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Entrevista: Ser voluntário em Inquéritos Epidemiológicos
Nosso Mundo Entrevista: Ser voluntário em Inquéritos Epidemiológicos
Doutor Pedro Silva, Alumnus FMUC
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Janeiro foi o pior mês da pandemia em Portugal. 5 576 pessoas faleceram devido à Covid-19, só no primeiro mês do ano. As hospitalizações atingiram níveis muito elevados e puseram em causa a assistência aos doentes não Covid. Já os números de novos casos diários chegaram a ultrapassar os 10 000.
Face ao problema pandémico, o trabalho do Serviço Nacional de Saúde começa na deteção precoce e isolamento dos casos. Para tal, os serviços de Saúde Pública locais procedem aos inquéritos epidemiológicos. No entanto, faltavam recursos essenciais para acompanhar o crescimento exponencial de casos: rastreadores.
Para colmatar esta lacuna, cerca de 200 membros da comunidade académica da Universidade de Coimbra (UC) colaboraram como voluntários no apoio à vigilância epidemiológica no âmbito da COVID-19, na Região Centro. A aNEMia conversou com um dos estudantes da Faculdade de Medicina da UC que se voluntariou. Vítor Oliveira colaborou e participou ativamente no rastreamento de contactos na Unidade de Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Dão Lafões.
O que te levou a voluntariares no apoio à Saúde Pública no âmbito dos inquéritos epidemiológicos?
Quando a pandemia começou, todos fomos enviados para casa e simplesmente ficámos a assistir a uma luta desigual. Como futuro profissional de saúde sentia uma incapacidade no combate à pandemia. Como tal, este apelo para apoiar nos inquéritos epidemiológicos foi algo que rapidamente aproveitei para ajudar um pouco mais nesta luta que é de todos.
Tiveste algum tipo de formação para fazer os inquéritos?
Sim, quando nos inscrevemos, foi prontamente marcada uma formação no formato online de modo a explicarem todo o processo e organização dos inquéritos. Depois disso, no centro de saúde ao qual fiquei alocado, recebemos também uma formação por parte da médica de Saúde Pública e fomos bem integrados e existiu sempre uma disponibilidade total para colocarmos dúvidas.

Quais foram as maiores dificuldades em fazeres os inquéritos?
Logo ao início era tentar não esquecer todos os pequenos pontos necessários a perguntar às pessoas, perceber o que podíamos considerar um contacto de risco ou não, inserir os diversos dados nas plataformas. Mas tudo isto se foi tornando mais fácil à medida que íamos fazendo os diversos inquéritos.
As pessoas com quem contactaste foram acessíveis? Respeitavam o que dizias?
Depende. Havia um pouco de tudo, pessoas que ouviam, respeitavam e cumpriam. Outras que não ouviam nem forneciam a informação necessária, não respeitavam o dever de isolamento e não forneciam os contactos de risco. Nestas situações, recorríamos à Delegada de Saúde para tomar uma posição mais firme. No global, foram mais as pessoas que ouviam e respeitavam do que o contrário.
Que ideia tinhas da especialidade de saúde pública? Já tinhas tido contacto?
Antes da pandemia apenas conhecia o nome da especialidade. Nunca tive qualquer contacto nem sabia bem qual o trabalho e responsabilidade de um médico de Saúde Pública. Ao ajudar nos inquéritos, conheci muito melhor a especialidade e o seu trabalho, percebendo que é essencial para o bom funcionamento da sociedade e na garantia da sua saúde como um todo.
O que aprendeste com esta experiência?
Aprendi que todos somos importantes na luta contra a COVID-19 e todos podemos fazer algo mais quando nos é dada essa oportunidade. Foi uma experiência muito enriquecedora não só a nível profissional, mas também pessoal. Além de aprender toda a dinâmica, funcionamento e empenho que existe dos profissionais de saúde neste processo, ao falar com as pessoas permitiu-me chegar mais próximo de quem mais precisa e desenvolver capacidade humanísticas que me vão ser essenciais para o meu futuro enquanto médico.
