A LIDERANÇA EM TRÊS TEMPOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Reparem no que está acontecendo, agora, na disputa de ‘quem manda mais’ entre os poderes da República Federativa do Brasil: deixaram de ser interdependentes e harmônicos entre si e a liderança tem ‘mudado de mãos’ à medida em que se aproximam as próximas eleições, em 2022. Isso pode ser ruim, porque não reflete um resultado natural fruto de quem governa na modernidade. Lamentavelmente, sem uma Reforma Política que estabeleça regras indispensáveis à coincidência de mandatos, à continuidade administrativa dos governantes, para todos os cargos nos níveis federal, estadual e municipal, isso continuará acontecendo. Foi em Salvador, nos idos de 1968, juntamente com outros professores do Nordeste, que participei da experiência conhecida como Laboratório de Sensibilidade Social - LSS, ou, denominado pelos americanos, “sensitivity trainning”. Éramos um grupo em formação para a docência de diversos cursos na área social, principalmente de administração, em experiência conduzida - detalhe absolutamente indispensável - pelo professor João Eurico Matta, psicólogo clínico e psicoterapeuta da Universidade Federal da Bahia. O LSS – uma das técnicas mais primorosas em dinâmica de grupo - demonstra, ao seu final, que a liderança é dinâmica e pode mudar de mãos de acordo com as circunstâncias. Não há liderança pronta e acabada, nem definitiva, seja qual for a realidade em que pessoas estejam reunidas buscando qualquer objetivo. Acontece que o final a ser atingido pelo LSS pode durar um dia, uma semana e até mais, dependendo dos ‘atores’ envolvidos no grupo. No nosso caso, durou uma semana. A liderança existe em três tempos, mesmo que alguém tenha mais ou menos pendores para exercê-la. A primeira fase é a de dependência em que os membros do grupo miram-se totalmente na figura do líder – no caso, o condutor da experiência -; ninguém faz nada sem que ele tome a iniciativa, sem que ao menos faça qualquer aceno. Esta é a fase mais pobre de todas, porque as realizações são desproporcionais aos esforços despendidos, porque a autoridade é delegada, mas ninguém arrisca assumir a responsabilidade correspondente. A segunda fase é a de independência. A liderança não mais está centrada nas mãos de um só líder, mas muda a cada unidade de tempo, menor ou maior. Pensando numa situação de emergência, por exemplo, quando o clima acaba sendo propício ao surgimento de líderes, a liderança pode surgir de onde menos se espera, de qualquer lado e na pessoa de qualquer circunstante. Esta é uma fase mais rica, porque as realizações passam a ser mais proporcionais aos recursos alocados. A autoridade é delegada e a responsabilidade é assumida, mas os esforços ainda são muito dispersos, descoordenados, sem unidade de propósitos. Todos correm em direções próprias, difusas, mas diferentes do contexto; não há sincronia nem afinação. A terceira fase é a de interdependência, a mais rica de todas e que qualquer grupo almeja atingir. Os resultados são proporcionais aos esforços despendidos. A responsabilidade é assumida na razão direta da autoridade delegada; ninguém depende de ninguém e todos dependem de todos. É a síntese do LSS: todos reconhecem o valor de cada membro do grupo, sua independência para assumir determinadas decisões, sempre em proveito comum. Passa, então, a existir uma EQUIPE, com os mesmos propósitos e objetivos, disposta a ‘vestir a camisa’ e lutar por sua integridade. Há o reconhecimento de que todos têm seu valor e seu potencial de crescimento, agora canalizados em proveito da unidade dessa equipe, porque todos são vencedores e este é o lado sério da questão. Infelizmente, quando vejo a TV - o que faço cada vez menos e de forma cada vez mais selecionada – fico pensando no desperdício de dinheiro dos patrocinadores e no abuso à inteligência das pessoas. Agora, por exemplo, existe, a moda dos ‘reality shows’, na suposição de que cada um de nós gosta é de fuxico, está interessado em saber da vida dos outros; a ‘moda’ invade nossos lares, sem piedade e, por incrível que possa parecer, todos se divertem. Quando George Owens escreveu o livro “1984” quis alertar para uma realidade