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A Engenharia no Trânsito
Vira e mexe ouve-se alguém perguntando onde está a Engenharia de Tráfego do Distrito Federal, que deixa nossas cidades e as ligações entre elas padecerem de tantos e tão intensos engarrafamentos dia após dia. Com efeito, é só ouvir o noticiário de manhã dominado pelos relatos de congestionamentos para se convencer de que nossos engenheiros de tráfego são ou muito preguiçosos ou muito incompetentes. Nada é mais falso, no entanto.
Como atuo nessa área de formação há trinta anos aqui nesta cidade, minha frustração é dobrada. Além da eventual perda de tempo no trânsito, com o consequente e significativo comprometimento da qualidade de vida, sofro com a baixíssima oferta de oportunidades de colocação para quadros técnicos tão qualificados como os que a Universidade de Brasília faz questão de formar.
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Governo após governo, o trânsito no Distrito Federal é tratado como mera matéria de fiscalização. Como a exceção que confirma a regra, merece destaque o singelo período do governo Cristovam em que o DETRAN da capital federal foi dirigido pelo saudoso psicólogo Luís Miúra. Não por acaso, o período ficou marcado pelo programa Paz no Trânsito, que transformou a realidade de nosso quadradinho. Miúra soube colocar em prática o que costumamos frisar no primeiro dia de aula de nossos cursos: para dar certo, qualquer programa de trânsito precisa estar muito bem equilibrado no tripé formado pela Engenharia, pela Educação e pela Fiscalização. Sendo um tripé, as três pernas têm que ter as mesmas dimensões e a mesma robustez.
Entretanto a Engenharia, responsável pelas adequadas produção do espaço e operação dos dispositivos de controle da circulação, não tem merecido atenção digna por parte de nossos governantes. A equipe de engenharia do DETRAN-DF, composta por profissionais muito bem qualificados, é mínima. Não bastasse o tamanho, os recursos técnicos que são disponibilizados pelos gestores são de dar pena. Os sis- temas de controle semafórico, só para dar um exemplo, têm uma defasagem de décadas não em relação às referências internacionais, mas a inúmeras cidades aqui mesmo do Brasil.
Fugindo da armadilha da comparação com as megacidades da região mais rica do país, vou ficar com um exemplo nordestino: a cidade de Fortaleza há muito vem investindo na qualificação da gestão do trânsito e alcança hoje um grau de excelência que a coloca na posição de modelo até para programas internacionais, como aqueles promovidos pela OMS/OPAS, pela Iniciativa Bloomberg, pela FIA etc. Sintomaticamente, o órgão gestor da área tem o sugestivo nome de AMC - Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania.
Para não entrar em muitos aspectos, chamo atenção para a profícua parceria entre a AMC e as instituições públicas UECE (Universidade Estadual do Ceará) e UFC (Universidade Federal do Ceará). No caso da UFC, que conheço mais de perto, é de dar inveja a parceria que resulta, pelo lado da AMC, na destacada formação de seu corpo técnico e, pelo lado do PETRAN (o programa de pós-graduação em transportes da universidade), no rico portfólio de projetos de pesquisa e na vasta produção acadêmica.

Aqui em nosso quadrado, vontade não falta de investir em uma simbiose do tipo, nem do lado da Universidade de Brasília, nem do lado dos quadros técnicos do DETRAN-DF. Da parte dos governantes, porém, infelizmente não podemos dizer o mesmo...
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Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University of London (University College London) (2001).