gerais é possível concluir que o modelo brasileiro cobra tributos de maneira desproporcional dos mais pobres, enquanto os mais ricos possuem mais privilégios quando comparado com os EUA. Um mendigo brasileiro quando for consumir o que recebeu de doação tem que pagar um percentual alto para o Estado. Já os 0,1% mais ricos pagam muito pouco.

Existem alguns projetos de reformas tributárias tramitando no Congresso Nacional que buscam melhorar o sistema brasileiro, mas os desafios são grandes, principalmente quando se trata de mexer no bolso dos mais ricos. Obviamente a tendência são os mais pobres, com pouca influência e menos conhecimento, continuarem pagando o principal da conta tributária.

* Humberto Nunes Alencar, Analista de Orçamento do Ministério do Planejamento. Mestre em economia pelo IDP e doutorando em direito pela mesma instituição. Dá aulas online para pessoas que querem aprender mais sobre economia e finanças pessoais. Contatos: 061 - 994054114 e Instagram: @humbertoalencar.bsb

Humberto Alencar*
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As razões por trás de ciclones cada vez mais fortes e frequentes no Sul, segundo especialistas

Um novo ciclone extratropical se formou na costa do Rio Grande do Sul nos últimos dias e causou preocupação. Mas apesar de registros de inundações na região, ele logo se afastou e seguiu em direção ao oceano.

Pouco mais de uma semana antes, um ciclone já havia causado estragos no Estado e deixado 46 mortos, além de ter afetado milhares de moradores da região.

Foi a maior tragédia natural do Estado nos últimos 40 anos, segundo o governo local. Em junho, um outro ciclone já havia deixado 16 mortos em sua passagem pelo Estado.

As previsões apontam que outros ciclones extratropicais podem afetar o Sul do país nas próximas semanas. Isso não é incomum, dizem especialistas. A diferença, apontam, é que atualmente há maior chance de que esses fenômenos sejam

mais intensos. “O planeta está mais quente, os oceanos mais quentes e o El Niño está em evolução. Essa combinação faz com que a atmosfera torne os seus eventos meteorológicos mais intensos”, explica o climatologista Francisco Eliseu Aquino, do Departamento de Geografia e Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Aquino frisa que esse cenário de fenômenos mais intensos é sentido em todo o mundo. Ele menciona, por exemplo, as enchentes devastadoras que atingiram a Líbia nesta semana e, segundo autoridades locais, deixaram cerca de 20 mil mortes, além de ter destruído bairros inteiros.

“Com o aquecimento global, temos uma atmosfera e oceanos propícios a desenvolver eventos extremos. Isso se associa ao El Niño em desenvolvimento e se torna uma combinação que, não importa o hemisfério em que esteja, fará com que os eventos meteorológicos ganhem intensidade em cada região”, declara Aquino.

36 CICLONES

Os ciclones no sul do Brasil

Os ciclones extratropicais costumam se formar no extremo sul do país, entre a costa do Rio Grande do Sul e os países vizinhos Argentina e Uruguai.

Eles são considerados comuns, têm ventos mais fracos e efeitos de menor duração em comparação aos ciclones tropicais.

A climatologista Karina Bruno Lima comenta que eles são mais comuns principalmente no inverno, no outono e na primavera.

“Esses são períodos em que surgem condições favoráveis, no caso o contraste de temperatura entre massas de ar quente e fria”, pontua.

A especialista ressalta que nem sempre é possível sentir os efeitos desses fenômenos, porque eles podem ser menos intensos ou estarem mais distantes da costa.

No entanto, a climatologista explica que diante do cenário de aquecimento global e formação de El Niño, que aumenta a umidade na região sul do país, há mais probabilidade de que um ciclone extratropical cause desastres.

Assim aumentam as chances de alagamentos, deslizamentos, enxurradas e tantos outros impactos que afetam duramente a população local.

Aquino aponta que o inverno deste ano foi considerado atípico em relação aos ciclones.

“Tivemos, em média, ao menos um ciclone se formando por semana no sul do país”, comenta.

“E alguns desses eventos foram extremos, como as inundações de junho ou no início de setembro”, diz Ezequiel.

Segundo o climatologista, os especialistas ainda estudam se o número de ciclones deve aumentar na região ao longo dos próximos anos e os impactos deles.

Medidas de contenção

Mas afinal, quais medidas podem ser tomadas para reduzir os efeitos desses fenômenos extremos?

Para os especialistas, a principal alternativa é buscar formas para enfrentar as mudanças climáticas.

“Para isso são importantes as ações dos indivíduos, mas mais importantes são as decisões dos tomadores de decisões, dos governantes”, pontua Aquino.

O climatologista cita que o governo deve investir cada vez mais em ações para combater o desmatamento e a queimada no país.

“Se o Brasil se empenhar nisso, vai contribuir muito nacionalmente e globalmente para o enfrentamento das mudanças climáticas”, declara.

“É importante entender que a mudança climática é real”, acrescenta.

E o climatologista defende que as autoridades públicas deem mais atenção à Defesa Civil, que tem o objetivo de reduzir os riscos de desastres, além de prevenir e mitigar situações do tipo.

“Cada município tem que ter a sua própria estrutura de Defesa Civil, com coordenação própria e espaço próprio. O Brasil tem uma boa previsão do tempo, que é acertada, mas é importante também que as pessoas sejam alertadas sobre os riscos desses fenômenos, como por meio da Defesa Civil ou de lideranças comunitárias”, diz o climatologista.

Além disso, ele lista situações que podem apoiar nessas situações de desastre, como cuidar das margens dos rios, evitar o assoreamento (acúmulo de terra, lixo e matéria orgânica), proteger as matas ciliares e avaliar profundamente cada via que é alargada em uma determinada região – para mensurar os impactos dessa medida em possíveis desastres ambientais.

37 CICLONES

EDUCAÇÃO

Brasil investe menos em educação que países da OCDE

Adaptação Rócio Barreto

O Brasil investe menos em educação do que os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de acordo com o relatório Education at a Glance 2023, lançado nesta terça-feira (12), que reúne dados da educação dos países membros do grupo e de países parceiros, como o Brasil.

O relatório da OCDE mostra que, enquanto o Brasil investiu em 2020 US$ 4.306 por estudante, o equivalente a aproximadamente R$ 21,5 mil, os países da OCDE investiram, em média, US$ 11.560, ou R$ 57,8 mil. Os valores são referentes aos investimentos feitos desde o ensino fundamental até a educação superior.

Os investimentos no Brasil se reduziram entre 2019 e 2020. Em média, na OCDE, a despesa total dos governos com a educação cresceu 2,1% entre 2019 e 2020, a um ritmo mais lento do que a despesa total do governo em todos os serviços, que cresceu 9,5%. No Brasil, o gasto total do governo com educação diminuiu 10,5%, enquanto o gasto com todos os serviços aumentou 8,9%. Na análise da OCDE, isso pode ter ocorrido devido à pandemia de covid-19.

“O financiamento adequado é uma condição prévia para proporcionar uma educação de alta qualidade”, diz o relatório. A maioria dos países da OCDE investe entre 3% e 4% do

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Estudo aponta queda na aplicação de recursos no setor em 2019 e 2020

seu Produto Interno Bruto (PIB) no ensino fundamental e médio, chegando a pelo menos 5% do PIB na Colômbia e em Israel. A porcentagem de investimento brasileira não consta desta edição do relatório.

Sobre essa medida de investimento, a OCDE faz uma ressalva: “O investimento na educação como percentagem do PIB é uma medida da prioridade que os países atribuem à educação, mas não reflete os recursos disponíveis nos sistemas educativos, uma vez que os níveis do PIB variam entre países”.

As despesas por aluno variam muito entre os países da OCDE. A Colômbia, o México e a Turquia gastam anualmente menos de US$ 5 mil por estudante, ou R$ 25 mil, enquanto Luxemburgo gasta quase US$ 25 mil, ou R$ 125 mil. Existem também diferenças significativas nas despesas por estudante de acordo com a etapa de ensino.

Por lei, pelo Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil deve investir pelo menos 10% do PIB em educação até 2024. Segundo o último relatório de monitoramento da lei, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2022, o investimento brasileiro em educação chegava a 5,5% do PIB, e o investimento público em educação pública, a 5% do PIB, “bem distantes das metas estabelecidas no PNE. Esses resultados apontam para uma grande dificuldade dos entes em aumentar o orçamento destinado à educação”, diz o texto do Inep.

Salário de professores

O relatório da OCDE também aponta a necessidade de valorização dos professores. Segundo o estudo, muitos países da OCDE enfrentam es-

cassez desses profissionais. “Salários competitivos são cruciais para reter professores e atrair mais pessoas para a profissão, embora outros fatores também sejam importantes. Em muitos países da OCDE, o ensino não é uma opção de carreira financeiramente atraente”, diz o texto.

Em média, os salários reais dos professores do ensino secundário são 10% inferiores aos dos trabalhadores do ensino superior, mas, em alguns países, a diferença é superior a 30%. “O baixo crescimento salarial dos professores explica, em parte, a disparidade entre os salários dos professores e os de outros trabalhadores com ensino superior”, diz a organização. Os salários legais reais caíram em quase metade de todos os países da OCDE para os quais existem dados disponíveis. Isto, segundo o relatório, segue-se a um período de crescimento salarial baixo ou mesmo negativo em muitos países, no rescaldo da crise financeira de 2008/2009.

No Brasil, também pelo PNE, o salário dos professores deveria ter sido equiparado ao dos demais profissionais com escolaridade equivalente até 2020. Segundo o monitoramento de 2022, os salários dos professores passaram de 65,2% dos salários dos demais profissionais, em 2012, para 82,5%, em 2021, seguindo ainda desvalorizados.

Education at a Glance

O relatório Education at a Glance reúne informações sobre o estado da educação em todo o mundo. Fornece dados sobre estrutura, finanças e desempenho dos sistemas educativos nos países da OCDE e em países candidatos e parceiros da Organização.

A edição de 2023 é centrada no ensino e na formação profissional. A edição inclui também um novo capítulo – Garantir a aprendizagem contínua aos refugiados ucranianos – que apresenta os resultados de uma pesquisa da OCDE 2023 que recolheu dados sobre as medidas tomadas pelos países da organização para integrá-los nos seus sistemas educativos.

39 EDUCAÇÃO

Omeprazol: os riscos de tomar remédio contra gastrite e refluxo por muito tempo

Disponível no mercado há mais de 30 anos, o omeprazol promete um alívio rápido e eficaz daquela queimação na barriga e no peito causada pelo excesso de acidez.

Ao lado de pantoprazol, lansoprazol, dexlansoprazol, esomeprazol e rabeprazol, ele faz parte da classe farmacêutica dos inibidores da bomba de prótons (conhecidos também pela sigla IBP).

Para ter ideia da popularidade dessas medicações, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) calcula que 64,9 milhões de unidades de omeprazol foram consumidas no país apenas em 2022.

O que muita gente não sabe é que, em geral, esses remédios só devem ser usados por um prazo bem curto, de no máximo dois ou três meses. Como você vai entender ao longo desta reportagem, o consumo dos IBPs por períodos prolongados — como muitas pessoas acabam fazendo no dia a dia sem orientação de um profissional da saúde — está relacionado a desequilíbrios no sistema digestivo e dificuldades na absorção de vitaminas e minerais.

Alguns estudos sugerem que esse desbalanço causado pelo abuso desses fármacos pode causar até doenças mais graves, como osteoporose, câncer e demência. Mas essas repercussões à saúde ainda não são consenso na comunidade científica e precisam ser estudadas a fundo, como apontam especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Acidez além da conta

Nas aulas de química do colégio, aprendemos o que é o pH, uma escala numérica que determina se uma solução é ácida ou básica/alcalina.

No nosso estômago, dependemos de um ambiente ácido para o processo de digestão.

Os sucos gástricos (que são bem ácidos, diga-se) começam a “quebrar” os alimentos em pedacinhos cada vez menores, que depois serão absorvidos pelo intestino delgado.

Só que, em algumas pessoas, essa acidez passa da conta: o líquido estomacal tem um pH tão baixo, ou está numa quantidade tão grande, que ele passa a ser corrosivo para o próprio sistema digestivo.

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SAÚDE

Em alguns, essa queimação pode aparecer no próprio estômago na forma de gastrites e úlceras — feridas que se formam nas paredes internas desse órgão. Para outros, o problema é mais em cima. Um defeito na válvula que separa estômago e esôfago faz que o conteúdo ácido suba em direção ao peito e à garganta — o quadro é conhecido como refluxo gastroesofágico.

Como o esôfago é bem menos preparado que o estômago para lidar com substâncias ácidas, ele fica machucado. Os indivíduos acometidos pelo refluxo sentem azia, queimação da boca do estômago à garganta, tosse e até dor no peito intensa, que chega a ser confundida com um infarto.

“No caso do refluxo, o ideal seria ter um remédio que corrigisse o defeito na válvula. Mas, como não possuímos esse tipo de tratamento, o que fazemos é lidar com a acidez”, diz o médico Joaquim Prado Moraes Filho, da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG).

É aí que entram os IBPs, como o omeprazol: eles diminuem a acidez do suco gástrico. Com isso, a agressão às paredes do estômago e, principalmente, do esôfago ficam menos intensas.

Esses remédios bloqueiam a produção de ácido, impedem as lesões e aliviam aqueles sintomas de queimação”, resume Moraes Filho, que também é professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). O médico lembra que, em muitos casos, o uso de omeprazol e companhia precisa se prolongar por quatro a oito semanas. Essa informação, inclusive, aparece em algumas bulas deste fármaco. “Geralmente, a dose recomendada de omeprazol varia entre os 10 mg e os 20 mg, administrados antes do café da manhã e durante um período que pode ir da toma única até as 4 semanas de tratamento”, diz o texto da bula, que pode sofrer variações segundo cada fabricante.

Os riscos

Mas aí vem a questão: como mencionado pelo próprio médico, omeprazol e companhia lidam com um aspecto, mas não resolvem a raiz do problema. No caso do refluxo, o defeito na válvula continua.

Ou seja, o ajuste momentâneo da acidez até melhora a queimação. Mas, passado o período de tratamento, pode ser que tudo volte ao estágio anterior, se outros aspectos da vida — sobre os quais falaremos adiante — não forem modificados.

Com isso, muitas pessoas acabam prolongando o uso dos IBPs por conta própria, com o objetivo de aliviar os incômodos.

Isso é facilitado pelo fato de esses remédios serem acessíveis ao consumidor final, mesmo sem receita — apesar de eles possuírem a tarja vermelha com a orientação de venda apenas sob prescrição médica.

Só que esse consumo de omeprazol sem indicação de um profissional da saúde está relacionado a uma série de consequências.

“Já temos a comprovação de que eles aumentam o risco de osteoporose”, exemplifica a farmacêutica Danyelle Marini, diretora do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP).

Vale lembrar que a osteoporose é um quadro marcado pela perda progressiva de massa óssea. Nela, os ossos ficam cada vez mais porosos e enfraquecidos, o que eleva a probabilidade de fraturas.

“A mesma ação que os IBPs fazem no estômago também ocorre nos ossos. Com isso, eles podem degradar as células responsáveis pela regeneração do esqueleto”, complementa ela.

Quando o omeprazol é utilizado por curtos períodos, de poucas semanas, esse processo de regeneração óssea não é tão prejudicado assim. Nesse caso, a preocupação dos especialistas está mais no consumo contínuo e sem supervisão desses fármacos.

Alguns estudos recentes também observaram outras graves consequências do abuso nos IBPs mais populares.

Um deles, publicado em 2022 por instituições canadenses, estimou um risco 45% maior de câncer de estômago entre usuários frequentes de omeprazol em comparação com aqueles que usavam medicações da classe dos bloqueadores de H2 (como cimetidina e nizatidina).

Já outras investigações, realizadas a partir do final dos anos 1990 e começo dos 2000, descobriram que essas medicações interferem na absorção da vitamina B12, essencial para o funcionamento do cérebro.

Com isso, alguns especialistas começaram a temer que anos seguidos de tratamento com essas drogas poderiam provocar quadros de demência, especialmente nos mais velhos.

Para Moraes Filho, essas evidências precisam ser analisadas com atenção, mas ainda não são contundentes o suficiente.

“Nos últimos anos, foram lançados muitos trabalhos sobre os IBPs, mas os consensos das sociedades médicas dos Estados Unidos, do Reino Unido e do Brasil entendem que os efeitos sobre o uso prolongado desses remédios ainda precisam ser melhor estudados”, pontua o gastroenterologista.

A BBC News Brasil procurou entidades da indústria farmacêutica para que elas pudessem se posicionar sobre as questões apresentadas.

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SAÚDE

O Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) afirmou em nota que possui uma “diretriz histórica” sobre o uso de medicações por pacientes em geral.

“Todo e qualquer medicamento só deve ser usado de forma racional e com base nas orientações transmitidas pelas autoridades sanitárias e médicas.”

“Todo e qualquer medicamento que requer prescrição médica — o chamado medicamento tarjado, cuja embalagem possui uma tarja vermelha ou preta — só deve ser dispensado nas farmácias, postos de saúde, hospitais etc., e consumido pelos pacientes com base e mediante a apresentação de uma receita médica ministrada por um profissional de saúde habi-

O que fazer na prática?

litado”, completa o texto.

O presidente executivo do Sindusfarma, Nelson Mussolini, ainda comentou que, “se a pessoa está com problema de saúde, deve ir ao médico e, se for o caso, receber dele a prescrição do medicamento necessário para o tratamento”.

“Só compre medicamento tarjado com receita médica. Esse é um procedimento primordial para garantir a eficácia e a segurança do produto”, orientou ele.

Já a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) disse que “não se posiciona especificamente sobre moléculas”.

Que fique claro: existem algumas condições de saúde que exigem, sim, o uso contínuo de omeprazol ou outras medicações dessa classe.

“Nesses casos, os profissionais de saúde fazem a ponderação entre o risco e o benefício”, explica Marini.

“É o caso de pacientes oncológicos, por exemplo. Eles tomam medicações para tratar o câncer que afetam as barreiras do sistema digestivo. Os IBPs oferecem a proteção necessária para eles”, diz a farmacêutica.

Outra situação que demanda IBPs por tempo prolongado envolve as terapias com anti-inflamatórios. Esses fármacos também afetam o estômago, então muitas vezes os profissionais de saúde se antecipam e já prescrevem substâncias que protegem esse órgão.

Moraes Filho pondera que, nessas situações, é possível realizar um monitoramento para checar os níveis de cálcio, vitamina B12, magnésio e outras substâncias cuja absorção acaba afetada por omeprazol e companhia.

“Isso pode ser feito por meio de exames de sangue, e o acompanhamento é importante quando o paciente é idoso, está imunossuprimido ou internado numa UTI [Unidade de Terapia Intensiva]”, destaca o médico.

Caso seja detectada uma deficiência nesses componentes vitais à saúde, é possível fazer a suplementação para corrigir os níveis deles antes que uma doença mais grave apareça.

Mas e aquelas pessoas que usam o omeprazol há meses ou anos por conta própria? O que elas podem fazer?

Marini orienta que, em primeiro lugar, elas não interrompam o consumo desses comprimidos de forma repentina.

“Temos pacientes que tomam omeprazol por 10 ou 15 anos sem nenhuma orientação”, alerta ela.

“Como o pH desses indivíduos fica muito básico, o corpo tenta compensar a falta de acidez e secreta quantidades cada vez maiores de uma substância chamada gastrina”, detalha a farmacêutica.

“Se a pessoa retira o IBP de uma só vez, essa gastrina toda pode ir para o estômago e gerar uma dor insuportável.”

“O ideal nesses casos é realizar uma espécie de ‘desmame’ gradual da medicação para corrigir o pH aos poucos, se possível com a orientação de um profissional da saúde”, orienta a especialista.

Porém, sem o omeprazol, aquela queimação pode voltar. Como resolver isso? É aí que entram as medidas comportamentais e as mudanças no estilo de vida.

“O tratamento não farmacológico do refluxo gastroesofágico é extremamente importante. Não dá para o médico simplesmente escrever uma receita de remédio e esperar que o paciente fique bem”, chama a atenção Moraes Filho.

“Um primeiro passo é não se deitar logo após as refeições. É preciso aguardar por duas a três horas”, sugere o médico. A posição horizontal facilita a volta do conteúdo estomacal ácido em direção ao esôfago, onde as lesões acontecem. “Há casos em que erguer a cabeceira da cama uns 12 a 15 centímetros também ajuda”, acrescenta o especialista. Moraes Filho lembra que outras medidas gerais de qualidade de vida (como manter o peso ou emagrecer, fazer atividade física, cuidar da saúde mental) também têm muito a contribuir no controle das crises de queimação — sem a necessidade de abusar dos comprimidos.

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A arte de conseguir emprego contatando chefes nas redes sociais

Antes da redatora e diretora criativa Sarah Jenkins se tornar freelancer, ela passou três anos em uma pequena agência de publicidade — uma que ela cortejou por meio de “uma combinação de slides por DM e e-mail”.

Depois de admirar de longe o trabalho da agência, ela mandou uma mensagem diretamente para o diretor de criação, uma pessoa conhecida dela, pelo Facebook. Depois que o diretor respondeu positivamente, Jenkins, de 40 anos, residente em Missouri, nos Estados Unidos, enviou um e-mail ao fundador e CEO no mesmo dia.

Ela se encontrou com o CEO na semana seguinte e logo depois conseguiu um cargo de redatora sênior, graças aos seus anos de experiência trabalhando para uma agência maior. Jenkins conta que sua “audácia” de falar com o diretor sem “intermediários” a ajudou a conseguir o emprego.

“Eles não estavam tecnicamente contratando ninguém que se adaptasse às minhas habilidades naquela época. Mas eu tinha uma grande energia do tipo ‘por que não?’.”

‘Estender a mão e tocar alguém’

Gina Nichols, recrutadora da agência Hirefor, com sede nos EUA, diz que o fenômeno crescente é resultado do “acesso”.

“As gerações mais velhas não tinham acesso às redes sociais, mas as gerações mais jovens têm todo o tipo de ferramentas digitais”, diz Nichols.

“Agora publicamos uma vaga e você tem centenas de candidatos em questão de horas. Então, para se diferenciar em uma massa como essa, estender a mão e encostar em alguém — o que você tem a capacidade de fazer em múltiplas plataformas — é uma jogada inteligente.”

O fenômeno é um resultado natural da percepção de gratificação instantânea que acompanha as redes sociais, afirma Akhila Satish, CEO da empresa de gestão de talentos Meseekna, sediada nos EUA.

“Acho que estamos em um mundo onde muitas coisas estão acontecendo mais rápido”, diz ela. “E acho que o processo de contratação em geral é uma daquelas coisas em que o ritmo não mudou muito”, diz.

Esse ritmo tradicionalmente lento pode frustrar alguns candidatos mais jovens, que estão habituados a estabelecer ligações rápidas por meio das redes sociais, explica Satish. Isso, por sua vez, os encoraja a entrar em contato por meio de canais não tradicionais para se conectarem mais rapidamente com quem tem a caneta na mão. Jennifer Nash, coach e autora do livro Be Human, Lead Human, diz que o fenômeno também está ligado à natureza mutável da cultura de trabalho, que

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evoluiu rapidamente desde o início da pandemia de covid-19.

“A pandemia despertou o status quo de como o trabalho era feito, como as pessoas procuravam cargos e como os empregadores contratavam pessoas”, diz Nash.

Agora, afirma ela, os candidatos a empregos se sentem capacitados para tornar o processo de contratação “mais parecido com uma parceria”, em vez de uma provação unilateral e obscura.

“Há essa flexibilidade agora, e esta liberdade de dizer: ‘Vou me destacar de uma maneira um pouco diferente: aparecendo da minha forma mais autêntica e contribuir com valor para esta organização’”, diz Nash.

É melhor verificar

Com maneiras aparentemente infinitas de se conectar aos empregadores, Satish aconselha que os candidatos a vagas de emprego — especialmente os mais jovens — chequem a ousadia de sua abordagem antes de entrar em contato.

“Estou sempre incentivando maneiras novas e interessantes de chamar a atenção de quem procura emprego”, diz Satish. “Dito isto, acho que há um bom equilíbrio que as pessoas podem tentar: mostram suas habilidades e seus conhecimentos com um novo meio, ao mesmo tempo em que apreciam o fato de que podem estar chegando à mesa de alguém não ser tão familiarizado com esses novos meios.”

Antes de ir diretamente à fonte, Satish recomenda que os candidatos pesquisem a cultura da empresa.

“Se você está se candidatando a uma vaga em uma empresa jovem e pequena, e você pode ver que os chefes estão no LinkedIn — e você sabe que essas pessoas estão por perto, e que são 5, 6 ou 7 anos mais velhas que você e elas vão entender sua abordagem — absolutamente vale a pena se expor”, diz ela. “Se você estiver se candidatando em uma empresa mais tradicional e estabelecida, pode não funcionar da mesma maneira”, diz.

Em caso de dúvida, Satish aconselha usar o LinkedIn. “Conectar-se no LinkedIn é uma abordagem de risco relativamente baixa”, diz. “Acho que é algo que se tornou um meio comum de recrutamento e que as pessoas estão cientes disso.”

Para se preparar para o maior impacto, Satish recomenda que os candidatos mantenham seus perfis do LinkedIn atualizados — não deve ser um documento estático como um currículo. “Você precisa tratar o seu LinkedIn como um lugar onde, independentemente da empresa que o procurar, as pessoas encontrarão algo de interesse e valor”, diz ela

Novo status quo

No caso de Jenkins, a abordagem ousada funcionou — mas também houve uma coincidência.

“Acontece que a agência também estava pensando em expandir os serviços criativos e de marketing na época — seu foco principal eram websites — e esse é o meu conjunto de habilidades”, diz Jenkins. “Talvez eu não tivesse sido tão ousada com uma empresa corporativa maior, onde não tivesse conexão ou contexto.”

Do ponto de vista do recrutador, Jenkins acertou em cheio na abordagem. Nichols explica que, na maioria dos casos, entrar em contato com potenciais empregadores e recrutadores de maneira respeitosa não faz mal.

“Se estou procurando uma iniciativa independente, há muitas boas bandeiras verdes que surgem [ao tomar a iniciativa]”, diz ela. “Se você é um recrutador inteligente, você constrói um catálogo de bons candidatos para recorrer quando as oportunidades surgirem. Portanto, mesmo que eu não tenha algo que se alinhe com o conjunto de habilidades de um candidato específico, eu com certeza terei uma conversa com eles.”

À medida que as condições econômicas instáveis continuam a impactar o mercado de trabalho, contornar os portais convencionais pode ser a melhor forma de ser notado.

Quer os candidatos estejam reforçando seus perfis no LinkedIn ou entrando nas mensagens diretas de um recrutador, pensar fora do currículo comum pode render resultados positivos.

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Não terceirizem a responsabilidade!

Um dos assuntos mais lidos atualmente é sobre Inteligência Artificial Generativa (GenAI). Para que fiquemos todos na mesma página, a GenAI difere da IA tradicional por aprender, e gerar soluções de forma automática, a partir de dados existentes. Ou seja, pode criar um conteúdo “original”.

Destaco o original não por desdém ou desmerecimento, afinal foram milhares de horas de estudos e testes, investimentos milionários e um sem-número de neurônios envolvidos na elaboração e desenvolvimento da GenAI.

O que tento trazer à tona é o uso deturpado dessa poderosa tecnologia. Talvez, decorrente da forma como as Big Techs disponibilizaram essa tecnologia para a sociedade, buscando, como sempre, destaque, lucro e poder, em um mundo altamente competitivo.

Mas nós, humanos, somos os maiores responsáveis por esse desvio de finalidade, quando buscamos o poder da GenAI para criar algo em que possamos colocar nossa digital. Algo para chamarmos de nosso. Seja o que ela produz, seja o que ela pode modificar.

Daí que digo que nós somos os responsáveis. Basta observar que quem esteve por trás dessa transformação de finalidade foi o homem.

Somos capazes de criações extraordinárias, em tempos cada vez menores. Mas, em contrapartida, não conseguimos evoluir nossa humanidade de forma compatível com as tecnologias e máquinas que criamos.

Não andamos um centímetro à frente, no quesito equilíbrio emocional. Não fomos capazes de trabalhar nosso autoconhecimento e nosso autocontrole, tão necessários nesse mundo de disputas acirradas, repleto de possibilidades de destruição apenas a um clique de distância.

qualidade, ajuda a evitar o desperdício. ”

Claro que há muitas outras formas de uso deturpado, mas podemos nos focar nesse por envolver diversos aspectos que vão da subtração dos direitos intelectuais e autorais, até profundas questões éticas e filosóficas.

Não devemos terceirizar a culpa. Não devemos culpar a tecnologia. Ela é fantástica em todos os sentidos. Ajuda a salvar vidas, melhora a produtividade, nos entrega produtos e serviços com maior qualidade, ajuda a evitar o desperdício. A lista de benefícios é gigante.

Mas, mais uma vez, o mundo se depara com uma tecnologia quem tem muito a fazer pela sociedade, mas, assim como aconteceu com o avião ou a energia nuclear, uma bifurcação no meio do caminho pode concentrar o poder nas mãos de alguns.

Destruição de vidas não apenas física, mas, também, mental e psicologicamente. Basta ver os diversos casos de “cancelamentos” e cyberbullying nas redes sociais.

Sabemos operar diversas tecnologias. Nos gabamos de poder utilizar a GenAI, para o bem ou para o mal. Mas somos incapazes de perceber que temos os mesmos problemas com valores, maturidade e humanidade que nossos ancestrais

Não nos evoluímos. Continuamos a ensinar como utilizar essas ferramentas de forma eficaz, mas não ensinamos como ser éticos, humanos e fraternos no seu uso.

Estamos falhando miseravelmente, mais uma vez, lá na formação básica, na construção de seres humanitários. Não devemos escantear o humanismo, mas sem atentar à coletividade, de que servirá tudo o que criamos?

* Wilson Coelho é especialista em Políticas públicas de Saúde pela UNB, e Informática em Saúde pelo IEP-HSL e professor-tutor na Faculdade Unyleya

Wilson Coelho*
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“Não devemos terceirizar a culpa. Não devemos culpar a tecnologia. Ela é fantástica em todos os sentidos. Ajuda a salvar vidas, melhora a produtividade, nos entrega produtos e serviços com maior

Serinter assume coordenação regional do Fonari

Asecretaria de Relações Internacionais do GDF (Serinter), comandada pelo ex-vice-governador Paco Britto, conquistou, por unanimidade na quinta-feira (24), a coordenação regional do Centro-Oeste do Fórum Nacional de Gestores municipais de Relações Internacionais (Fonari). A pasta tem como missão, a partir de agora, auxiliar nos trabalhos do fórum, que é presidido pela secretária de Relações Internacionais de São Paulo e presidente do fórum, Marta Suplicy. A eleição que escolheu as presidência e diretoria executiva para a gestão de 2023-2025 ocorreu durante a II Semana Diplomacia de Cidades, que aconteceu em São Paulo, entre os dias 23 e 25 de agosto, com o objetivo de promover e fortalecer a cooperação internacional das cidades, além de contribuir para o desenvolvimento das políticas públicas locais. A programação contou com o relançamento e reativação do Fonari – inativo desde 2018 -, de forma a torná-lo mais dinâmico, operativo e eficiente.

A Serinter foi criada há apenas 8 meses e tem trabalhado para garantir a integração entre as embaixadas com o GDF e a população de Brasília com os eventos socioculturais, além de aproximar os países do setor produtivo do DF, focando no fortalecimento das relações comerciais com a capital federal.

“Estamos na capital do país, cidade onde estão sediadas as missões diplomáticas do Brasil e essa integração com a cidade é extremamente importante”, destacou o secretário Paco Britto. Ele já visitou, oficialmente, mais de 120 embaixadas das 133 existentes em Brasília. “Somos a segunda capital do mundo em número de representações diplomáticas, ficando atrás somente de Washington, nos Estados Unidos”, completou.

O Fonari é a principal associação brasileira voltada para a diplomacia de cidades. Organização sem fins lucrativos, é composta por gestores técnicos e políticos atuantes nas relações internacionais e áreas correlatas de municípios brasileiros. Em encontro com o secretário Paco Britto, em abril, Marta Suplicy havia convidado a pasta para integrar o fórum. De acordo com o secretário, a participação do DF no Fonari “fortalece e consolida as estruturas locais de relações internacionais”.

II Semana Diplomacia de cidades - O evento teve como programação a 1o Assembleia Geral que contou com votações importantes para o Fórum Nacional de Gestores mu-

nicipais de Relações Internacionais, entre elas, a aprovados, por unanimidade, o novo estatuto do fórum, além da Carta São Paulo, manifesto que resume os princípios da entidade e cobra uma revisão da Constituição no que diz respeito às relações internacionais.

“Defendemos a atualização da carta constitucional para que sejam reconhecidas as capacidades e competências internacionais dos entes subnacionais brasileiros, processo já realizado em diversos países do mundo”, diz o documento. A Carta de 1988 define que as relações internacionais brasileiras são de competência exclusiva do governo federal.

Entre debates e painéis – um deles mediado, inclusive, pelo secretário Paco Britto -, o encontro contou com a participação de 20 capitais e outra dezena de municípios de todo o país.

“É uma honra estar à frente de um trabalho tão relevante para a proteção e cooperação internacional das cidades; mais uma ferramenta extraordinária para desenvolver políticas públicas voltadas a quem mais precisa”, comemorou a presidente do Fonari, Marta Suplicy.

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ARTES PLÁSTICAS

Aquarela sobre papel 100% algodão

Flávia Mota Herenio @motaflaviafm

Investigado por beijo, presidente da federação espanhola renuncia

Adaptação Rócio Barreto

Opresidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, renunciou ao cargo. O dirigente é investigado pelo beijo dado na atacante Jenni Hermoso, da seleção feminina do país, em Sydney, na Austrália, logo depois de a equipe ter conquistado a Copa do Mundo. Ele alega que o ato foi consensual, o que é rebatido pela jogadora.

A saída de Rubiales – que, inicialmente, recusava-se a renunciar – foi confirmada pela entidade em comunicado divulgado na noite de domingo (10). Segundo a nota, Rubiales também abriu mão da vice-presidência da União das Federações Europeias de Futebol (Uefa, na sigla em inglês). A RFEF convocará eleições para ocupação do cargo, conforme o Artigo 31.8 do estatuto da federação.

A Federação Internacional de Futebol (Fifa) já havia suspendido o dirigente por 90 dias. Por isso, a RFEF está sendo dirigida, interinamente, pelo vice-presidente da entidade, Pedro Rocha Junco.

Rubiales ainda pode responder criminalmente por agressão sexual. Se condenado, a pena varia de um a quatro anos de prisão. Na última terça-feira (5), Jenni Hermoso acionou a justiça espanhola. Três dias depois, a promotora Marta Durántez Gil também fez

denúncia, apelando às autoridades australianas para esclarecerem se o caso seria considerado crime no país.

O incidente repercutiu em todo o mundo e desencadeou reações contra o sexismo. Na Espanha, coletivos feministas se mobilizaram exigindo a saída de Rubiales. Em comunicado, 80 jogadoras espanholas – as campeãs do mundo entre elas – anunciaram que não voltariam a defender a seleção do país enquanto o dirigente permanecesse no cargo. Além disso, 11 integrantes da comissão técnica que foi ao Mundial demitiram-se em protesto.

Antes de Rubiales, a primeira mudança no escopo do futebol feminino espanhol foi a demissão do técnico Jorge Vilda, que deu lugar a Montse Tomé, primeira mulher a dirigir a seleção principal. Apesar do título mundial, Vilda não tinha bom relacionamento com algumas atletas da equipe, que chegaram a pedir a saída do treinador antes da Copa, contestando, em especial, a gestão de grupo do profissional.

Por: Lincoln Chaves – Repórter da EBC/São Paulo - São Paulo
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Luis Rubiales pode responder criminalmente por incidente com jogadora
ESPORTES

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