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Lula e as relações internacionais

OBrasil voltou ( Brazil is back). Este tem sido um dos motes do governo federal. Depois da opção do ex-presidente Jair Bolsonaro de se afastar dos principais cenários internacionais, sob o argumento de que ser pária era melhor que participar, Lula colocou em marcha um plano, tão intenso quanto ousado, de retomada de visitas e articulações.

Até setembro de 2023 ele já visitou a Argentina (22/01), o Uruguai (25/01), os Estados Unidos (09/02), a China (11/04), os Emirados Árabes (15/04), Portugal (21/04), a Espanha (25/04), o Reino Unido (05/05), o Japão (17/05), a Itália (20/06), de novo a Argentina (03/07), a Colômbia (08/07), a Bélgica (16/07), o Cabo Verde (19/07), o Paraguai (14/08), a África do Sul (22/08), Angola (25/08), São Tomé e Príncipe (27/08), a Índia (09/09), Cuba (12/09) e, mais uma vez, os Estados Unidos (15/09). Ufa!

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precisão, que vai ser necessário enfrentar os problemas internos para que os cenários internacionais ajudem a mudar as difíceis questões. Lula não pode pairar sobre a política interna e se transformar em um personagem mais presente lá fora que aqui. O jogo é duro.”

Nas visitas ocorreram articulações bilaterais e multilaterais. Sessões de trabalho no G7 (Grupo dos Sete, dos países mais industrializados do mundo), no G20 (Grupo dos Vinte, fórum de cooperação econômica internacional, com 19 países mais a União Europeia, e que representam 85% do Produto Interno Bruto global, em que o Brasil responde agora pela presidência), no Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, Brasil também na presidência), nos BRICS (mecanismo internacional de cooperação entre os cinco países: Brasil, Rússia, Índia , China e África do Sul, que teve recente adesão de Arábia Saudita, a Argentina, o Egito, os Emirados Árabes, a Etiópia e o Irã, e há muitos outros na fila), na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), nas Nações Unidas (ONU) etc. Todas movimentaram as dinâmicas brasileiras e as suas relações internacionais. Da mesma forma, Brasília recebeu diversos personagens e personalidades, além de chefes de Estado e de Governo, com o objetivo de retomar os interesses comuns e expor as diferenças. Belém do Pará foi palco, em agosto, da Cúpula da Amazônia, a partir da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), em que o Brasil exerce um papel fundamental.

Os principais temas desses eventos foram, além dos bilaterais, a guerra Rússia-Ucrânia, os blocos regionais que o Brasil participa, os temas ambientais, em especial a Amazônia, as relações comerciais, a desigualdade e a fome, além da eterna demanda da diplomacia brasileira por uma reestruturação da governança global, que é, em verdade, a reivindicação do Brasil de ter assento no Conselho de Segurança da ONU.

Cada uma das visitas foi feita com a presença de delegações, além do usual entourage, que mais atrapalharam que ajudaram. Não por culpa desses grupos. Mas em decorrência do hiato temporal que está a ser compensado pela diplomacia lulista, associada ao poder gravitacional que o velho líder ocupa no imaginário internacional. Dito de outra forma, o Brasil está de volta porque Lula voltou. Alguns deslizes e equívocos, além de uma ou outra posição derivada de um esquerdismo infantil, mais que conhecido, e que não apagaram o esplendor deste ano e da admiração de outros países.

Fato: há uma maior presença com respeitabilidade. Outro fato: o governo Lula vai muito melhor quando o Presidente está lá fora do que quando ele aqui está. São tantos problemas conjunturais e desafios estruturais, no país, que o peso das viagens em sua idade é sublimado pela leveza de seus contatos e reuniões sobre temas como guerras, fome e extremos climáticos!

Após os fatos, a análise. Isso tem impacto na política interna? Tem. Nada excepcional, mas o noticiário promove, em que pese as críticas das redes sociais, o Brazil is back na forma de um road show. Boa visibilidade, apesar de algumas gafes.

O que isso significa para a economia? Ainda não é possível oferecer um resultado, mas temas como o Acordo Mercosul-União Europeia, relações com a China e incremento das exportações, especialmente de commodities, apontam para uma melhor situação em um mundo reglobalizado após a pandemia de COVID-19. Temos que refazer as contas.

Contudo, é possível apontar, com muito mais precisão, que vai ser necessário enfrentar os problemas internos para que os cenários internacionais ajudem a mudar as difíceis questões. Lula não pode pairar sobre a política interna e se transformar em um personagem mais presente lá fora que aqui. O jogo é duro. Em uma perspectiva de fim de ano (sim, é quase Natal), há muito a se resolver internamente, especialmente na política e na economia, que nem sempre andam juntas, mas que estão conectadas como sempre. Ademais, a popularidade de Lula na opinião pública e nos diversos setores sociais ainda é claudicante, com um desencanto pela política que atinge a todos os atores, mas que reverbera primeiro no mandatário da vez, neste caso o Lula.

Lula terá um pouco de paz no período de sua cirurgia, agendada para o dia 29 de setembro. Apenas um pouquinho e por um período pequeno. É que as dores da política são muito mais difíceis que as dores do peso dos anos. O Brasil está de volta, mas sem avançar internamente, nem tanto.

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