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Caça às Bruxas
Até o começo de julho, de 2023, o Distrito Federal registrou 19 feminicidios.
Três deles, em menos de uma semana.
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Não são números.
São vidas destruídas.
Não apenas dessas mulheres, mas, de uma rede que perpassa por filhos, mães, pais, enfim, famílias destroçadas.
A maioria foi morta por companheiros ou ex-companheiros, que não aceitavam o fim do relacionamento.
Não aceitavam o fato de essas mulheres serem livres para viverem suas próprias vidas.
Homens, que traíram, abandonaram, agrediram as companheiras e mesmo assim, não aceitaram o NÃO de uma mulher.
Em geral, esses crimes cruéis estão relacionados ao uso de drogas ilícitas ou álcool.
Mas, por que os alvos são sempre as mulheres? Por que esses mesmos homens, drogados ou embriagados, não brigam, gritam ou tentam matar um colega de bar ou qualquer outro homem?
Os alvos certeiros são sempre as mulheres, mais frágeis, desarmadas, desprotegidas...
E, mesmo mortas, elas continuam sendo as culpadas, nos argumentos frágeis de advogados, assassinos e de parte de sociedade.
O que esses crimes tem em comum? Uma cultura machista, que até há poucos anos, tinha o aval da “justiça” para inocentar os criminosos, que matassem a companheira em ‘ legítima defesa da honra.’
Uma inversão de valores, que insiste em perpetuar e permanecer em nossa sociedade.
‘Mas, por que ela não pediu ajuda? ‘
‘Por que não solicitou uma medida protetiva?’
‘Por que não informou à justiça que o agressor estava desrespeitando à determinação?’
‘Por que já estava se relacionando com outra pessoa?’
‘Por que não se manteve calada e falou tantas coisas, atiçando assim, ira masculina?’
São tantos os “porquês”, que, a mulher, esfaqueada pelas costas ou com um tiro à queima roupa, ou mesmo morta com a pia do banheiro ou estrangulada, se transforma de vítima à vilã, em segundos.
Uma cultura machista que nos coloca como objetos, sem valor, sem sentimento, apenas objetos que são descartados, manipulados ou destruídos, quando convém.
A mesma cultura que coloca o Brasil como líder do triste ranking que mais mata o grupo LGBTQIA+, no mundo. Querem nos dizimar. A não ser que continuemos sendo a “dona do lar”, fazendo o trabalho doméstico invisível e sem nenhuma recompensa, muito menos remuneração.
A não ser que continuemos oferecendo nossos corpos, para que a humanidade não acabe, ainda que tenhamos que criar os filhos sozinhas ou com algum tipo de “favor” dos pais.
A não ser que fiquemos caladas, diante de qualquer tipo de agressão e opressão, sem expressar nossas opiniões.
A não ser que não ocupemos as universidades, o mercado de trabalho, muito menos, postos de destaques.
Na antiguidade, quem ousava passar dos limites impostos pelos homens, eram consideradas bruxas e mortas em fogueiras ou forcas.
Hoje, as fogueiras e forcas são outras, não menos cruéis.
E você acredita mesmo que a caça às “bruxas” acabou?

Atualmente, apresenta o Band Cidade Segunda Edição, jornal local, que vai ao ar, ao vivo, de Segunda à Sexta, às 18h50. Também apresenta o Band Entrevista, que vai ao ar, aos sábados, às 18h50.
Formada em Psicanálise e Mestranda Especial da UNB em psicologia clínica.