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Uma nova referência para as mulheres negras na política
A deputada distrital trocou recentemente o Agir pelo MDB na expectativa de ajudar o governo Ibaneis e garantir mais espaço para atual na Câmara Distrital
Com a grande experiência acumulada como delegada da Polícia Civil e também secretária de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude, além de ter sido administradora de Sobradinho e chefe da Controladoria Jurídica da antiga Companha de Planejamento do DF (Codeplan) e também da assessoria de Inteligência e Informações Estratégicas da Controladoria-Geral do DF, a deputada distrital Jane Klebia busca aplicar todo o aprendizado em seu mandato. Nascida em Brasília, essa mulher negra contou à revista Plano B os principais desafios que enfrentou para chegar aos espaços de Poder que ocupou ao longo de sua trajetória. Sua expectativa é que a porta aberta por ela abra o caminho para outras mulheres negras sigam ocupando seu espaço de direito nos grandes debates do país.
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Como está sendo sua experiência na Câmara Distrital, depois de ter atuado em tantas funções e áreas diversas?
O grande desafio na Câmara Legislativa é juntar todas essas experiências e transformar em contribuições que possam gerar boas políticas públicas. Me ajuda a fazer a fiscalização, que é uma atividade precípua do parlamentar e a conduzir a equipe, porque com certeza, na delegacia, na chefia desses outros órgãos, a equipe era menor.
Aqui, a equipe é muito grande e a gestão não é mais para um grupo específico. Agora tenho de usar a gestão do mandato para contribuir para todo DF, esse é o desafio. Para isso, estou dividindo meu trabalho por eixos. O de defesa da mulher vai ocupar a maior parte do meu mandato. Outro eixo é o que trata da segurança pública, através do qual trago a minha experiência, já que foi minha última casa, onde estive por 24 anos. Além de um eixo territorial, que foca nesse primeiro momento do mandato, na saída Norte, que é a área onde eu resido, onde tive atuação como delegada. Mas sem perder de vista as outras áreas de Brasília. Então essa divisão em eixos tem me ajudado a conduzir o trabalho que eu preciso fazer como parlamentar e associado à minha experiência por todos esses órgãos por onde eu passei, onde eu tive alguma atividade e acumulei conhecimentos.
As mulheres ainda são minoria nos espaços de Poder. Já sofreu algum tipo de violência política de gênero ao longo de sua trajetória profissional e política?
Então falar de violência política é um tema muito novo, mas que tem ganhado muito destaque, ainda é um tipo de violência pouco estudado, mas acredito que ela se manifeste aí pelas poucas oportunidades e espaços oferecido as mulheres. Quan- do as mulheres são colocadas nos espaços, não se tem como prioridade nem a mulher, nem a política da mulher, mais sim a mera ocupação de espaço para cumprimento da legislação. Então as mulheres vêm sem perspectivas, sem apoio suficiente. Os recursos financeiros destinados às mulheres são sempre menores que os recursos destinados ao restante. Então acho que é preciso mudar esse foco, entender que a mulher é importante nos espaços de Poder e oferecer condições efetivas para que ela consiga ganhar uma eleição.
Esse é o grande desafio, porque você chegar para o partido e falar que você, ao ter recebido poucos recursos, está diante de uma violência política, as pessoas não conseguem entender isso. Partido tem estratégia e fez e opção, né? Por oferecer recurso a esse ou aquele que tem mais ou menos condições de eleger-se. Mas o fato é que essa escolha vai fazer com que a mulher consiga chegar ou não. Ou servirá simplesmente para fazer número e só preencher um espaço. Então acho que o tema violência política precisa ser mais debatido, para que seja melhor entendido.
Quais são os principais desafios de uma mulher negra na política?
Acho que primeiro dos desafios da mulher, antes mesmo de ser a escolhida pelo partido, a gente em enfrenta em casa. Convencer o companheiro de que você pode estar nesse espaço de poder, por mais que tenhamos nos libertado das tarefas domésticas e estejamos hoje dividindo os cuidados dos filhos com companheiro, a mulher ainda é vista como alguém que deve coordenar o lar, mesmo que trabalhe fora, então isso acaba criando alguma dificuldade para ela. Ainda mais tendo essa dedicação integral que a política exige da gente.
Mesmo sendo representando algo entre 52% e 54% da população total, as pessoas ainda veem a mulher negra no espaço de poder com muita estranheza, até com incredulidade. Então desafio é mostrar que a gente pode estar onde a gente quiser, que a gente tem capacidade de ocupar esses espaços. Isso não é fácil nem rápido, mas a gente precisa, no dia a dia, estar nesse espaço e defender esse espaço para outras mulheres, em especial as negras, sigam ocupando esse espaço de direito delas.
Empoderar a mulher no espaço da política ou na gestão de órgãos públicos, ou mesmo na iniciativa privada, no comércio, é um desafio de toda a sociedade. Até a minha posse como mulher negra, as pessoas precisam entender a dificuldade que eu passei para chegar nesse espaço. É preciso dar a mão para outras, ser espelho para essas outras serem alguém. Ser uma referência para elas é um grande orgulho e também grande desafio.

A senhora tem uma relação próxima com o governador Ibaneis, tanto que trocou o Agir pelo MDB recentemente. Qual sua avaliação desse segundo mandato dele, depois de o governador ter sido afastado do cargo após o 8 de janeiro?
O governador Ibaneis teve provado nas urnas a aprovação do seu mandato. Foi eleito em primeiro turno e isso prova que a população de Brasília o queria governando por mais quatro anos. Após o 8 de janeiro, ele foi afastado e nada ficou provado em relação à sua conduta com relação àquele tão desastroso dia.
O governador, ao contrario do que alguns dizem para mim, saiu fortalecido, porque ele contribuiu com as investigações, entregou o celular, aceitou todas decisões judiciais e voltou fortalecido porque nada foi provado contra ele. E desde então tem feito grandes entregas de obras pela cidade. Tenho participado de diversas inaugurações, dessas entregas importantes para população de Brasília.
Tenho muita expectativa nesses próximos 3 anos e meio que estão aí de mandado, para que realmente consiga consolidar a política que ele iniciou na gestão passada, e minha ida para o MDB o fortalece.
Eu tive a possibilidade de sair do Agir diante do fato de a legenda não ter alcançado a clausula de barreira, mas não sai com porta fechada, sai com anuência do partido, que entendeu que era necessário que eu realmente buscasse uma agremiação que tivesse recursos e que pudesse proporcionar e aos seus candidatos, aos seus filiados, melhores condições. Escolhi o MDB porque é um partido forte e que realmente vai se fortalecer na CLDF agora, provavelmente com 5 ou 6 deputados, então vai ser a maior agremiação na Câmara Legislativa. Espero junto com os demais parlamentares que possamos realmente fazer grandes entregas para a população de Brasília.