60ª Edição da aNEMia: Olhar-futuro

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Escrita Livre A vida de olhos vendados. Francisca Pinho Rocha, Alumna FMUC

Olhamo-nos nos olhos na busca de entendimento, sem palavras medidas e de conversas cerradas - a sete chaves - fechamo-nos em nós. Procuramos aquilo que não conseguimos dizer e, oxalá, consigamos ver. O mundo está de luto. É de negro que se pinta o céu e de lágrimas que se tingem os olhares. A vida de olhos abertos é mais bonita. Palavras para quê, se os olhos falam tanto e expressam muito mais. Pergunto-me como é a vida de olhos vendados. Sem saber o que nos espera, sem olhar o que nos enfrenta. Pergunto-me como é a vida sem sabermos o que ver nela. Pergunto-me como encerram em si os seus olhos, a sua voz e o seu corpo: centenas e centenas de mulheres que por este mundo fora perderam o olhar e o grito, o corpo e o ser. Pergunto-me como é a vida de olhos vendados: como se alcança o céu se no chão impuseram os limites do corpo e na alma se sente a dor do vazio de liberdade. Pergunto-me como é ser sem ouvir o mundo e sem poder berrá-lo. Pergunto-me como sobrevivem, pergunto-me como sobrevirão. Na resiliência atrás de todas as burcas, escondidos sonhos, desfeitas em lágrimas, de corações partidos e sorrisos roubados, procuram o direito.

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