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A DIFUSORA OPINA

A DIFUSORA OPINA

ROBERTO FRANKLIN

Exatamente às 18 horas de uma quinta-feira, estava retornando para casa, estacionei o carro na garagem, ao entrar pela cozinha senti um aroma que me levou à recordação de uma época inesquecível, e tenho a certeza que será por mim guardado para sempre. Existem coisas que não sei explicar, aromas, sabores, lugares, sempre me levam a recordações que gostaria muito de manter vivas. Ao entrar presenciei minha esposa, descascando várias tanjas, o aroma desprendido das cascas era inconfundível. Fui transportado para São José de Ribamar, numa época cuja data realmente não me recordo, sei que eu ainda era um pré-adolescente ou quem sabe até criança, nossa família, sempre no mês de Julho ia passar as férias naquele lugar, que na época era uma cidade muito pequena, sem asfalto, sem luz. Lembro-me de que as luzes da cidade eram ligadas somente à tardinha, e acho que às vinte e duas eram desligadas, e para isso a empresa na época piscava três vezes as luzes, avisando que iria desligar, na época pela tarde fazíamos verdadeira procissão até um comércio, a fim de colocarmos querosene nos lampiões, petromax, candieiro, para acendermos na hora marcada pelo aviso de desligamento da luz. Era uma verdadeira festa, era tudo maravilhoso irmos passar nossas férias em São José, íamos, imaginem, de caminhão com direito a mudança, levávamos móveis, só não nossa geladeira, pois devido ao horário da energia, se tornava inviável. A casa onde íamos passar as férias era sempre alugada pelo meu pai, tenho vaga lembrança que na casa tinha uma geladeira a querosene. Lembro que era imprescindível a compra para nós, os filhos, dos famosos tamancos de madeira de cor amarela com uma tira de couro (o famoso Chamató). Lembro-me de que aos domingos quando meu pai não voltava para São Luís para trabalhar, descíamos a rua principal em direção à igreja, lá sempre aos domingos uma senhora na calçada de sua casa a vender um mingau de milho, numa panela de alumínio muito bem areada, que maravilha era o mingau, um sabor inesquecível! Depois, íamos em direção à praia do Vieira (porto) onde os barcos e lanchas procedente do município de Primeira Cruz e outros, chegavam em direção a São José com várias mercadorias, principalmente as nossas deliciosas tanjas. Esperávamos o descarregamento e comprávamos sempre os cofos com cem tanjas, era um momento memorável. São José de Ribamar traz, assim, para mim, várias recordações. Penso nos sabores, que ali se misturavam, quem de nós nunca provou um delicioso peixe-pedra, cozido ou frito, era quase sempre nosso almoço, e o famoso rolete de cana, que encontrávamos sempre à tarde na porta da igreja, quando às cinco horas descíamos para passear. Quem tinha idade para paquerar, quem se lembra nas tardes de domingo, o céu se transformava, eram empinados vários e vários papagaios que coloriam o céu de São José. Pela manhã, era imprescindível o banho de mar. Se a maré estivesse cheia, banhávamos perto da areia; se não, tínhamos que andar até o canal, lá uma “croa” (Banco de areia) nos esperava, na volta uma festa, encontrávamos uns toneis encravado na areia que, na vazante da maré, expulsava a água salgada que era substituída por água doce, imaginem água doce que saía da areia do mar, onde várias lavadeiras se encontravam lavando suas roupas, pedíamos permissão e lá mesmo tomávamos um belo e refrescante banho, a fim de retirar a água salgada do mar. O mês de julho me traz belas recordações, é um mês onde o céu fica mais azul, sem as nuvens da manhã, a brisa mais refrescante, e nós naquela cidade de São José de Ribamar, uma cidade cantada por vários escritores, o meu patrono o saudoso José Ribamar Sousa dos Reis escreveu o livro “São José de Ribamar: a cidade, o santo e sua gente”, um livro o qual todos que um dia conhecerem devem ler, O nome da cidade é em homenagem ao padroeiro do Maranhão. Na cidade de Ribamar encontra-se um dos santuários mais importantes do Norte - Nordeste. A cidade primitivamente era uma aldeia indígena. Seu nome atual decorre da seguinte lenda: um navio que vinha de Lisboa para São Luís desviou-se de sua rota e, na que hoje é conhecida como Baía de São José, esteve ameaçado de naufrágio por grandes tempestades e vagalhões. Os tripulantes invocaram a proteção de São José, prometendo erguer-lhe uma capela na povoação ao longe avistada. Tal foi a contrição das súplicas, que, imediatamente, o mar acalmou-se. E todos chegaram a terra são e salvos. Para cumprir a promessa, trouxeram de Lisboa uma imagem de São José, entronizando-a na modesta igrejinha então erguida, de frente para o mar. Mas devotos residentes na antiga Anindiba dos indígenas, atual

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Paço do Lumiar, entenderam que a imagem deveria ser levada para a ermida daquela povoação. Sem que ninguém percebesse, realizaram seu intento. No dia seguinte, porém, viram que a imagem ali não mais se encontrava, pois voltara, misteriosamente, à capela de origem. Repetiram a transferência e colocaram pessoas a vigiar o santo, para que ele não voltasse a Ribamar, mas ele acabou voltando. Esta é a minha São José de Ribamar, vou me despedindo destas lembranças, porém antes devo, mesmo em minha mente, reviver e escutar o Bumba-meu-boi de São José, que aos domingos subia a rua principal com o seu batalhão a tocar suas maravilhosas matracas. Depois, juntamente com os familiares, sentarei à mesa para tomarmos nosso café com direito ao pão meia-lua, acompanhado de manteiga real ou até do saudoso queijo cuia (queijo do reino), que meu saudoso pai trazia de uma padaria que ficava no bairro do Anil.

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