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CIENTISTAS BRILHANTES E SERES HUMANOS ETICAMENTE EXTRAORDINÁRIOS

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A DIFUSORA OPINA

A DIFUSORA OPINA

CIENTISTAS BRILHANTES E SERES HUMANOS ETICAMENTE EXTRAORDINÁRIOS

DILERCY ARAGÃO ADLER*

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Quando escrevi o artigo intitulado “O Valor de um diploma na moderna sociedade capitalista”, em 25 de dezembro de 2002, inspirada na cena em que o “Presidente eleito do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, recebia o seu Diploma do cargo que assumiria nos primeiros dias de janeiro de 2003”, estava motivada pela dicotomia entre saber erudito, acadêmico e o saber do autodidata com suporte nas próprias observações, reflexões críticas e constatações da e na vida diária. O presente artigo trata também desse tema, mas enfocando um outro viés, ou seja, contempla as contradições advindas do saber, da apropriação de um conhecimento e da utilização desse mesmo saber por quem o possui. Essa preocupação continua forte a partir de algumas constatações da má utilização do saber no cotidiano.

Enquanto psicóloga e educadora vejo ressonância dessa minha preocupação nas abordagens humanistas.

A teoria humanista privilegia a criatividade, o amor, o altruísmo e outras manifestações do afeto e respeito mútuo. Rogers considera o ser humano ativo, responsável e capaz de autodeterminar-se. Compreende que o meio deve permitir ao sujeito liberdade e respeito à individualidade. Para que isso ocorra, não pode existir qualquer tipo de imposição e crítica e ainda são necessárias três condições básicas: 1. Compreensão empática: ser capaz de colocar-se no lugar do outro, pensar e sentir como ele. 2. Autenticidade: mostrar-se tal como é, sem hipocrisias nem máscaras e ser congruente entre o que pensa, diz e faz. 3. Aceitação incondicional, estima e respeito: capacidade de aceitar o outro tal qual o outro é e permitir que ele se expresse livremente e se autodetermine. Na sua prática docente, Rogers via-se em conflito no Departamento de Psicologia. “Sentia que tanto a sua liberdade para ensinar como a liberdade para aprender dos estudantes estavam sendo limitadas”. Com base nessas condições, escreveu um artigo: “Pressupostos correntes sobre a educação universitária: uma exposição apaixonada”. Os estudos de Maslow trazem, também, contribuições substanciais acerca dessa questão. Embora ao ser considerado humanista Maslow declarasse que isso o desagradava, ao ponto de afirmar: “Nós não deveríamos ter que dizer Psicologia Humanista. O adjetivo é desnecessário”. Maslow iniciou as suas reflexões estudando a auto-realização de modo peculiar, ou seja, a partir da análise das vidas, valores e atitudes de pessoas que considerava mais saudáveis e criativas, estando entre as primeiras investigadas dois dos seus professores, Ruth Benedickt e Max Wertheimer. Maslow não somente os considerava cientistas brilhantes e extraordinários, mas seres humanos profundamente realizados e criativos. Assim, iniciou o seu estudo objetivando constatar o que os fazia tão especiais. Maslow definia a questão da auto-realização como "o uso e a exploração plenos de talentos, capacidades, potencialidades, etc.” e a esse respeito ainda dizia: “Eu penso no homem que se auto-realiza não como um homem comum a quem alguma coisa foi acrescentada, mas sim como um homem comum de quem nada foi tirado. Mas o homem comum existente na sociedade contemporânea é um ser humano completo com poderes, capacidades e sentimentos, amortecidos e inibidos, às vezes, embrutecidos. Em síntese, acredita-se que só se pode mudar aquilo que se conhece. Entende-se que só o aparecer da realidade pode provocar equívocos, daí a necessidade de um saber científico. Mas não se pode esquecer que

esse saber também é impregnado de ideologias, em maior ou menor grau. Assim, os intelectuais não são desprovidos no seu fazer acadêmico de juízos de valor e interesses pessoais. Por isso, é necessário lutar em prol de uma ciência dotada de uma dimensão ética humanizada, voltada para o bem-estar de todos os homens, não apenas de alguns. Esse deve ser o fim último da ciência. É imperativa a necessidade de humanização da escola, da academia, da ciência, para que mais cientistas brilhantes e seres humanos eticamente extraordinários, realizados e criativos existam!

São Luís, 2003. *Psicóloga e Doutora em Ciências Pedagógicas, com especialização em Sociologia. CADEIRA Nº 01-IHGM.

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