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Slow Fashion: Para Hábitos Mais Conscientes

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Toucador

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Joana Neves, 5º ano

A indústria têxtil é a segunda mais poluente do mundo. É responsável por uns espantosos 10% de todas as emissões de gases de estufa, mais do que as emissões combinadas de todos os voos e transportes marítimos. Contribui para 20% de toda a poluição da água e 35% de todos os microplásticos produzidos no ambiente provêm da lavagem de tecidos sintéticos.

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Para onde quer que olhemos, o desperdício parece entranhar-se em tudo o que fazemos. Assim nasce a fast fashion: um padrão de produção em massa de têxteis de baixa qualidade, para responder às emergentes e sucessivas tendências. Como se não bastasse, só 1% de todo o vestuário produzido em todo o mundo é reciclado - o resto é incinerado ou deitado em aterros, ao ritmo de um camião de lixo por segundo!

Em resposta a este padrão de consumo não sustentável, surge a slow fashion. Combinando não só melhores políticas éticas empresariais, mas também hábitos mais conscientes dos consumidores, este conceito procura respeitar todos os intervenientes na cadeia de produção, desde o ambiente aos trabalhadores e animais. Não basta usar materiais mais sustentáveis e poupar o máximo de recursos - a slow fashion encoraja o decréscimo do ritmo a que compramos.

Então, como podemos juntar-nos a este movimento mais consciente? Aqui seguem algumas dicas:

1. Evitar tecidos nocivos para o ambiente

A máxima a ser seguida é: uma peça de vestuário só é sustentável se o tecido que a compõe o for. Isto leva-nos, obviamente, a identificar as matérias primas mais amigas do ambiente e a recusar as mais custosas. · Algodão: são necessários 20 mil litros de água para produzir um quilograma de algodão; para além disso, o algodão é extremamente volátil às condições ambientais e as culturas necessitam de quantidades gargântuas de pesticidas, contaminando os solos e os lençóis de água.

Alternativa: algodão orgânico - não requer o uso de pesticidas e usa 91% menos de água na sua produção do que o seu irmão menos sustentável; a maior parte desta quantidade

Mundo de Todos

é água da chuva, não de rega, como acontece com o algodão dito “normal”. · Poliéster, nylon e acrílico: são plásticos derivados do petróleo; poluem o ar, o solo e são responsáveis pela libertação de microplásticos para os nossos mares e oceanos, que ainda não conseguem ser filtrados nas máquinas nem nas estações de tratamento de esgotos.

Alternativa: procurar as suas versões recicladas, como o poliéster reciclado (rPET); no entanto, as alternativas recicladas continuarão a emitir microplásticos quando lavadas.

· Viscose: apesar de ser uma fibra celulósica, a produção de viscose está ligada à desflorestação, e o processamento da fibra em si é quimicamente muito intensivo e nocivo para os ecossistemas aquáticos.

Alternativa: lyocell - também uma fibra celulósica, tem como único ingrediente a polpa de madeira que, após dissolvida e centrifugada, permite ser enrolada em fios fáceis de tecer, num processo livre de químicos agressivos.

2. Criar um armário-cápsula

Nada como uma dose de minimalismo para evitarmos a sensação de não termos nada para vestir quando nos deparamos com um armário cheio. Esta nova tendência pretende criar um portfólio têxtil que seja prático, versátil e se adeque ao nosso estilo pessoal. O objetivo é ter um número finito de peças - 30, por exemplo, sem contar com roupas interior e de ocasião - que sejam fáceis de combinar entre si para as mais diversas situações.

3. Reutilizar, reutilizar, reutilizar

O erro mais comum ao aderir à tendência da slow fashion é deitar fora todas as roupas fast fashion que temos no roupeiro - errado! O caminho para sermos verdadeiramente sustentáveis é reduzir o consumo, e isso inclui não comprar freneticamente 50 novas peças de roupa sustentável - queremos, sim, usar o vestuário que temos o máximo possível e, quando a sua vida acaba, procurar outros usos para ele. Infelizmente, a capacidade de reciclar tecidos é ainda muito rudimentar, e, se os descartarmos, irão provavelmente acabar em aterros.

4. Atenção aos detalhes

Como qualquer bom comerciante sabe, o marketing é tudo, e as empresas de fast fashion não querem ficar para trás.

Por isso, aqui ficam algumas dicas para ver se uma marca está a fazer “greenwashing”, fazendo-se passar por uma coisa que não é: · Se o website tiver centenas de peças, não é sustentável, porque a produção é maciça; · Se a cadeia de produção passar por países com alto risco de trabalho-escravo, a marca deve ser evitada, dado que os trabalhadores não estarão a ser pagos um salário humano; · Se apenas uma dada coleção é dita “eco-friendly”, é porque a empresa, no seu todo, não o é; · Pesquisar o rating da marca no website Good On You: uma compilação exaustiva que avalia a produção têxtil no que toca às condições ambientais, à sustentabilidade animal e ao respeito pelos trabalhadores.

Sobretudo, devemos ter em conta que menos é mais: sim, devemos apostar em têxteis produzidos de forma mais amiga do ambiente, mas a chave é a moderação. Não podemos esquecer que uma maior procura por estas alternativas obriga a maior alocação de recursos ambientais para acompanhá-la, o que, inevitavelmente, leva a mais desperdício.

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