Revista Plano B Brasília n.º 06

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6 Julho Verde-Escuro conscientiza sobre prevenção ao câncer ginecológico

8 Governo federal, opinião pública e o mercado

10 Não comece a investir antes de ter esses três pontos resolvidos.

12 Atrás do paradeiro de mais de R$ 100 bilhões em criptomoedas

16 Mais do que Apenas uma Tecnologia

18 A luta pela reserva de vagas no Legislativo para mulheres

20 Chegou a hora da Tarifa Zero?

22 Uma nova referência para as mulheres negras na política

24 Nos deixem viver

25 Caça às Bruxas

26 Partiu Aspen, Colorado

28 Mais uma Pernada

32 Médicos e a Sociedade: Turbulência à Vista!

34 Supremo esclarece fala de Barroso em congresso da UNE

36 Pandemia de Aids pode acabar até

2030, diz Unaids

38 A Medida do Amor

40 MinC comemora adesão de 98% dos municípios e 100% dos estados à Lei Paulo Gustavo

44 Registros de racismo e homofobia

disparam no país em 2022

46 As subversivas mensagens ocultas no clássico filme ‘O Mágico de Oz’

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SUMÁRIO

EXPEDIENTE EDITORIAL

Diretor Executivo

Diretor Administrativo

Chefe de Redação: Paulo Henrique Paiva

Colaboradores: Adriana Vasconcelos, Ana Beatriz

Barreto, Humberto Alencar, Itamar Ramos, Romulo Neves, Luciana Campos, Renata Dourado, Paulo

César, Wilson Coelho

Design Grafico: Alissom Lázaro

Redação: Adriana Vasconcelos

Fotografia: Ronaldo Barroso

Tiragem: 10.000 exemplares

Redação: Comentários sobre o conteúdo editorial, sugestões e criticas às matérias: revistaplanobbrasilia@gmail.com

Aviso ao leitor: acesse o site da Revista Plano B e tenha acesso a todo o conteúdo na íntegra, inclusive a Revista Digital.

www.revistaplanob.com.br

Junho/2023

Ano 01 – Edição 06 – R$ 14,90

Grandes desafios pela frente da Câmara dos Deputados

Na volta do recesso parlamentar, a Câmara dos Deputados precisará estar preparada para enfrentar grandes desafios que se colocam a sua frente. Um dos maiores deles será dar uma resposta aos milhares de brasileiros que foram lesados por golpes cometidos por operadores do mercado de criptomoedas: um rombo estimado em mais de R$ 100 bilhões.

Esse é o objetivo principal que o deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), presidente da CPI das Pirâmides Financeiras, tomou para si. Autor do chamado Marco Regulatório da Criptoeconomia, ele decidiu propor a criação dessa CPI após tomar conhecimento de uma série de crimes utilizando moedas digitais, ao longo dos debates que promoveu durante a tramitação de seu projeto.

O deputado contou à revista Plano B que o perfil de boa parte desses investidores lesados é o de pessoas vulneráveis, que caem na promessa de um rendimento fixo acima de 10% e acabam sendo cooptados por essas organizações criminosas. Muitos deles chegam a vender casa, carro e sacam FGTS com a promessa dessas empresas que praticam esse tipo de crime. Seu objetivo a partir dessa CPI é fechar brechas e endurecer a legislação ainda mais para frear tais ações criminosas.

Em outra frente, a Câmara terá de se preparar para uma mobilização da sociedade civil para barrar a chamada PEC da Anistia Partidária, que conta com o apoio de partidos das mais diversas ideologias, da direita à esquerda, todos preocupados com possíveis punições pelo descumprimento das exigências da legislação eleitoral e até mesmo da Constituição, que determinam a aplicação de 30% dos recursos do Fundo Eleitoral em candidaturas femininas.

Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores.

A Revista Plano B não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

A frente desse movimento está a Conecta , uma empresa de advocacy que tem entre suas sócias Laiz Soares , defensora da reserva de vagas para mulheres em Parlamentos, como forma de acelerar o esforço que tem sido feito pelas mulheres ao longo dos últimos anos para ampliar sua participação em espaços de Poder.

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Julho Verde-Escuro conscientiza sobre prevenção ao câncer ginecológico

Tumores mais frequentes são no colo do útero, corpo do útero e ovário

Voltada à conscientização sobre o câncer ginecológico, a Campanha Julho Verde-Escuro chama a atenção para a importância de exames preventivos e do diagnóstico precoce da doença. Apesar da alta incidência no país, esses tumores podem diminuir drasticamente se a população seguir as medidas de prevenção.

Os cânceres ginecológicos são aqueles que afetam um ou mais órgãos do aparelho reprodutor feminino. As ocorrências mais frequentes desse tipo de câncer no Brasil são de tumores no colo do útero, no corpo do útero e no ovário. Esses tumores estão na lista do Ministério da Saúde entre os dez mais

recorrentes em mulheres no país, destaca o chefe do Departamento de Ginecologia Oncológica do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Gustavo Guitmann.

“Dentre os dez principais, em terceiro lugar, em mulher, está o câncer de colo de útero, com uma média de 17 mil casos por ano. Depois, em sétimo lugar, vem o

6 SAÚDE

corpo do útero, com em torno de 7,8 mil casos, [segundo] a estatística que saiu agora. E o câncer de ovário vem logo em seguida, com 7.310, isso em termos de incidência”, diz Guitmann.”

Sintomas como sangramentos incomuns e secreção vaginal fora do padrão devem ser investigados. A mulher também deve ter atenção se houver casos prévios de câncer ginecológico na família. Em todas as situações, a prevenção passa pelos exames periódicos.

A servidora pública Patrícia Lins estava com o casamento marcado quando descobriu um tumor no endométrio, no corpo do útero. Ela chegou a suspender a festa por causa da doença. Após analisar as alternativas com seus médicos, a solução adotada foi a retirada do órgão.

“Dizer que não me afetou em nada não seria uma verdade. Imaginar que hoje eu jamais teria um filho biológico mexeu um pouco”, conta. “Mas não era uma decisão só minha. Então, em algum momento, eu conversei com o meu noivo e falei: ‘olha, você é muito jovem, eu te deixo livre’. Fui bem honesta, ele disse não, enfim. Mas, assim, dizer que não mexeu é mentira”, lembra ela.

Foi exatamente manter a rotina de exames e as visitas ao ginecologista em dia o que salvou a vida de Patrícia Lins, com destaca o ginecologista Leonardo Campbell. “Ela tinha uma alteração. tinha um pólipo endometrial que foi descoberto no exame de rotina, uma ultrassonografia transvaginal. E aí levantou o sinal de alerta que, pelo tamanho dele, pelo formato, poderia ser, e aí foi investigado, foi descoberto no começo. Então esse é o objetivo hoje em dia”.

“Antigamente, não tão antigamente, 20 anos atrás, 80%

das pacientes com câncer morriam. Hoje 80% sobrevivem. Isso não foi tanto pela melhora no tratamento, mas mais pelo diagnóstico precoce”, completa Campbell.

A servidora pública Patrícia Lins destaca a importância do check-up anual. “Quando eu conversei com primas que tinham dois anos que não iam ao médico, sabe, [para] uma amiga minha, eu falei ‘amiga deixa eu te falar, você não tem plano de saúde, mas junta um dinheiro, uma vez ao ano faz um check-up’. Porque eu vou te falar, o preço lá na frente é muito maior do que o preço de um exame se você não cuida.”

7 SAÚDE

opinião pública e o mercado

Governo federal, É

possível que você não goste. Ou goste muito. Cada vez mais o mercado financeiro vem construindo uma relação de aprovação com o governo federal. Mais obra de Fernando Haddad, que vem surpreendendo como Ministro da Fazenda e articulador de pautas dificílimas, que pelo charme do Presidente Lula, que ainda comete os deslizes da campanha eleitoral da qual ele retorna de vez em quando e repete os equívocos tradicionais de seu principal grupo político: o seu ego.

A recente pesquisa divulgada agora em julho de 2023, realizada entre 6 a 10 pela Genial/Quaest, com gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão do mercado financeiro, reduziu de uma reprovação de 86% em maio para 44% em julho. E uma aprovação de 12% em maio para 36% em julho. É muito. E o grande responsável por isso é Haddad!

E sobre isto, se pode gostar ou desgostar, mas não é possível ficar indiferente. E isso deriva de um fator. Se no começo do governo havia uma diferença entre a opinião pública e a opinião publicada do denominado “mercado”, cada vez mais vão se encaixando as duas curvas de aprovação do governo Lula. Renascido cheio de desconfianças e dúvidas, ao menos na economia, com o desembaraço de temas como a reforma tributária, articulação fiscal e tantos outros da pauta econômica, o atual governo acaba por entregar alguns resultados e de se apropriar de uma melhor imagem após de décadas de dificuldades entre os executivos e as várias legislaturas do Congre sso Nacional.

“Renascido cheio de desconfianças e dúvidas, ao menos na economia, com o desembaraço de temas como a reforma tributária, articulação fiscal e tantos outros da pauta econômica, o atual governo acaba por entregar alguns resultados e de se apropriar de uma melhor imagem após de décadas de dificuldades entre os executivos e as várias legislaturas do Congresso Nacional.”

E aqui não há nenhuma homenagem às muitas etapas e aos seus desdobramentos nos próximos meses. Ainda há muita água por debaixo de tantas pontes que nos sobram a construir. O fato que destaco, nessa virada de semestre, é que muitas questões se tornaram soluções aos muitos desafios por um pacto que une o interesse nacional e outras negociações não tão interessantes entre base, oposições e o velho Centrão. Na avaliação dos participantes da pesquisa, a política econômica do país sob Lula começa a rumar na direção certa. Enquanto em maio de 2023 a direção estava errada para 90% (!), já em julho apenas 53% tinham esta impressão, com 47% de avaliação positiva da nossa economia. Ainda é pouco, pois quase sempre esse pessoal vê a economia apenas como lucro e resultado. Nosso país tem diversas questões econômicas a resolver, como as terríveis desigualdades de renda, a fome e a exclusão social presente em todo o nosso território. Mas começar por dar mais tranquilidade ao “mercado” e oferecer uma certa estabilidade, comprova que Haddad não apenas melhora a sua posição da porteira para dentro do governo, como amplia, da porteira para fora, as suas condições e possibilidades de ser parte do necessário diálogo nacional em torno de soluções.

Não será fácil. Da porteira para dentro a Fazenda continuará a receber as usuais pressões por mais gastos e menos políticas públicas, resultado do enorme fisiologismo que acomete a classe política nacional, mais ocupada com emendas que com o soneto das aflições do povo brasileiro. No mun-

Melillo Dinis*
8 POLÍTICA

do real, onde o Brasil acontece, os setores da economia que sofrem de uma anemia profunda, como a indústria e o comércio, enfrentarão as demandas dos setores que cresceram nas últimas décadas, como o agronegócio e os serviços. Sem contar da necessária inclusão de mais e melhor mão-de-obra e de oportunidades de trabalho e renda. Mas a maior dificuldade de Haddad será o fogo amigo, as invejas palacianas e a tradição antropofágica do seu partido, o dos Trabalhadores, que não resiste à oportunidade de transformar as brigas internas em autodestruição.

E o Lula, hein? Ele ainda continuará em campanha e oferecendo suas visões de mundo, muitas delas construídas na solidão do “eu sozinho” e de noites em Brasília e manhãs pelo resto do mundo, enquanto alimenta o sonho da reeleição. E se não der ou não puder (nunca se sabe), Haddad vai se fortalecendo como herdeiro de parte de seu legado, maior que

o seu partido e ainda menor que os desejos de grande parte da população que, por várias razões, não é devota dele nem do lado oposto, nesta polarização à brasileira em que nos metemos. A economia trará os setores médios da sociedade para uma opinião ainda mais favorável? Não sei. Anoto que já há um bom caminho andado quando o princípio tem como time torcendo a favor do governo federal a turma do mercado financeiro, tão sensível quanto obcecados com os números do país. É ainda cedo para festejarmos. Mas os operadores da economia estão mais animados que muitos de nós. É, pois, mais que hora para entender esses movimentos, seja pela curiosidade, seja pela oportunidade de transformar a melhora econômica em desenvolvimento equilibrado e cidadania.

* Melillo Dinis (advogado e analista político em Brasília)
POLÍTICA

ECONOMIA

Não comece a investir antes de ter esses três pontos resolvidos.

1) Quitar as dívidas.

Pagar as dívidas antes de começar a investir é um princípio financeiro fundamental que pode determinar o sucesso ou fracasso das suas futuras empreitadas financeiras. É uma prática sensata que estabelece uma base sólida para construir uma vida financeira saudável e sustentável. Além do mais dificilmente você conseguirá um retorno que chegue perto dos juros que você paga nos seus empréstimos.

Uma dívida pendente pode ser uma âncora que impede o seu progresso financeiro. Quando você tem dívidas, está pagando juros e taxas que consomem parte do seu dinheiro, diminuindo sua capacidade de investir e construir riqueza. Ao adiar o pagamento das dívidas em prol dos investimentos, você está arriscando seu capital e potencialmente ampliando suas obrigações financeiras.

Pagar as dívidas em primeiro lugar permite que você recupere o controle sobre sua situação financeira. Ao quitar suas dívidas, você reduz o estresse financeiro e ganha liberdade para tomar decisões mais sólidas e estratégicas em relação aos seus investimentos. Isso também ajuda a melhorar seu histórico de crédito, o que pode ser crucial para futuras transações financeiras, como a obtenção de empréstimos com juros mais baixos para investimentos de longo prazo.

2) Fazer uma reserva de emergência

Construir uma reserva de emergência antes de começar a investir é uma estratégia financeira essencial que pode proporcionar segurança e tranquilidade em tempos de incerteza. Ter um fundo de emergência estabelecido é fundamental para proteger suas finanças e garantir que você esteja preparado para enfrentar imprevistos e situações adversas.

Uma reserva de emergência é um montante de dinheiro que você separa e mantém disponível para cobrir despesas inesperadas, como uma emergência médica, perda de emprego ou reparos urgentes em casa.

Nesse ponto, investir no Tesouro Direto atrelado à SELIC é uma boa pedida. Tem o principal que é liquidez, além de uma rentabilidade maior que a poupança e um baixo risco de problemas.

3) Ter seguro de saúde e seguro de bens importantes.

Fazer seguros antes de começar a investir é uma medida de proteção financeira que pode ajudar a preservar seu patrimônio e mitigar os riscos associados aos investimentos. Ter a cobertura adequada por meio de seguros é fundamental para garantir que você esteja preparado para enfrentar imprevistos e eventos inesperados que possam impactar negativamente suas finanças.

Um dos seguros mais importantes a ser considerado é o seguro de vida. Ele desempenha um papel fundamental na proteção dos seus entes queridos caso algo aconteça com você. Se você possui pessoas que dependem financeiramente de você, o seguro de vida pode fornecer a segurança necessária para que elas possam continuar mantendo seu padrão de vida, pagar despesas e enfrentar desafios financeiros em um momento difícil.

Outro seguro essencial é o seguro de saúde. Despesas médicas podem ser extremamente caras e inesperadas. Ter um seguro de saúde adequado ajuda a cobrir os custos médicos, consultas, exames e procedimentos hospitalares, permitindo que você receba a atenção médica necessária sem comprometer seriamente suas finanças. Investir sem a proteção de um seguro de saúde pode ser arriscado, pois você corre o risco de ter que enfrentar despesas médicas significativas, o que pode afetar negativamente sua capacidade de continuar investindo.

Conclusão

Com esses três pontos em dia, é só correr para o abraço e buscar comprar ativos de valor para uma boa rentabilidade no longo prazo, em especial: ações, fundos imobiliários, imóveis e títulos de governo. E quem tiver oportunidade, e um pouco mais de dinheiro, pode diversificar ainda mais e investir parte do seu dinheiro em moeda forte como o euro e o dólar.

* Humberto Nunes Alencar, Analista de Orçamento do Ministério do Planejamento. Mestre em economia pelo IDP e doutorando em direito pela mesma instituição. Dá aulas online para pessoas que querem aprender mais sobre economia e finanças pessoais. Contatos: 061 - 994054114 e Instagram: @humbertoalencar.bsb

Humberto Alencar*
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Atrás do paradeiro de mais de R$ 100 bilhões em criptomoedas

Esse o valor estimado do rombo provocado por operações fraudulentas investigadas pela CPI das Pirâmides Financeiras

Como presidente da CPI das Pirâmides Financeiras, o deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), tem hoje a árdua missão de dar uma resposta aos brasileiros que foram lesados em golpes promovidos por operadores no mercado de criptomoedas. A estimativa é de que essas operações fraudulentas tenham provocado um rombo de mais de R$ 100 bilhões, prejudicando em especial os cidadãos mais vulneráveis que colocaram as economias de uma vida em investimentos que prometiam ganhos acima de 10%.

Nascido e criado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, Aureo Ribeiro começou a trabalhar e empreender aos 12 anos de idade e aos 16 conseguiu abrir

a sua primeira empresa. Como membro da Igreja Metodista, pôde contribuir com trabalhos sociais e perceber que poderia fazer muito mais pela sociedade. Foi assim que decidiu se candidatar ao primeiro cargo público e acabou eleito deputado federal em 2010.

Hoje, no seu seu quarto mandato na Câmara dos Deputados, Aureo segue com a mesma motivação: transformar e melhorar a vida dos brasileiros. Defensor da cultura, do incentivo ao empreendedorismo e de uma educação acessível, inclusiva e de qualidade para todos, Aureo Ribeiro acredita na importância do diálogo na política para trabalhar por justiça social e oportunidades para quem mais precisa.

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R$ 100 bilhões em operações com criptoativos. Infelizmente, o perfil de muitos dos lesados é o de pessoas vulneráveis, que caem na promessa de um rendimento fixo acima de 10% e acaba sendo cooptado por essas organizações criminosas que lesam os brasileiros. Muitos vendem casa, carro, sacam FGTS com a promessa dessas empresas que praticam

Líder da bancada do Solidariedade na Câmara e integrante da base governista, o deputado faz uma avaliação positiva dos primeiros 6 meses de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele acredita que a experiência acumulada por Lula em seus 2 primeiros mandatos presidenciais o ajudará na promoção dos ajustes necessários na articulação política do governo, previstos para o início de agosto.

Como presidente de seu partido no estado, Aureo Ribeiro faz planos ambiciosos de ampliar o número de vereadores e prefeitos do Solidariedade nas eleições municipais de 2024. Seu nome mesmo é cotado para que dispute a prefeitura de Duque de Caxias, mas ele, por enquanto, não tomou uma decisão a respeito.

Em entrevista à revista Plano B, ele fez um balanço dos trabalhos da CPI e de suas expectativas em relação a essa investigação que teve início no âmbito da Câmara dos Deputados no primeiro semestre do ano.

Qual o balanço até agora que o senhor faz do trabalho da CPI das Pirâmides Financeiras?

A CPI começou com a aprovação de requerimentos, convites e convocações. Acreditamos que esse foi o ponto de partida para nossas investigações. Agora começamos o processo de oitivas com investigados, testemunhas e convidados para que possamos aprofundar no nosso propósito de dar respostas aos brasileiros que foram lesados por essas pirâmides financeiras. Não descansaremos até que tudo seja devidamente esclarecido. Esse é o nosso objetivo na CPI e o meu particularmente como presidente que está no comando dessa investigação.

Já dá para quantificar o rombo total provocado por essas pirâmides no país e qual o perfil do investidor lesado?

A gente estima hoje que o rombo dessas operações de pirâmides financeiras ultrapasse a marca dos R$ 100 bilhões em operações com criptoativos. Infelizmente, o perfil de muitos dos lesados é o de pessoas vulneráveis, que caem na promessa de um rendimento fixo acima de 10% e acaba sendo cooptado por essas organizações criminosas que lesam os brasileiros. Muitos vendem casa, carro, sacam FGTS com a promessa dessas empresas que praticam esse tipo de crime.

Um dos principais depoimentos até agora foi o do ‘Faraó dos Bitcoins’, o que ele ajudou a esclarecer até agora?

Foi muito importante o depoimento do senhor Glaydson Acácio dos Santos _ sócio da empresa GAS Consultoria & Tecnologia, e conhecido como ‘Faraó dos Bitcoins’, que hoje se encontra preso desde 2021 e teve, por conta disso, ser ouvido por teleconferência. No âmbito da Operação Kryptos, o serviço de inteligência da Polícia

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“A gente estima hoje que o rombo dessas operações de pirâmides financeiras ultrapasse a marca dos
esse tipo de crime.”

Federal teria identificado que o computador do ‘Faraó dos Bitcoins’ indica que ele teria pelo menos R$ 400 milhões de reais em criptomoedas

O depoimento foi fundamental para que, primeiro, a gente possa entender o modelo praticado por muitas dessas pirâmides e aí fica claro aí o golpe feito por esses criminosos.

A oitiva que tivemos na CPI até agora foi do ‘Faraó do Bitcoin’. Primeiro, pudemos começar a entender como operam essas empresas. O que ouvimos é que eles atraem o dinheiro do investidor, emitem contrato ou nota fiscal sem garantia nenhuma. Além disso, fazem o papel de corretora transacionando com moedas digitais sem custodiar, sem dar garantia porque não são corretoras.

Agora nosso papel será aprofundar essa investigação e descobrir mais nuances dessas operações que lesaram milhares de investidores brasileiros.

Há grande expectativa em relação ao depoimento do chamado ‘Sheik dos Bitcoins’, o que senhor espera dele?

Nós esperamos que o senhor Francisley Valdevino da

Silva, mais conhecido como ‘Sheik dos Bitcoins’ _ que teria entre suas vítimas a filha da Xuxa, Sasha Meneghel, e o genro da apresentadora, João Figueiredo, que teriam perdido R$ 1,2 milhão em transações feitas pelo suspeito, que acabou preso preventivamente em novembro do ano passado, Em Curitiba, no Paraná _ possa ser mais objetivo e nos esclareça como ele instalou esse mercado, cooptou investidores, para que possamos aprofundar nas investigações da CPI. Esse é um dos depoimentos mais aguardados na retomada dos nossos trabalhos em agosto, após o fim do recesso parlamentar.

O senhor que propôs essa CPI e antes disso foi autor da lei que regulamentou o mercado de criptomoedas, qual sua expectativa ao final dos trabalhos dessa comissão?

Fui o autor da lei conhecida como Marco Regulatório da Criptoeconomia no Brasil. Isso nos deu oportunidade de estudar e conhecer esse mercado, buscando experiências, inclusive, em outros países.

Ao discutir o tema numa Comissão Especial que foi criada para debater o então projeto de lei junto com outros vários

14 CAPA

parlamentares, começamos a tomar conhecimento de crimes utilizando moedas digitais.

Assim, decidimos propor a CPI, com poderes de investigação para que o mercado entenda o que é crime e o que é uma aplicação com criptomoeda sem cometer nenhum ilícito.

Qual a solução para que esses crimes que lesaram tantos brasileiros sejam freados?

Esperamos que, ao final da CPI, apresentemos um relatório com três pilares: de punição aos criminosos e encaminharemos às autoridades competentes; a de informar como se pode investir nesse mercado sem cair em golpes e melhorar as leis e regulamentações para dar segurança jurídica e econômica, atraindo, inclusive investidores de outros países por ser o Brasil um país com uma legislação eficiente e moderna.

Como líder do Solidariedade, como o senhor está vendo a articulação política do governo Lula III?

A gente entende que esse é um governo com muita experiência, já que o presidente Lula está no seu terceiro mandato. Entendemos, assim, que nestes primeiros seis meses, o presidente, com toda sua experiência, já identificou onde acertou e errou. E por isso mesmo agora começa a fazer uma reavaliação da montagem do seu governo.

Sobre a articulação política, posso dizer que acredito na experiência do ministro (Alexandre) Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), que já ocupou posições importantes dentro da administração pública.

O governo começa se ajustar agora com muito diálogo para que possamos construir o Brasil que desejamos e queremos. E vai ser através da democracia,

do compromisso público e do diálogo entre Executivo e Legislativo que isso vai se dar.

As eleições municipais de 2024 estão chegando, quais os seus planos e de seu partido?

O Solidariedade tem trabalhado muito e dialogado também no estado do Rio de Janeiro. Aliás, o partido tem uma grande presença no estado, com um número expressivo de vereadores e prefeitos. Com a aproximação das eleições municipais, estamos nos articulando e negociando para ampliar essa presença do Solidariedade no Rio de Janeiro.

Estamos à disposição da legenda no âmbito dessas negociações para contribuir na ampliação do número de prefeitos no estado e também na formação de novos quadros para vereadores, para assim promover uma grande disputa eleitoral, com debates de alto nível e na construção de um futuro melhor para todos os brasileiros.

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POLÍTICA

Mais do que Apenas uma Tecnologia

Fala-se muito sobre os avanços que a tecnologia tem trazido para a produção, para o acúmulo de capital e para a alavancagem do país no cenário internacional. Muito dinheiro e esforços estão sendo investidos nessa estratégia.

Mas é urgente que se destine parte desse empenho para construir estratégias que foquem, não só, mas, principalmente, naqueles menos favorecidos dentro dessa sociedade segmentada entre os que estão inseridos no “núcleo” e os que habitam a “periferia do sistema”.

Decerto que produzir mais e melhor, com menos desperdício e dispêndio é benéfico para todos. Mas essa modernização está presente em toda a cadeia produtiva? Sim e não.

Sim, está presente naqueles produtos e serviços que abastecem as necessidades daqueles que estão no núcleo do sistema. E não, não a vemos, especialmente, nos serviços básicos ofertados àqueles que se encontram no sistema periférico.

Algo como “pobreza para os pobres” é o que sentimos ao ver a qualidade dos serviços oferecidos aos “periféricos”. Essa distinção acirra, mais e mais, as crises do mundo dito moderno, que vão da ética à economia, trafegando pela política, pela fome e saúde.

de publicidade que premia as melhores campanhas publicitárias de diversos países, onde o Brasil abocanhou 25 Leões. Um dos Leões de Ouro conseguidos pelo Brasil foi para uma campanha que uniu propaganda e tecnologia, abrangendo todo o “sistema”.

A campanha batizada de “Abrigo Amigo” nos mostra como uma bem pensada estratégia pode ser positivamente impactante na vida daqueles mais vulneráveis, sem deixar de lado o lucro almejado pelos habitantes do “núcleo”.

“Mas como fortalecer esse engajamento se o “núcleo” dá as costas aos movimentos que buscam fazer crescer esse sentimento de pertencimento? Por que somente os “periféricos” ou aqueles em situação de maior vulnerabilidade devem trabalhar pelo seu engajamento e empoderamento?”

Percebe-se um tratamento superficial aos problemas enfrentados todos os dias pelos mais vulneráveis, apesar dos diversos discursos que focam no engajamento e no empoderamento social.

Mas como fortalecer esse engajamento se o “núcleo” dá as costas aos movimentos que buscam fazer crescer esse sentimento de pertencimento? Por que somente os “periféricos” ou aqueles em situação de maior vulnerabilidade devem trabalhar pelo seu engajamento e empoderamento? Qual o papel que a tecnologia pode desempenhar nesse processo?

Em junho agora ocorreu o Cannes Lions 2023, um festival

Resumindo a campanha, a ideia foi criar, nos pontos de ônibus, uma espécie de totem interativo, embutido em painéis de publicidade adaptados chamados de Guarded Bus Stop, que oferecesse ajuda e proteção às mulheres, principalmente, em situações de vulnerabilidade advindas daqueles momentos em que elas se encontram sozinhas a espera de transporte, fornecendo a opção de iniciar uma videochamada em que um atendente humano acompanha e observa o ambiente, até que o ônibus esperado chegue no ponto e ela possa embarcar com segurança.

Essa é uma pequena, mas importantíssima amostra de que a tecnologia da informação pode trazer benefícios a todas as camadas da sociedade, sem distinção de momento ou classe social. Não devemos dispender menos para aqueles que menos podem adquirir. Podemos, e devemos, alcançar a todos com o uso inteligente da tecnologia associada a estratégias que possam assegurar o sucesso de políticas públicas

* Wilson Coelho é especialista em Políticas públicas de Saúde pela UNB, e Informática em Saúde pelo IEP-HSL e professor-tutor na Faculdade Unyleya

16 Wilson Coelho*

A luta pela reserva de vagas no Legislativo para mulheres

Essa é uma das bandeiras da Conecta, empresa de advocacy que tem a frente Laiz Soares e Luana Tavares, cuja meta principal é ampliar a presença feminina em espaços de poder

Afrente da Conecta, ao lado de sua sócia Luana Tavares, Laiz Soares encabeça hoje um movimento da sociedade civil para garantir a reserva de vagas no Legislativo para mulheres. A ideia é assegurar que essa reserva de assentos já possa ser aplicada nas eleições municipais de 2024 e, dessa forma, assegure a eleição de mais de 8 mil vereadoras em todo o país.

Segundo Laiz, esse é o caminho para acelerar a luta pela igualdade de representação entre homens e mulheres em espaços de Poder. Países que já adotaram a medida, como a Índia, por exemplo, já garantiram melhorias importantes na vida da população de um modo geral, assegurando entre outras coisas uma capacidade de resposta mais rápida para crimes contra as mulheres, a melhoria na nutrição de crianças e o aumento do empreendedorismo feminino.

Uma das prioridades neste momento da Conecta é barrar a chamada PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Anistia Partidária, que visa anular qualquer tipo de penalidade para legendas que não cumpriram as exigências da legislação eleitoral e até mesmo constitucional, que preveem a reserva de 30% das vagas das chapas proporcionais para candidaturas femininas e a destinação do mesmo percentual dos recursos do Fundo Eleitoral para mulheres candidatas.

Uma tarefa nada fácil, como alerta Laiz, diante de um acordão que está sendo costurado nos bastidores entre partidos dos mais diferentes espectros ideológicos, capaz de unir esquerda e direita, em detrimento dos interesses e dos direitos das mulheres na política.

Laiz, conte-nos um pouco sobre o nascimento e os objetivos da Conecta.

A Conecta surgiu em 2022, fundada pela Luana Tavares com o intuito de promover a pauta de mais mulheres na política, a partir de um diagnóstico de que a falta de mulheres nessas posições traz problemas sérios para o país e, portanto, é uma causa urgente. A Conecta é uma organização de impacto social com a missão de acelerar o protagonismo das mulheres na política brasileira.

Acreditamos que uma democracia forte, políticas públicas efetivas e um país mais desenvolvido, depende diretamente do envolvimento e atuação de homens e mulheres, de todas as gerações, raças e orientações. Para tanto, trabalhamos em três frentes de atuação: advocacy, formações transformadoras e diálogo com toda a sociedade.

No advocacy atuamos de forma propositiva para remover barreiras estruturais no sistema político e eleitoral que impedem a renovação política no país, e consequentemente, a entrada de mais mulheres em cargos políticos. Oferecemos programas de mentoria transformadores com o objetivo de aumentar a competitividade de mulheres dispostas a atuarem na política e também levamos para mulheres conceitos de democracia e política para uma atuação mais crítica na sociedade. Promovemos diálogo com todos os setores da sociedade e convidamos os homens a fazerem parte e apoiarem essa causa.

Qual

a prioridade hoje da Conecta?

Nossa prioridade é garantir que seja aprovada uma medida transformadora para as mulheres na política, que é a reserva de assentos. Essa medida, que consiste em reservar um determinado número de vagas para as mulheres serem

18 POLÍTICA

eleitas, acelera muito o tempo da igualdade de gênero e traz grandes benefícios para aumentar a participação feminina na política.

Países como a Índia implantaram esse tipo de reserva e estudos observaram grandes avanços nas comunidades. As reservas de assento no país levaram a uma presença maior de lideranças mulheres, o que gerou uma maior capacidade de resposta da polícia aos crimes contra as mulheres, a melhorias na nutrição das crianças e nos resultados educacionais, e ao aumento do empreendedorismo feminino.

Esses resultados se somam a outros trabalhos desenvolvidos pelo mundo que afirmam que a presença feminina em posições de decisão tem um efeito encorajador para outras mulheres.

Recentemente vocês se uniram a outras entidades contra a aprovação da PEC da Anistia Partidária. Como está essa luta?

A luta está inglória, desafiadora. Temos indicativos de que há um grande acordo entre a maioria dos partidos para que a anistia passe, é o tipo de pauta que une esquerda e direita no Brasil, mesmo em meio a tanta polarização. É uma agenda fisiológica de autopreservação dos partidos, é muito duro e cruel lutar contra isso, mas não podemos desistir.

Quais são os planos da Conecta para as eleições de 2024?

O principal é ver a medida de reserva de assentos já aprovada para valer em 2024, o que vai inserir mais de 8 mil vereadoras em todo país, praticamente dobrando o número de

eleitas. Estamos, além disso, amadurecendo internamente a ideia de um programa de aceleração/mentoria de candidatas.

Como vocês estão vendo esse movimento do Centrão mirando em especial cargos ocupados por mulheres no governo Lula?

Isso mostra o quanto é difícil ser mulher no poder e na política. A mulher é sempre vista como o alvo mais fácil de se mirar, o lado mais fraco da força. É cruel e muito triste, deplorável. Em pleno 2023, não deveria ser mais aceitável nem algo a ser banalizado, mas ainda é.

O que vocês consideram que seja o maior desafio das mulheres na vida política brasileira?

Difícil definir um único desafio, mas se tiver que priorizar, eu diria que ter acesso ao poder, a recursos, a financiamento que torne a mulher viável politicamente. Esse é o jeito mais cruel de tirar a mulher do jogo, privando-a de poder disputar em termos mais competitivos e ser um player relevante na política, ter voz e vez.

Que conselho dariam que as mulheres que estão pensando em ingressar na carreira política?

Estude, se prepare, e principalmente encontre mentores, aliados, pessoas com mais experiência na política que possa te orientar. Tenha o máximo de pessoas que entendem de política e já viveram experiencias ao seu lado. A política é complexa e é necessário aprender com quem já vivenciou. Saiba que não será fácil, se fortaleça com rede de apoio e se prepare emocionalmente.

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POLÍTICA

Chegou a hora da Tarifa Zero?

De repente parece que todo mundo descobriu a Tarifa Zero, mas não foi sempre assim. Quando a então prefeita Luíza Erundina a propôs para a cidade de São Paulo pouco mais de trinta anos atrás, não conseguiu nem o apoio integral de seu partido, na época o PT, quanto mais a aprovação da Câmara de Vereadores. Podíamos tentar listar as críticas que a proposta sofreu mas, a rigor, quase não cabe chamá-las de críticas, porque a reação mais comum era não levar a ideia a sério.

Com o tempo o tempo e a perseverança dos formuladores do projeto, a ideia foi ganhando defensores, principalmente entre os movimentos populares contra os aumentos de tarifa e pelo passe estudantil. A partir de meados da primeira década dos anos 2000, consolida-se o MPL, Movimento Passe Livre, que abraça definitivamente a bandeira, não apenas erguendo-a em todas as manifestações que promove e de que participa, mas também debatendo-a em eventos, audiências públicas nos parlamentos etc.

As chamadas Jornadas de Junho de 2013 deram visibilidade extra à proposta, especialmente quando o MPL foi chamado a conversar no Palácio do Planalto, embora o episódio tenha se revelado muito mais um lance midiático destinado a reduzir as tensões nas ruas do que uma iniciativa genuína de colocá-la na agenda do governo. De todo modo, uma cidade aqui e outra ali foram implantando a Tarifa Zero em seus territórios e a experiência quase isolada de Agudos, em São Paulo, com menos de 40 mil habitantes, espalhou-se por quatro dezenas de cidades brasileiras, incluindo algumas do porte de Maricá, no Rio de Janeiro, com mais de 200 mil moradores.

O que mudou nessas três décadas? Por que é tão significativo o número de municípios que banca a gratuidade do uso do transporte coletivo para suas populações? E por que mais e mais administrações têm trabalhado para implementá-la, inclusive as gigantes paulistana e carioca?

Primeiro é preciso lembrar que não se observa esse mo-

vimento apenas no Brasil. O crescimento da experiência da Tarifa Zero tem acontecido em países de todos os continentes. Segundo, as mudanças climáticas deixaram de ser uma ameaça do futuro para ser uma realidade presente e de proporções catastróficas. E, por mais que se desenvolvam carros movidos a energia renovável, a mobilidade baseada em veículos individuais nunca será sustentável. Terceiro, a recente crise sanitária desnudou a lógica cruel de maximizar lucros lotando ônibus e demonstrou a inviabilidade de um negócio pago por clientes cada vez mais pobres.

Em resumo, podemos estar assistindo a uma alteração no modelo de financiamento como alternativa para salvar o próprio negócio. Se é isso, cabe usar a oportunidade para qualificar a mudança de paradigma, de maneira que ela não se resuma a um mero ajuste na forma de acumulação do capital. Nesse sentido, é muito bem-vinda a inciativa da Coalizão Mobilidade Triplo Zero, uma rede de movimentos, entidades, pesquisadores e gestores que se articula com os objetivos de zerar a tarifa cobrada dos passageiros, as emissões de poluentes produzidos pelos veículos e as mortes provocadas por sinistros nos sistemas de transporte. Ainda havemos de ouvir falar muito disso, mas por ora vale consultar o site mobilidadetriplozero.org.

Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal da Bahia (1983), mestrado em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992) e doutorado em Transport Studies pela University of London (University College London) (2001).

Paulo Cesar Marques da Silva *
* Paulo Cesar Marques da Silva é professor da área de Transportes da Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília.
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“E por que mais e mais administrações têm trabalhado para implementá-la, inclusive as gigantes paulistana e carioca?”
MOBILIDADE

COMPORTAMENTO

Uma nova referência para as mulheres negras na política

A deputada distrital trocou recentemente o Agir pelo MDB na expectativa de ajudar o governo Ibaneis e garantir mais espaço para atual na Câmara Distrital

Com a grande experiência acumulada como delegada da Polícia Civil e também secretária de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude, além de ter sido administradora de Sobradinho e chefe da Controladoria Jurídica da antiga Companha de Planejamento do DF (Codeplan) e também da assessoria de Inteligência e Informações Estratégicas da Controladoria-Geral do DF, a deputada distrital Jane Klebia busca aplicar todo o aprendizado em seu mandato. Nascida em Brasília, essa mulher negra contou à revista Plano B os principais desafios que enfrentou para chegar aos espaços de Poder que ocupou ao longo de sua trajetória. Sua expectativa é que a porta aberta por ela abra o caminho para outras mulheres negras sigam ocupando seu espaço de direito nos grandes debates do país.

Como está sendo sua experiência na Câmara Distrital, depois de ter atuado em tantas funções e áreas diversas?

O grande desafio na Câmara Legislativa é juntar todas essas experiências e transformar em contribuições que possam gerar boas políticas públicas. Me ajuda a fazer a fiscalização, que é uma atividade precípua do parlamentar e a conduzir a equipe, porque com certeza, na delegacia, na chefia desses outros órgãos, a equipe era menor.

Aqui, a equipe é muito grande e a gestão não é mais para um grupo específico. Agora tenho de usar a gestão do mandato para contribuir para todo DF, esse é o desafio. Para isso, estou dividindo meu trabalho por eixos. O de defesa da mulher vai ocupar a maior parte do meu mandato. Outro eixo é o que trata da segurança pública, através do qual trago a minha experiência, já que foi minha última casa, onde estive por 24 anos. Além de um eixo territorial, que foca nesse primeiro momento do mandato, na saída Norte, que é a área onde eu resido, onde tive atuação como delegada. Mas sem perder de vista as outras áreas de Brasília. Então essa divisão em eixos tem me ajudado a conduzir o trabalho que eu preciso fazer como parlamentar e associado à minha experiência por todos esses órgãos por onde eu passei, onde eu tive alguma atividade e acumulei conhecimentos.

As mulheres ainda são minoria nos espaços de Poder. Já sofreu algum tipo de violência política de gênero ao longo de sua trajetória profissional e política?

Então falar de violência política é um tema muito novo, mas que tem ganhado muito destaque, ainda é um tipo de violência pouco estudado, mas acredito que ela se manifeste aí pelas poucas oportunidades e espaços oferecido as mulheres. Quan-

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do as mulheres são colocadas nos espaços, não se tem como prioridade nem a mulher, nem a política da mulher, mais sim a mera ocupação de espaço para cumprimento da legislação. Então as mulheres vêm sem perspectivas, sem apoio suficiente. Os recursos financeiros destinados às mulheres são sempre menores que os recursos destinados ao restante. Então acho que é preciso mudar esse foco, entender que a mulher é importante nos espaços de Poder e oferecer condições efetivas para que ela consiga ganhar uma eleição.

Esse é o grande desafio, porque você chegar para o partido e falar que você, ao ter recebido poucos recursos, está diante de uma violência política, as pessoas não conseguem entender isso. Partido tem estratégia e fez e opção, né? Por oferecer recurso a esse ou aquele que tem mais ou menos condições de eleger-se. Mas o fato é que essa escolha vai fazer com que a mulher consiga chegar ou não. Ou servirá simplesmente para fazer número e só preencher um espaço. Então acho que o tema violência política precisa ser mais debatido, para que seja melhor entendido.

Quais são os principais desafios de uma mulher negra na política?

Acho que primeiro dos desafios da mulher, antes mesmo de ser a escolhida pelo partido, a gente em enfrenta em casa. Convencer o companheiro de que você pode estar nesse espaço de poder, por mais que tenhamos nos libertado das tarefas domésticas e estejamos hoje dividindo os cuidados dos filhos com companheiro, a mulher ainda é vista como alguém que deve coordenar o lar, mesmo que trabalhe fora, então isso acaba criando alguma dificuldade para ela. Ainda mais tendo essa dedicação integral que a política exige da gente.

Mesmo sendo representando algo entre 52% e 54% da população total, as pessoas ainda veem a mulher negra no espaço de poder com muita estranheza, até com incredulidade. Então desafio é mostrar que a gente pode estar onde a gente quiser, que a gente tem capacidade de ocupar esses espaços. Isso não é fácil nem rápido, mas a gente precisa, no dia a dia, estar nesse espaço e defender esse espaço para outras mulheres, em especial as negras, sigam ocupando esse espaço de direito delas.

Empoderar a mulher no espaço da política ou na gestão de órgãos públicos, ou mesmo na iniciativa privada, no comércio, é um desafio de toda a sociedade. Até a minha posse como mulher negra, as pessoas precisam entender a dificuldade que eu passei para chegar nesse espaço. É preciso dar a mão para outras, ser espelho para essas outras serem alguém. Ser uma referência para elas é um grande orgulho e também grande desafio.

A senhora tem uma relação próxima com o governador Ibaneis, tanto que trocou o Agir pelo MDB recentemente. Qual sua avaliação desse segundo mandato dele, depois de o governador ter sido afastado do cargo após o 8 de janeiro?

O governador Ibaneis teve provado nas urnas a aprovação do seu mandato. Foi eleito em primeiro turno e isso prova que a população de Brasília o queria governando por mais quatro anos. Após o 8 de janeiro, ele foi afastado e nada ficou provado em relação à sua conduta com relação àquele tão desastroso dia.

O governador, ao contrario do que alguns dizem para mim, saiu fortalecido, porque ele contribuiu com as investigações, entregou o celular, aceitou todas decisões judiciais e voltou fortalecido porque nada foi provado contra ele. E desde então tem feito grandes entregas de obras pela cidade. Tenho participado de diversas inaugurações, dessas entregas importantes para população de Brasília.

Tenho muita expectativa nesses próximos 3 anos e meio que estão aí de mandado, para que realmente consiga consolidar a política que ele iniciou na gestão passada, e minha ida para o MDB o fortalece.

Eu tive a possibilidade de sair do Agir diante do fato de a legenda não ter alcançado a clausula de barreira, mas não sai com porta fechada, sai com anuência do partido, que entendeu que era necessário que eu realmente buscasse uma agremiação que tivesse recursos e que pudesse proporcionar e aos seus candidatos, aos seus filiados, melhores condições. Escolhi o MDB porque é um partido forte e que realmente vai se fortalecer na CLDF agora, provavelmente com 5 ou 6 deputados, então vai ser a maior agremiação na Câmara Legislativa. Espero junto com os demais parlamentares que possamos realmente fazer grandes entregas para a população de Brasília.

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COMPORTAMENTO

Nos deixem viver

Ser repórter de Cidades é uma das experiências mais enriquecedoras para a carreira de um jornalista. A variedade de pautas que a editoria engloba nos dá acesso livre a diferentes espaços de poder onde decisões importantes para a sociedade são tomadas: parlamento, delegacias, tribunais, embaixadas, sedes de governos, secretarias, ministérios, fóruns, etc. Algo que sempre me chama atenção é a pouca quantidade de mulheres ocupando espaços de liderança nestes lugares. O coração aquece e a feminista em mim sente que vive em um mundo minimamente justo cada vez que vejo uma mulher delegada, juíza, senadora, conselheira, deputada, ministra... Eu também sinto que vivo em um mundo menos desigual sempre que vejo mulheres exercendo funções tipicamente masculinas: pedreiras, garis, motoristas de ônibus, vigilantes, etc.

No entanto, ainda é pouco, ainda há um longo caminho a se percorrer até que possamos dizer que há equidade de gênero nos espaços de liderança no Brasil.

Ser repórter de Cidades também é ser um dos primeiros a saber quando algum crime brutal acontece na cidade. Tem que ter estômago. Estupros, agressões, assassinatos, pedofilia, homicídios a sangue frio... A gente vê de perto o sofrimento de famílias, a luta da polícia na busca por respostas, a saga por justiça, a angústia quando os criminosos estão foragidos. Muitas vezes, passa pela nossa cabeça a dúvida: “Será que assino a matéria? E se o criminoso vem atrás de mim?” Mas ao mesmo tempo, temos um papel importante na sociedade ao reportar crimes e estatísticas que mostram o que acontece onde as pessoas moram.

Nada me revolta mais do que saber que uma mulher morreu apenas por ser mulher. Isso tem se tornado tão recorrente que ganhou até uma nomenclatura: feminicídio, um homicídio qualificado que compõe o rol de crimes hediondos no código Penal. Um crime cometido em razão de gênero, o trágico ápice da violência doméstica. Só em 2023, já foram 20 casos no Distrito Federal, mais do que a quantidade registrada em todo o ano de 2022. Teve uma semana em que foram registrados

quatro casos, dois em menos de 48 horas. A gente estava começando a entrar em um ciclo onde a ocorrência de feminicídios estava se tornando corriqueira. Eu me recuso a normalizar essa rotina. É preciso se indignar, se revoltar, fazer um escândalo, meter a colher e fazer o que for possível para impedir que mulheres sejam agredidas, porque, infelizmente, elas não estão sendo “só” agredidas, elas estão sendo massacradas. E o feminicídio não acontece da noite para o dia, o ciclo da violência começa com pequenas agressões verbais, psicológicas, físicas. É um crescimento gradual que está ligado à dependência financeira e emocional que algumas mulheres têm dos companheiros, que muitas vezes se tornam algozes. A maioria dos feminicídios acontece em casa, às vezes na presença dos filhos. São tantos os órfãos do feminicídio que políticas públicas já estão sendo desenvolvidas diretamente para estas crianças. Mas, infelizmente, ainda há muitas perguntas sem resposta: o que é preciso fazer para frear essa onda de feminicídios? Punições mais severas? Mais rigor no monitoramento de ordem de restrição? Acolhimento mais efetivo das vítimas para que elas se libertem de seus algozes? É uma questão de segurança pública, mas a sociedade civil também tem que agir para impedir qualquer mínimo ato de violência sofrido por uma mulher, pois isso pode ser trágico no futuro.

As mulheres precisam ter sua autonomia conquistada e preservada. As mulheres precisam ser livres. Livres para dizer não, livres para ir embora, livres para usar um batom vermelho, livres para usar a roupa que quiser sem ser julgada e humilhada. Livres para viver e ocupar espaços de poder.

Não podemos normalizar essa opressão às mulheres, pois o ciclo gerado pela normalização de pequenos atos de violência contra a mulher tem culminado em um verdadeiro massacre.

*Mila Ferreira é repórter do Correio Braziliense. Formada em Jornalismo pelo IESB e pós-graduada em Direitos Humanos, Responsabilidade Social e Cidadania Global pela PUC-RS

Mila Ferreira*
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“É preciso se indignar e fazer o que for possível para impedir que mulheres sejam agredidas, porque, infelizmente, elas não estão sendo “só” agredidas, elas estão sendo massacradas”
COMPORTAMENTO

Caça às Bruxas

Até o começo de julho, de 2023, o Distrito Federal registrou 19 feminicidios.

Três deles, em menos de uma semana.

Não são números.

São vidas destruídas.

Não apenas dessas mulheres, mas, de uma rede que perpassa por filhos, mães, pais, enfim, famílias destroçadas.

A maioria foi morta por companheiros ou ex-companheiros, que não aceitavam o fim do relacionamento.

Não aceitavam o fato de essas mulheres serem livres para viverem suas próprias vidas.

Homens, que traíram, abandonaram, agrediram as companheiras e mesmo assim, não aceitaram o NÃO de uma mulher.

Em geral, esses crimes cruéis estão relacionados ao uso de drogas ilícitas ou álcool.

Mas, por que os alvos são sempre as mulheres? Por que esses mesmos homens, drogados ou embriagados, não brigam, gritam ou tentam matar um colega de bar ou qualquer outro homem?

Os alvos certeiros são sempre as mulheres, mais frágeis, desarmadas, desprotegidas...

E, mesmo mortas, elas continuam sendo as culpadas, nos argumentos frágeis de advogados, assassinos e de parte de sociedade.

O que esses crimes tem em comum? Uma cultura machista, que até há poucos anos, tinha o aval da “justiça” para inocentar os criminosos, que matassem a companheira em ‘ legítima defesa da honra.’

Uma inversão de valores, que insiste em perpetuar e permanecer em nossa sociedade.

‘Mas, por que ela não pediu ajuda? ‘

‘Por que não solicitou uma medida protetiva?’

‘Por que não informou à justiça que o agressor estava desrespeitando à determinação?’

‘Por que já estava se relacionando com outra pessoa?’

‘Por que não se manteve calada e falou tantas coisas, atiçando assim, ira masculina?’

São tantos os “porquês”, que, a mulher, esfaqueada pelas costas ou com um tiro à queima roupa, ou mesmo morta com a pia do banheiro ou estrangulada, se transforma de vítima à vilã, em segundos.

Uma cultura machista que nos coloca como objetos, sem valor, sem sentimento, apenas objetos que são descartados, manipulados ou destruídos, quando convém.

A mesma cultura que coloca o Brasil como líder do triste ranking que mais mata o grupo LGBTQIA+, no mundo. Querem nos dizimar. A não ser que continuemos sendo a “dona do lar”, fazendo o trabalho doméstico invisível e sem nenhuma recompensa, muito menos remuneração.

A não ser que continuemos oferecendo nossos corpos, para que a humanidade não acabe, ainda que tenhamos que criar os filhos sozinhas ou com algum tipo de “favor” dos pais.

A não ser que fiquemos caladas, diante de qualquer tipo de agressão e opressão, sem expressar nossas opiniões.

A não ser que não ocupemos as universidades, o mercado de trabalho, muito menos, postos de destaques.

Na antiguidade, quem ousava passar dos limites impostos pelos homens, eram consideradas bruxas e mortas em fogueiras ou forcas.

Hoje, as fogueiras e forcas são outras, não menos cruéis.

E você acredita mesmo que a caça às “bruxas” acabou?

Atualmente, apresenta o Band Cidade Segunda Edição, jornal local, que vai ao ar, ao vivo, de Segunda à Sexta, às 18h50. Também apresenta o Band Entrevista, que vai ao ar, aos sábados, às 18h50.

Formada em Psicanálise e Mestranda Especial da UNB em psicologia clínica.

“O que esses crimes tem em comum? Uma cultura machista, que até há poucos anos, tinha o aval da “justiça” para inocentar os criminosos”
Renata Dourado*
* Renata Dourado é formada em Jornalismo pelo Uniceub e trabalha na TV Bandeirantes há mais de 13 anos.
25 POLÍTICA

CONTOS EM CONTA-GOTAS

Partiu Aspen,

Colorado

Aproveitando-se da sua condição de bela jovem, no conjunto total da obra, como rosto, corpo escultural, cabelos fantásticos e um sorriso de parar o trânsito e por conta disso podendo escolher entre inúmeros velhos babões e mega endinheirados, que pagam para ter uma beldade como ela para desfilar diante de amigos e inimigos, Mary Jane conseguiu fisgar um marido milionário.

Nos intervalos entre compras intermináveis nos shoppings, ela cultivava o prazer em viagens.

Ouvindo falar sobre Aspen, e ainda por cima saber que a estação fica localizada no estado norte-americano do Colorado, ela fez sua voz mais sensual e sugeriu ao marido viajarem para lá.

Assim que chegaram ela desdenhou de pronto do seu companheiro devido às inúmeras vezes em que ele a incentivara a estudar inglês, e de si para si chamou- o de metido à besta. Nem precisa ser dito que ela jamais acatou a sugestão. Ela estava convicta de não precisar queimar seus neurônios, pouquíssimos é verdade, já que para ela o português e o inglês são parecidíssimos na grafia.

Aspas, no estado Colorido!

Ah, como são esnobes e presunçosos esses nascidos em berços esplêndidos, falou novamente ela para seus botões.

Estava ansiosa para fazer um tour pela estação e observar todas as aspas

coloridas que encontrasse pelo caminho, e ficou a imaginar uma enormidade delas coloridas de várias cores, de neon, de leds, e de maís quantas outras tecnologias houvessem.

O velho atendia a todos os caprichos de Mary Jane, sempre com o olhar bobalhão, mas confiante por estar ostentando o mais lindo troféu que um homem em sua idade avançada poderia exibir.

A história desse casal não é de vítima e algoz, pois eles se mereciam e se completavam como peças de um quebra-cabeças demodée.

Já na primeira volta pela localidade a moçoila começou a dar um piti, pois não encontrara uma aspa colorida sequer. Pelo contrário, ela logo ficou entediada com a paisagem monocromática causada pela neve que caía abundantemente.

Ela não quis demorar nem o tempo suficiente para escrever uma mensagem para a sua amiga Mary Lou, algo que ela sempre fazia a cada novo lugar que visitava.

O escândalo que fez diante do marido o fez ficar tão atordoado a ponto de deixarem toda a bagagem levada, no hotel.

Claro que o fofo antes do abandono da bagagem prometeu à sua amada que ela poderia usar seu cartão de crédito sem limite, e renovar dessa maneira todo o seu closet.

Felizes, ambos deram meia volta e rumaram para o aeroporto para pegar um voo com destino ao Brasil, antes da próxima localidade para a qual sua garota quisesse se dirigir.

Por
Ângela Beatriz Sabbag
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TIJOLADAS DO CAIXA

Mais uma Pernada

Por JOSÉ GURGEL

Ontem foi dia de mais uma Audiência Pública sobre a Participação Público Privada – PPP, que foi convenientemente transformada em uma Concessão pra facilitar a vida dos chegados, pois na realidade é um jogo de cartas marcadas, com aquela velha conversa de quem se posicionou contra essa criminosa armação, não quer o progresso, é contra o empresariado ou tem alguma conotação político partidária e outras baboseiras. Apesar dos inúmeros protestos durante a audiência, ela será empurrada goela abaixo da população apenas satisfazendo os famosos amigos do rei, onde alguns ganham e a população se ferra.

Emissários do governo com aquela conversa fiada de sempre, apresentam-se para defender com unhas e dentes os projetos mirabolantes produzidos em gabinetes, de muitos que sequer conhecem a realidade do nosso Guará.

Esquecem totalmente dos votos de cidadãos do qual eles são representantes, uma Câmara com 24 representantes da população, apenas dois estavam presentes, pois assuntos que interessam a população não fazem parte dos interesses dessa galera.

O restante, na verdade deu uma banana para a população, pois assuntos onde o interesse maior da população está em jogo, evitam aparecer.

Deveriam agir em defesa do coletivo, não de grupos ou de interesses individuais como costumam fazer, na maior cara de pau.

Chega a dar nojo como agem em defesa de seus patrões, como se a cons-

ciência e a opinião de cidadãos decentes estivessem à venda. A população ficou na certeza que mais uma vez vai sair perdendo, pois a Audiência Pública, mostrou o que podemos esperar de tudo isso, garanto que nada de bom sairá para a população.

O Guará sangra com essas ideias mirabolantes que querem impor a ferro e fogo, pois os amigos do rei estão cobrando o pedágio, que, como sempre, será pago com o patrimônio público, que é do povo. Nossa cidade carece cada vez mais de obras de infraestrutura, e o que se vê é um festival de mágicas mirabolantes, como exemplo cito o inútil calçadão da Feira do Guará, sem que nada venha solucionar ou minorar os problemas do Guará.

O TÚNEL

O Caixa Preta é um gozador nato, agora com a escolha do nome do túnel de Taguatinga, ele deita e rola.

O nome dado ao túnel foi do jogador de futebol Pelé, até aí tudo bem, mas afinidade do tal jogador com Taguatinga é praticamente zero, mas pra enfeitar a coisa, o Caixa resolveu bolar um conto onde Pelé é o personagem principal.

Segundo cabra, o menino Pelé morava na Ceilândia, foi nos campinhos de futebol da cidade onde se projetou para o futebol.

Lembra quando o Santos F.C o procurou para treinar nas equipes de base do time, foi com imensa tristeza que ele deixou os colegas de pelada e amigos, indo pra

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Santos onde foi morar e jurou nunca mais pisar em Ceilândia terra que tanto amava, mas estava feliz em sair dali.

Pelé como jogador de futebol foi sem dúvida alguma um dos grandes da história do futebol, um marcante personagem desse esporte apaixonante em todo o mundo, merecidamente o futebolista do século isso ninguém tem dúvidas.

Mas fora dos gramados, uma lástima, depois de sua aposentadoria, inteligência nunca foi o seu forte, fora dos campos nunca perdeu uma oportunidade de falar alguma pérola, gostava muito de dinheiro no que não o critico e puxar saco sem necessidade dos poderosos, mas quando era pra falar sobre coisas sérias, sai da frente, era uma asneira atrás da outra.

Mas graças a sabedoria de alguns humoristas que assessoram o iluminado governador, que dotado de uma sapiência de ameba, resolveu encampar a ideia dos aspones de plantão, batizou o túnel com o pomposo nome de Rei Pelé.

Uma linda homenagem de um inútil pra outro, como se Taguatinga ou mesmo o DF não tivesse um nome sequer que merecesse tal homenagem.

Na minha humilde opinião, está na hora de mudar esse tipo de homenagem, procurando sempre homenagear quem tem alguma afinidade com a cidade ou o DF, pois senão daqui a algum tempo teremos uma homenagem as Cegas Virgens

da Patagônia, que na visão dessa turma, viveram em terras vizinhas mas sempre estiveram de olho no DF.

Já tem um bando de gaiatos a procura de um apelido para o túnel, já ouvi um bocado, o pessoal é bem criativo, logo será tão conhecido como aquele do centro de Brasília, o famoso Buraco do Tatu.

Arre égua!!

O MONUMENTO

O Caixa Preta todo risonho veio me contar, sobre calçadas que estão sendo feitas aos montes, inclusive uma que chamou a atenção dele, fizeram uma calçada numa rotatória.

Segundo o velho Caixa a calçada deve ter sentido, pois leva direto ao monumento ao poste desconhecido, diz ele que chorou emocionado com essa ideia fantástica de desperdício de dinheiro público.

Com o pomposo lançamento do programa: Minha Calçada, Minha Vida lançado recentemente, os problemas do Guará em relação a calçadas estão findos.

Ledo engano, pois os milhares de metros de calçadas que poderão vir a ser implantados por aqui apenas deixarão ex-

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TIJOLADAS DO CAIXA

TIJOLADAS DO CAIXA

posto cada vez mais o problema de mobilidade e acessibilidade aqui em nossa cidade.

Parece uma maquiagem sem planejamento algum, simplesmente fazer por fazer mas sem enfrentar os reais problemas que venham resolver definitivamente ou minorar as nossas deficiências urbanísticas, estão longe de acontecer, pois o que se vê é muito oba-oba que simplesmente resultarão em nada.

Rezo para estar errado, mas as chances são minímas, muitos planos sequer sairão do papel, tudo na base do me engana que eu gosto.

Basta ver este vergonhoso calçadão até hoje inacabado e a ciclovia que sai do nada para lugar algum.

Isso tudo sem apresentar soluções para os problemas já existentes que parecem esbarrar na inépcia em resolver velhos problemas ou ao menos tentar resolver.

As explicações não convencem, nem dão esperança de serem solucionados, enquanto isso o povo fica sofrendo com esses descalabros.

O que tem que ser feito é terminar o que ainda não foi terminado, talvez até pensando em outras alternativas para implantação futura.

Para isso não existe fórmula mágica, a única que conhecemos e esperamos que aconteça é que sejam feitas, não fiquem apenas no projeto ou no imaginário de alguns.

Te cuida, Guará!

LEMBRANÇA DE UM BEIJO

Um frio de lascar, não sentia muita vontade de sair mas resolvi dar uma espiada na festa de São João do Guará que rolava lá pras bandas do Consei.

Tinha visto uma grande área cercada, imaginei que talvez mais uma construção surgiria por ali, trazendo mais moradores para a nossa cobiçada cidade, nem me toquei que ali aconteceria um dos maiores e mais tradicionais eventos nessa época do ano.

Na verdade eu gosto muito de festas juninas, ainda mais contando com o nível de organização dos promotores , que a cada ano parecem ganhar folego para fazer o evento ser cada vez melhor.

Não me arrependi, ouvindo ao longe o som do forró pé de serra pra lá de animado, onde um cantor soltava a voz, fui até lá e no terreiro uma multidão se divertindo na maior alegria que contagiava a todos, tinha gente de todo lugar.

Velhos, crianças, jovens numa animação que fazia inveja a muitos eventos que paralelamente acontecem por aí em diversos pontos do DF.

São festas assim que o nosso Guará merece, fazendo com que a população saia de casa numa noite fria de junho, com toda a família para desfrutar de uma festa tão popular como o São João.

Tinha quadrilha, quentão, milho assado, enfim, tudo que uma boa festa de São João exige. No auge da folia junina, quando a quadrilha muito bem ensaiada, apresentada por um grupo de jovens, meus pés já não se continham e ameacei uns passos tímidos ao som das músicas que tocavam para a alegria de todos.

Apesar do calor da festa, o frio me atacava, a idade nos torna mais vulneráveis. Saí de fininho com aquele gostinho de quero mais, ainda ouço a voz fanhosa do Fagner:

Quando a saudade invade o coração da gente Pega a veia onde corria um grande amor Não tem conversa nem cachaça que de jeito Nem um amigo do peito que segure o chororô...

Quem foi gostou e muito, quem não foi aguarde, pois no próximo ano vai( se) melhor ainda, tenham certeza que os promotores da festa já devem estar pensando em como tornar esse evento uma marca tradicional não só do Guará, mas do DF.

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Médicos e a Sociedade: Turbulência à Vista!

Cada vez mais observamos situações de conflito em cenários de cuidado à saúde. Demora no atendimento, falta de empatia do profissional que atende, insatisfação com o tratamento e até suspeitas de erro médico são alguns dos motivos. Desentendimentos entre médicos e pacientes não são novidade, mas com o advento das redes sociais, notícias sobre esses embates podem atingir grandes públicos e ter repercussões gigantescas. Muitas vezes, soma-se um sensacionalismo aos fatos, buscando autopromoção de alguma das partes e aumento da audiência.

O caso mais triste, ocorrido recentemente e que exemplifica bem um mal entendimento entre médicos e sociedade, foi o de um cirurgião pediátrico do Piauí, de 50 anos, que tirou a própria vida após ter sido indiciado por homicídio culposo de uma criança de 6 anos. O experiente médico teve uma complicação grave indesejada após realizar uma punção venosa profunda na criança, que acabou resultando em óbito. Polícia e imprensa o acusaram duramente, condenando-o publicamente antes mesmo de um julgamento adequado. O médico não suportou a pressão. Procedimentos como esse podem, ainda que raramente, apresentar complicações fatais. O desfecho não pode ser considerado erro médico, mas foi assim interpretado pela opinião do público leigo.

Há muitos motivos para a tensão existente entre médicos e usuários de serviços de saúde. Toda situação de doença já é, por si só, geradora de stress, medo e insegurança e leva à exigência de uma rápida solução. Por outro lado, nos cenários de atendimento, é preciso lidar com a falta de infraestrutura e de investimento adequado, a desigualdade de acesso aos serviços médicos, o mal entendimento do sistema e má comunicação entre as partes envolvidas. Há muitos intermediários no contato médico-paciente, como seguradoras de saúde e centrais de regulação, que podem atrasar e dificultar o atendimento da pessoa doente. A visão mercantilista da saúde gera honorários médicos cada vez mais baixos, o que resulta em consultas cada vez mais breves. Há menos tempo para a criação de uma relação adequada entre o paciente e o médico e para um correto processo de diagnóstico e tratamento. A crença de que exames diagnósticos são mais importantes que o raciocínio clínico faz com que esses sejam priorizados, em detrimento da consulta médica.

Em meio a essas distorções, é fundamental lembrarmos da importância de humanizar a relação médico-paciente.

Isso é uma via de mão dupla. Assim como é esperado que o médico demonstre empatia e respeito pelo problema de quem lhe pede ajuda, é igualmente importante que aquele que recebe o cuidado confie que está diante de um profissional ético e íntegro, cujo propósito primordial é ajudar. Mas é preciso lembrar que esse ser humano, apesar de investido de um papel de curador, sofre de inseguranças, incertezas, medos e imperfeições. É um ser humano cuidando de outro ser humano. A atividade médica não garante resultados. Há, sim, o compromisso de se fazer o melhor possível em busca do bem-estar do paciente. É certo que essa atividade vem sofrendo, aos poucos, de uma grande perda de credibilidade, agravada por omissões, posicionamentos inadequados e corporativismo dos órgãos regulatórios.

No dias 14 e 15 de agosto, como ocorre a cada 5 anos, serão realizadas eleições para os Conselhos Regionais de Medicina em todos os estados do país. Os médicos escolherão conselheiros que representarão a classe perante a sociedade. As funções do Conselho vão desde a fiscalização da prática da Medicina, reprimindo más condutas e o charlatanismo, até a mediação do debate com outras entidades em questões relacionadas à atividade médica. Devem também promover ações educativas, atuar na divulgação de informações confiáveis e no combate às fake news na área da saúde. Nesse momento, terão a responsabilidade de trabalhar seriamente para reconstruir as boas relações entre médicos e pacientes, bem como a credibilidade da prática médica na sociedade. É do interesse de todos que esses órgãos sejam imparciais e apartidários, comprometidos apenas com a ética, a ciência e o humanismo. Vamos ficar atentos a isso.

Em última análise, a relação entre médicos e a sociedade é fundamental para a construção de um sistema de saúde eficaz. Ambas as partes devem buscar a compreensão mútua, o respeito e o diálogo aberto para superar as tensões e desafios existentes. A valorização da Medicina como uma profissão de cuidado e a busca por uma relação mais harmoniosa e confiante entre médicos e pacientes são pilares essenciais para uma saúde melhor para todos.

*Luciana Campos é mestre em Ciências Médicas pela USP, gastroenterologista atuante no setor público e privado e pesquisadora clínica no L2iP Instituto de Pesquisas Clínicas. INSTAGRAM: @lucianatcampos

Luciana Campos *
32 SAÚDE
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Supremo esclarece fala de Barroso em congresso da UNE

Ministro foi vaiado ao participar da abertura do encontro estudantil

O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou nesta quinta-feira (13) uma nota à imprensa para esclarecer as declarações do ministro Luís Roberto Barroso, vaiado na abertura do 59° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Brasília, em sua fala.

Segundo a assessoria da Corte, o ministro se referiu ao voto popular ao declarar que a ditadura e o bolsonarismo foram derrotados.

“Como se extrai claramente do contexto da fala do ministro Barroso, a frase ‘Nós derrotamos a ditadura e o bolsonarismo’ referia-se ao voto popular e não à atuação de qualquer instituição”, esclarece o Supremo.

Na quarta-feira (12), na abertura do congresso, Barroso participou um ato em defesa da democracia e de combate ao discurso de ódio no país. Ele lembrou de sua atuação no movimento estudantil e afirmou que o país derrotou “a ditadura e o bolsonarismo”.

No início do discurso, o ministro foi vaiado por um grupo de estudantes que exibiu uma faixa com os dizeres “Barroso inimigo da enfermagem e articulador do golpe de 2016”.

Em seguida, ele disse que a manifestação faz parte da democracia e rebateu as acusações. Barroso é relator do caso no Supremo e disse que suspen-

deu, no ano passado, o pagamento do piso nacional dos enfermeiros para viabilizar os recursos para garantir os repasses.

“Eu venho do movimento estudantil. De modo que nada que está acontecendo aqui me é estranho. Já enfrentei a ditadura e já enfrentei o bolsonarismo. E mais que isso, foi eu que consegui o dinheiro da enfermagem porque não tinha dinheiro. Não tenho medo de vaia porque temos um país para construir”, afirmou.

Após as declarações de Barroso, parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro foram às redes sociais e prometeram protocolar um pedido de impeachment do ministro no Senado.

Por Richter - Repórter da Agência Brasil - Brasília
34 POLÍTICA

A íntegra da nota divulgada pelo STF:

“O ministro do STF Luís Roberto Barroso, o ministro da Justiça, Flavio Dino, e o deputado federal Orlando Silva estiveram juntos, no Congresso da UNE, para uma breve intervenção sobre autoritarismo e discursos de ódio. Todos eles participaram do movimento estudantil na sua juventude. Apesar do divulgado, os três foram muito aplaudidos. As vaias - que fazem parte da democracia - vieram de um pequeno grupo ligado ao Partido Comunista Brasileiro, que faz

oposição à atual gestão da UNE. Como se extrai claramente do contexto da fala do ministro Barroso, a frase ‘Nós derrotamos a ditadura e o bolsonarismo’ referia-se ao voto popular e não à atuação de qualquer instituição”, esclareceu o STF. Você será direcionado(a) para o sistema Fala.BR, mas é com a EBC que estará dialogando. O Fala.BR é uma plataforma de comunicação da sociedade com a administração pública, por meio das Ouvidorias.

Sua opinião ajuda a EBC a melhorar os serviços e conteúdos ofertados ao cidadão. Por isso, não se esqueça de incluir na sua mensagem o link do conteúdo alvo de sua manifestação.

35 POLÍTICA

Pandemia de Aids pode acabar até 2030, diz Unaids

Novo relatório descreve caminho para alcançar meta

Ofim da Aids é uma escolha política e financeira dos países e lideranças que estão seguindo esse caminho e estão obtendo resultados extraordinários, o que pode levar ao fim da pandemia de Aids até 2030. É o que mostra um novo relatório divulgado nesta quinta-feira (13) pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ Aids (Unaids).

O relatório - denominado O Caminho que põe fim à Aids - expõe dados e estudos de casos sobre a situação atual da doença no mundo e os caminhos para acabar com a epidemia de Aids até 2030, como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Segundo a entidade, esse objetivo também ajudará o mundo a estar bem preparado para enfrentar futuras pandemias e a avançar no progresso em direção à conquista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.

O Unaids lidera e inspira o mundo a alcançar sua visão

compartilhada de zero novas infecções por HIV, zero discriminação e zero mortes relacionadas à Aids. O programa atua em colaboração com parceiros globais e nacionais para combater a doença.

Meta: 95-95-95

Países como Botsuana, Essuatíni, Ruanda, República Unida da Tanzânia e Zimbábue já alcançaram as metas 95-95-95. Isso significa que, nesses países, 95% das pessoas que vivem com HIV conhecem seu status sorológico; 95% das pessoas que sabem que vivem com HIV estão em tratamento antirretroviral que salva vidas; e 95% das pessoas em tratamento estão com a carga viral suprimida.

Outras 16 nações, oito das quais na África subsaarianaregião que representa 65% de todas as pessoas vivendo com HIV - também estão perto de alcançar essas metas.

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Brasil: 88-83-95

O Brasil, por sua vez, também está no caminho, com suas metas na casa de 88-83-95. Mas o país ainda enfrenta obstáculos, causados especialmente pelas desigualdades, que impedem que pessoas e grupos em situação de vulnerabilidade tenham pleno acesso aos recursos de prevenção e tratamento do HIV que salvam vidas.

Na visão da Oficial de Igualdades e Direitos do Unaids Brasil, Ariadne Ribeiro Ferreira, o movimento em casas legislativas municipais, estaduais e no Congresso Nacional de apresentar legislações criminalizadoras e punitivas que afetam diretamente a comunidade LGBTQIA+, especialmente pessoas trans, pode aumentar o estigma. “Este movimento soma-se às desigualdades, aumentando o estigma e discriminação de determinadas populações e pode contribuir para impedir o Brasil de alcançar as metas de acabar com a Aids até 2030”, diz ele.

Lideranças

“O fim da Aids é uma oportunidade para as lideranças de hoje deixarem um legado extraordinariamente poderoso para o futuro”, defende a diretora executiva do Unaids, Winnie Byanyima.

“Essas lideranças podem ser lembradas pelas gerações futuras como aquelas que puseram fim à pandemia mais mortal do mundo. Podem salvar milhões de vidas e proteger a saúde de todas as pessoas”, acrescenta.

O relatório destaca que as respostas ao HIV têm sucesso quando baseadas em uma forte liderança política com ações como respeitar a ciência, dados e evidências; enfrentar as desigualdades que impedem o progresso na resposta ao HIV e outras pandemias; fortalecer as comunidades e as organizações da sociedade civil em seu papel vital na resposta; e garantir financiamento suficiente e sustentável.

Investimentos

O relatório do Unaids mostra, também, que o progresso rumo ao fim da Aids tem sido mais forte nos países e regiões com maior investimento financeiro. Na África Oriental e Austral, por exemplo, as novas infecções por HIV foram reduzidas em 57% desde 2010 e o número de pessoas em tratamento antirretroviral triplicou, passando de 7,7 milhões em

2010 para 29,8 milhões em 2022.

Com o apoio e investimento no combate à Aids em crianças, 82% das mulheres grávidas e lactantes vivendo com o HIV em todo o mundo tiveram acesso ao tratamento antirretroviral em 2022, em comparação com 46% em 2010, o que levou a uma redução de 58% nas novas infecções por HIV em crianças de 2010 a 2022, o número mais baixo desde a década de 1980.

Marcos legais

Segundo o relatório, o fortalecimento do progresso na resposta ao HIV passa pela garantia de que os marcos legais e políticos não comprometam os direitos humanos, mas os protejam. Vários países revogaram leis prejudiciais em 2022 e 2023, incluindo Antígua e Barbuda, Ilhas Cook, Barbados, São Cristóvão e Nevis e Singapura que criminalizavam as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

Financiamento

O financiamento para o HIV também diminuiu em 2022, tanto de fontes internacionais quanto domésticas, retornando ao mesmo nível de 2013. Os recursos totalizaram US$ 20,8 bilhões em 2022, muito aquém dos US$ 29,3 bilhões necessários até 2025, afirma o documento.

O relatório expõe, no entanto, que existe agora uma oportunidade para acabar com a Aids na medida em que a vontade política é estimulada por meio dos investimentos em resposta sustentável ao HIV.

Esses recursos devem ser focados no que mais importa, reforça o Unaids: integração dos sistemas de saúde, leis não discriminatórias, igualdade de gênero e fortalecimento das redes comunitárias de assistência e apoio.

“Os fatos e os números compartilhados neste relatório não mostram que o mundo já está no caminho certo, mas indicam claramente que podemos chegar lá. O caminho a seguir é muito claro”, observa a diretora executiva do Unaids, Winnie Byanyima.

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A Medida do Amor

No budismo o amor está relacionado com o desejo de que o outro seja feliz. Na nossa contemporaneidade o desejo do outro ser feliz fica enterrado a sete palmos pela felicidade egoísta. É com uma fluidez vertiginosa como os relacionamentos se desfazem e se fazem, como se o que morreu (o amor) não merecesse um luto. Isso sem levar em consideração que felicidade em nossos dias é repetição de desenfreadas de emoções baratas. Em sua carta aos Coríntios o Apóstolo Paulo diz que o amor não se conduz inconvenientemente. Segue o apóstolo em sua maravilhosa epístola dizendo que o amor: tudo sofre, tudo espera, tudo suporta, e que o amor jamais acaba. Então me pergunto como se apresenta o amor para um jovem em nossos tempos. Vejo uma fragilidade sendo apresentada como força, impulsionada por trilhas sonoras de linguagem totalmente chula e de teor etílico. As relações interpessoais se trocam como se fossem descartáveis. Volto a definição de amor budista, como posso desejar a felicidade do outro se o trato como objeto? Quando se ama uma pessoa não se ama só o invólucro corporal, se ama a voz, o cheiro, o tato. Se ama de corpo e alma. Realmente o apóstolo e a definição budista estão corretos, o amor jamais pode acabar se desejarmos a felicidade do outro. Essa é a aliança que perpassa tudo, que atravessa oceanos, céus e terra. Nas palavras de Santo Agostinho: “A medida do amor é não ter medida”. Desejar a felicidade do outro além de não ter limite, acaba nos tornando também felizes.

Quando Lennon se encantou por Yoko ele compôs uma belíssima canção chamada Oh, My Love, na qual ele diz: “Oh, meu amor pela primeira vez na vida meus olhos veem”. É isso que o amor faz, ele nos abre os olhos. E quem nos abriu os olhos jamais será esquecido. Por onde estiver sempre lembraremos e desejaremos eternamente sua felicidade. A nobreza, o fino trato está fora de cogitação nessa yuga (termo hindu para era). Segundo o hinduísmo as eras se dividem na era do ouro, da prata, do bronze e do ferro. Como se vê a uma degradação de valores, o metal menos nobre é o ferro, essa seria a era em que estamos inseridos. Um tempo onde a árvore dos valores esta invertida. A mediocridade dita as regras, a violência predomina e os homens são descortês.

Paulo inicia sua carta dizendo que nos mostraria um caminho (o amor) sobremodo excelente e a encerra dizendo que o amor é maior que a esperança e a fé. Sim, o amor ágape. O amor que entrega tudo. O amor que tanto se dá e nunca se esvazia. É como deitar uma gota de água que está em nossas mãos no oceano é a única forma de preservá-la para sempre.

Itamar Ramos*
*Itamar Ramos – graduado em letras UNEB
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content://media/external/downloads/1000102592 SANTO AGOSTINHO, um dos doutores da Igreja Católica.
COMPORTAMENTO

MinC comemora adesão de

dos municípios e

dos estados à Lei Paulo Gustavo

Recurso inédito de R$ 3,8 bilhões aquece setores culturais em todo Brasil

“Estamos muito felizes com a adesão recorde à Lei Paulo Gustavo. É o início da descentralização dos recursos federais para a cultura, garantindo que as ações possam ser executadas em todos os estados e municípios brasileiros”, comemora a ministra da Cultura, Margareth Menezes. O prazo para envio dos Planos de Ação terminou às 23h59 desta terça-feira, (11), e o Ministério da Cultura (MinC) e o Governo Federal estão garantindo R$ 3,8 bilhões em investimentos na cultura, o maior valor da história. Todos os estados e o Distrito Federal irão receber os recursos e 98% (5.467) municípios brasileiros estão cadastrados.

Emocionada com os resultados, a ministra Margareth Menezes diz querer agradecer e abraçar a todos da equipe do Ministério da Cultura. “Todos os servidores, todos os gestores e secretários de cultura de todos os estados que fizeram parte disso. Quero agradecer também ao presidente Lula por

essa oportunidade que ele dá ao setor cultural do Brasil, de a gente poder se levantar, trabalhar, fazer projetos, colocá-los em ação”, continua a ministra.

“O resultado dessa primeira etapa da Lei Paulo Gustavo mostra que a cultura voltou, e que aqui no MinC existe gestão, existe política pública cultural. O MinC atuou com a participação social, com o método de gestão pública do presidente Lula. Um método que chama a população para o debate, chama para conversar, roda o país, tudo em busca de resultados concretos e efetivos para o fazedor cultural da ponta”, destacou a Secretária dos Comitês de Cultura, Roberta Martins.

Considerado um valor histórico para o Brasil, os R$3,8 bilhões são provenientes do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e do Fundo Nacional de Cultura (FNC), que devem ser disponibilizados para pessoas fazedoras de cultura, por meio

98%
100%
40 CULTURA

de editais, prêmios ou chamamentos públicos, até o dia 30 de julho. Cerca de 30% do valor já foi repassado a estados e municípios.

Margareth Menezes também destaca o empenho da equipe do MinC e do setor cultural para mobilizar os entes federados do país inteiro. “Todo mundo se esforçou muito. Vivemos hoje um grande momento. Essa é nossa vida, nosso trabalho. Cultura é um direito de todos”, afirma a ministra.

Adesão

Todos os nove estados do Nordeste, cinco do Norte (Amazonas, Acre, Pará, Amapá e Roraima); dois do centro-oeste (Mato Grosso do Sul e DF) e dois no Sudeste (Rio e Espírito Santo) tiveram 100% de municípios cadastrados na Lei Paulo Gustavo.

Do valor a ser disponibilizado, R$ 2 bilhões serão destinados aos estados e R$ 1,8 bilhão aos municípios.

A partir da assinatura do Termo de Adesão, que sinaliza a concordância do solicitante com os seus direitos e obrigações como beneficiário pela Lei, a verba já pode ser enviada. Na data estabelecida, a União transfere o montante ao ente federado.

Mobilização nacional

Já no dia seguinte da assinatura do decreto que regulamenta a Lei, em Salvador, (BA), no dia 11 de maio, a capital baiana recebeu o Seminário Nacional sobre a Lei Paulo Gustavo na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Foram dois dias de discussão sobre o funcionamento e os instrumentos necessários à aplicação da Lei.

“Nós tínhamos o desafio de falar com o país inteiro”, afirma o diretor de Assistência Técnica a Estados, Distrito Federal e Municípios (DAST), Thiago Rocha Leandro. Para vencê-lo, o Ministério da Cultura lançou mão de diversas estratégias de divulgação e mobilização, que tinham como base o diálogo com públicos diferentes, como gestores e fazedores de cultura e a participação dos servidores do órgão.

A iniciativa mais ousada da pasta foi o Circula MinC. Realizada em parceria entre o Ministério e as Secretarias Estaduais de Cultura, a jornada de oficinas técnicas sobre a LPG foi iniciada em Teresina (PI) e encerrada em Brasília (DF), passando por todas as capitais.

Do dia 17 de maio a 29 de junho, 5.827 pessoas de 2.437 municípios participaram dos eventos presenciais. “O objetivo

Comitês

Dentro desse processo de construção da LPG, houve uma forte parceria e auxílio dos Comitês Paulo Gustavo, que são entidades autônomas e independentes, constituídas pela sociedade civil, que se organizaram em rede, com bases populares e comunitárias. Desde 2021, eles estiveram mobilizados desde a origem e tramitação da Lei Paulo Gustavo até sua aprovação em 2022.

“Também quero agradecer a atuação de todas as redes, grupos, fóruns, frentes, movimentos, associações e demais organizações da sociedade civil que contribuíram com o Ministério da Cultura nessa tarefa histórica ao longo deste semestre”, disse a ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Durante o período da pandemia, esses comitês atuaram ativamente, inclusive junto ao Senado, Câmara e todo o Congresso. Em 2022, tiveram participação ativa na derrubada do veto presidencial e da Medida Provisória, por meio de uma ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) no final do ano.

Também se destacaram neste processo o Comitê Nacional Paulo Gustavo, e dentro dele, o grupo organizativo denominado “Operativa Nacional” do Comitê Paulo Gustavo. No ano de 2023, a Operativa Nacional e os Comitês Paulo Gustavo Estaduais uniram esforços para viabilizar plenárias online, híbridas e presenciais em todos os estados, bem como algumas regionais, visando discutir a regulamentação da Lei nos primeiros meses deste ano.

Durante os últimos 2 meses, os Comitês demonstraram grande atividade e engajamento para conquistar a adesão à Lei por parte de inúmeras prefeituras em todo o Brasil. Eles estabeleceram contato, realizaram encontros presenciais, promoveram debates, ofereceram formações e compartilharam informações com os dirigentes municipais de cultura das diversas prefeituras dos estados brasileiros.

era capacitar gestores e gestoras culturais para estimular a adesão à Lei e fornecer suporte especializado para a solicitação dos recursos”, explica Thiago.

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CULTURA

Atendimentos LPG

O MinC também criou um endereço de e-mail específico para atender demandas sobre a LPG (lpg@cultura.gov.br). Em média, eles foram cerca de 50 por dia, respondidos em até 48h. No período de 12 de maio até o dia 11 de julho, cerca de 3 mil mensagens tiveram retorno garantido.

Plantão tira-dúvidas

Na segunda-feira, 10, um dia antes do encerramento do prazo de submissão dos Planos de Ação na plataforma TransfereGov, o MinC realizou um Plantão Tira-Dúvidas intensivo. Foram 12 horas de atendimento, de 8h às 20h. O esforço resultou em 40 atendimentos.

Antes disso, entre 22 de maio e 27 de junho, foram realizados 25 plantões, alguns com temáticas específicas como o audiovisual, com duas horas de duração, cada. O atendimento chegou a 750 pessoas, em média 40 por plantão. A iniciativa começou sendo realizada três vezes por semana e passou a ser diária.

Acesso às informações

O site da Lei Paulo Gustavo na página do MinC teve quase 80 mil acessos. Contando com Espaços para Gestores de Cultura, Fazedores de Cultura e Cidadão, com informações personalizadas para cada público. Na Central de Conteúdo estão disponíveis tutoriais, matérias de orientação, guia de Perguntas Frequentes, Guia Prático da Lei Paulo Gustavo para gestores de Cultura.

Painel de Dados

Também no site, a sessão Painel de Dados recebeu 45,5 mil acessos. Por ele, foi possível acessar em tempo real a solicitação de recursos da LPG pelos entes federados e outras informações regionais, estaduais e municipais.

Minutas

O MinC também disponibilizou no site da LPG modelos de edital, escritos conjuntamente com todo o Sistema MinC, secretarias e autarquias vinculadas, para aplicação de recursos. Os demais ministérios e outros órgãos do governo foram convidados a propor exemplos que integrem os objetivos da Lei a políticas públicas setoriais.

O objetivo é oferecer ferramentas para auxiliar na execução das ações previstas na Lei. A página traz opções de textos que podem ser utilizados ou adaptados pelos estados e municípios que já receberam os recursos.

Histórico

No início de janeiro, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, recém-empossada, tinha a missão de reconstruir a pasta. Ao mesmo tempo, era necessário implementar políticas públicas que garantissem a retomada da cultura como direito da população brasileira e medidas emergenciais voltadas aos trabalhadores do setor.

“Havia uma queda de 86% no orçamento do setor desde 2016, contratos administrativos defasados, programas descontinuados e 83% das atividades suspensas por conta da pandemia de Covid-19. Era necessário recolocar a estrutura de pé, com a instalação das secretarias (hoje são sete), a recomposição do quadro funcional e da capacidade administrativa das entidades vinculadas”, relembra.

Uma das primeiras iniciativas nesse sentido, era a prioridade em executar a Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar n� 195, de 08 de julho de 2022). Aprovada durante a pandemia de Covid-19, tratava sobre ações emergenciais destinadas ao setor cultural. Após a aprovação do Congresso Nacional, o Executivo tentou impedir os repasses por meio do veto integral da Lei e por meio de uma Medida Provisória. Apoiado pelo segmento artístico-cultural e pela sociedade civil, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou a Medida Provisória e deu o aval para a execução.

Após um intenso processo de escuta, a pasta editou o decreto regulamentar da Lei, permitindo que estados, municípios e Distrito Federal pleiteassem a verba de R$3,8 bi, considerada o maior investimento no setor cultural da história do Brasil.

O lançamento, no dia 11 de maio, em Salvador (BA), contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Margareth Menezes, que assinaram o decreto que regulamenta a Lei Paulo Gustavo.

Na ocasião, Margareth Menezes afirmou que a lei foi fruto do apelo da sociedade civil e da sensibilidade do Congresso Nacional, “que ouviu os pedidos de socorro do setor cultural brasileiro em um de seus piores momentos”, disse.

Já o presidente Lula, garantiu que o país iria mudar. “Para mudar, a gente precisa entender o assassinato que fizeram com a cultura. A cultura pode ajudar a fazer a revolução que a gente precisa nesse país, para o povo trabalhar e comer, para cumprir a Constituição brasileira”, afirmou.

42 CULTURA

ARTES PLÁSTICAS

Aquarela sobre papel 100% algodão

Flávia Mota Herenio @motaflaviafm

Registros de racismo e homofobia disparam no país em 2022

Dados do Anuário de Segurança Pública foram divulgados 20 de julho de 2023, mostram que o número de registros dos crimes

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgados hoje (20), mostram que o número de registros dos crimes de injúria racial, racismo e homofobia ou transfobia dispararam em 2022 no país na comparação com o ano anterio.

Os registros de racismo saltaram de 1.464 casos em 2021, para 2.458, em 2022. A taxa nacional em 2022 ficou em 1,66 casos a cada 100 mil habitantes, uma alta de 67% em relação ao ano anterior. Os estados com as maiores taxas, de acordo com o anuário, foram: Rondônia (5,8 casos a cada 100 mil habitantes), Amapá (5,2), Sergipe (4,8), Acre (3,3), e Espírito Santo (3,1).

Os registros de injúria racial também cresceram. Em 2021 foram 10.814 casos e, em 2022, 10.990. A taxa em 2022 ficou

em 7,63 a cada 100 habitantes, 32,3% superior à do ano anterior (5,77). As unidades da federação com as maiores taxas foram Distrito Federal (22,5 casos a cada 100 mil habitantes), Santa Catarina (20,3), e Mato Grosso do Sul (17).

Já o crime de racismo por homofobia ou transfobia teve 488 casos registrados em 2022 no país, ante 326, em 2021. A taxa nacional por 100 mil habitantes em 2022 ficou em 0,44 – 53,6% superior ao ano anterior. Os estados com as maiores taxas foram: Distrito Federal (2,4), Rio Grande do Sul (1,1), e Goiás (0,9).

O FBSP criticou a falta de dados, que deveriam ser fornecidos pelos órgãos oficiais, referentes ao número de pessoas do grupo LGBTQIA+ vítimas de lesão corporal, homicídio e estupro. De acordo com o FBSP, para a quantificação desses crimes é necessário contar com dados produzidos pela so-

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ciedade civil, como os da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e do Grupo Gay da Bahia (GGB).

“Observamos grandes aumentos das taxas de injúria racial (que cresceu 32,3%) e racismo (que cresceu 67%), denotando aumento da demanda por acesso ao direito à não-discriminação”, destaca o texto do anuário.”

De acordo com o anuário, a ANTRA contabilizou, em 2022, 131 vítimas trans e travestis de homicídio. Já o GGB registrou 256 vítimas LGBTQIA+ do mesmo crime em 2022. “O Estado deu conta de contar 163, 63% do que contabilizou a organização da sociedade civil, demonstrando que as estatísticas oficiais pouco informam da realidade da violência contra LGBTQIA+ no país”.

“Quanto

de lesão corporal, homicídio e estupro, seguimos com a altíssima subnotificação. Como de costume, o Estado demonstra-se não incapaz, porque possui capacidade administrativa e recursos humanos para tanto, mas desinteressado em endereçar e solucionar”, diz o texto.”

“Se bases de dados são instrumentos primários de transformação social, o que a produção de dados oficiais desinformativos diz sobre o destino para o qual caminhamos no enfrentamento aos crimes de ódio no Brasil?”, questionou o texto do anuário.

aos dados referentes a LGBTQIA+ vítimas
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CONTOS CLÁSSICOS

As subversivas mensagens ocultas no clássico filme ‘O Mágico de Oz’

Em dezembro de 1937, a Walt Disney Productions lançou seu primeiro desenho animado, Branca de Neve e os Sete Anões, que se tornou o maior sucesso do cinema americano de 1938.

Adaptação Rócio Barreto

Isso não apenas levou a empresa a produzir outros desenhos baseados em contos de fadas nas décadas seguintes, como levou outro estúdio, o Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), a criar seu próprio longa musical sobre uma garota órfã e uma bruxa malvada: O Mágico de Oz.

Apesar das semelhanças com o filme da Disney, a produção da MGM é mais um anticonto de fadas do que um conto de fadas propriamente dito.

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Basta olhar para o trio de desajustados que acompanha a heroína ao longo de sua viagem pela estrada de tijolos amarelos. Nenhum deles é o que você chamaria de um belo príncipe.

No entanto, Dorothy (Judy Garland) é tão boa de coração, as músicas são tão agradáveis e as aventuras em technicolor são tão empolgantes que fazem O Mágico de Oz até parecer um filme tradicional para a família.

Mas, o longa lançado em agosto de 1939 subverte de tal maneira as convenções de uma narrativa do bem contra o mal que seria capaz de deixar Walt Disney furioso.

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‘O Mágico de Oz’ é mais um anti-conto de fadas do que um conto de fadas propriamente dito

Um líder falsário

Nas cenas de abertura, somos avisados de que a magia que estamos prestes a testemunhar pode não ser exatamente mágica.

No início do filme, após fugir de sua casa no Kansas para impedir que seu cachorro de estimação fosse sacrificado, Dorothy conhece um vidente viajante, o professor Marvel (Frank Morgan). O personagem do filme não existe no livro original de L. Frank Baum e foi criado pelos roteiristas Noel Langley, Florence Ryerson e Edgar Allan Woolf.

Por mais simpático que seja, o professor não passa de um enganador que finge ter dons psíquicos ao espiar uma foto que Dorothy está carregando. Ele é interpretado pelo mesmo ator que faz o Mágico de Oz, e acaba sendo o mesmo personagem: um showman de parque de diversões que se esconde atrás de uma cortina, mexe em alavancas e usa truques mecânicos para manter seus súditos leais e amedrontados.

Ele admite que foi parar na terra de Oz quando seu balão foi levado pelo vento até lá - até mesmo aquele balão estava além de seu controle. Em um floreio final gloriosamente gonzo, ele sobe ao céu enquanto grita: “Não posso voltar. Não sei como funciona!”. Não há muitos filmes que mostrem políticos sendo tão descaradamente incompetentes assim.

Antes que o Mágico desapareça, ele entrega ao Espantalho (Ray Bolger), ao Leão Covarde (Bert Lahr) e ao Homem de Lata (Jack Haley) seus prêmios: um pergaminho, uma medalha e um relógio, enquanto assegura que eles são tão capazes quanto qualquer um “de onde venho”.

Acadêmicos e filantropos são ridicularizados. Os veteranos de guerra são retratados como pessoas que “resgatam suas forças da naftalina e desfi-

lam pela rua principal da cidade” uma vez por ano, mas “não têm mais coragem do que você”.

É verdade que não podemos aceitar nada do que o “falsário” diz muito a sério, mas esses sentimentos são extremos demais para qualquer filme de Hollywood, ainda mais um filme para crianças.

Uma paródia do presente

O roteiro debocha da ideia de que poder e prosperidade vêm para aqueles que merecem, mesmo em relação à própria Dorothy.

Ela mata uma bruxa malvada ao cair em cima dela com sua casa, e outra (Margaret Hamilton) jogando água. Ambos os casos são acidentes, fruto de mero acaso e não da coragem ou do valor de Dorothy. (Qualquer bruxa solúvel que deixa

Oz é uma cidade modernista de arranha-céus com listras neon escancaradamente artificial
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A maneira como o filme se torna um sonho febril com macacos voadores e guardas de rosto verde é surrealista
CONTOS CLÁSSICOS

CONTOS CLÁSSICOS

baldes d’água em seu castelo está pedindo para desaparecer.)

Mas, nas duas ocasiões, Dorothy é instantaneamente aclamada como heroína, assim como o Mágico quando pousa em Oz. A mensagem é que as pessoas vão seguir qualquer figura de autoridade que cause impacto, por mais indigna que seja. É uma ideia subversiva em 2019, e foi ainda mais em 1939, quando ditadores fascistas estavam por toda a Europa.

O romance de Baum pode ter sido publicado na virada do século passado, mas o filme dirigido por Victor Fleming (juntamente com dois colegas, sem créditos) é um produto típico dos anos 1930. Foi lançado três anos depois de uma grande exposição do surrealismo no Museu de Arte Moderna de Nova York, e a maneira como o enredo se transforma em um sonho frenético com macacos voadores e guardas de rosto verde é surrealista.

Ele também tem pontos em comum com outras obras-chave da cultura da era da Depressão. No mesmo ano em que Dorothy deixou sua casa no Kansas e viajou para uma cidade cintilante, Tom Joad e sua família partiram do Oklahoma Dust Bowl em direção à Califórnia, em As Vinhas da Ira, de John Steinbeck.

E apenas um ano antes, Clark Kent – que, como Dorothy, era um órfão criado por fazendeiros idosos do Kansas – se reinventou na cidade grande como o Super-Homem.

Tom Joad acha que as condições não são melhores na

Califórnia e se torna um ativista do movimento proletário. O Super-Homem, em suas primeiras aparições nos quadrinhos, é estopim de uma revolução anarquista e não luta contra supervilões, mas contra os responsáveis por favelas e minas inseguras.

Dorothy não chega tão longe, mas viaja do interior árido dos Estados Unidos para um centro urbano cintilante, mas chegando lá, descobre que o lugar é governado por falsários e habitado por tolos.

Também é significativo que a Cidade Esmeralda de Oz não seja um reino medieval como o de Branca de Neve, nem tenha uma paisagem de cúpulas e torres inspiradas em Istambul, como nas ilustrações do livro original.

Em vez disso, é uma cidade modernista de arranha-céus com listras neon – e, como quase tudo na terra de Oz, é escancaradamente artificial. O filme não leva o público além do arco-íris para um passado mítico, mas para uma paródia colorida de um presente barulhento e industrializado.

Se O Mágico de Oz tivesse surgido nas patrióticas décadas de 1940 ou 1950, seria difícil imaginar que esse clássico da contracultura tivesse escapado ileso. Mas Fleming e sua equipe criaram o mais poderoso dos filmes infantis: ele nos leva a um mundo de dificuldades e caos, de líderes inúteis e de seguidores crédulos e, depois, nos lembra que é esse mesmo mundo em que vivemos.

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