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APRENDEMOS COM A PANDEMIA?

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A DIFUSORA OPINA

A DIFUSORA OPINA

OSMAR GOMES DOS SANTOS

Há pouco tempo estávamos reclusos dentro de nossas casas, fazendo companhia para a nossa solidão. Perdemos nossos referenciais, a vida em comunidade; sofremos com a angústia de não sermos a próxima vítima do mal que assolou o país. A pandemia trouxe um impacto negativo gigantesco em economias mundo afora, tal como aqui. O fechamento de setores produtivos e geradores de riquezas teve como consequência uma legião de desempregados, algo em torno de 15 milhões, somente no Brasil. Repentinamente, motorista de transporte escolar, garçons, vendedores, guias, agentes de viagens, diaristas, domésticas e tantas outras categorias viram os empregos sumirem: os previstos e os que já existiam. Milhões voltaram para abaixo da linha de pobreza, milhões voltaram a sentir a pancada da fome em seus estômagos. Mais de um ano após, as coisas parecem, aos poucos, regressarem a uma certa normalidade. Pessoas voltaram a circular, escolas retomaram aulas, repartições públicas voltaram ao sistema presencial. Bares, restaurantes, casas noturnas, de norte a sul, voltam a embalar sentimento de liberdade aprisionado por meses. O comércio volta a se aquecer, a roda do turismo volta a rodar e a economia parece aos poucos recuperar as perdas trazidas pela paralisação das atividades produtivas. Normalidade é o que todos esperamos. Bom seria que essa tal normalidade fosse apenas da rotina, no movimento social, do acordar cedo, sair para o trabalho, seguir para escola, reunir com os amigos. Existe, no entanto, algo que deveria ir além do mero continuísmo: nós. Somos o pilar da sociedade e nossas condutas refletem naquilo que seremos enquanto nação. Nesse ponto, penso que sempre devemos tirar lições em tudo na vida e a pandemia nos deu muitas oportunidades de aprendermos. Estamos, nem todos, é verdade, saindo de uma tragédia humanitária sem precedentes, que escancarou a fragilidade da espécie, mas ainda sim alguns posam de altivos com a perfeição, que lhe é peculiar. Julgamse acima, outro nível, nunca erram. Beiram ou são a própria perfeição. Essa normalidade, carregada de insensatez, me assombra e causa espécie, embora já existisse, não constituindo, pois, qualquer novidade. Naturalmente não se pode generalizar, mas penso não deveria ser algo mais tão evidente. Parece termos perdido a sensibilidade pela dor do outro: é apenas mais um. Fechamo-nos em nossa ganância, escondido atrás de filtros que nada mais são do que cortinas de falsidades. A hipocrisia parece ainda imperar, nos discursos e atitudes, e a vaidade parece ser uma fogueira cuja chama é eterna. Do alto do egoísmo, nosso narcisismo, envolto em conceitos que somente cabe a nós mesmos, parece estar acima daquilo eu nos é alheio. Falta-nos empatia. Empatia... Onde mesmo foi que a esquecemos, se é que em algum momento esteve ela conosco? Se já não tínhamos, o que nos fez perder a capacidade de evoluir e despertá-la? Ainda há tempo. Talvez ainda nos falte um olhar sobre nossos muros, que nos isolam em nosso mesquinho quintal. Que tal fugirmos das titulações, sejam elas alcançadas em função de um estudo ou culturalmente outorgadas pelos costumes.

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Porque não buscar a paridade com os iguais, guardando-se “os títulos”, aos que queiram, apenas para os espaços sociais que cabem, em função de um rito protocolar a se seguir. Precisamos de um olhar mais humano, sentir a dor do outro, estender a mão ao próximo, compartilhar o que temos, ainda que apenas a atenção. A humildade está ao alcance de todos nós, está em cada um, basta a nós o difícil exercício da prática.

Deveríamos agradecer por ter um veículo para locomoção, condições de ofertar educação aos nossos filhos e ter algum trocado para o alimento do mês. No entanto, estamos tirando vidas em discussões banais no trânsito, na porta da escola ou na fila de um simples supermercado. Melhores? Após tantas incertezas passadas, tornamo-nos melhores? Essa é uma pergunta que me faço todos os dias, cujo exercício do pensar me leva a evoluir. Cabe a cada um de nós esse exercício, começando pela simples indagação: sou hoje uma pessoa melhor? Ainda é tempo de aprender.

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