REVISTA DO LÉO 101 - JULHOO 2025

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REVISTA DO LÉO

REVISTA LAZEIRENTA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDITOR – Prefixo 917536

NÚMERO 101 – JULHO – 2025

MIGANVILLE – MARANHA-Y

“águas revoltas que correm contra a corrente”

REVISTA DO LÉO

REVISTA LAZEIRENTA

Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Prefixo Editorial 917536

vazleopoldo@hotmail.com

Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 8206 7923

CHANCELA

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 20 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor das “Revista do Léo”, “Maranha-y”, e “Ludovicus”; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

UM PAPO - EDITOR

NAVEGANDO COM JORGE OLIMPIO BENTO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - MAIS ALGUMAS NOTAS SOBRE O CEV

HAMILTON RAPOSO MIRANDA FILHO - CONVERSA DE MARANHENSE

ROBERTO FRANKLIN - JULHO CHEGOU

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - SOCIEDADE DOS POETAS ESQUECIDOS: ADELINO FONTOURA CHAVES

CERES COSTA FERNANDES - CRÔNICA À MODA FABULAR PARA MARIA ISABEL –

ÁUREO MENDONÇA - LEMBRAM DESSE TIME DE CRAQUES DO FUTSAL, CURTA E COMENTE.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - SOCIEDADE DOS POETAS ESQUECIDOS: JOÃO ALEXANDRE JUNIOR EVENTOS

MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – CANTOS QUE OUVI FALAR – 12/07 19H

Vou fazer novas alterações!!! A REVISTA DO LÉO passa a tratar de vários temas, não apenas de ESPORTES, na sua concepção ampla, LAZER e RECREAÇÃO, EDUCAÇÃO FÍSICA.

A periodicidade passa a ser MENSAL, pois haverá muitas sessões e material para divulgação... Em uma concepção ampla, o esporte é muito mais do que competição ou atividade física com regras. Ele é um fenômeno cultural, social, educativo e político, que expressa valores, identidades e modos de vida.

• Expressão cultural: o esporte reflete tradições, crenças e símbolos de diferentes povos. Ele pode ser ritualístico, festivo ou simbólico como o futebol no Brasil ou a luta livre no México.

• Ferramenta de educação e formação: promove valores como cooperação, respeito, disciplina e superação. Vai além da técnica: forma cidadãos.

• Direito social e política pública: o esporte é reconhecido como direito constitucional no Brasil (Art. 217 da CF/88) e deve ser garantido pelo Estado como meio de inclusão e bem-estar.

• Prática de lazer e saúde: não precisa ser competitivo. Pode ser vivido como prazer, recreação, autocuidado e convívio social.

• Espaço de disputa simbólica e identidade: clubes, seleções e atletas representam comunidades, nações e causas o esporte também é palco de lutas sociais e afirmações políticas.

• Indústria e espetáculo: movimenta bilhões, gera empregos, influencia mídia e consumo. É entretenimento, mas também negócio.

Conceitos ampliados por estudiosos

• Pierre Parlebas (França): vê o esporte como uma forma de “jogo institucionalizado”, com lógica interna própria e relações motoras específicas.

• Norbert Elias (Alemanha): analisa o esporte como parte do processo civilizatório, onde o controle das emoções e a regulação da violência são centrais.

• Victor Andrade de Melo (Brasil): defende que o esporte deve ser compreendido como prática social plural, histórica e politicamente situada.

Em resumo: o esporte, em uma concepção ampla, é uma linguagem corporal e social, que articula corpo, cultura, poder e subjetividade. Ele pode ser lazer, luta, espetáculo, educação ou resistência tudo depende do olhar e do contexto.

Já o Lazer e recreação são conceitos próximos, mas com significados distintos e complementares. Ambos estão ligados ao tempo livre, ao prazer e ao bem-estar, mas têm enfoques diferentes em sua natureza e função.

O lazer é um fenômeno cultural e social que envolve atividades realizadas no tempo livre, de forma voluntária, com o objetivo de descansar, divertir-se, desenvolver-se ou socializar.

Características do lazer:

• É uma atitude ou estado de espírito (não apenas uma atividade)

• Envolve liberdade de escolha

• Pode ser ativo ou contemplativo (ex: jogar futebol ou ouvir música)

• Tem valor subjetivo e simbólico

• Está relacionado à qualidade de vida e ao direito social

Segundo Joffre Dumazedier, um dos principais teóricos do tema, o lazer é o “conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade para repousar, divertir-se, recrear-se, entreter-se ou desenvolver sua formação desinteressada”.

A recreação é uma forma de lazer, mais voltada à atividade prática, lúdica e participativa, com foco no entretenimento, socialização e desenvolvimento físico ou cognitivo.

• É uma atividade concreta (ex: jogos, dinâmicas, brincadeiras)

• Envolve participação ativa

• Tem caráter lúdico e educativo

• Pode ocorrer em contextos formais (escolas, empresas) ou informais (praças, clubes)

• É frequentemente mediada por um profissional (recreador)

Etimologicamente, vem do latim recreare, que significa restaurar, renovar, revigorar ou seja, é uma prática que visa recriar o corpo e o espírito.

Diferenças e Relações

Aspecto Lazer

Natureza Estado de espírito / atitude

Participação Pode ser ativa ou passiva

Recreação

Atividade prática e lúdica

Sempre ativa

Exemplo Ler um livro, ouvir música, caminhar Jogar vôlei, brincar de roda, dinâmicas

Objetivo Descanso, prazer, desenvolvimento pessoal Diversão, socialização, revitalização

Relação Conceito mais amplo

Subconjunto do lazer

Em resumo: todo ato de recreação é uma forma de lazer, mas nem todo lazer é recreação. O lazer pode ser silencioso, introspectivo ou contemplativo; a recreação, por sua vez, é sempre ação, jogo, interação

A Educação Física é uma área do conhecimento que estuda e promove as práticas corporais humanas em suas múltiplas dimensões: biológica, cultural, social, pedagógica e política. Ela vai muito além de “fazer exercícios” trata-se de compreender o corpo em movimento como forma de expressão, saúde, convivência e transformação social.

A Educação Física é:

• Uma disciplina escolar que integra o currículo da Educação Básica

• Uma profissão regulamentada (Lei nº 9.696/1998) com atuação em escolas, academias, clubes, hospitais, políticas públicas e muito mais

• Um campo científico que dialoga com áreas como saúde, sociologia, pedagogia, fisiologia, psicologia e filosofia

Componentes da Educação Física - Ela envolve o estudo e a prática de:

• Esportes (coletivos e individuais)

• Lutas e artes marciais

• Ginásticas (geral, artística, laboral, etc.)

• Jogos e brincadeiras

• Atividades rítmicas e expressivas (dança, capoeira, teatro corporal)

• Conhecimentos sobre o corpo (anatomia, fisiologia, biomecânica, cultura corporal)

Finalidades

• Educar o corpo e pelo corpo

• Promover saúde e qualidade de vida

• Estimular o pensamento crítico sobre o movimento humano

• Valorizar a diversidade cultural das práticas corporais

• Combater o sedentarismo e promover inclusão

Na escola - A Educação Física escolar não é apenas “jogar bola”. Ela deve:

• Desenvolver habilidades motoras e cognitivas

• Trabalhar valores como cooperação, respeito e solidariedade

• Estimular a reflexão sobre o corpo, o esporte e a sociedade

• Incluir todos os alunos, respeitando suas diferenças

Abordagens pedagógicas (no Brasil)

Crítico-superadora: valoriza a cultura corporal e a formação crítica

A abordagem Crítico-Superadora é uma das mais influentes concepções pedagógicas da Educação Física brasileira, especialmente no contexto escolar. Ela foi sistematizada por um Coletivo de Autores em 1992 e está fundamentada na pedagogia histórico-crítica, com forte inspiração no pensamento marxista e na luta por justiça social.

Conceito Central

A proposta Crítico-Superadora entende a Educação Física como uma prática pedagógica que deve superar a alienação e a reprodução de desigualdades, promovendo a formação crítica e emancipatória dos alunos por meio da cultura corporal.

Princípios Fundamentais

• Cultura corporal como conteúdo: jogos, esportes, danças, lutas e ginásticas são tratados como expressões culturais e históricas, não apenas como técnicas motoras.

• Ressignificação crítica: os conteúdos são contextualizados historicamente e relacionados a temas sociais (gênero, inclusão, racismo, saúde pública etc.).

• Superação da lógica do desempenho: rejeita a avaliação baseada em performance física, valorizando o processo de aprendizagem e reflexão.

• Educação para a transformação social: o objetivo é formar sujeitos críticos, conscientes e capazes de intervir na realidade.

Metodologia

• Seleção de conteúdos com relevância social e cultural

• Aulas organizadas em momentos de problematização, contextualização e síntese

• Incentivo à participação ativa, diálogo e cooperação

• Avaliação formativa: trabalhos em grupo, debates, autoavaliação, projetos

Papel do Professor

• Mediador do conhecimento e da realidade social

• Estimula a curiosidade, a criticidade e a criatividade

• Confronta o senso comum com o conhecimento científico

• Atua com intencionalidade político-pedagógica

Exemplo prático:

Ao trabalhar o tema “futsal”, o professor pode:

1. Resgatar a história do esporte e suas transformações

2. Discutir a exclusão de meninas e pessoas com deficiência

3. Propor vivências com regras adaptadas e equipes mistas

4. Refletir coletivamente sobre inclusão, respeito e democracia

Em resumo: a abordagem Crítico-Superadora não ensina apenas a jogar, mas a pensar, questionar e transformar. Ela vê o corpo como linguagem e a Educação Física como instrumento de emancipação.

Desenvolvimentista: foca no desenvolvimento motor e afetivo

• A abordagem desenvolvimentista na Educação Física tem como foco principal o desenvolvimento motor do aluno, respeitando suas fases de crescimento físico, cognitivo, afetivo e social. Ela parte do princípio de que o movimento é meio e fim da aprendizagem, e que a Educação Física deve oferecer experiências motoras adequadas à idade e ao estágio de desenvolvimento de cada criança.

• Fundamentos teóricos

• Baseada na psicologia do desenvolvimento e na aprendizagem motora

• Inspirada em autores como Gallahue, Go Tani e Manoel

• Considera que o desenvolvimento motor ocorre em fases previsíveis, mas com variações individuais

• Fases do desenvolvimento motor

• Faixa etária

• 0 a 2 anos

• 2 a 7 anos

• 7 a 14 anos

• 14 anos em diante

• Fase do movimento

• Movimentos rudimentares

• Movimentos fundamentais

• Movimentos especializados

• Utilização permanente

• Objetivos da abordagem

• Características principais

• Sentar, engatinhar, andar, segurar

• Correr, saltar, arremessar, equilibrar

• Combinação de habilidades motoras com fins culturais

• Aplicação autônoma das habilidades em esportes e cotidiano

• Desenvolver habilidades motoras básicas e específicas

• Estimular a coordenação, equilíbrio, força e agilidade

• Promover o desenvolvimento integral (motor, cognitivo, afetivo e social)

• Respeitar o ritmo individual de cada aluno

• Papel do professor

• Planejar atividades adequadas à faixa etária

• Observar e avaliar o nível de desenvolvimento motor

• Propor desafios progressivos e variados

• Evitar comparações entre alunos; valorizar a evolução individual

• Avaliação

• Baseada em critérios de desenvolvimento motor

• Observação contínua do progresso

• Ênfase no processo, não apenas no desempenho final

• Críticas à abordagem

• Pode negligenciar o contexto sociocultural do aluno

• Foco excessivo no aspecto biológico e motor

• Risco de padronização excessiva das práticas

• Em resumo: a abordagem desenvolvimentista entende a Educação Física como um laboratório de movimento, onde o aluno aprende a se mover e aprende por meio do movimento respeitando sua idade, estágio de desenvolvimento e singularidade.

• Construtivista: prioriza o jogo e a ludicidade

• A abordagem construtivista na Educação Física parte da ideia de que o aluno constrói ativamente seu conhecimento por meio da interação com o meio, com os colegas e com os desafios propostos. Inspirada principalmente nas teorias de Jean Piaget e Lev Vygotsky, essa abordagem valoriza o processo de aprendizagem mais do que o resultado final.

Fundamentos Teóricos

• Jean Piaget: aprendizagem como resultado da assimilação e acomodação de experiências, respeitando os estágios do desenvolvimento cognitivo.

• Vygotsky: ênfase na interação social e na mediação do professor como facilitador da aprendizagem na chamada Zona de Desenvolvimento Proximal

Características da Abordagem Construtivista

• Elemento

• Aluno

• Professor

• Conteúdos

• Metodologia

• Avaliação

• Descrição

• Protagonista do processo; aprende ao resolver problemas e interagir

• Mediador que propõe desafios e estimula a reflexão

• Jogos, brincadeiras, esportes e atividades corporais com significado

• Exploratória, baseada em conflitos cognitivos e resolução de problemas

• Diagnóstica e formativa; valoriza o progresso individual e coletivo

Exemplo prático em aula

• Tema: Brincadeiras populares Estratégia: O professor propõe uma brincadeira conhecida (ex: amarelinha), observa como os alunos jogam, e depois introduz variações (novas regras, obstáculos, desafios em grupo). Objetivo: Estimular a criatividade, a adaptação a novas situações e a cooperação. Vantagens

• Respeita o ritmo e o estágio de desenvolvimento de cada aluno

• Estimula a autonomia, a criatividade e o pensamento crítico

• Valoriza o erro como parte do processo de aprendizagem

• Promove o aprendizado significativo e contextualizado

Em resumo: a abordagem construtivista ensina a pensar com o corpo em movimento, promovendo uma Educação Física mais humana, reflexiva e centrada no sujeito.

Crítico-emancipatória: busca a autonomia e consciência corporal

A abordagem Crítico-Emancipatória na Educação Física foi proposta pelo pesquisador brasileiro Elenor Kunz e tem como foco central o desenvolvimento da autonomia, consciência crítica e emancipação dos alunos por meio do movimento humano. Ela se inspira em pensadores como Paulo Freire, Jürgen Habermas e Maurice Merleau-Ponty, e integra elementos da fenomenologia e da teoria crítica da Escola de Frankfurt2.

Fundamentos da abordagem

• Movimento como linguagem: o corpo é visto como meio de expressão e comunicação com o mundo.

• Educação para a autonomia: o objetivo não é apenas ensinar técnicas, mas formar sujeitos capazes de refletir e agir criticamente.

• Ação comunicativa: o diálogo e a interação são centrais no processo de ensino-aprendizagem.

• Superação da alienação: busca romper com práticas esportivas padronizadas e excludentes, promovendo vivências significativas.

As três competências centrais (Kunz, 1991)

Competência Descrição

Objetiva Desenvolver a técnica como meio para a autonomia e compreensão crítica

Social Refletir sobre o contexto sociocultural e as relações interpessoais

Comunicativa Expressar-se e interpretar o mundo por meio da linguagem verbal e corporal

Metodologia

• Vivência e descoberta: os alunos experimentam práticas corporais e refletem sobre elas.

• Problematização: o professor propõe questões que desafiam o senso comum e estimulam o pensamento crítico.

• Reconstrução coletiva: os alunos participam da criação de regras, adaptações e sentidos para as atividades.

• Transcendência de limites: o aluno é incentivado a superar barreiras físicas, sociais e simbólicas. Exemplo prático

Atividade: Jogo adaptado de handebol Problematização: “Por que alguns colegas quase não tocam na bola?” Reconstrução: A turma propõe novas regras para garantir a participação de todos, refletindo sobre inclusão e cooperação.

Em resumo

A abordagem Crítico-Emancipatória entende a Educação Física como um espaço de formação crítica, ética e transformadora, onde o corpo é meio de diálogo com o mundo e o movimento é ferramenta de libertação e consciência social

Em resumo: a Educação Física é uma ponte entre o corpo e o mundo. Ela ensina a mover-se, mas também a pensar, sentir e transformar por meio do movimento.

Integrar diferentes abordagens pedagógicas da Educação Física na sala de aula não só é possível como desejável pois permite que o professor responda à complexidade dos alunos, das práticas corporais e dos contextos escolares. Aqui vai uma proposta de como articular as abordagens Crítico-Superadora, Construtivista, Desenvolvimentista e Crítico-Emancipatória em uma prática coerente e potente:

1. Crítico-Superadora como base curricular

• O professor parte da ideia de que as práticas corporais (jogos, esportes, lutas, danças, ginásticas) são conteúdos culturais e devem ser problematizados

• Exemplo: Ao ensinar futsal, o professor discute suas origens, sua relação com a mídia, o machismo nos espaços esportivos e a cultura de rivalidade.

Usa-se essa abordagem para escolher os conteúdos, dar sentido político-pedagógico à aula e romper com a lógica do rendimento.

2. Construtivista para organizar o processo de aprendizagem

• O professor propõe desafios, adapta regras, oferece diferentes vivências para que o aluno descubra soluções e reflita sobre seu próprio processo de aprender.

• Exemplo: Ao ensinar uma nova dança, os alunos observam vídeos, experimentam passos livres e constroem coreografias em grupo.

Ideal para estimular a autonomia, a criatividade e o protagonismo dos alunos.

3. Desenvolvimentista como referência para adequação motora

• As atividades são planejadas respeitando o estágio de desenvolvimento motor da turma.

• Exemplo: Em turmas de 1º ano do fundamental, o professor prioriza atividades com salto, corrida e equilíbrio, sem cobrança técnica exagerada.

Usa-se essa abordagem para garantir segurança, progressão de dificuldade e estímulo físico adequado à idade.

4. Crítico-Emancipatória como dimensão ética e expressiva

• O corpo é visto como expressão e diálogo, e o movimento como possibilidade de reflexão, comunicação e emancipação.

• Exemplo: Em uma aula sobre brincadeiras de rua, os alunos compartilham suas vivências, adaptam regras e refletem sobre exclusões ou medos urbanos.

Fundamenta práticas de escuta ativa, coautoria, participação crítica e transformação

Exemplo integrado de uma sequência didática

Tema: Jogo cooperativo

1. Início (Crítico-Superadora): problematização do individualismo nos jogos escolares

2. Vivência (Desenvolvimentista + Construtivista): construção coletiva de um jogo adaptado com regras inclusivas

3. Reflexão (Crítico-Emancipatória): debate sobre inclusão, respeito às diferenças e propostas de mudança no cotidiano

Conclusão - Usar essas abordagens de forma combinada permite que o professor:

• Respeite os corpos e tempos de cada aluno (Desenvolvimentista)

• Valorize a cultura e o contexto das práticas (Crítico-Superadora)

• Estimule a criatividade e o protagonismo (Construtivista)

• Promova autonomia, consciência crítica e diálogo (Crítico-Emancipatória)

Vamos explorar como a metodologia de Auguste Listello (Educação Física Desportiva Generalizada) e a prática pedagógica da Escola da Ponte podem dialogar com as abordagens Crítico-Superadora, Construtivista, Desenvolvimentista e Crítico-Emancipatória na Educação Física escolar.

1. Método Desportivo Generalizado (Listello) e sua aplicação integrada

A proposta de Listello valoriza o esporte como meio de formação integral, com foco em:

• Educação Física para todos: inclusão e participação ampla

• Iniciação esportiva prazerosa: o jogo como ponto de partida

• Trabalho coletivo e valores sociais: solidariedade, respeito, cooperação

• Adaptação às idades e contextos: progressão pedagógica

Como se articula com as abordagens?

Abordagem Aplicação do Método de Listello

Crítico-Superadora

O esporte é tratado como conteúdo cultural, e o método de Listello pode ser problematizado em sua origem, função social e apropriação histórica.

Construtivista Os jogos e esportes são vivenciados como desafios cognitivos e motores, com regras adaptadas e construção coletiva.

Desenvolvimentista A progressão por faixas etárias e o respeito ao desenvolvimento motor são centrais no método de Listello.

CríticoEmancipatória

O esporte é meio de expressão e diálogo; o professor pode mediar vivências que promovam autonomia e consciência crítica.

Exemplo prático: Ao aplicar o handebol escolar, o professor pode usar o modelo de iniciação esportiva de Listello, adaptando regras, promovendo cooperação e discutindo o papel do esporte na mídia e na sociedade.

2. Escola da Ponte e sua contribuição metodológica

A Escola da Ponte, em Portugal, propõe uma pedagogia centrada na autonomia, na pesquisa e na cogestão democrática. Na Educação Física, isso se traduz em:

• Escolha da modalidade pelos alunos

• Pesquisa e partilha antes da prática

• Avaliação contínua e formativa

• Integração entre faixas etárias

• Autonomia e responsabilidade no planejamento

Como se articula com as abordagens?

Abordagem Aplicação na lógica da Ponte

Crítico-Superadora Os conteúdos corporais são contextualizados e discutidos criticamente com os alunos.

Construtivista Os alunos constroem seus planos de estudo e vivenciam o movimento como descoberta.

Desenvolvimentista As atividades respeitam o ritmo e o estágio de cada aluno, com mediação sensível.

CríticoEmancipatória A autonomia, o diálogo e a coautoria são pilares da prática pedagógica.

Exemplo prático: Em vez de uma aula tradicional de atletismo, os alunos da Ponte podem escolher investigar diferentes formas de corrida, propor desafios entre grupos e refletir sobre o uso do corpo no cotidiano urbano.

Integração possível: Listello + Ponte + Abordagens

Um professor pode:

• Utilizar os jogos esportivos generalizados de Listello como ponto de partida

• Aplicar a metodologia da Ponte para permitir que os alunos escolham, pesquisem e adaptem essas práticas

• Conduzir o processo com base nas abordagens pedagógicas críticas e construtivas, promovendo desenvolvimento motor, reflexão social e autonomia

Aqui está um roteiro de formação docente voltado à aplicação integrada das abordagens pedagógicas da Educação Física (Crítico-Superadora, Construtivista, Desenvolvimentista e Crítico-Emancipatória), com inspirações metodológicas de Listello e da Escola da Ponte. A proposta é vivencial, reflexiva e prática ideal para encontros presenciais ou virtuais com professores da Educação Básica.

ROTEIRO DE FORMAÇÃO DOCENTE: “Educação Física em Perspectiva Integrada”

Objetivo geral

Promover a reflexão e a vivência de abordagens pedagógicas contemporâneas da Educação Física, articulando teoria e prática por meio de experiências interativas e colaborativas, com base em concepções críticas, construtivistas e emancipatórias.

Duração sugerida

3 encontros de 4h cada (total: 12 horas) Pode ser adaptado para formação contínua, curso híbrido ou oficina intensiva.

Encontro 1 – “Abordagens e sentidos do ensinar”

Objetivo: Identificar e problematizar as diferentes abordagens pedagógicas da Educação Física e suas possibilidades de articulação.

Etapas:

1. Dinâmica de abertura: "Linha do Tempo da Minha Educação Física" (vivência e socialização)

2. Exposição dialogada:

o Crítico-Superadora: cultura corporal e crítica social

o Desenvolvimentista: fases e maturação motora

o Construtivista: autonomia, descoberta e ludicidade

o Crítico-Emancipatória: linguagem, diálogo e libertação

3. Estudo de caso em grupo: análise de trechos de aulas reais

4. Mapa de convergência: construção coletiva de um infográfico com interseções entre abordagens

5. Reflexão final: “Que tipo de professor eu sou ou desejo ser?”

Encontro 2 – “Vivências e mediações corporais”

Objetivo: Experimentar atividades práticas e metodologias ativas alinhadas às abordagens estudadas.

Etapas:

1. Vivência prática: Jogos cooperativos com base no Método de Listello (adaptado)

2. Atividade reflexiva: reconstrução coletiva das regras e sentidos do jogo

3. Oficina criativa:

o Grupos elaboram uma sequência didática integrando diferentes abordagens

o Inspiração: estilo da Escola da Ponte → alunos como protagonistas, pesquisa prévia, mediação horizontal

4. Rodada de apresentação e feedback entre pares

5. Roda de conversa: Como criar aulas que respeitam o corpo, o contexto e a cultura?

Encontro 3 – “Planejamento transformador”

Objetivo: Elaborar planos de aula e projetos interdisciplinares com base nas abordagens integradas.

Etapas:

1. Apresentação do modelo de plano integrado (estrutura sugerida: conteúdo + abordagem + método + problematização)

2. Grupo de projeto: criação de um plano de aula ou sequência interdisciplinar (com Artes, Língua Portuguesa, História etc.)

3. Consulta pedagógica: apoio individual ou em duplas com tutores

4. Mostra dos projetos com banca crítica leve

5. Encerramento com autoavaliação e construção de pactos formativos

Materiais de apoio sugeridos

• Textos de referência (Coletivo de Autores, Kunz, Gallahue, Vygotsky, Parlebas)

• Vídeos de aulas reais ou dramatizações

• Cartazes e fichas para jogos

• Planilhas de planejamento e avaliação formativa

Durante meu tempo – 33 anos – como Professor de Educação Física, e mesmo aquele que me dediquei ao Treinamento Esportivo, Atletismo, Voleibol, e Basquetebol, me utilizei dessa metodologia hibrida

Agora, na Revista do Léo também estará voltada para o Lazer passivo: Literatura ludovicense/maranhense, posto que deixo de publicar a REVISTA LUDOVICUS.

Lazer passivo é aquele em que a pessoa atua como receptora de estímulos, sem envolvimento físico direto ou produção ativa. Ele está associado ao descanso, contemplação e relaxamento, sendo uma forma legítima e necessária de recuperar energias e aliviar tensões do cotidiano.

Características do lazer passivo

• Envolve pouca ou nenhuma atividade física

• É geralmente individual ou de baixa interação

• Foca no consumo de conteúdos ou experiências prontas

• Pode ser cultural, artístico ou recreativo

• Proporciona descanso mental e emocional Exemplos comuns

• Assistir a filmes, séries ou televisão

• Ouvir música ou podcasts

• Ir ao cinema ou ao teatro

• Navegar nas redes sociais

• Ler um livro ou revista

• Observar a natureza ou contemplar paisagens

Lazer passivo x lazer ativo

Aspecto Lazer Passivo

Lazer Ativo

Participação Receptiva Participativa

Movimento físico Mínimo ou inexistente Presente e intencional

Exemplos Ver TV, ouvir música, ir ao cinema Jogar futebol, dançar, caminhar

Benefícios Relaxamento, contemplação Saúde física, socialização, vitalidade

Reflexão crítica

Alguns autores, como Dumazedier e Marcelino, alertam que o lazer passivo pode ser alienante quando consumido de forma acrítica e excessiva, especialmente quando mediado pela indústria cultural. Por isso, é importante equilibrar momentos de lazer passivo com práticas ativas e reflexivas.

Literatura é vida em palavras - Como disse o crítico Afrânio Coutinho: “A literatura é a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra.” Ela nos permite viver mil vidas, visitar tempos e lugares distantes, e sentir o que nunca vivemos tudo isso com o poder de uma página.

É a arte de criar com palavras. Ela transforma a linguagem em expressão estética, emoção, crítica e imaginação. Mais do que um conjunto de textos, a literatura é uma forma de compreender o mundo e a nós mesmos seja por meio de histórias fictícias, poemas líricos, peças teatrais ou narrativas épicas.

O que caracteriza a literatura?

• Uso artístico da linguagem: trabalha com o sentido conotativo (figurado), explorando metáforas, ritmos, imagens e emoções.

• Expressão subjetiva e simbólica: reflete sentimentos, ideias, visões de mundo e experiências humanas.

• Função estética e reflexiva: provoca prazer, inquietação, empatia e pensamento crítico.

• Diversidade de formas: pode ser escrita, oral, visual ou digital; em prosa ou verso.

Principais funções da literatura

• Entreter: encantar com narrativas, personagens e mundos imaginários.

• Educar: transmitir valores, conhecimentos e visões de mundo.

• Preservar culturas: registrar histórias, mitos, tradições e memórias coletivas.

• Provocar reflexão: questionar normas sociais, políticas e existenciais.

• Desenvolver linguagem e pensamento: ampliar vocabulário, criatividade e empatia.

Gêneros literários clássicos

Gênero Características principais Exemplos

Lírico Expressa sentimentos e emoções (eu lírico) Poemas, sonetos, odes

Narrativo Conta histórias com personagens, tempo e espaço Romances, contos, novelas

Dramático Representa ações por meio de diálogos e cenas Peças teatrais, tragédias

Principais movimentos literários e seus autores mais marcantes, tanto no Brasil quanto no mundo.

Um movimento literário (ou escola literária) é um conjunto de obras e autores que compartilham características estéticas, temáticas e ideológicas em determinado período histórico. Eles refletem as transformações culturais, sociais, políticas e filosóficas de sua época e ajudam a entender como a literatura evolui ao longo do tempo.

Principais Movimentos Literários

Movimento Período Características Autores marcantes

Trovadorismo

Humanismo

Séculos XII–XV Poesia cantada, amor cortês, cantigas líricas e satíricas Paio Soares de Taveirós, Dom Dinis

Séculos XV–XVI Transição entre Idade Média e Renascimento, foco no homem e na razão Gil Vicente, Fernão Lopes

Classicismo Século XVI Influência greco-romana, equilíbrio, racionalismo, sonetos Luís de Camões

Quinhentismo

Século XVI (Brasil) Literatura de informação e catequese, textos descritivos Pero Vaz de Caminha, José de Anchieta

Movimento Período Características

Barroco Séculos XVII–XVIII

Arcadismo Século XVIII

Romantismo Século XIX

Realismo Final do século XIX

Naturalismo Final do século XIX

Parnasianismo Final do século XIX

Simbolismo

PréModernismo

Fim do século XIX

Início do século XX

Modernismo 1922–1945 (Brasil)

Dualismo (fé x razão), linguagem rebuscada, antíteses e paradoxos

Bucolismo, simplicidade, racionalismo, “carpe diem”

Sentimentalismo, nacionalismo, idealização, subjetividade

Objetividade, crítica social, análise psicológica

Autores marcantes

Gregório de Matos, Padre Antônio Vieira

Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio M. da Costa

José de Alencar, Gonçalves Dias, Victor Hugo

Machado de Assis, Eça de Queirós

Determinismo, cientificismo, retrato cru da realidade Aluísio Azevedo, Émile Zola

“Arte pela arte”, rigor formal, sonetos perfeitos

Subjetividade, misticismo, musicalidade

Transição, crítica social, regionalismo

Ruptura com o passado, linguagem coloquial, nacionalismo crítico

PósModernismo 1945 em diante Fragmentação, intertextualidade, pluralidade de estilos

Olavo Bilac, Alberto de Oliveira

Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens

Lima Barreto, Euclides da Cunha

Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Drummond

Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Saramago

Autores marcantes da literatura mundial

• William Shakespeare (Inglaterra) – Hamlet, Romeu e Julieta

• Dante Alighieri (Itália) – A Divina Comédia

• Miguel de Cervantes (Espanha) – Dom Quixote

• Fiódor Dostoiévski (Rússia) – Crime e Castigo

• Franz Kafka (Tchecoslováquia) – A Metamorfose

• Gabriel García Márquez (Colômbia) – Cem Anos de Solidão

• Virginia Woolf (Inglaterra) – Mrs. Dalloway

• George Orwell (Inglaterra) – 1984, A Revolução dos Bichos

Autores marcantes da literatura brasileira

• Machado de Assis – Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas

• Clarice Lispector – A Hora da Estrela, A Paixão Segundo G.H.

• Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas

• Carlos Drummond de Andrade – A Rosa do Povo

• Cecília Meireles – Romanceiro da Inconfidência

• Jorge Amado – Gabriela, Cravo e Canela

• Lima Barreto – Triste Fim de Policarpo Quaresma

• Conceição Evaristo – Ponciá Vicêncio, Olhos d’Água

A literatura maranhense tem uma trajetória rica e singular, marcada por ciclos próprios que dialogam com os movimentos nacionais, mas também expressam identidades locais. Abaixo, organizei os principais movimentos literários no Maranhão, com seus períodos aproximados e características:

Panorama dos Movimentos Literários no Maranhão

Período Movimento / Ciclo Características e Autores Início do século XVII Literatura de Impressões Relatos de padres capuchinhos franceses sobre o território maranhense (literatura de viagem)

Período Movimento / Ciclo Características e Autores

1832–1870 Arcadismo e Romantismo Maranhense

1870–1900 Realismo / Naturalismo

Início com Odorico Mendes (Hino à Tarde); destaque para Gonçalves Dias e o “Grupo Maranhense”

Aluísio Azevedo (O Mulato, O Cortiço), crítica social e racial

1900–1922 Pré-Modernismo Graça Aranha (Canaã), Coelho Neto, Viriato Correia

1922–1945 Modernismo Maranhense

1970–1980 Movimento Antroponáutica

1980–2000

Pós-modernismo e regionalismo crítico

2000–atualidade Literatura contemporânea e periférica

Destaques históricos

Influência da Semana de Arte Moderna; autores como Josué Montello e João Mohana

Movimento poético de ruptura e ousadia estética em São Luís; nomes como Viriato Gaspar, Chagas Val e Luís Augusto Cassas

Nauro Machado, José Chagas, José Louzeiro; poesia existencial, crítica urbana e social

Vozes femininas, negras e LGBTQIA+; destaque para autores independentes e coletivos literários urbanos

• Maria Firmina dos Reis (1825–1917): primeira romancista negra do Brasil, autora de Úrsula (1859), obra abolicionista e pioneira.

• Gonçalves Dias: símbolo do romantismo nacional, com forte identidade maranhense.

• Aluísio Azevedo: expoente do naturalismo brasileiro, com crítica social contundente.

• Movimento Antroponáutica: marco da contracultura poética no Maranhão durante a ditadura militar.

Curiosidade: “Atenas Brasileira”

São Luís foi chamada de Atenas Brasileira no século XIX devido à intensa produção literária e ao número de intelectuais e poetas um símbolo da centralidade cultural do Maranhão no cenário nacional da época.

A chamada Literatura de Impressões não é um movimento literário formal, mas sim uma forma de escrita que valoriza a subjetividade, a sensorialidade e a experiência imediata do autor diante do mundo. Ela se aproxima do que chamamos de impressionismo literário, uma estética que surgiu no final do século XIX, influenciada pela pintura impressionista (como a de Monet) e que se manifesta na literatura por meio da ênfase nas emoções, percepções e estados de alma.

Características da Literatura de Impressões

• Registro do instante vivido: o foco está na percepção momentânea, não na descrição objetiva.

• Subjetividade intensa: o mundo é filtrado pelas emoções e sensações do narrador ou personagem.

• Estilo fragmentado e sensorial: frases curtas, metáforas, sinestesias e ritmo poético.

• Pouca linearidade: a narrativa pode ser descontínua, como um fluxo de consciência.

• Ênfase na atmosfera: mais importante que o enredo é o clima emocional da cena.

Exemplos e influências

• Clarice Lispector: sua obra Água Viva é um exemplo notável de “escritura de impressões”, onde o tempo, o eu e a linguagem se dissolvem em sensações.

• Machado de Assis (em sua fase madura), Raul Pompeia e Euclides da Cunha também apresentam traços impressionistas em suas descrições psicológicas e sensoriais.

• Marcel Proust: com Em Busca do Tempo Perdido, explora a memória involuntária e a percepção subjetiva do tempo.

• Virginia Woolf e James Joyce: com o uso do fluxo de consciência, aproximam-se dessa estética.

Impressão ≠ Impressão fotográfica

Ao contrário do realismo, que busca retratar o mundo com fidelidade objetiva, a literatura de impressões não quer capturar o fato, mas o efeito que ele causa. Como disse o crítico José Guilherme Merquior, trata-se de uma escrita que “valoriza o instante, o fragmento, o instável, o subjetivo”

O Arcadismo também conhecido como Neoclassicismo ou Setecentismo foi um movimento literário do século XVIII que surgiu na Europa e se desenvolveu no Brasil entre 1768 e 1808, marcado pela valorização da simplicidade, racionalismo e vida bucólica, em oposição ao exagero e à complexidade do Barroco.

Contexto histórico

• Influência do Iluminismo: valorização da razão, da ciência e da liberdade.

• Reação ao Barroco: rejeição ao excesso de ornamentos e à religiosidade intensa.

• No Brasil, coincidiu com o Ciclo do Ouro e a Inconfidência Mineira

• Marco inicial: publicação de Obras Poéticas (1768), de Cláudio Manuel da Costa.

Características principais

• Linguagem simples e clara, com frases na ordem direta.

• Temas bucólicos: idealização da vida no campo (locus amoenus).

• Fuga da cidade (fugere urbem): crítica à vida urbana e seus excessos.

• Aproveitar o presente (carpe diem): viver o agora com equilíbrio.

• Equilíbrio e moderação (aurea mediocritas): rejeição aos extremos.

• Uso de pseudônimos pastorais e referências à mitologia greco-romana.

Principais autores e obras no Brasil

Autor Obra destacada

Cláudio Manuel da Costa Obras Poéticas (1768)

Observações

Iniciador do Arcadismo no Brasil

Tomás Antônio Gonzaga Marília de Dirceu, Cartas Chilenas Amor idealizado e crítica política

Basílio da Gama O Uraguai

Santa Rita Durão Caramuru

Legado

Poema épico com crítica aos jesuítas

Poema épico indianista

O Arcadismo foi a última escola literária da era colonial brasileira, preparando o terreno para o Romantismo,quesurgiriaapósa IndependênciadoBrasil.Elerepresentaumafasedetransiçãoentreomundo antigo e o moderno, entre a razão e a emoção, entre o campo e a cidade.

Odorico Mendes (1799–1864). o árcade maranhense

• Nascido em São Luís do Maranhão, Odorico Mendes foi poeta, tradutor, político e professor.

• É considerado o principal representante do Arcadismo no Maranhão, embora sua obra também dialogue com o Neoclassicismo e o início do Romantismo.

• Sua produção poética segue os preceitos árcades: linguagem clara, equilíbrio formal, referências à mitologia clássica e idealização da natureza.

• Foi o primeiro brasileiro a traduzir integralmente Homero para o português, com destaque para suas versões da Ilíada eda Odisseia oquereforçasualigação com os ideais clássicosdo Arcadismo. Obras e legado

• Traduções de Homero: feitas em versos decassílabos, com fidelidade ao estilo clássico.

• Poesia original: embora menos conhecida, sua produção lírica segue o modelo árcade, com forte influência da cultura greco-latina.

• Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e teve papel relevante na vida intelectual do Império.

Odorico Mendes é o nome maranhense que abraçou o Arcadismo, sendo um elo entre a tradição clássica e a formação da literatura brasileira no século XIX.

O Romantismo Maranhense foi um dos capítulos mais expressivos da literatura brasileira do século XIX. Com epicentro em São Luís conhecida como “Atenas Brasileira” esse movimento reuniu intelectuais que buscavam afirmar uma identidade nacional e regional por meio da poesia, da prosa e do engajamento político-cultural.

Características do Romantismo no Maranhão

• Nacionalismo e indianismo: valorização do indígena como herói nacional e símbolo de pureza.

• Sentimentalismo e idealização amorosa: forte presença da subjetividade e da exaltação da mulher ideal.

• Linguagem lírica e musical: uso de versos rimados, métrica regular e imagens da natureza.

• Engajamentopolíticoesocial: muitos autores participaram davidapúblicaeusaram aliteraturacomo instrumento de afirmação cultural da província.

Principais nomes do Romantismo Maranhense

Autor Destaques literários

Gonçalves Dias

Canção do Exílio, I-Juca-Pirama, Os Timbiras

Odorico Mendes Traduções da Ilíada e Odisseia

João Lisboa Jornal de Timon

Sotero dos Reis Gramático e poeta

Maria Firmina dos Reis Úrsula (1859)

O “Grupo Maranhense” e a Atenas Brasileira

Contribuição

Maior expoente do indianismo romântico brasileiro

Ligação com o neoclassicismo e transição para o romantismo

Crítica política e ensaísmo histórico-literário

Defensor da língua portuguesa e da cultura maranhense

Primeira romancista negra do Brasil; crítica à escravidão

Durante o século XIX, São Luís se destacou como um dos maiores centros intelectuais do país. O chamado “Grupo Maranhense” reunia poetas, jornalistas, gramáticos e políticos que viam na literatura uma forma de afirmação cultural e resistência simbólica. Essa efervescência levou à consagração da cidade como a “Atenas Brasileira”, em alusão à sua produção literária e erudição.

Legado

• Influenciou diretamente o Romantismo nacional, especialmente na 1ª geração romântica.

• Contribuiu para a formação do cânone literário brasileiro

• Inspirou movimentos posteriores, como o Pré-Modernismo e a literatura afrodescendente.

Realismo e Naturalismo foram dois movimentos literários que surgiram na segunda metade do século XIX, como reação ao idealismo e sentimentalismo do Romantismo. Ambos buscaram representar a realidade de forma mais objetiva, mas com ênfases diferentes.

Realismo – A arte de observar criticamente

Características principais:

• Representação objetiva e crítica da sociedade

• Foco na psicologia dos personagens

• Linguagem clara, direta e descritiva

• Crítica à hipocrisia burguesa e às instituições sociais

• Narrador observador e analítico

Autores e obras marcantes:

• Machado de Assis – Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro

• Raul Pompeia – O Ateneu

• Eça de Queirós (Portugal) – O Primo Basílio, Os Maias

Naturalismo – A literatura como laboratório social

Características principais:

• Derivado do Realismo, mas com viés científico e determinista

• Influência do positivismo e do darwinismo social

• Personagens guiados por instintos, hereditariedade e meio

• Descrições cruas, com temas como miséria, violência, sexualidade

• Narrador impessoal, quase clínico

Autores e obras marcantes:

• Aluísio Azevedo – O Mulato, O Cortiço

• Adolfo Caminha – A Normalista

• Émile Zola (França) – Germinal, Thérèse Raquin

Comparativo rápido

Aspecto Realismo

Naturalismo

Ênfase Psicologia e crítica social Biologia, instinto e determinismo

Personagens Complexos, introspectivos

Narrador Crítico e reflexivo

Tipificados, instintivos

Impessoal e observador

Temas Adultério, hipocrisia, moralidade Miséria, vício, violência, patologia

Estilo Sóbrio e analítico

Descritivo e científico

o Realismo olha para dentro da mente humana; o Naturalismo, para o corpo e o meio. Ambos revelam as contradições da sociedade, mas com lentes diferentes.

O Maranhão é um celeiro literário riquíssimo, com autores que marcaram profundamente a literatura brasileira em diferentes épocas e estilos. Aqui vai uma seleção de autores maranhenses essenciais, organizados por período:

Autores Clássicos

Autor Destaques literários

Gonçalves Dias Canção do Exílio, Os Timbiras

Maria Firmina dos Reis Úrsula (1859), Gupeva

Aluísio Azevedo O Mulato, O Cortiço, Casa de Pensão

Movimento

Romantismo

Romantismo / Abolicionismo

Naturalismo

Graça Aranha Canaã, organizador da Semana de Arte Moderna (1922) Pré-Modernismo

Coelho Neto Sertão, A Conquista, Rapsódias

Odorico Mendes Traduções da Ilíada e Odisseia

Autores Modernos e Contemporâneos

Autor Destaques literários Gênero / Estilo

Realismo / Simbolismo

Arcadismo / Neoclassicismo

Nauro Machado Esôfago Terminal, Campo sem Base Poesia existencial

Ferreira Gullar Poema Sujo, Dentro da Noite Veloz Poesia / Ensaio

José Chagas Os Telhados, Canhões do Silêncio Poesia urbana

Josué Montello Os Tambores de São Luís, Cais da Sagração Romance histórico

João Mohana Maria da Tempestade, O Encontro Romance / Espiritualidade

José Louzeiro Infância dos Mortos, Lúcio Flávio Romance-reportagem

Autores da nova geração

• Duda Veloso, Déa Alhadeff, Samuel Barreto, Wilson Marques, Sharlene Serra e Herbert de JesusdosSantossãonomesquevêm renovandoacenaliteráriamaranhensecomobrasinfantojuvenis, poesia contemporânea e ficção urbana.

O Pré-Modernismo foi um período literário brasileiro de transição entre o século XIX e o Modernismo, compreendido entre 1902 e 1922. Embora não seja considerado uma escola literária formal, ele reúne autores

e obras que rompem com o academicismo, denunciam as desigualdades sociais e antecipam as inovações estéticas da Semana de Arte Moderna.

Contexto histórico

• Brasil República Velha: domínio das oligarquias (política do café com leite)

• Conflitos sociais: Guerra de Canudos, Revolta da Vacina, Revolta da Chibata

• Industrialização e urbanização crescentes no Sudeste

• Desigualdade regional: miséria no sertão, abandono do Norte e Nordeste

• Influência das vanguardas europeias (expressionismo, futurismo, cubismo)

Características do Pré-Modernismo

• Crítica social e política: denúncia da exclusão, do racismo, da pobreza

• Regionalismo: retrato do sertão, do caipira, do imigrante, do negro

• Linguagem mais coloquial, próxima da fala popular

• Hibridismo estético: mistura de estilos (realismo, naturalismo, simbolismo)

• Ruptura com o idealismo romântico e o formalismo parnasiano

• Preocupação com a identidade nacional

Principais autores e obras

Autor Obra principal Destaques Euclides da Cunha Os Sertões (1902)

Guerra de Canudos, sertão nordestino, mistura de ciência e literatura

Lima Barreto Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) Crítica ao nacionalismo ufanista, racismo e burocracia

Monteiro Lobato Urupês (1918), Cidades Mortas Jeca Tatu, crítica ao atraso rural e à elite

Graça Aranha Canaã (1902) Imigração, identidade nacional, racismo Augusto dos Anjos Eu (1912) Poesia sombria, científica, existencialista

Pré-Modernismo no Maranhão

• Graça Aranha, maranhense, é um dos nomes centrais do período, com Canaã como obra inaugural.

• O Maranhão também vivia tensões entre tradição e modernidade, refletidas em sua produção cultural.

o Pré-Modernismo expôs o Brasil real, com suas contradições e feridas sociais, e preparou o terreno para a explosão criativa do Modernismo em 1922.

O Modernismo Maranhense é um capítulo singular da literatura brasileira, pois não seguiu o mesmo ritmo do movimento iniciado em 1922 com a Semana de Arte Moderna em São Paulo. No Maranhão, o modernismo ganhou força a partir da década de 1940, com características próprias, marcadas por resistência cultural, crítica social e busca por identidade regional.

Contexto histórico e cultural

• O Maranhão vivia um período de decadência econômica e isolamento cultural, o que retardou a assimilação das vanguardas modernistas.

• A cidade de São Luís, antes chamada de “Atenas Brasileira”, buscava retomar seu prestígio intelectual.

• Omodernismomaranhensefloresceuemmeioagrêmiosliterários,jornaisecentros culturais,como o Centro Cultural Gonçalves Dias.

Características do Modernismo no Maranhão

• Poesia engajada e crítica: denúncia das desigualdades sociais, do abandono urbano e da exclusão cultural.

• Valorização da linguagem coloquial, mas com forte densidade filosófica e existencial.

• Resgate da identidade maranhense: paisagens, personagens e dilemas locais ganham centralidade.

• Influência das vanguardas nacionais, mas com adaptação ao contexto regional.

Autores maranhenses modernistas de destaque

Autor Contribuições principais

Nascimento

Morais Filho

Bandeira Tribuzzi

José Chagas

Nauro Machado

Poeta, ensaísta e biógrafo de Maria Firmina dos Reis. Obras como Clamor da Hora Presente e Azulejos expressam crítica social e lirismo moderno.

Poeta e jornalista. Traz inovação formal e sensibilidade urbana. Fundador da Academia Maranhense de Letras.

Poeta da cidade e da solidão. Sua obra reflete o concreto urbano e o desencanto moderno.

Poeta existencialista, com linguagem densa e filosófica. Considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

Instituições e espaços de difusão

• Centro Cultural Gonçalves Dias: fundado por jovens intelectuais nos anos 1940, foi o principal espaço de debate e difusão do modernismo no estado.

• Jornais erevistas literárias: como A Ilha, O Estado do Maranhão e Jornal de Letras,quepublicavam crônicas, poemas e ensaios modernistas.

Jornal A Ilhacirculou em SãoLuís doMaranhãonos anos 1940.Essa publicaçãofoiumadas mais importantes da cena literária e cultural maranhense da época, funcionando como suplemento ou periódico independente voltado à crítica, à poesia e à crônica.

Jornal A Ilha (década de 1940)

• Era um jornal de cunho literário e cultural, com forte presença de poetas, cronistas e ensaístas locais.

• Serviu como plataforma de estreia para jovens escritores e espaço de circulação para nomes já consolidados.

• Publicava poemas, ensaios, críticas literárias, crônicas e textos de opinião, com foco na cultura maranhense e brasileira.

• Tinha um tom modernizante, dialogando com o modernismo nacional, mas com forte ancoragem na tradição local.

Colaboradores e influências

• Embora os registros sejam escassos, há indícios de que autores como Bandeira Tribuzzi, José Chagas e Reis Carvalho tenham colaborado ou sido influenciados por esse circuito.

• O jornal também dialogava com outras publicações da época, como O Estado do Maranhão e A Ilustração Maranhense. Importância histórica

• O Jornal A Ilha dos anos 1940 ajudou a preparar o terreno para a geração de escritores que floresceria nas décadas seguintes, como os ligados à Movelaria Globo e à Antroponáutica.

• É citado em pesquisas sobre a formação da identidade literária maranhense moderna, especialmente no contexto da “Atenas Brasileira” em transição.

Jornal de Letras (Jornal do Maranhão) - Fundado em 1935 como O Correspondente, passou a se chamar Jornal do Maranhão em 1957. É uma publicação mensal da Arquidiocese de São Luís, com foco em formação cristã, cultura e literatura. Tem tiragem de mais de 8 mil exemplares e circulação em todas as paróquias da arquidiocese, além de municípios do interior. Conta com colunistas como Sebastião Duarte, Carlos Nina e Lourival Serejo, membros da Academia Maranhense de Letras. Atua como registro da memória cultural e religiosa do Maranhão, com editorias dedicadas à literatura, opinião e formação crítica.

O Estado do Maranhão Fundado em 1959, foi um dos jornais mais influentes do estado até encerrar sua versão impressa em 2021, migrando para o portal Imirante.com Teve papel central na divulgação de autores maranhenses, com colunas assinadas por nomes como José Chagas, Jomar Moraes, Benedito Buzar e José Louzeiro. Criou o Caderno Alternativo, espaço dedicado à crítica literária, poesia, crônicas e ensaios. Foi também um espaço de resistência cultural durante o regime militar, com textos de viés crítico e poético.

O Caderno Alternativo foi um dos mais importantes suplementos culturais do jornal O Estado do Maranhão, com circulação regular por mais de três décadas, até o encerramento da versão impressa do jornal em 2021. Ele teve papel central na divulgação da produção artística e literária maranhense, sendo um espaço de resistência simbólica e de afirmação da identidade cultural do estado. Um suplemento de cultura que circulava de terça-feira a domingo, com cerca de oito páginas em formato standard; Dedicado a notícias, críticas, entrevistas e reportagens sobre literatura, música, teatro, cinema e artes visuais; Tinha uma equipe fixa de jornalistas e colaboradores.

Importância para a literatura maranhense - Publicou textos de autores como José Chagas, Jomar Moraes, Fernando Abreu, Laura Amélia Damous, Zeca Tocantins e Adenis Matias; Serviu como plataforma de estreia para jovens escritores e espaço de circulação para nomes consagrados; Foi palco de reportagens memoráveis, como a de Adenis Matias sobre a Ilha dos Lençóis, considerada um marco do jornalismo literário maranhense Encerramento e legado - O jornal O Estado do Maranhão encerrou sua edição impressa em 23 de outubro de 2021, após mais de 60 anos de circulação. O Caderno Alternativo deixou um vazio simbólico na imprensa cultural do estado, mas seu legado permanece vivo na memória de leitores, escritores e pesquisadores

O movimento literário maranhense das décadas de 1930 e 1940, um período de transição e afirmação cultural que antecede os movimentos mais conhecidos como a Movelaria Globo e a Antroponáutica. Esse momento é marcado por uma geração de escritores que buscavam modernizar a literatura local, dialogando com o modernismo brasileiro, mas mantendo vínculos com a tradição romântica e simbolista. Características do período (1930–1940)

• Forte influência do Modernismo de 1922, mas com recepção tardia no Maranhão

• Presença de temas regionais, como o sertão, o folclore e a religiosidade popular

• Linguagem mais econômica e crítica, rompendo com o excesso retórico do passado

• Diálogo com revistas literárias e jornais locais, como A Mocidade, O Combate e A Ilustração Maranhense

Autores em destaque

• José Chagas – embora mais ativo nos anos 1940 e 1950, começou a publicar nesse período

• Bandeira Tribuzzi – poeta e jornalista, considerado um elo entre o simbolismo e o modernismo

• Luís Viana Filho – autor de crônicas e ensaios com forte carga política

• Josué Montello – começou a se destacar no final dos anos 1930, com romances e ensaios históricos

• Reis Carvalho – poeta e crítico, defensor da valorização da literatura regional Instituições e espaços de circulação

• Academia Maranhense de Letras – embora fundada em 1908, teve papel importante na legitimação dos autores da época

• Grêmios literários escolares e clubes de leitura – espaços de formação e debate entre jovens escritores

• Imprensa local – jornais como O Imparcial e O Estado do Maranhão publicavam crônicas, poemas e ensaios

Legado Essa geração preparou o terreno para os movimentos mais radicais das décadas seguintes, como a Movelaria Globo (anos 1960–70) e a Antroponáutica (anos 1970). Eles foram responsáveis por inserir o Maranhão no circuito do modernismo brasileiro, ainda que com uma voz própria, marcada pela introspecção, religiosidade e crítica social sutil.

Legado do Modernismo Maranhense: consolidou uma literatura crítica, autoral e regionalizada, que dialoga com o Brasil moderno sem perder sua raiz local.

• Influenciou gerações posteriores e ajudou a resgatar vozes esquecidas, como a de Maria Firmina dos Reis.

Movimento da Movelaria Globo, um grupo artístico-literário surgido em São Luís do Maranhão no final dos anos 1960 e início dos 1970, que marcou uma fase pós-modernista da literatura maranhense anterior à Antroponáutica, mas já rompendo com o formalismo tradicional.

Movelaria Globo: o nome e o espírito

• O nome vem da antiga Movelaria Globo, uma loja de móveis localizada na Rua Grande, onde os integrantes do grupo se reuniam informalmente.

• Era um ponto de efervescência cultural, onde se discutia literatura, política, música e arte tudo com um viés de experimentação e crítica social.

• O grupo não chegou a publicar um manifesto formal, mas suas ações e produções indicavam uma clara ruptura com o academicismo e uma abertura ao cotidiano, à oralidade e à cultura popular urbana

Principais nomes associados

• Nauro Machado (embora mais solitário, dialogava com o grupo)

• José Chagas

• Bandeira Tribuzzi (ponte entre o modernismo e o novo)

• Luís Augusto Cassas (que depois integraria a Antroponáutica)

• Josué Montello (em outro registro, mas contemporâneo e influente)

Características literárias

• Mistura de gêneros e linguagens

• Influência do concretismo e da poesia marginal

• Forte presença da cidade de São Luís como personagem e cenário

• Crítica à ditadura e à repressão, ainda que de forma velada

• Interesse por temas como identidade, memória e resistência

Contexto histórico e cultural

• O Maranhão vivia um momento de tensão entre tradição e modernidade, com a urbanização acelerada e o impacto da ditadura militar.

• AMovelariaGlobofoiumaespéciede“laboratóriopoético”queantecipou oespíritodacontracultura e da poesia performática que viria com a Antroponáutica.

O Movimento Antroponáutica foi um marco da poesia maranhense nos anos 1970, surgido como uma resposta ousada e contracultural à tradição literária vigente. Criado em São Luís do Maranhão, por volta de 1971, o movimento propunha uma renovação estética e existencial da poesia, em meio ao contexto da ditadura militar e da estagnação cultural local.

O que foi a Antroponáutica?

• UmmovimentoliterárioeartísticoquebuscavarompercomoformalismoherdadodoParnasianismo e do Simbolismo ainda presentes na cena maranhense.

• Inspirado no poema Antroponáutica, de Bandeira Tribuzi, que dizia: “o infinito maior é o próprio homem” daí o nome do grupo.

• Reuniu jovens poetas que queriam “mudar o mundo pela poesia”, com atitude libertária, experimental e urbana.

Principais integrantes

• Viriato Gaspar

• Raimundo Fontenele

• Chagas Val

• Valdelino Cécio

• Luís Augusto Cassas

Esses cinco poetas formaram o núcleo original, mas o movimento também dialogou com músicos, artistas plásticos e jornalistas da época.

Características do movimento

• Ruptura com a tradição: rejeição à poesia acadêmica e à linguagem rebuscada.

• Poesia como atitude: escrita visceral, urbana, existencial e provocadora.

• Intervenção cultural: lançamentos performáticos, recitais em bares, uso de espaços públicos.

• Interdisciplinaridade: diálogo com música, teatro, artes visuais e contracultura.

• Resistência política: atuaram em meio à repressão da ditadura, com ironia e irreverência.

Obras e legado

• Antologia Poética do Movimento Antroponáutica (1972): marco editorial do grupo, com capa de César Teixeira.

• Participação na Antologia Hora do Guarnicê, organizada pela Fundação Cultural do Maranhão.

• Influenciaram gerações posteriores de poetas e artistas maranhenses, abrindo espaço para uma poesia mais livre, urbana e crítica2.

Importância histórica

• A Antroponáutica foi um movimento de vanguarda regional, que antecipou debates sobre identidade, linguagem e resistência.

• Atuou como ponte entre o modernismo tardio e a poesia contemporânea no Maranhão.

• É considerada por muitos estudiosos como o último grande movimento coletivo da poesia maranhense do século XX

Embora muitos dos poemas estejam em edições raras ou esgotadas, aqui vão alguns trechos representativos de autores ligados ao movimento:

Viriato Gaspar - “A cidade me mastiga os ossos e cospe minha alma no asfalto. Mas ainda danço com os pés em brasa e o peito em flor.”

Chagas Val -“Soufilho do concreto rachado,ondeapoesiabrota como ervadaninha.Nãomepeçam silêncio: minha palavra é sirene.”

Luís Augusto Cassas - “Antroponauta: aquele que navega o homem como quem atravessa um abismo com os olhos vendados e o coração aceso.”

Raimundo Fontenele - “Não quero versos limpos. Quero versos sujos de rua, de suor, de sangue, de gente que ainda respira.”

Esses trechos capturam o espírito da antroponáutica: uma poesia que rompe com o formalismo, mergulha no urbano e no existencial, e transforma o homem em nave e destino

Além do núcleo original do Movimento Antroponáutica formado por Viriato Gaspar, Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio e Luís Augusto Cassas outros nomes se aproximaram do grupo e participaram de suas ações culturais, especialmente em eventos interdisciplinares que misturavam poesia, música, artes visuais e performance.

Outros nomes ligados ao movimento - Artistas e colaboradores próximos:

• César Teixeira – compositor e artista gráfico; criou a capa da Antologia Poética do Movimento Antroponáutica e participou de lançamentos performáticos.

• Sérgio Habibe – músico e parceiro em eventos culturais do grupo.

• Jesus Santos, Ciro, Ambrósio Amorim, Lobato, Tácito Borralho – artistas e agitadores culturais que participaram de lançamentos e intervenções poéticas.

• José Ribamar Estrela Vasquez – figura simbólica do grupo, chamado de “técnico e torcedor de bar”, que legitimava os jovens poetas com sua presença etílica e crítica.

Influências e apoiadores da geração anterior:

• BandeiraTribuzi – autordopoema Antroponáutica,queinspirouonomedomovimento; considerado patrono espiritual do grupo.

• Nauro Machado, José Chagas, João Mohana, Nascimento de Moraes, Arlete Nogueira da Cruz, Jomar Moraes – escritores e intelectuais que reconheceram e apoiaram os jovens antroponautas em sua ruptura estética2.

Curiosidade - O movimento também teve interações com a contracultura e o universo hippie, e seus eventos eram marcados por irreverência, crítica social e experimentação artística. Em um dos lançamentos, cogitaram substituir cadeiras por vasos sanitários e servir leite em penicos o que gerou até vigilância da Polícia Federal durante a ditadura militar.

Entre o Modernismo Maranhense (que floresceu entre as décadas de 1930 e 1960) e o surgimento do Movimento Antroponáutica (início dos anos 1970), não houve um movimento literário formalmente estruturado no Maranhão com o mesmo impacto coletivo. No entanto, o período foi marcado por transformações importantes, renovação estética gradual e atuações individuais potentes que prepararam o terreno para a ruptura Antroponáutica.

Panorama literário maranhense entre 1945 e 1970

Geração modernista tardia

• Poetas como Nascimento Morais Filho, José Chagas, Bandeira Tribuzzi e Nauro Machado atuaram intensamente nesse período.

• Suas obras traziam reflexões existenciais, crítica urbana, densidade filosófica e busca por identidade regional

• Embora não formassem um movimento coeso, esses autores representaram uma fase de transição entre o modernismo e a poesia de ruptura.

Centro Cultural Gonçalves Dias

• Fundado em 1945, foi um espaço de formação, debate e publicação para jovens escritores.

• Funcionou como ponte entre o modernismo e a nova geração, influenciando diretamente os futuros antroponautas.

Pré-antroponáutica e contracultura

• No final dos anos 1960, surgem experiências poéticas mais livres, com influência da contracultura, do existencialismo e das vanguardas internacionais.

• Poetas como RaimundoFontenele e Viriato Gaspar já ensaiavam uma linguagem mais experimental antes da formalização do movimento.

Resumo do período (1945–1970)

Fase Características principais

Representantes

Modernismo tardio Existencialismo, crítica urbana, linguagem densa NauroMachado, JoséChagas Transição estética Busca por ruptura, influência de vanguardas e contracultura Tribuzzi, Fontenele

Pré-antroponáutica Poesia performática, urbana, provocadora Viriato Gaspar, Chagas Val

Em vez de um novo movimento formal, o que houve foi uma efervescência subterrânea, marcada por inquietações poéticas e estéticas que culminariam na explosão criativa da Antroponáutica

Após o impacto do Movimento Antroponáutica nos anos 1970, a literatura maranhense seguiu um caminho depluralização estética, afirmaçãodevozes periféricas erenovaçãotemática,sem a formaçãode um novo movimento coletivo tão coeso quanto aquele. Em vez disso, o que se viu foi o surgimento de trajetórias individuais potentes e novas gerações de escritores que ampliaram o escopo da produção literária no estado.

Pós-Antroponáutica: caminhos da literatura maranhense

1. Consolidação de autores da geração anterior

• Poetascomo NauroMachado,JoséChagas eJoãoMohana continuaram publicandoeinfluenciando novas gerações.

• Suas obras ganharam projeção nacional e foram traduzidas para outros idiomas.

2. Afirmação de vozes individuais

• Ferreira Gullar, embora radicado no Rio de Janeiro, manteve vínculos com o Maranhão e se tornou um dos maiores nomes da poesia brasileira.

• Josué Montello consolidou sua carreira com romances históricos e ensaísticos.

3. Literatura urbana e crítica social

• Escritores como José Louzeiro exploraram o romance-reportagem e temas ligados à violência urbana e à marginalidade.

• A literatura passou a dialogar com o cinema, o jornalismo e a cultura popular.

4. Diversidade e descentralização

• A partir dos anos 1990 e 2000, surgem autores fora do eixo São Luís, como em Caxias, Imperatriz e Bacabal.

• A produção se torna mais diversa em gênero, raça, classe e estética.

5. Literatura contemporânea e periférica

• Emergência de autores negros, mulheres, LGBTQIA+, com forte presença em saraus, coletivos e redes sociais.

• Destaque para poesia falada, slams, zines e literatura digital.

Autores e autoras contemporâneos(as) em destaque

• Déa Alhadeff – poesia feminista e urbana

• Duda Veloso – literatura infantojuvenil e contos

• Wilson Marques – romances históricos e juvenis

• Sharlene Serra – literatura negra e decolonial

• Herbert de Jesus dos Santos – poesia marginal e performance

• publicações inclusivas.

O termo decolonial refere-se a um conjunto de práticas, pensamentos e movimentos que buscam romper com as estruturas de poder, saber e cultura herdadas do colonialismo, especialmente aquelas que ainda persistem mesmo após a independência formal dos países colonizados. É uma crítica profunda ao eurocentrismo a ideia de que o conhecimento, a cultura e os valores europeus são universais. Propõe a valorização de saberes indígenas, afrodescendentes, quilombolas e populares, muitas vezes marginalizadospelasinstituiçõesacadêmicaseculturais. Questionaacolonialidadedopoder,conceitocriado por Aníbal Quijano, que mostra como o racismo, o patriarcado e a desigualdade econômica são legados coloniais ainda ativos. Autores maranhenses cuja obra dialoga com o pensamento decolonial ou seja, que questionam as heranças do colonialismo, do racismo estrutural, da epistemologia eurocêntrica e das desigualdades degênero, classee etnia.OMaranhão temvozes potentes nessecampo, tantodopassadoquanto da contemporaneidade. Vamos a elas:

1. Maria Firmina dos Reis (1825–1917) - Considerada a primeira romancista negra do Brasil, autora de Úrsula (1859) e do conto A escrava (1887). Sua obra antecipa o pensamento decolonial ao dar voz a sujeitos escravizados e mulheres negras, questionando a lógica patriarcal e racista da sociedade imperial Pesquisadores como Cristiane Tolomei e Rodrigo Jorge Ribeiro Neves analisam sua escrita sob a ótica da decolonialidade2

2. Mariana Luz (1871–1960) - Poeta maranhense redescoberta por estudos recentes, como a dissertação de Mirna Rocha Silva (UFMA, 2024). Sua poesia revela as “mortes simbólicas e físicas” de sujeitos

subalternizados, como mulheres, idosos e pessoas com deficiência. A obra é lida como literatura de resistência, que denuncia as colonialidades de gênero, raça e classe

3. Teatro maranhense de vanguarda (1970–1990) - Autores como Aldo Leite, Tácito Borralho e Luiz Pazzini introduziram inovações estéticas e políticas no teatro local. Segundo estudo de Raylson Conceição e Michelle Cabral, essas práticas podem ser lidas sob uma perspectiva decolonial, ao romperem com modelos eurocêntricos e valorizarem saberes locais e corpos dissidentes.

4. Poetas e coletivos contemporâneos - Slam Odara, com poetas como Mila, Micah e Sollamya, atua com foco em ancestralidade afrocentrada, feminismo negro e oralidade periférica; Celso Borges e Zeca Baleiro também transitam entre poesia, música e performance com forte crítica social e estética híbrida;

Essas vozes atualizam a tradição da “Atenas Brasileira” com linguagens insurgentes e decoloniais

Após o impacto do movimento Antroponáutica nos anos 1970, a literatura maranhense seguiu um caminho vibranteemultifacetado,comosurgimentodenovosgruposecoletivosque ampliaramasformasdeexpressão poética e crítica. Aqui estão alguns dos principais grupos e iniciativas que emergiram no contexto pósAntroponáutica:

1. Movelaria Globo (final dos anos 1970)

• Embora anterior à Antroponáutica em alguns aspectos, a Movelaria Globo continuou influente após o movimento, com autores como Nauro Machado e José Chagas ainda em plena produção.

• Eraumespaçoinformaldeencontrosedebatesliterários,quemantevevivaachamadaexperimentação poética.

2. Grupo Poyesis (anos 1990–2000) - grupo literário maranhense que surgiu no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, e que representa uma das expressões mais inventivas da poesia contemporânea de São Luís. Ele se insere no contexto pós-Antroponáutica, mas com uma proposta estética e política própria, marcada pela experimentação, oralidade e performance.

Poyesis: criação e provocação

• O nome vem da palavra grega poiesis (criação), mas com a grafia alterada para refletir uma atitude de ruptura e reinvenção.

• O grupo surgiu como uma resposta à institucionalização da poesia e à rigidez acadêmica.

• Atuava em espaços alternativos, como bares, praças, escolas públicas e eventos culturais de rua.

• Misturava poesia, música, teatro, vídeo e performance, criando uma arte viva e pulsante.

Estilo e influências

• Forte influência da poesia marginal, do rap, da contracultura e da poesia falada.

• Uso de linguagem coloquial, gírias, neologismos e experimentações gráficas.

• Temas como identidade, corpo, desejo, periferia, resistência e cotidiano urbano

• Diálogo com movimentos como o Sarau da Cooperifa (SP) e o Slam das Minas. Alguns nomes ligados ao espírito do Poyesis

• Celso Borges – poeta multimídia, com forte atuação performática

• Zeca Baleiro – músico e letrista que dialoga com a estética do grupo

• Wilson Marques – escritor e agitador cultural

• Alexandre do Nascimento – poeta e pesquisador da literatura maranhense contemporânea Legado e desdobramentos

• O Poyesis influenciou coletivos mais recentes como o Clube do Slam MA, Poetas Azuis e Sarau da Onça.

• Sua proposta de “poesia em trânsito” continua viva em eventos, feiras literárias e projetos de arteeducação.

• Contribuiu para consolidar uma poesia maranhense contemporânea plural, híbrida e engajada

3. GELMA – Grupo de Estudos em Literatura Maranhense é uma iniciativa vinculada à Universidade Federal do Maranhão (UFMA), dedicada à pesquisa, valorização e divulgação da literatura produzida no estado. Ele atua como um verdadeiro farol crítico e formativo, conectando tradição e contemporaneidade. Objetivos e atuação

• Investigar e promover a identidade literária e cultural maranhense

• Estimular a produção acadêmica sobre autores e movimentos locais

• Realizar eventos como o SiGELMA – Simpósio do GELMA, que reúne pesquisadores, escritores e estudantes

• Publicar anais, cadernos de resumos e e-books, como “A Literatura Maranhense”, com estudos sobre períodos e autores do estado

Ações e projetos

• Café Literário: encontros com autores como Félix Alberto Lima, Cleo Rolim e Mikéias Cardoso, disponíveis no canal do GELMA no YouTube

• Homenagens mensais a escritores maranhenses, como Mauro Cezar e Reis Carvalho

• Concurso Literário GELMA – Prêmio Humberto de Campos, incentivando novos contistas do Maranhão

Produção e acervo

• O grupo disponibiliza textos raros com atualização ortográfica e notas explicativas, como a obra de Antônio dos Reis Carvalho

• Publicações organizadas em ciclos históricos, com análises críticas de autores como Sousândrade, Maria Firmina dos Reis, Josué Montello e Nauro Machado Acesso e participação

• O GELMA mantém um site oficial com artigos, eventos e materiais de leitura

• Participa de redes acadêmicas e culturais, promovendo o diálogo entre universidade e comunidade O GELMA é, sem dúvida, um dos pilares da preservação e reinvenção da literatura maranhense no século XXI.

4. Coletivos de poesia falada e slam (anos 2010 em diante)

• Inspirados por movimentos nacionais como a Cooperifa, surgem grupos como:

o Clube do Slam MA

o Poetas Azuis

o Sarau da Onça

• Esses coletivos trazem uma poesia engajada, periférica e performática, com forte presença de jovens e mulheres.

A cena de coletivos de poesia falada no Maranhão está em plena efervescência, com grupos que misturam arte, ativismo e performance para transformar a palavra em resistência. Aqui estão alguns dos principais coletivos e iniciativas que têm se destacado:

1. Slam Odara

• Coletivo formado por Mila, Micah e Sollamya, com forte presença feminina e afrocentrada

• Realiza batalhas de poesia falada com foco em identidade, ancestralidade e empoderamento negro

• Comemorou seu 4º aniversário em 2025 no Teatro João do Vale, com atrações locais e nacionais

• “A gente adotou o slam e faz do nosso jeito”, disse Mila, uma das fundadoras

2. Clube do Slam MA

• Um dos pioneiros no Maranhão, promove batalhas poéticas em escolas, praças e eventos culturais

• Participa de seletivas para o Slam BR, conectando o estado à cena nacional

• Atua com foco em juventude, periferia, gênero e resistência social

3. Festival de Poesia Falada de Alcântara

• Iniciativa da professora Cássia Pires (UFMA), com apoio da ALCAF e da Prefeitura de Alcântara

• Envolve oficinas, apresentações e premiações para poetas locais3

• Busca valorizar a cultura da cidade e incentivar a produção poética entre jovens e adultos

4. Projeto “Voa, Poesia!”

• Realizado pelo Coletivo É Nóis, com oficinas de poesia, desenho e confecção de pipas

• Foco em ações comunitárias e educativas, promovendo sarau e exposição

• Embora sediado no Espírito Santo, já inspirou ações semelhantes em comunidades maranhenses

5. Poetas independentes e performáticos

• Poetas como Lúcia Santos, Celso Borges e Zeca Baleiro mantêm viva a tradição da poesia falada em espetáculos como “Versos sem Tarja” e “Palavra Acesa”

• Muitos desses artistas transitam entre literatura, música e teatro, ampliando o alcance da poesia

Esses coletivos mostram que a poesia falada no Maranhão não é apenas arte é ferramenta de escuta, denúncia e transformação

5. Iniciativas acadêmicas e extensionistas

• Projetos como Literatura Maranhense em Foco e Entretextos promovem leitura crítica e formação de novos leitores e escritores.

• Conectam universidade e comunidade, ampliando o alcance da literatura local.

"LiteraturaMaranhenseem Foco" éumainiciativaeditorial ecríticaquetem ganhadodestaquenos últimos anos por valorizar, analisar e divulgar a produção literária do Maranhão tanto de autores consagrados quanto de novas vozes. O projeto se manifesta em diferentes formatos: colunas, eventos, simpósios e publicações acadêmicas.

Coluna crítica e jornalística

• Publicada no site Região Tocantina e coordenada pelo jornalista Marcos Fábio Belo Matos, a série “Literatura Maranhense em Foco” traz análises de obras contemporâneas, como os contos de Lindevania Martins, autora premiada e defensora pública.

• A coluna destaca temas como violência de gênero, desigualdade social, crítica ao poder e à mídia, com foco em autoras e autores que abordam o cotidiano sem eufemismos. Simpósios e eventos acadêmicos

• Onometambém aparece em eventos como o Simpósio deLiteratura Maranhense,com conferências e mesas-redondas sobre a produção local, seus ciclos históricos e sua inserção no cânone nacional.

• Participam pesquisadores da UFMA, UEMA, UEMASUL e outras instituições, discutindo desde Sousândrade e Maria Firmina dos Reis até Salgado Maranhão e Lindevania Martins. Objetivos e impacto

• Reforçar a identidade literária maranhense e combater o apagamento de vozes regionais

• Estimular o ensino da literatura local nas escolas e universidades

• Criar pontes entre crítica acadêmica, produção contemporânea e leitores comuns

Esses grupos e movimentos mostram como a literatura maranhense se reinventou após a Antroponáutica, mantendo o espírito de ruptura e inovação, mas explorando novas linguagens, suportes e públicos

No Maranhão, o projeto Entretextos é uma importante iniciativa de extensão universitária vinculada ao Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Diferente de revistas ou portais literários com o mesmo nome em outros estados, aqui ele tem um foco educacional e formativo, voltado especialmente para estudantes da rede pública. O que é o Entretextos (UFMA)?

• Projeto de extensão criado para estimular a leitura e a produção textual entre alunos do ensino fundamental e médio.

• Atua em escolas públicas de São Luís, como a Escola Estadual Antônio Ribeiro da Silva, no bairro Sá Viana.

• Também ofereceturmas no Campus doBacanga,com focoem jovens que sepreparam parao ENEM e vestibulares2.

Objetivos e metodologia

• Desenvolver oficinas temáticas sobre gêneros textuais, coesão, coerência e argumentação.

• Trabalhar com poemas, imagens, pinturas e textos diversos, estimulando a interpretação crítica.

• Envolver acadêmicos do curso de Letras como bolsistas, que atuam como mediadores e também produzem pesquisas sobre ensino e autoria3.

Impacto e relevância

• O projeto tem contribuído para melhorar o desempenho de estudantes em redações do ENEM e ampliar o acesso à universidade.

• Também fortalece o vínculo entre a universidade e a comunidade, promovendo inclusão e cidadania por meio da linguagem.

• Produção acadêmica

• O Entretextos tem sido objeto de pesquisas de mestrado, como a dissertação de Rosana Vila Nova, que analisou a construção da autoria em textos de alunos do projeto.

• Os resultados mostram avanços significativos na capacidade argumentativa e na autonomia dos estudantes.

Após a Antroponáutica, a literatura maranhense não formou um novo movimento coletivo, mas se expandiu em múltiplas direções, com autores mais diversos, linguagens híbridas e maior diálogo com o Brasil contemporâneo. A tradição da “Atenas Brasileira” se reinventou agora com mais vozes, mais corpos e mais territórios.

O cenário literário maranhense contemporâneo é vibrante e plural, com autores que exploram desde a poesia existencial até a literatura infantojuvenil, passando por romance histórico, crítica social e fantasia. Aqui estão alguns destaques atuais e suas principais obras:

Autores maranhenses contemporâneos e suas obras

Autor(a) Obra(s) de destaque

Déa Alhadeff Os Segredos de uma Jovem Espiã

Duda Veloso Sacrifício

Samuel Barreto Versos Cinzentos

Gênero / Temática

Ficção infantojuvenil, espionagem, romance

Suspense juvenil com elementos sobrenaturais

Poesia reflexiva e existencial

Sharlene Serra Diário Mágico: Um Segredo pra Contar Literatura infantojuvenil, bilíngue, denúncia social

Wilson Marques Arte e Manhas do Jabuti

Herbert de Jesus dos Santos A Segunda Chance de Eurides

Eloy Melônio Dentro de Mim

Prênteci Veloso Um Brinde ao Perdão

Antônio Ailton Compulsão Agridoce

Laísa Couto Lagoena

Literatura infantojuvenil, cultura indígena

Romance político, ditadura militar

Poesia lírica e filosófica

Romance espiritual e emocional

Poesia irônica e coloquial

Literatura fantástica

Paulo Rodrigues O Abrigo de Orfeu, Escombros de Ninguém Poesia contemporânea, premiada nacionalmente

Tendências marcantes

• Diversidade temática: autores abordam desde questões sociais e políticas até fantasia e ficção científica.

• Protagonismo feminino e negro: crescente presença de autoras e autores que exploram identidades marginalizadas.

• Literatura infantojuvenil em alta: com foco em temas como ancestralidade, abuso, amizade e empoderamento.

• Poesia urbana e existencial: herança da geração de Nauro Machado e da Antroponáutica.

A literatura maranhense contemporânea tem se tornado cada vez mais diversa e potente, com autoras indígenas e LGBTQIA+ que vêm conquistando espaço e visibilidade por meio de suas obras, performances e ações culturais. Embora ainda haja pouca divulgação nacional, algumas vozes já se destacam:

Autoras indígenas maranhenses em ascensão

Sharlene Serra - Escritora e educadora, com forte atuação na literatura infantojuvenil. Obra de destaque: Diário Mágico: Um Segredo pra Contar bilíngue (português/inglês), aborda abuso infantil com sensibilidade e empoderamento. Atua em projetos de valorização da cultura indígena e da infância.

Autoras ligadas à tradição oral Em comunidades como as dos povos Guajajara e Canela, há mulheres que atuam como guardadoras de histórias, mesmo que não publicadas em livros. Projetos de etnoliteratura e educação indígena têm revelado narradoras e poetas que escrevem em suas línguas originárias.

Autoras LGBTQIA+ maranhenses em destaque

Déa Alhadeff - Escritora jovem, autora de Os Segredos de uma Jovem Espiã. Atua na literatura infantojuvenil com protagonismo feminino e representatividade queer. Participa de coletivos literários e eventos de diversidade.

Laísa Couto - Autora da série Lagoena, com elementos de fantasia e protagonismo feminino. Atua também como ilustradora e defensora da representatividade LGBTQIA+ na literatura jovem.

Herbert de Jesus dos Santos - Embora não seja autora, é um escritor maranhense que tem aberto espaço para narrativas LGBTQIA+ em romances como A Segunda Chance de Eurides. Sua atuação inspira e colabora com autoras emergentes da comunidade. A Segunda Chance de Eurides. é uma obra de ficção que mergulha de forma intensa e sensível na memória recente do Brasil, especialmente no período da ditadura civil-militar (1964–1985).

Temas centrais do romance - Ditadura militar e repressão política: o passado autoritário é evocado por meio de memórias de militância, censura e perseguição. Redenção e perdão: o personagem-título, Eurides, busca se reconciliar com seus erros e omissões do passado. Memória e identidade: há uma reconstrução do passado pessoal e coletivo através de cartas, depoimentos e fragmentos narrativos. Crítica social e desigualdade: a história também reflete sobre as heranças da ditadura nas estruturas sociais brasileiras. Afeto e sexualidade: o livro trata com sensibilidade temas de identidade, amor homoafetivo e rupturas familiares. Estilo narrativo Narrativa fragmentada e polifônica: diferentes vozes e tempos compõem a memória de Eurides. Mistura de ficção e documentos fictícios (como cartas e fichas do DOPS), criando um efeito de realismo documental. Diálogos densos e linguagem poética, que lembram autores como Milton Hatoum e Cristovão Tezza Sobre o autor Herbert de Jesus dos Santos é professor, poeta e romancista maranhense. Atua também como performer e ativista cultural. A Segunda Chance de Eurides marca sua estreia na prosa longa com uma abordagem corajosa e afetiva da história brasileira, sendo considerado um dos nomes mais promissores da literatura contemporânea do Maranhão. Espaços e coletivos que impulsionam essas vozes

• Sarau da Onça, Slam Maranhão e eventos do Centro Cultural Vale Maranhão têm sido palcos para autoras indígenas e LGBTQIA+.

• Projetos como o Leia Mulheres São Luís e editoras independentes têm promovido oficinas

O Sarau da Onça é um dos mais potentes movimentos de poesia marginal e resistência cultural do Brasil, nascido em Sussuarana, bairro periférico de Salvador (BA), em 2011. Criado por jovens negros da comunidade, o sarau se tornou um espaço de afirmação identitária, combate ao racismo e valorização da arte periférica. O nome vem da própria identidade do bairro: Sussuarana é uma espécie de onça-parda. A metáfora é poderosa no palco, os poetas “viram onças”, rugindo contra a opressão com versos afiados. O que acontece no Sarau?

• Encontros quinzenais no CENPAH – Centro de Pastoral Afro Padre Heitor

• Recitais de poesia autoral, com forte carga política e emocional

• Oficinas de escrita, teatro, dança e debates sobre temas como feminismo negro, genocídio da juventude negra, saúde mental e comunicação comunitária

• Lançamento de livros como “O Diferencial da Favela: Dos Contos às Poesias de Quebrada”2 Impacto e legado

• O Sarau da Onça inspirou a criação de outros saraus em bairros periféricos de Salvador

• Tornou-se referência nacional em poesia de quebrada, sendo tema de documentários e estudos acadêmicos4

• Atua como ferramenta de educação, empoderamento e transformação social, especialmente entre jovens negros e periféricos

Frasequedefineo espíritodosarau -“Apoesia éodivisor:antesdela,arepressão;depois dela,aliberdade.”

Evanilson Alves, poeta e cofundador

Até o momento, não há registros de um Sarau da Onça sediado no Maranhão, PORÉM, há movimentos semelhantes em espírito e proposta, como o Clube do Slam MA e o Sarau das Mercês, que também promovem poesia falada, arte periférica e resistência cultural. Esses coletivos mantêm viva a tradição da palavra como ferramenta de transformação, mas com identidade própria e enraizada na realidade maranhense.

O Clube do Slam MA é um coletivo de poesia falada sediado em São Luís do Maranhão, que integra a cena contemporânea de slam poetry no Brasil. Ele surgiu como desdobramento dos movimentos poéticos performáticos que ganharam força no país a partir dos anos 2000, especialmente nas periferias urbanas.

O que é o Slam MA?

• É uma batalha de poesia falada, onde poetas se enfrentam com textos autorais, geralmente com forte carga emocional, crítica social e estética performática.

• As apresentações são feitas sem apoio de figurino, música ou adereços apenas voz, corpo e palavra.

• O público ou jurados convidados avaliam as performances com notas, mas o foco está na expressão e na escuta coletiva. Contexto maranhense

• O Clube do Slam MA se insere na tradição de reinvenção da “Atenas Brasileira”, levando a poesia para espaços públicos, escolas, praças e eventos culturais

• Dialoga com temas como racismo, desigualdade, identidade, gênero, ancestralidade e resistência periférica.

• Éumdosherdeirosdiretosdoespíritodogrupo Poyesis,mascom umapegadamaisvoltadaàoralidade e à cultura de rua.

Conexões nacionais e internacionais

• Participa de seletivas para o Slam BR, campeonato nacional de poesia falada.

• Poetas do grupo já representaram o Maranhão em etapas nacionais e até internacionais, como o Grand Slam de Paris

• Conecta-se com outros coletivos como Slam da Onça, Slam das Minas e Cooperifa. Impacto e legado

• Atua também em projetos de formação de leitores e escritores, oficinas de escrita criativa e arteeducação.

• Ajuda a consolidar uma nova geração de poetas maranhenses, com forte presença de jovens, mulheres e pessoas negras e LGBTQIA+.

Slam poetry é uma forma vibrante e performática de poesia falada que mistura arte, ativismo e competição Surgida em Chicago nos anos 1980, pelas mãos do poeta e operário Marc Kelly Smith, a ideia era tirar a poesia dos círculos acadêmicos e levá-la para os bares, ruas e praças onde a palavra pudesse ser sentida, ouvida e vivida2.

Características principais:

• Poemas autorais, com até 3 minutos de duração

• Sem figurinos, adereços ou música só voz, corpo e palavra

• Avaliação feita por jurados do público, com notas de 0 a 10

• Temas fortes: racismo, desigualdade, identidade, amor, resistência

• Estilo direto, emocional, muitas vezes com ritmo e musicalidade

No Brasil, o slam chegou em 2008, com a atriz e poeta Roberta Estrela D’Alva, fundadora do ZAP! Slam. Desde então, o movimento explodiu:

• Surgiram coletivos como o Slam das Minas, Slam da Guilhermina, Slam Marginália, entre outros

• O país realiza o Slam BR, campeonato nacional que leva poetas à Copa do Mundo de Slam em Paris

• A poesia falada virou ferramenta de educação, empoderamento e transformação social2

Por que é tão poderoso? Porque o slam dá voz a quem foi silenciado. É poesia que pulsa nas veias da periferia, que denuncia, emociona e transforma. É palco para mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+, indígenas, jovens todos com algo urgente a dizer.

O Centro Cultural Vale Maranhão (CCVM) é um dos espaços culturais mais dinâmicos e inovadores do Nordeste brasileiro, localizado no coração do Centro Histórico de São Luís, na Rua Direita, nº 149. Inaugurado em 2014, o CCVM é mantido pelo Instituto Cultural Vale e tem como missão ampliar o acesso à cultura, à arte e à formação crítica da população maranhense. O que o CCVM oferece?

• Exposições de arte contemporânea, cultura popular, arte indígena e afro-brasileira

• Oficinas, cursos e palestras voltados à formação artística e cultural

• Shows, performances e saraus com artistas locais e nacionais

• Mostras de cinema, lançamentos de livros e feiras culturais

• Programação inteiramente gratuita, de terça a sábado, das 10h às 19h Destaques recentes

• Com Amor, Alcione: exposição em homenagem aos 50 anos de carreira da cantora maranhense

• Maranhão: Terra Indígena: mostra que celebrou a diversidade dos povos originários do estado

• Dramaturgias Negras: projeto que selecionou e publicou textos de autoras negras da Amazônia Legal Espaços internos O CCVM conta com salas de exposição, auditório, pátio para apresentações, loja de artesanato maranhense (CURIÁ), café e salas multiuso com nomes de plantas nativas como Babaçu, Juçara e Carnaúba

O Sarau das Mercês – O Som e a Palavra é um dos eventos culturais mais vibrantes de São Luís do Maranhão, realizado no histórico Convento das Mercês. Promovido pela Fundação da Memória Republicana Brasileira (FMRB), o sarau celebra a literatura, a música e a poesia maranhense contemporânea, com entrada gratuita e clima de celebração artística. O que acontece no Sarau?

• Performances poéticas com autores consagrados e novos talentos

• Apresentações musicais com artistas locais, como a saxofonista Sarah Byancci

• Mediação sensível da poeta Laura Amélia Damous, vice-presidente da Academia Maranhense de Letras

• Diálogos entre literatura, música e memória cultural Alguns nomes que já participaram

• Fernando Abreu – poeta e editor da revista “Uns & Outros”

• José Neres – escritor, pesquisador e membro da AML

• Zeca Tocantins – poeta, músico e vencedor do Prêmio Graça Aranha

• Lindevania Martins, Anna Liz, Débora dos Reis Cordeiro e Silvana Meneses – escritoras que marcaram edições recentes com poesia potente e representatividade feminina Onde e quando?

• Acontece no Jardim dos Poetas, dentro do Convento das Mercês

• Edições mensais ou sazonais, geralmente às quintas-feiras, às 19h

• Programação divulgada nas redes sociais da FMRB e no site oficial do evento

O Sarau das Mercês é mais que um evento é um encontro de gerações, vozes e afetos, onde a palavra pulsa no coração do Centro Histórico

Outros grupos e núcleos surgiram no Maranhão nas últimas décadas, ampliando o cenário da literatura contemporânea com diferentes abordagens acadêmicas, performáticas, comunitárias e interartísticas. Aqui estão alguns dos principais:

2. NELLI – Núcleo de Estudos Literários e Linguísticos (UEMASUL)

• Reúne os grupos GELITI (Estudos Literários e Imagéticos) e GELMA (Estudos Linguísticos do Maranhão)

• Atua desde 2018 com pesquisas sobre literatura, linguagem e cultura regional

3. PPGLETRAS/UEMA – Grupos de pesquisa em Literatura e Cultura

• Linhas de pesquisa como “Literatura, Subjetividades, Outras Artes e Mídias” e “Literatura, Memória e Cultura”

• Incentiva estudos interdisciplinares e a formação de novos pesquisadores Grupos acadêmicos emergentes

• CILEL – Colóquio Internacional de Literatura e Estudos da Linguagem (UEMA Bacabal): reúne pesquisadores e escritores de diversas regiões e culturas

Esses grupos mostram que a literatura maranhense contemporânea é plural, crítica e em constante reinvenção transitando entre a universidade, a rua, a performance e a memória. .A tradição de São Luís como “Atenas Brasileira” título que remonta ao século XIX, quando a cidade era reconhecida por sua efervescência literária e intelectual passou por diversas reinvenções ao longo do tempo, adaptando-se às transformações sociais, políticas e culturais do Maranhão e do Brasil.

Do mito à modernidade

• O título surgiu como uma forma de afirmar a superioridade cultural da elite maranhense, especialmente durante o Segundo Reinado, com nomes como Gonçalves Dias, Sousândrade e Maria Firmina dos Reis.

• No século XX, especialmente entre as décadas de 1940 e 1960, o mito foi reatualizado como forma deresistênciasimbólicaà chamada“ideologiadadecadência” apercepçãodequeoMaranhão havia perdido seu brilho cultural.

Reinvenções no século XX e XXI

• Geração de 45: escritores como Josué Montello e José Chagas mantiveram viva a tradição literária, mas com uma linguagem mais introspectiva e urbana.

• Movimentos como a Antroponáutica (1970s) e Poyesis (1990s–2000s) reinventaram a tradição com poesia performática, crítica social e experimentação estética.

• A tradição passou a dialogar com novas linguagens: música popular, teatro de rua, literatura marginal, slam poetry e mídias digitais.

Atenas nas ruas e nas redes

• A cultura saiu dos salões e academias e foi para praças, bares, escolas públicas e redes sociais.

• Coletivos como Clube do Slam MA e Poetas Azuis mantêm viva a tradição oral e poética, agora com novos sotaques e corpos.

• A cidade continua sendo um centro de produção simbólica, onde o passado literário convive com expressões afro-indígenas, reggae, bumba-meu-boi e tambor de crioula.

Educação e memória

• Instituições como a UFMA, a Academia Maranhense de Letras e o Museu Histórico e Artístico do Maranhão ajudam a preservar e reinterpretar esse legado.

• Projetos de extensão, feiras literárias e eventos como o São Luís Literária promovem o encontro entre tradição e contemporaneidade.

Em vez de um monumento estático, a “Atenas Brasileira” tornou-se um organismo vivo, que se reinventa a cada geração sem perder o brilho da palavra, mas agora com mais vozes, mais ritmos e mais ruas.

UM OPS!!! SEM MODÉSTIA:

A obra de Leopoldo Gil Dulcio Vaz tem uma importância singular para a literatura maranhense contemporânea, especialmente no que diz respeito à preservação da memória cultural, à valorização da produção local e à democratização do acesso ao conhecimento literário e histórico

1. Guardião da memória literária maranhense

• Leopoldo é editor de revistas como Ludovicus, Revista do Léo e Maranha-y, que funcionam como repositórios vivos da produção poética, crítica e histórica do Maranhão

• Ele resgata autores esquecidos, como no volume “Poesia Maranhense/Ludovicense: Os Poetas Esquecidos (1945–1960)”, contribuindo para revisões do cânone literário local

2. Atuação institucional e comunitária

• Membro fundador da Academia Ludovicense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Academia Poética Brasileira, ele atua como ponte entre tradição e contemporaneidade.

• Organizou a Antologia Ludovicense, reunindo centenas de autoras e autores da cidade, com destaque para as “Mulheres de Atenas”, volume dedicado às escritoras ludovicenses.

3. Produção crítica e editorial independente

• Publicarevistas digitais com textos deautores locais, sem finslucrativos, promovendouma circulação alternativa e descentralizada da literatura.

• Seus editoriais e artigos abordam temas como identidade, patrimônio, oralidade e resistência cultural, com linguagem acessível e engajada.

4. Perspectiva decolonial e inclusiva

• Embora não se autodeclare um autor decolonial, sua prática editorial e curatorial valoriza vozes marginalizadas, saberes locais e memórias invisibilizadas, o que o aproxima de uma postura decolonial na prática.

• Premiado por obras sobre Maria Firmina dos Reis e Gonçalves Dias, ele contribui para releituras críticas de figuras históricas sob novas lentes.

5. Impacto formativo e educacional

• Sua obra é usada em projetos de extensão, pesquisas acadêmicas e oficinas de leitura, especialmente em escolas públicas e universidades.

• Atua como formador de leitores e mediador cultural, com forte presença em eventos, simpósios e saraus.

Em resumo, Leopoldo Gil Dulcio Vaz é uma figura essencial para a manutenção e reinvenção da “Atenas Brasileira” no século XXI não apenas como escritor, mas como editor, curador, historiador cultural e ativador de redes literárias vivas.

Com base nas publicações de Leopoldo Gil Dulcio Vaz especialmente nas revistas Maranha-y, Ludovicus e Revista do Léo é possível montar um mapa simbólico com alguns dos autores maranhenses que ele tem ajudado a resgatar, divulgar ou revalorizar. Aqui está uma amostra organizada por período histórico e perfil literário:

Autores do século XIX e início do XX (resgate histórico)

Autor Destaque na obra de Leopoldo Vaz

Maria Firmina dos Reis Releituras críticas e homenagens em antologias e artigos

Sousândrade Resgate de sua poesia visionária e marginalizada

Antônio dos Reis Carvalho Atualização ortográfica e notas explicativas em edições especiais

Mariana Luz Redescoberta poética com viés decolonial e feminista

Autores esquecidos (1945–1960)

Autor Contribuição de Leopoldo Vaz

Luís Augusto Cassas Resgate de poemas e contextualização crítica

Reis Carvalho Reedição de textos e ensaios sobre sua importância

Bandeira Tribuzzi Revalorização de sua poesia urbana e modernista

José Chagas (fase inicial) Publicação de textos raros e análises sobre sua trajetória

Escritoras ludovicenses (século XX e XXI)

Autora Destaque na Antologia Mulheres de Atenas

Laura Amélia Damous Poemas e ensaios críticos

Lindevania Martins Contos contemporâneos com crítica social

Débora dos Reis Cordeiro Poesia de resistência e identidade

Silvana Meneses Voz poética feminina e urbana

Como explorar esse mapa

Você pode acessar as edições digitais das revistas editadas por Leopoldo Vaz no perfil dele no Issuu. Lá estão disponíveis volumes como:

• Maranha-y 27 – Março 2025

• Ludovicus 48 – Abril 2025

• Revista do Léo 96 – Abril 2024

Essas publicações funcionam como mapas vivos da literatura maranhense, conectando passado e presente com curadoria crítica e afeto editorial.

jorge-olimpio-bento.pdf (up.pt)

JORGE BENTO COM MANUEL CONSTANTINO

NAVEGANDO COM

JORGE OLIMPIO BENTO

"As armas e os barões assinalados / Que da ocidental praia Lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram ainda além da Taprobana / Em perigos e guerras esforçados / Mais do que prometia a força humana / E entre gente remota edificaram / Novo Reino, que tanto sublimaram".

A consagração do direito a uma vida digna, realizada no caminho de perseguição da felicidade, implica a presença acrescida do desporto, a renovação das suas múltiplas práticas e do seu sentido. Sendo a quantidade e qualidade do tempo dedicado ao cultivo do ócio criativo (do qual o desporto é parte) o padrão aferidor do estado de desenvolvimento da civilização e de uma sociedade, podemos afirmar, com base em dados objetivos, que nos encontramos numa era de acentuada regressão civilizacional. Este caminho, que leva ao abismo, tem que ser invertido urgentemente.

Professor Catedrático Jubilado da Universidade do Porto jorge-olimpio-bento.pdf

Poderemos supor que o seu nome do meio, Olímpio, lhe terá aguçado desde menino a curiosidade e o fervor por galgar montes e lançar o olhar para o alto, para o que está mais além, no que podemos sintetizar, já sabedores da sua experiência de vida e de pedagogo, para o citius, altius, fortius, para os jogos e o estádio, para a cultura grega, para a filosofia, a Paidéia e a areté, para a paidia e o ludus, para ética e a estética, para o homo sportivus, para a dedicação da vida à educação e ao desporto, irmanados na fé da perfectibilidade de um ser que se quer mais humano, numa fusão de corpo-alma, razão e paixão. Tal como Jorge, o cavaleiro que não renuncia à sua fé e enfrenta a besta luciferina para livrar o bem do cativeiro, o certo é que Jorge Bento (JB) tem na sua vida veios de um cavaleiro andante, de um paladino do desporto, que faz da palavra a sua espada, da escrita lavrada o seu campo de batalha e da ética e estética o seu mote essencial.

Jorge Olímpio Bento, o pedagogo do desporto; Zélia Matos; Amândio Graça, RPCD 16 (S1): 52-64

Jorge Olímpio Bento é uma figura distinta no campo da pedagogia e educação esportiva. Ele teve uma carreira longa e impactante, principalmente na Universidade do Porto, onde atuou por mais de cinco décadas.

Contribuições Acadêmicas:

Bento foi Professor Catedrático na Faculdade de Desporto (FADEUP) da Universidade do Porto desde 1993. Ele também ocupou o cargo de Presidente do Conselho Científico de 1986 a 1996.

Papéis de Liderança: Foi o primeiro diretor eleito da FADEUP em 2010 e serviu como Presidente do Conselho Superior de Desporto de Portugal de 2001 a 2002.

Honras e Prêmios: reconhecido com várias honras, incluindo ser nomeado Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Amazonas no Brasil e pela Universidade Kasetsart na Tailândia. Ele também recebeu a Ordem Olímpica Nacional pelo Comitê Olímpico Português.

Publicações:

Ele é autor de inúmeras obras sobre pedagogia e educação esportiva, contribuindo significativamente para o discurso acadêmico nesses campos.

A dedicação de Bento ao esporte e à educação deixou um legado duradouro, tanto em Portugal quanto internacionalmente.

tem várias publicações notáveis na área de pedagogia e educação esportiva. Aqui estão algumas das mais destacadas:

"Em tempos de pandemia: diários de um professor" (2022) - Este livro oferece uma visão pessoal e reflexiva sobre os desafios enfrentados durante a pandemia

"O Desporto e o Estado" - Coautoria com José Manuel Constantino, este livro explora a relação entre o esporte e as políticas públicas

"Homo Sportivus: O Humano no Homem" - Este livro aborda a dimensão humana no contexto esportivo

"Por uma Universidade Anticonformista" - Bento discute a importância de uma abordagem inovadora e crítica na educação superior

Diversas obras publicadas em revistas científicas e pedagógicas - Bento tem uma vasta obra publicada que contribui significativamente para o campo da pedagogia do esporte

Olá, queridos pais!

Desculpai esta lição no final do ano escolar. É força de hábito antigo que jamais se perde.

Há duas espécies de educadores. Os de ‘primeiro grau’ são os pais e professores, vós por ‘obrigação’ e eles por ‘profissão’. Os de ‘segundo grau’ são as circunstâncias: as pessoas que conhecemos e com as quais lidamos, os livros que lemos, os filmes, espetáculos e conferências a que assistimos, as situações e problemas que vivemos e enfrentamos, as paisagens que contemplamos, as atividades e jogos em que participamos, enfim, tudo o que exerce alguma influência sobre nós.

Estes dias de crise da educação desafiam-vos, queridos pais, a mostrar o quanto valeis no dito contexto. Como sabeis, o que o berço não dá, a escola não acrescenta; ou seja, vós alicerçais e ‘condicionais’ o percurso educativo dos filhos. Compete-vos, pois, cuidar deles e assumir a função inerente ao vosso estatuto. Como? Por exemplo, aproveitai a pausa do verão para pôr em prática a ‘pedagogia da convivência’: ensinai-os e incitai-os a conviver com ‘coisas’ belas e simples, para as quais nunca tendes tempo e falta sempre a ocasião. Se precisardes da ajuda dos professores, eles não a recusarão.

Cultura da vida compartilhada

Quanto precisamos de coragem para enfrentar a desagregação que ameaça esta hora! A coragem revela-se nas atitudes de generosidade que avivam o melhor do Ser Humano e o gratificante sentimento da bondade. Podemos darlhe a designação de ‘cultura da vida compartilhada’, de comunhão com o que nos rodeia (pessoas e natureza), em oposição à ‘cultura da morte’, da exclusão, do latrocínio e morticínio do semelhante.

Quem vive no campo desportivo não tem desculpa para se subtrair a tal preceito. Com efeito, o desporto é um manual de métodos e regras de aprimoramento do trato inter-humano. Nele aprende-se que, para o triunfo, não basta a excelência de cada um; busca-se a do conjunto, mediante a união e harmonização das forças e contribuições. Uma equipa desportiva configura um tipo de ‘sociedade criadora e libertadora’, avessa à egolatria. Toma por norma do agir a afirmação e melhoria do talento e da individualidade do Eu e do Outro, o cultivo de relações éticas e estéticas entre os pares, a formação da consciência de que o grupo persegue uma causa comum e significativa para todos. Nisto pode e deve inspirar-se a turma na escola e na universidade.

Hora de chorar e orar

A história de Portugal é trágica. A aventura dos descobrimentos fez dos mares do mundo um cemitério lusitano. Como disse o Padre António Vieira, Deus deu-nos pouca terra para nascer e o orbe inteiro para morrer. E, ao longo dos tempos, fomos forçados a enfrentar catástrofes naturais. Temos portanto dor e luto tatuados no corpo e na alma, e o rosto lavrado por rios de lágrimas. Por isso inventamos o fado para cantar o destino, e com ele lamber e sublimar as feridas.

Aos membros da comunidade humana cumpre sentir o sofrimento do outro. Esta é, pois, uma hora de chorar e rezar fervorosamente. Choremos pela chacina da população de Gaza; e pela hipocrisia dos dirigentes da União Europeia. Choremos pelas vítimas, pela crueldade dos algozes, pela cumplicidade e omissão da Europa. E oremos pela vinda da salvação e da justiça. Quando deixamos a vontade do choro secar, é a humanidade que está a murchar.

Acompanhemos António Gedeão:

“Eu, quando choro, não choro eu.

Chora aquilo que nos homens em todo tempo sofreu.

As lágrimas são as minhas, mas o choro não é meu.”

Apelo do berço original

Moro no Porto e a cidade habita-me; mas Trás-Os-Montes nunca sai de mim. De vez em quando, tenho que vir cá, trazido pela corrente sanguínea e pelo chamamento do filão originário e axial da identidade e subjetividade. Moveme a necessidade incontida de inundar os olhos com a luz de um céu impoluto, de crestar o rosto com o ar quente do verão e frio do inverno, de testar e renovar a sensibilidade, os sabores e o palato, de reencontrar horizontes do infinito, de prestar tributo e veneração a vidas inacreditáveis e improváveis, por serem edificadas em cima da míngua. Este é o lugar onde o espanto se levanta sobre o pasmo, onde o saber-fazer das gentes inventa o vinho e o pão e suscita as palmas da admiração, onde o nada atinge a mais alta sublimação.

Sempre que aqui venho ressoam na minha alma estes versos de um cante alentejano:

“Eu sou devedor à terra

A terra me está devendo

A terra paga-me em vida

Eu pago à terra em morrendo.”

Porque hoje é domingo!

O tempo agitado passa depressa. Só têm duração os dias permeados pela contemplação do que nos transcende e pela ponderação das circunstâncias. A falta de reflexão atirou esta era para feios e maus caminhos.

A graça da existência não nos foi dada para a desbaratar numa competição infrene com o semelhante. Isso não constitui justificação decente e finalidade dignificante. Estamos aqui para disfrutar a vida com os outros, para interagir como Pessoas e nos ajudarmos mutuamente a tecer milagres de sublimação durante a passagem pela Terra.

Não corras contra ninguém; é ao melhor de ti mesmo que tens de chegar, pouco a pouco, devagar, parando, medindo, andando de mãos dadas com a suavidade!

Da minha noiva

Namoro com ela desde a entrada na escola primária. Sentei-me na carteira atrás da dela. E comecei então a fazer-lhe declarações de amor e a tecer-lhe louvores, à luz do dia, em declamações e redações, ditados e provas de caligrafia. Até hoje não me cansei de lhe escrever cartas e enaltecer a magia. No terreiro da universidade tenho tecido, vezes sem conta, armas em defesa da beleza e maviosidade que irradia. Ela sabe que a amo de verdade. Lamenta, mas não leva a mal, que muitos a depreciem. Desculpa-os por lhes faltar o vocabulário que dá asas à sensibilidade e luz ao intelecto. Confidenciou-me que não é ciumenta e posso admirar as outras, porquanto todas são veículos de socialização, inserção e compreensão do mundo. Agradeci e contrapus que a minha amada oferece uma maneira única de olhar e entender o universo. É igual a uma toalha de alvo linho, com bilros e bordados desenhados pela destreza das mãos e pelas linhas coloridas das tintas do infinito e dos tons da sublimidade. Não se adequa à gestão contábil da existência; é mais para criaturas divinas e menos para recursos humanos, mais para seres transcendentes e menos para entes eficientes, mais para marinheiros desassombrados e menos para vilões acuados, mais para artífices de poemas, sonhos e canções e menos para os ogres dos canhões e ultimatos das imposições e sujeições.

Nela mora o mistério da agridoce saudade, voz dos murmúrios do mar e ponte entre as distantes margens dos oceanos. Nas preces, novenas, romarias e procissões sobe pela alma da gente e eleva-a ao céu. Ensina assim o sentido da vida: o da ascensão, lambendo as feridas, adoçando o fado da dor em riste e sentindo a alegria gostosa de ser triste.

Em criança aprendi nela palavras para chegar às estrelas, tal como usava o tronco e os ramos das árvores para ir aos ninhos dos gaios e das rolas. Em adulto adquiri a noção de que a identidade é nómada, peregrina e mestiça; formei-a, como quem escuta piamente a missa, na convicção viva e acesa de que “minha pátria é a língua portuguesa”.

Castigo dos neutrais e omissos

Costuma ser aposta na conta de Dante esta afirmação: “Os lugares mais profundos ou quentes ou sombrios do inferno estão reservados para aqueles que se mantêm neutrais em tempos de crise moral.” O espírito deste juízo encontra-se na ‘Divina Comédia’, mas não a letra da formulação. De resto, a penosa e irremível condenação dos neutrais, dos omissos e oportunistas é a de serem rejeitados tanto por Deus como pelo Diabo. São tão reles que o primeiro não lhes concede perdão; e o segundo não os quer nas suas fileiras, muito menos lhes estende a mão.

Unidos somos um!

São sublimes a mensagem, a música e a coreografia difundidas pelo vídeo dos XII Jogos Desportivos da CPLP 2025, a realizar em Timor-Leste entre 17 e 27 do corrente mês.

Nesta hora manchada de xenofobia cumpre-nos ter orgulho no facto de Portugal, um país pequeno, ser uma Pátria com alma grande e mãe de várias Pátrias com dignidade e estatuto iguais. Eis uma bênção de que poucos países usufruem; e que nos acrescenta e multiplica. Devíamos, por isso, encarar os filhos de tais Pátrias como nossos concidadãos. Infelizmente, há muita gente, entre nós, inclusive nas hostes governamentais, apostada em apoucar e conspurcar a grandeza da alma portuguesa. Que desdita tão triste nos atingiu nestes tempos macabros! Ergam-se da tumba o Padre Vieira e Fernando Pessoa!

XXI Congresso a caminho!

O logotipo é uma sublime obra de arte, da autoria de Rui Machado, genial artista de Manaus, com origens no Nordeste Transmontano e em Matosinhos. O globo representa a floresta. As ondas são as águas do rio Amazonas. E o azul das letras simboliza o céu do Brasil, aberto e inspirador de poemas, canções e ritmos que encantam o mundo.

Batamos palmas! A generosa corrente do nosso Congresso e Movimento da fraternidade lusófona está em crescendo e vai transbordar no porto flutuante de Manaus.

A história faz-se com causas e sonhos; e com factos. Do resto ela não reza.

Eis que Laércio liga e pede ajuda para elaborar projeto de captação de recursos junto ao sistema CONFEF, através de resolução baixada. A Resolução CONFEF nº 605/2025 estabelece diretrizes para a celebração de convênios erepassesfinanceiros a entidades representativase revistas científicas daárea deEducação Física. Seu foco é garantir transparência, legalidade e eficiência no uso de recursos públicos, promovendo ações que fortaleçam a profissão e ampliem o acesso ao conhecimento.

Assim, busquei alguns dados sobre o funcionamento do CEV:

O Centro Esportivo Virtual (CEV) é uma plataforma online de gestão do conhecimento voltada para as áreas de Educação Física, Esportes e Lazer. Criado em 1996 no Núcleo de Informática Biomédica da Unicamp, ele nasceu como parte de uma tese de doutorado e se tornou um dos maiores portais colaborativos da área no Brasil.

Missão

A missão do CEV é democratizar o acesso à informação esportiva, promovendo a troca de saberes entre profissionais, estudantes e interessados, e fortalecendo a formação e atualização continuada na área.

Objetivos

• Ser a porta de entrada para a informação esportiva nacional e internacional

• Promover a educação com informação à distância (EIAD)

• Estimular a produção e disseminação de conhecimento científico

• Servir como fórum permanente de discussão e colaboração

• Apoiar a formação crítica e reflexiva de profissionais da área2

Público-alvo:

• Profissionais de Educação Física

• Estudantes e pesquisadores

• Esportistas e treinadores

• Gestores e interessados em políticas públicas de esporte

• Qualquer pessoa com interesse em conhecimento esportivo e lazer2

Além disso, o portal conta com milhares de participantes ativos, comunidades temáticas, listas de discussão e uma vasta biblioteca digital com artigos, teses, livros e legislação da área

As listas de discussão do Centro Esportivo Virtual (CEV) foram, por muitos anos, um dos principais meios de troca de informações entre profissionais, estudantes e pesquisadores das áreas de Educação Física, Esporte e Lazer. Elas funcionavam por e-mail e permitiam debates assíncronos sobre temas específicos. Algumas das listas mais conhecidas incluíam:

• CEVLAZER-L: voltada para temas de recreação e lazer, com participantes de diversos países da América Latina e Europa.

• cevCBCE: coordenada pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), aberta a associados e interessados.

• cevDN e cevDN-Ampliada: voltadas à direção nacional e dirigentes do CBCE.

• Oxigênio do CEV: considerada a primeira lista do portal, criada em 1996.

Com o tempo, muitas dessas listas migraram para o formato de comunidades temáticas dentro do próprio CEV, oferecendo uma experiência mais interativa e moderna. Ainda assim, algumas listas continuam ativas ou arquivadas como parte da memória do portal.

As comunidades temáticas do Centro Esportivo Virtual (CEV) são espaços colaborativos onde profissionais, estudantes e interessados se reúnem para debater, compartilhar conteúdos e construir conhecimento sobre temas específicos ligados à Educação Física, Esporte e Lazer.

Segundo o próprio portal, existem mais de 150 comunidades ativas, e algumas das mais conhecidas incluem:

• Educação Física Escolar

• Esporte e Mídia

• Lazer e Sociedade

• Gestão Esportiva

• Psicologia do Esporte

• História do Esporte

• Atividade Física e Saúde

• Inclusão e Esporte Adaptado

• Treinamento Esportivo

• Políticas Públicas de Esporte

• Educação Física Infantil

• Marketing Esportivo

• Educação Física e Gênero

• Fisiologia do Exercício

• Educação Física em diferentes estados (ex: Sergipe, Maranhão, etc.)

Cada comunidade tem seus próprios “tocadores” (moderadores), que organizam os debates, compartilham materiais e estimulam a participação. Os membros podem interagir por meio de fóruns, listas de discussão e comentários em publicações.

A Biblioteca do Centro Esportivo Virtual (CEV) é um dos maiores repositórios digitais de conhecimento nasáreasdeEducaçãoFísica,EsporteeLazerno Brasil.Elafuncionacomoumacervocolaborativoeaberto, reunindo produções acadêmicas, científicas e institucionais. O que você encontra na biblioteca

• Artigos científicos publicados em periódicos da área

• Teses e dissertações de mestrado e doutorado

• Livros e capítulos em formato digital

• Trabalhos apresentados em congressos

• Legislação esportiva e documentos institucionais

• Produções de autores e instituições parceiras, como universidades e centros de pesquisa

Oacessoégratuitoeabertoaopúblico,vocêpodepesquisarporautor,título,temaoutipodedocumento. Cada obra traz informações detalhadas, como resumo, palavras-chave, links para o currículo Lattes do autor, e até perfis em redes acadêmicas como o ORCID e Google Acadêmico

A biblioteca é fruto de parcerias com instituições como o IEFE/UFAL, que contribuem com acervos próprios e mantêm páginas de autores atualizadas. Isso fortalece a rede de colaboração científica e facilita o contato entre pesquisadores

O Centro Esportivo Virtual (CEV) é uma referência em gestão do conhecimento nas áreas de Educação Física,EsporteeLazer,mascomotodainiciativadegrandealcance,enfrentadesafiosimportantesparaatender plenamente ao seu público-alvo. Com base em análises recentes e reflexões publicadas no próprio portal, aqui estão algumas das principais dificuldades:

1. Limitações Tecnológicas e de Acesso

• Desigualdade digital: muitos profissionais e estudantes ainda têm acesso limitado à internet de qualidade, dificultando o uso pleno da plataforma.

• Falta de familiaridade com ferramentas digitais: parte do público, especialmente o mais velho ou de regiões periféricas, pode ter dificuldades em navegar ou interagir com os recursos do CEV.

2. Desafios na Educação a Distância (EaD)

• A natureza prática da Educação Física nem sempre se adapta bem ao formato virtual, o que exige reinvenção constante de metodologias.

• A interação humana e o afeto, essenciais no ensino e no esporte, são difíceis de reproduzir em ambientes digitais, o que pode afetar o engajamento e a aprendizagem.

3. Comunicação e Engajamento

• Baixa participação ativa em algumas comunidades temáticas, o que limita o potencial colaborativo da plataforma.

• Dificuldade em alcançar novos públicos, especialmente fora do meio acadêmico ou institucional.

4. Sustentabilidade e Apoio Institucional

• O CEV é um projeto colaborativo e gratuito, o que pode gerar limitações orçamentárias para expansão de serviços, manutenção tecnológica e produção de novos conteúdos.

• Falta de convênios formais com instituições públicas ou conselhos profissionais (como o CONFEF), que poderiam ampliar o impacto e garantir maior estabilidade financeira.

5. Inclusão e Diversidade

• A plataforma ainda enfrenta desafios para representar adequadamente a diversidade regional, étnica e de gênero do Brasil em seus conteúdos e lideranças.

• A acessibilidade para pessoas com deficiência pode ser limitada em alguns recursos, exigindo melhorias contínuas.

Apesar desses obstáculos, o CEV segue sendo um espaço inovador e resiliente. Muitos desses desafios também representam oportunidades estratégicas para parcerias, como a que você propôs com base na Resolução CONFEF nº 605/2025.

as principais dificuldades do CEV em metas estratégicas, organizadas em um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) com visão realista e orientada à ação:

Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) do CEV 2025–2028

Visão Geral

Fortalecer a atuação do Centro Esportivo Virtual (CEV) como plataforma de referência nacional na disseminação do conhecimento em Educação Física, Esporte e Lazer, ampliando seu alcance, impacto social, diversidade e sustentabilidade institucional.

1. Meta: Reduzir desigualdades digitais de acesso ao CEV

Objetivo estratégico: Ampliar a inclusão de usuários com dificuldades de acesso e navegação.

Ações planejadas:

• Criar uma versão “leve” do portal (modo offline, compatível com redes de baixa velocidade)

• Desenvolver tutoriais interativos e vídeos explicativos sobre como utilizar o CEV

• Fortalecer parcerias com universidades e prefeituras para criação de “pontos de acesso CEV”

2. Meta: Reconfigurar o modelo pedagógico EaD para o campo da Educação Física

Objetivo estratégico: Tornar o ensino virtual mais atrativo, afetivo e prático.

Ações planejadas:

• Criar cursos EaD com elementos híbridos (exercícios práticos filmados, estudos de caso regionais)

• Estimular o uso de metodologias ativas (gamificação, aprendizagem baseada em projetos)

• Implementar fóruns de apoio emocional e trocas de experiências entre educadores

3. Meta: Elevar engajamento e representatividade nas comunidades temáticas

Objetivo estratégico: Fortalecer o senso de pertencimento e participação ativa dos membros.

Ações planejadas:

• Criar programas de formação e valorização para os “tocadores de comunidade”

• Realizar chamadas públicas para coautoria de conteúdos e curadoria colaborativa

• Implantar estratégias de comunicação contínua (newsletters, notificações, podcasts)

4. Meta: Garantir sustentabilidade institucional e expansão do CEV

Objetivo estratégico: Assegurar fontes de financiamento para manutenção e inovação da plataforma.

Ações planejadas:

• Estabelecer convênios com CONFEF, universidades e agências de fomento (como CAPES, CNPq)

• Criar uma política de financiamento colaborativo (apoio de usuários e instituições parceiras)

• Elaborar relatórios de impacto e métricas de alcance para embasar captação de recursos

5. Meta: Ampliar diversidade, acessibilidade e equidade

Objetivo estratégico: Tornar o CEV mais inclusivo em sua linguagem, conteúdos e acessos.

Ações planejadas:

• Criar diretrizes de produção inclusiva (representatividade de gênero, etnia, regionalidade)

• Traduzir conteúdo para Libras e implementar recursos de acessibilidade digital

• Lançar chamadas específicas para autores de populações sub-representadas

O CEV teve inicio no MARANHÃO, fruto do desenvolvimento do CEDEFEL-MA e da APEFEL-MA.

O maranhense é um brasileiro diferenciado, e muito bem diferenciado. São Luís, a capital, é a única que não foi fundada por portugueses, e sim, franceses. A posição geográfica do Estado possui traços singulares e a nossa linguagem, ou seja, a forma de comunicação, constitui um traço único da identidade maranhense em relação aos demais estados da federação.

Falar que está arreliado é o mesmo que irritado ou desassossegado. Se a irritação extrapolou os limites do razoável e criou-se uma confusão, diz-se que esta é uma situação de cascaria e o indivíduo causador do imbróglio é o casqueiro, que é diferente do fuxiqueiro, aquele que faz o fuxico, o famoso “leva-e-traz”. Fuxico é mesmo que “disse-me-disse”. E o final de todo fuxico é uma grande cascaria.

Em toda cascaria ou fuxicagem, você pode ouvir uma pérola linguística maranhense, o “eu vou te dá-lhe”, que é o mesmo que bater em alguém. O “eu vou te dá-lhe” é uma frase ameaçadora, o extremo da raiva de um maranhense casqueiro; e se alguém de outro estado ouvi o “eu vou te dá-lhe um bogue”, avise para que saia da frente que o maranhense casqueiro está com muita raiva.

O bogue significa esmurrar outra pessoa e tem o mesmo significado que o sopapo ou murro. O bogue mais terrível é o bogue no “pé do ouvido”, um verdadeiro “pescoção”. Confesso que nunca dei um bogue em ninguém; fiquei somente na vontade, faltaram-me coragem e força física. Em uma ocasião senti vontade de dar um bogue em um colega, numa disputa de lanceada na Praça da Alegria; outra vez foi jogando bolinha, e o parceiro não avisou “casa ou bola, porco ou leitão”. E se você não entendeu, com certeza nunca empinou papagaio ou jogou bolinha de gude.

A desaprovação de uma situação ou se ela não tem nenhum valor ou significado, ou aquilo que não presta ou não tenha serventia, identificamos esta situação como fuleragem, tanto que o causador da fuleragem é o fuleiro, o imprestável ou irresponsável.

Pior que a fuleragem é a esculhambação, situação onde existe corrupção, malversação pública ou privada, ou descuido com a moral. O esculhambado é o grande causador da esculhambação.

Se algo quebrou ou apresentou defeito, tenha certeza que está escangalhado e precisa de conserto. O maranhense não diz que um objeto está quebrado; e sim que está escangalhado. Se este objeto for um carro e se estiver bastante usado, com certeza este carro é uma “casqueta”

Alguém muito econômico, que não gosta de desperdiçar nada, que nunca divide uma conta e sempre dá uma desculpa para sair na hora de dividir a conta, este é o canhenga.

Adoeceu, sentiu algum incômodo e pede por ajuda ou por socorro, o maranhense vai dizer “me acode” e se ouvir “me vale ou valha-me Deus”, tenha certeza de que é um pedido de clemência ou da ajuda divina para o seu sofrimento.

O hum-hum ou hém-hém são expressões afirmativas ou negativas, e o seu sentido depende do contexto de quem fala ou de quem ouve. Outras vezes não tem significado nenhum, o maranhense simplesmente ignora a conversa dizendo hum-hum ou hém-hém.

Colocar uma roupa no cabide do guarda-roupa é compreensível, entretanto o maranhense coloca a roupa na cruzeta, ele não fecha o zíper, fecha o riri e ele abotoa a camisa depois de engomada.

O “piqueno ou piquena” não significa o antônimo de grande ou o tamanho da pessoa. Refere à faixa etária ou às características infantis da pessoa. Pode às vezes ter um caráter pejorativo e não sei por que alguns, quando chamados de piqueno, devolve em tom raivoso, achando que piqueno é “filho de cego”, confesso que nunca entendi esta interpretação.

Não existe expressão mais maranhense que “qualhira ou qualira”. Talvez seja a identificação mais autêntica do maranhense, e em qualquer lugar do mundo, se o maranhense ouve alguém o chamando de qualira, ele tem a certeza de que um outro maranhense está por perto. O qualira pode até ser comparável com “gay, fresco ou veado”, mas não tem caráter homofóbico. Qualira é um estado de espírito e qualhiragem ou deixar de fazer qualhiragem é o mesmo que pedir para uma pessoa deixar de fazer besteira ou chatice, portanto se alguém te chamar de qualhira ou qualira, não te arrilia e nem faz cascaria; senta num mocho e descansa.

Em caso de admiração, ouve-se o “éguas”! Éguas é uma palavra exclamativa e superlativa e utilizada pelo maranhense no sentido de exagero.

O órgão genital feminino é o xiri, que, junto com o qualira, forma uma dupla 100% maranhense, e que resiste bravamente a todos os modismos e invasões culturais; são duas identidades genuinamente maranhenses. O maranhense não vive sem xiri, qualhiragem e farinha d’água.

CHEGOU

POR ROBERTO FRANKLIN

Cadeira 40, da ALL

E com ele veio, como uma onda mansa quebrando nas pedras, a lembrança daqueles tempos em que a vida parecia mais leve, mais livre, mais viva. Era o mês mais esperado do ano, quando íamos todos em bando, em festa, em família passar as férias inteiras em São José de Ribamar. Um verdadeiro ritual sagrado, um reencontro com nossas raízes, com o mar, com nossa história.

Logo na chegada, o ar se enchia do cheiro inconfundível do peixe-pedra assando nas braseiras ou cozido, misturado à maresia e ao som distante das ondas. Esse peixe era mais que alimento: era anúncio de que havíamos chegado em casa, símbolo de aconchego, de tradição. E não faltava a tanja de casca verde, que se tornava nosso refresco predileto depois dos longos banhos no canal, quando a maré baixava e revelava a água fria, transparente, corrente capaz de lavar mais que o corpo: lavava a alma, renovava os sorrisos, fazia brotar gargalhadas.

O Caúra nos chamava com seu jeito calmo de vila de pescadores. Íamos todos a pé, numa longa caminhada que valia cada passo. E como esquecer a praia do Barbosa? Caminhadas animadas só para comprar tanjas ainda úmidas de orvalho, recém-colhidas.

A casca verde guardava um interior doce, alaranjado. Comíamos ali mesmo, contemplando o horizonte como se não houvesse pressa no mundo.

Havia também o mingau de milho, que nos aquecia de manhã, preparado com carinho por mãos habilidosas. E ao final da tarde, partíamos para o passeio sagrado ao redor da igreja matriz. Era ali, sob o céu avermelhado pelo pôr do sol, que aconteciam as paqueras imperdoáveis.

Vestíamos nossas roupas mais bonitas, ajeitávamos os cabelos e íamos caminhar em círculos, sem pressa, mas com um objetivo claro: olhar e ser olhado. Era o tempo dos flertes tímidos, dos olhares roubados, dos corações batendo acelerados sem saber exatamente por quê.

Quando o vento começava a soprar mais frio, anunciando a chegada da noite, voltávamos para casa. Lá nos esperavam as cozinheiras nativas, que preparavam com tanto cuidado o peixe-pedra, cozido ou frito cada pedaço um verdadeiro abraço.

Lembro também dos tamancos, os “chamató”, que eram peças sagradas do nosso vestuário de férias. Batiam nas calçadas de pedra com seu som ritmado, ecoando pela praça como se anunciassem, com melancolia, que o tempo da infância estava passando ali, bem diante dos nossos olhos.

E havia os papagaios. Ah, os papagaios! Feitos em casa com papel fino e varetas de buriti, voavam alto como nossos sonhos. Cada puxada de linha, banhada em cerol, era uma tentativa de prolongar aquele instante de liberdade.

Corríamos pelas ruas de terra batida, rindo, gritando, apostando quem conseguia manter o papagaio mais tempo no ar, quem tinha o mais bonito, o mais colorido.

Julho, para nós, não era apenas um mês. Era um tempo mágico, suspenso entre o ontem e o hoje. Era reencontro com os primos e tios, conversas longas à beira da rede, o som do rádio ligado na varanda, o cheiro do peixe frito, o sabor vivo da infância guardado em cada memória. Hoje, quando julho chega, ele traz consigo essa brisa suave de saudade. Uma saudade que não dói, mas aperta. Uma saudade boa, que me faz sorrir sozinho ao lembrar de tudo que vivemos ali, em São José de Ribamar. É como se cada rua, cada pedra, cada árvore ainda guardasse nossas vozes, nossos passos, nossa alegria.

Julho chegou... e, com ele, vieram as lembranças. Vieram as saudades. E, de algum modo, tudo isso ainda vive dentro de mim para sempre.

SOCIEDADE DOS POETAS ESQUECIDOS

ADELINO FONTOURA CHAVES

POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Cadeira 21, da ALL

ADELINO FONTOURA CHAVES

Nasceu em 30 de março de 1855, em Axixá, e faleceu a 02 de maio de 1884, em Lisboa. Era poeta e militante na imprensa carioca nos jornais Folha Nova, Gazetinha, O Combate e Gazeta da tarde, sendo depois correspondente deste último vespertino em Paris. Iniciando a vida como caixeiro e soldado da polícia, conseguiu destaque na literatura e foi escolhido patrono da cadeira no. 1 dos sócios efetivos da Academia Brasileira de Letras, fundada por Luis Murat, e da de no. 38 da Academia Maranhense de Letras, fundada por Franklin de Oliveira. Suas produções poéticas, que nunca enfeixou em livro, acham-se reunidas nos números 93 e 117 da Revista da Academia Brasileira (CARDOSO, 2001)

Fontoura era filho de Antônio Fontoura Chaves e de Francisca Dias Fontoura. É tio-avô do padre, poeta e escritor Fontoura Chaves. Ainda muito pequeno começa a trabalhar e trava contato com Artur de Azevedo –amizade que perduraria.

Mudando-se para o Recife, onde se alista no Exército, colaborando numa publicação chamada “Os Xênios”, de teor satírico. Inicia, também a carreira de ator, voltando ao Maranhão natal para uma apresentação – cujo papel rendeu-lhe a prisão. Após este fato, decide mudar-se para o Rio de Janeiro, para onde se mudara o amigo Artur de Azevedo, anos antes. Pretendia seguir carreira teatral e no jornalismo, falhando na primeira. Colaborou nos periódicos “Folha Nova”e “OCombate”,deLopes Trovão e em “AGazetinha”,onde Azevedo escrevia (1880).

Em 1882, Artur Azevedo fundou o jornal A Gazetinha e chamou o amigo para ser redator. A Gazetinha durou pouco tempo (de 1º de janeiro a 20 de agosto), mas lá Adelino publicou várias poesias e trabalhos em prosa. Pouco antes, Ferreira de Menezes funda o jornal Gazeta da Tarde, cuja propriedade e redação era de José do Patrocínio. Adelino para este jornal foi convidado por José do Patrocínio e nele também publicou numerosos trabalhos de prosa. Informa Múcio Leão que a Gazeta da Tarde "foi um dos jornais mais azarentos que tem havido o mundo." Começou esplendidamente, e tinha como seus diretores e principais redatores Ferreira de Menezes, AugustoRibeiro,HugoLeal,JoãodeAlmeidaeAdelinoFontoura.Trêsanosdepois,nenhumdesses rapazes existia mais.

Adelino Fontoura viveu nessa fase de sua vida uma paixão não correspondida e, mesmo com a saúde precária, ao ser convidado para representar a Gazeta da Tarde na Europa, decidiu viajar. No dia 1º de maio de 1883 partiu no navio Senegal, para Paris. Lá esperava encontrar melhoras para a saúde, mas deparou-se com insuportável inverno. Viajou para Lisboa, para onde seguiu José do Patrocínio, na esperança de convencê-lo a embarcar de volta para o Brasil. Seu estado de saúde era crítico e, por isso, foi internado no Real Hospital São José, onde veio a falecer aos 25 anos de idade, justamente quando poderia produzir toda uma obra poética de mérito literário. Foi sepultado no Cemitério Oriental de Lisboa.

Ao fundar-se a Academia, em 1897, seu amigo Luís Murat escolheu-o como patrono da cadeira por ele criada. É o único caso de um patrono, na Academia, sem livro publicado. Em vida, ou não atribuíra muita importância a seus trabalhos para reuni-los em livro, ou confiara em não morrer tão cedo. Após a morte, várias tentativas foram feitas para reunir a obra dispersa do poeta.

Ao tomar posse na Academia a 29 de agosto de 2003, Ana Maria Machado retratou o desconhecimento que cerca a obra desse poeta, mesmo entre os eruditos:

“Mas como? Não foi Machado de Assis seu primeiro ocupante? Então ele era o patrono? Não. O patrono, escolhido por Murat, foi Adelino Fontoura. Quem? Pois é... Não encontrei quem, ao ouvir essa correção, identificasse o nome. De minha parte, confesso que também mal havia ouvido falar nele, vaga lembrança de algum poema numa antologia. Pois descobri coisas interessantes na magnífica biblioteca desta nossa Academia, aliás aberta ao público para ser utilizada e fruída.”

Sua obra, esparsa, constitui-se em cerca de 40 poesias, reunidas pela primeira vez na Revista da Academia (números 93 e 117). Foi depois reunida em 1943 e em 1955, por Múcio Leão. Fontoura não figura na quase totalidade das antologias e históricos da Poesia brasileira - nem a obra "Apresentação da Poesia Brasileira", de outro Acadêmico, Manuel Bandeira, faz-lhe referência. Seu soneto mais conhecido é "Celeste":

CELESTE / (domínio público) / É tão divina a angélica aparência / e a graça que ilumina o rosto dela, / que eu concebera o tipo de inocência / nessa criança imaculada e bela. / Peregrina do céu, pálida estrela, / exilada na etérea transparência, / sua origem não pode ser aquela / da nossa triste e mísera existência. / Tem a celeste e ingênua formosura / e a luminosa auréola sacrossanta / de uma visão do céu, cândida e pura / E quando os olhos para o céu levanta, / inundados de mística doçura, / nem parece mulher - parece santa. /

Sobre a escolha de Fontoura para o patronato no silogeu por Murat, registrou Afrânio Peixoto:

"Novidade de nossa academia foi, em falta de antecedentes, criarem-nos, espiritualmente, nos patronos. Machado de Assis, o primeiro da companhia, por vários títulos, quis dar a José de Alencar a primazia que tem, e deve ter, na literatura nacional. A justiça não guiou a vários dos seus companheiros. Luís Murat, por sentimento exclusivamente, entendeu honrar um amigo morto, infeliz poeta, menos poeta que infeliz, Adelino Fontoura."

Bibliografia - FOUTOURA, Adelino, 1859-1884. Dispersos. Rio de Janeiro (RJ): Academia Brasileira de Letras, 1955. 284 p., il., 21 cm. (Afrânio Peixoto; v. 4. IV - Inédita).[ A Revista da Academia (n. 93 e n. 117) publicou quase todas as suas poesias conhecidas. No suplemento Autores e Livros, em 17 de outubro de 1943 (vol. 5o, n. 13), Múcio Leão apresentou em conjunto a obra do malogrado escritor. Conseguiu reunir perto de quarenta poesias, às quais juntou alguns trabalhos de prosa.

Porque hoje é o seu aniversário de nascimento.

CERES COSTA FERNANDES

Maria Isabel nasceu como uma daquelas princesas das histórias de Era uma vez... Com uma estrela na testa. Todos ao seu redor percebiam isso. Fato mais notado por ser pequena a sua cidade berço: São Bento dos Peris. Menor ainda naqueles tempos, embora contasse com uma seleta sociedade. Cidade em que muitos ilustres maranhenses nasceram e de lá se projetaram para o resto do Brasil.

Maria Isabel também estava fadada a não permanecer muito tempo na sua cidade natal. Certo dia, lá aportou um jovem e galante advogado, cheio de sonhos, pronto para defender uma polêmica e alentada questão, portando uma volumosa valise, cheia de documentos. Por este derradeiro detalhe, foi identificado como um caixeiro viajante sedutor, e logo rejeitado por meu avô, feroz guardião de sua princesa com uma estrela na testa.

Mas o amor do jovem advogado apaixonado, logo ao primeiro olhar, pela bela princesa que contava apenas dezesseis anos, foi decisivo. Enfrentou com denodo o feroz dragão, digo meu avô, e de imediato pediu a mão de Maria Isabel. E eles se casaram e tiveram dois filhos. Uma menina desajeitada e um principezinho louro. Ela, a princesa com uma estrela na testa, desde cedo, assumiu o acolhimento das duas famílias. A casa deles e dos dois filhos, por vezes, abrigava, entre familiares que vinham estudar e os que roubavam moças, e mais colaboradores, 17 ou mais moradores. Confesso que era uma casa muito animada.

Ele, o herói, morreu muito cedo, vitimado por uma doença cruel, mas ainda teve tempo de conhecer o neto mais velho, porque a primogênita, seguindo o conselho da mãe, que lhe rogou que não se casasse aos 16 anos, casou aos 15. O advogado, jovem e brilhante teve o seu brilho apagado aos 46 anos. Ainda assim, deixou, para sempre, fortes exemplos e influência marcante em toda a família. E ela seguiu sendo a matriarca, até ver todos os membros da grande família encaminhados.

Maria Isabel era uma princesa alegre e descomplicada, nunca deixava que algo a afligisse por muito tempo, sua filosofia de vida poderia resumir-se na simples frase, muitas vezes repetida: “no fim dá certo”, quando queria ousar. Ou, seguindo o dito de sua sábia avó, Rita de Cássia, inspiradora de sua devoção à santa do mesmo nome: “o que não tem jeito, remediado está”, quando o caso exigia absoluta conformação. Com essas duas máximas, ia levando a vida.

Eu sempre desconfiei que o verso de Gilberto Gil, “gente é para brilhar” certamente se referia a ela. Maria Isabel gostava de festas, crianças, reuniões com amigos e de viagens, correndo mundo, com a estrela na testa, a reluzir.

Imaginava que a morte, quando a encontrasse, lhe prepararia algo de diferente, a combinar com a sua vida. Mas, não. Deus tinha outros desígnios para ela. Sofreu demais com aquela longa enfermidade que os muito velhos têm, e, após muito lutar, depôs as armas e foi morrendo devagarinho, apagando–se bruxuleante como uma vela que o vento suave sopra.

Após a morte, o velho corpo combalido pareceu recuperar-se, e acendeu-se novamente na sua testa a luz da estrela. Partiu para mais uma viagem, e certamente, transformou-se toda ela em um astro e está do outro lado da vida a brilhar, desta vez para sempre. Até mais, Mãe.

LEMBRAM DESSE TIME DE CRAQUES DO FUTSAL, CURTA E COMENTE.

AUREO MENDONÇA

Em pé João Barros,Jorge de Edinho, Nilson Santos, Pelé, Muniz, Coroca e um torcedor.

Agachados: Zé Mário, Doval, Jarbas e Inaldo.

Foto: Zé Mário

Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

JOÃO

JOÃO ALEXANDRE VIEGAS COSTA JUNIOR

– JOÃO ALEXANDRE JUNIOR: natural de São Luis., fez seus primeiros estudos em Sergipe. De volta ao Maranhão, veio colaborar na imprensa, publicando crônicas e poemas. Forma-se em Direito e Administração pela UFMA.

É uma voz marcante da poesia brasileira contemporânea. Sua obra é conhecida por seu lirismo denso, crítica social e reflexões existenciais. Aqui vai um gostinho do estilo dele: "Faz medo o outro lado que fica do lado de fora onde tenho inventado a vida..." Esse trecho revela sua habilidade de explorar o íntimo e o coletivo com profundidade filosófica e sensibilidade poética.

Características marcantes da sua poesia: Uso de imagens fortes e simbólicas Temas como identidade, espiritualidade e política Linguagem sofisticada, mas acessível Influências de autores como Maiakovski e Clarice Lispector

Trajetória e atuação Foi editor da Página da Juventude no Jornal Pequeno, um mportante veículo de comunicação maranhense. Participou do Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante, uma publicação voltada à difusão da literatura e cultura locais. Seus poemas foram publicados em jornais e antologias, com destaque para o uso de linguagem sofisticada e imagens simbólicas.

Temas recorrentes em sua poesia O existencial e o metafísico: questionamentos sobre o ser, o tempo e a identidade. A alienação e o “lado de fora”: metáforas sobre o vazio, o desconhecido e a exclusão. A palavra como resistência: ele explora o poder da linguagem como forma de afirmação e sobrevivência.

Endocrinopatia

O lado de fora é branco, sem cor (exatamente branco pela falta) pálido, polido, gélido calculadamente ausente e branco. Faz medo o outro lado porque se interna assexuado, de prenhez letal, fatal, inexorável... Eu me tenho tido em minha pátria e soberano faço a mesa e disponho a casa. Os meus amigos todos eu os tenho Já à mira e me diverte o novo engenho que desde ontem lhes reservo (aliás ontem eu domino quando me contenho) Não tenho pois porque carecer de hoje: se não sou, tanto faz, se fui e não será esse outro lado que fica do lado de fora que me vai tirar de mim (do meu lado de dentro

onde tenho inventado a vida)

Namoro nas paredes do espaço ameaças de externos internos e faz mal o meu hábito postiço habituado à palavra asfáltica (Faz medo o outro lado que fica do lado de fora) (Jornal Pequeno, A Letrinha, 13.03.1973, p. 03)

O compositor maranhense Wellington Reis foi uma figura essencial na construção da identidade cultural de São Luís e do Maranhão como um todo. Ele faleceu em 22 de julho de 2025, aos 74 anos, deixando um legado artístico vibrante e irreverente2.

Contribuições marcantes

• Fundador dos blocos carnavalescos Unidos do Regional Tocado a Álcool (URTA) e Vagabundos do Jegue, símbolos da criatividade popular maranhense.

• Criador do nome Boizinho Barrica, hoje conhecido como Bumba Meu Boi Barrica, um dos grupos folclóricos mais emblemáticos do estado.

• Autor da marchinha “O Gaguinho”, um clássico do carnaval local que virou hit entre os foliões.

• Produziu o disco Sotaque Maranhense na Arte de Cozinhar, que uniu música e gastronomia e foi premiado internacionalmente como o “CD mais criativo de culinária no mundo”.

• Liderou o grupo musical Terra e Chão na UFMA, promovendo a valorização da cultura regional.

• Atuou como diretor de Difusão Cultural na Secretaria de Estado da Cultura durante o governo de Roseana Sarney.

Últimos projetos

Seu álbum Ladainha e Canções à São Pedro é uma homenagem às tradições religiosas e populares do Maranhão. Com participações de artistas como Arthur Santos, Claudio Pinheiro e Inácio Pinheiro, o CD foi produzido de forma independente e teve caráter beneficente.

A vida de Wellington Reis foi uma verdadeira celebração da cultura maranhense marcada por irreverência, criatividade e profundo compromisso com as tradições populares.

Infância e formação

• Nascido em 1951, em São Luís, Wellington cresceu no bairro Madre Deus, berço de manifestações culturais como o Bumba Meu Boi e os blocos de rua.

• Desde jovem, envolveu-se com música e teatro, participando de grupos ligados ao Laborarte e ao Coral São João.

Falecimento e legado

• Wellington faleceu em 22 de julho de 2025, aos 74 anos, vítima de uma infecção generalizada.

• Seu velório foi realizado na Central de Velórios, no Centro de São Luís, reunindo artistas, familiares e admiradores.

A trajetória de Wellington Reis é lembrada como um exemplo de resistência cultural, humor inteligente e amor pelas raízes maranhenses.

As músicas de Wellington Reis, o compositor maranhense, são marcadas por irreverência, religiosidade e profundo vínculo com a cultura popular de São Luís. Aqui estão algumas das mais emblemáticas: Marchinhas e Carnaval

• “O Gaguinho” – Um clássico do carnaval maranhense, com letra bem-humorada e ritmo contagiante. Tornou-se um verdadeiro hino dos blocos de rua.

• “Kepha” – Composição autoral que encerra o álbum Ladainha e Canções à São Pedro, trazendo reflexões espirituais e poéticas.

Álbum: Ladainha e Canções à São Pedro

Esse disco é uma joia da música popular religiosa maranhense. Algumas faixas de destaque:

• “Ladainha de São Pedro” – Interpretada por Arthur Santos, é uma homenagem ao santo padroeiro da Madre Deus.

• “Hino à São Pedro” – Cantado por Sebastião Cardoso, mistura fé e tradição com arranjos delicados.

• “Procissão de São Pedro” – Composição de Zé Pereira Godão, interpretada por Roberto Brandão, retrata a celebração junina no bairro.

• “Nova Rampa” – De Arthur Santos, fala sobre a renovação das tradições locais.

• “Guardiões da Aurora da Vida” – Composição coletiva, interpretada por Inácio Pinheiro, celebra os protetores espirituais.

Álbum: Sotaque Maranhense na Arte de Cozinhar

• Uma obra inovadora que mistura música e gastronomia. Foi premiada como o CD mais criativo de culinária no mundo.

• As faixas celebram ingredientes, pratos típicos e o sotaque musical da Ilha.

Quais influências musicais marcaram o estilo dele?

O estilo musical de Wellington Reis foi profundamente moldado pelas tradições populares do Maranhão, especialmente aquelas ligadas ao bairro Madre Deus, onde ele cresceu. Suas influências misturam o sagrado e o profano, o folclórico e o carnavalesco, criando uma sonoridade única e autêntica.

Influências principais

• Manifestações populares maranhenses: Como o Bumba Meu Boi, os blocos de sujo, as ladainhas e as festas juninas. Essas expressões culturais estão presentes tanto na temática quanto nos ritmos de suas composições.

• Religiosidade popular: Wellington incorporou elementos das celebrações católicas, como as ladainhas e procissões, especialmente em obras como Ladainha e Canções à São Pedro.

• Música carnavalesca: Marchinhas irreverentes e bem-humoradas, como “O Gaguinho”, mostram sua afinidade com o espírito brincalhão do carnaval de rua.

• Colaborações com artistas locais: Trabalhou com nomes como César Teixeira, Luís Bulcão, Zé Pereira Godão e Claudio Pinheiro, que também são referências na música popular maranhense.

• Vivência comunitária: Participou de grupos como o Laborarte e o Coral São João, que promovem a arte engajada e comunitária4.

Seu estilo é um verdadeiro mosaico da cultura maranhense com sotaque, fé, crítica social e muito humor.

22.07.2025: Wellington Reis acaba de se misturar em todas as vidas que marcou

*Mhario Lincoln

“Todos nós morremos. O objetivo não é viver para sempre, mas criar algo que perdure.”

Chuck Palahniuk, Diary

Quando conheci Wellington Reis o achei muito discreto. Intuitivo, reflexivo (inversamente proporcional a minha personalidade explosiva e inquieta). Como se dizia na época em que frequentei a calçada da Fábrica Cânhamo: na dele - onde, bem ao longe, ainda se ouvia o cavaquinho de Francisco de Assis Carvalho da Silva, o Six, de imortal memória, e que morava nas redondezas.

Temposdepois,emalgunsdenossosreencontros;eaospoucos,fomosaprimorandoasideiaseospensamentos começaram a fluir melhor, quando um assunto foi interceptado abruptamente: parceria em um chorinho, gênero que ele também admirava, contudo nunca havia composto um com outra pessoa. Talvez por influência do velho "Six", lá estávamos nós, construíndo, num primoroso "start", DEIXA O CORAÇÃO FALAR ouça aqui (->)(https://www.youtube.com/watch?v=VTXzUEzPY0s) para recomeçarmos uma antiga ‘colegagem’, onde, na época, o máximo de aproximação findava em um "oi", alô", "tudo bem"....

Porém, nunca o deixei de observar. E ele, fora das mesas de conversa, em algumas fotos que publicou em suas redes sociais (onde também foi discreto), sempre me proporcionava a ideia de ter algo profundamente íntimo, pessoal eintransferível. Como nessafoto-descrição,ondeWR estásentadodefrenteparaoPalácio daPrincesa Ina,com brisasalgadanorosto,ecomo músico,solfejandonovas composições aoritmo cadenciadodas ondas, acompanhado pelo batuque invisível dos tambores de Jorge da Fé em Deus, em redemoinhos que marcavam na areia, com os calcanhares, na dança litúrgica, o peso silencioso da solidão que, aliás, para ele, Wellington Reis, especificamente, nunca foi cárcere.

Lembrei, ao olhar e entender essa foto de WR, à beira da praia, em São Luís do Maranhão, das minhas aulas de Psicologia e da famosa Teoria da Autodeterminação, isto é, quando o bem-estar brota ao ‘printarmos’ essa autonomia, competência e pertencimento.

Se há alguém que represente “pertencimento” em todas as artes que vibram e saem do solo fértil maranhense, era ele. Inclusive, único maranhense (com seu parceiro José Ignácio) a ganhar importante prêmio na Suécia. Mais especificamente em Örebro, com o disco SOTAQUE MARANHENSE NA ARTE DE COZINHAR. O Gourmand World Cookbook Awards, um prêmio que laureia as melhores publicações da gastronomia mundial.

E lá estava ele, na foto, aparentemente sozinho e autônomo em sua pescaria contemplativa, como se estivesse lembrando de seu "Boizinho Barrica: Urrou meu boi/ Que abalou as estrelas do céu/ Clareou no balanço do mar/ O lençol de areia, fez a sereia cantar (...)".

Não há nenhuma sombra de dúvidas que ali, naquela hora, sentia um prazer em ser parte de um todo mitológico, com mães d'água e touros negros, sem pressa de colher frutos, nem peixes, mas sim, sentir saudades, reminiscências, choro e lembranças, que só ele mesmo é capaz de absorver e não espargi-las no suor, diante do calor que faz São Luís em Abril, mês de "chuvas mil".

Lembrou-me Ernest Hemingway, em O Velho e o Mar. Uma luta silenciosa entre homem e oceano, como metáfora da vida. Isto é, cada saudade fisgada é um troféu contra a própria limitação. John Steinbeck, em Logbook from the Sea of Cortez, mergulhou na observação minuciosa do oceano, lembrando-nos que a pesca solitária mais do que capturar peixes é diálogo íntimo com o desconhecido, um exercício de humildade e maturidade diante do infinito.

Observo um mesmo Wellington Reis através dessa foto e lembro também de Fernando Pessoa que em seus versos sobre o mar e suas ondas, comparou o coração humano a naufrágios e buscas infindas. Outro, Pablo Neruda, em suas "Odes", declarou que somente o mar é o verdadeiro guardião dos segredos, exaltando seu poder curativo “sobre as dores da alma”.

Talvez ele esteja lendo os clássicos epicúricos através das linhas agnósticas deixadas pelo sal, antes de morrer naareia; e eu, aqui defora,apenas pensandoqueelehipoteticamenteestivesseolhandoomar.Porisso,passam

mil turbilhões em minha cabeça e possivelmente também na dele, pois cada onda que quebra na praia oferece um convite para despir medos e descobrir, na vastidão líquida, o que nos fazem (eu e ele), até certo ponto, pessoas frágeis, mas imensamente livres, porque nesse momento congelado da foto, a cadeira não é prisão e a solidão não é vazio, mas celebração: é a arte de viver sem pressa, de aceitar o fluxo e apreciar o mistério.

E ali, ante o horizonte sem fim, nesta terça-feira vagueante, insincera e furtadora de vidas, (22.07.2025), Wellington Reis permanecerá no sal das ondas, na sintonia perfeita entre a brisa, o mar e o céu. Aliás, ao contrário do que pensou Neil Peart, WR acaba de se misturar em todas as vidas que marcou, seguindo o que ensinou Zenão de Eleia: "Quem é realmente um amigo, senão um outro eu?".

Descanse em Paz!

Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.

desta vez com a jovem Lívia Santos Frazão, que demonstrou empenho, concentração e estratégia no 2° Aberto do Brasil de Xadrez - Princesa do Tocantins.

O evento foi realizado em Imperatriz, no Hotel Posseidon, de 25 a 27 de julho, último final de semana. E contou com a participação dos representantes de vários estados.

A Confederação Brasileira de Xadrez organiza esta competição como parte do seu calendário anual, valendo vagas para a final do Campeonato Brasileiro de 2025 (6) e vagas para o Campeonato Maranhense 2025 (2). Além de classificação no ranking nacional (CBX) e internacional (FIDE).

Lívia Frazão é aluna do 1° ano no Colégio Militar Tiradentes XXIII - U.B.E. José Jorge Gomes Rodrigues, de Itapecuru Mirim.

Ela enfrentou adversários adultos, tanto homens quanto mulheres, seguindo as normas do campeonato chamado de "Aberto". Foia única maranhense no pódio e conquistou o término lugar.

A enxadrista garantiu vaga para o Campeonato Brasileiro Feminino de Xadrez que acontece na cidade de Recife, no estado de Pernambuco, em novembro deste ano.

A ORIGEM DA CAPOEIRA: A LUTA QUE VIROU DANÇA E RESISTÊNCIA

No Brasil colonial, lá pelos séculos XVI e XVII, chegou uma força que carregava na alma a esperança de liberdade: a capoeira. Não era só luta, era um grito de resistência dos povos africanos escravizados, principalmente da Angola. Eles precisavam se defender, mas a repressão era dura, por isso, transformaram a luta em dança, um jogo disfarçado que enganava os opressores.

Aos olhos de quem não conhecia, parecia brincadeira. Mas era o corpo falando uma língua proibida, uma arma que se escondia na dança. Nas feiras, nas festas, nos becos, a roda de capoeira crescia, mantendo viva a cultura africana e desafiando a opressão.

Com o tempo, a capoeira se espalhou pelas ruas de Salvador, pelos cais, pelas ladeiras. Não havia mestre oficial, não havia escola, só a tradição passada de boca em boca, de ginga em ginga. Era um código, uma herança, uma chama que não podia apagar.

Entre os primeiros mestres, um brilhou na história:

Mestre Pastinha: O Guardião da Capoeira Angola

Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 5 de abril de 1889, em Salvador, Bahia, um homem que não aprendeu capoeira em escola, mas sim com a sorte e o destino. Quando criança, era franzino e vivia apanhando de um colega maior e mais forte, o que o deixava triste e envergonhado.

Um dia, um velho africano viu Pastinha chorando e o convidou para aprender no seu “cazuá”. Foi aí que a verdadeira transformação começou. Com Benedito, seu mestre, Pastinha aprendeu muito mais do que golpes: aprendeu a filosofia da Capoeira, o respeito, a malícia e a sabedoria. E com apenas um golpe, ele fez seu rival se tornar seu amigo.

O Mestre que transformou o jogo em arte

Pastinha não só jogava capoeira, ele pensava sobre ela, ensinava e difundia seu legado. Fundou em 1941 o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), no Largo do Pelourinho, Bahia, a segunda escola oficializada pelo governo. Lá, a Capoeira Angola passou a ser reconhecida como expressão cultural, arte e filosofia de vida.

Em 1966, foi destaque no Festival Mundial de Arte Negra, no Senegal, mostrando ao mundo a força e a beleza da capoeira. Publicou em 1964 o livro “Capoeira Angola”, defendendo a prática desportiva, não violenta, da capoeira.

Legado eterno e alunos famosos

Entre seus alunos famosos estão Mestres João Grande, João Pequeno, Boca Rica, Curió e Bola Sete, todos guardiões da tradição que Pastinha dedicou a vida para preservar. Personalidades como Jorge Amado também celebraram seu legado.

Apesar da fama, o velho mestre teve um fim difícil: expulso do Pelourinho, sofreu derrames, ficou cego e morreu aos 92 anos, em 1981. Mas sua alma vive nas rodas, nas cantigas e no jogo de capoeira até hoje!

A frase que resume tudo

Na porta da sua academia, ele escreveu:

“Angola, capoeira, mãe”

e completou:

“Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista.”

Reprodução - Homenagem de Tchê

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