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SÁLVIO MENDONÇA, UM VIANENSE, DE MENINO POBRE A CONCEITUADO MÉDICO ÁUREO VIEGAS MENDONÇA O ÚLTIMO DOS POETAS DE UMA BOEMIA ESQUECIDA
SÁLVIO MENDONÇA, UM VIANENSE, DE MENINO POBRE A CONCEITUADO MÉDICO
ÁUREO VIEGAS MENDONÇA
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Sálvio de Sousa Mendonça, nasceu em 11 de dezembro de 1892 na fazenda Juncal, município de Viana, era filho de Antônio Feliciano de Mendonça e Bárbara Custódia de Sousa Mendonça. Sálvio Mendonça era irmão do meu avô Áureo de Sousa Mendonça, segundo descreve em seu livro de memorias História de um menino pobre, primeira edição, publicado no Rio de Janeiro, em 1963, seu pai “era um homem do campo, severo nos costumes e valente na ação, que recebeu apenas a instrução primaria e tinha a profissão de vaqueiro.” Desfrutou as aventuras da infância e da adolescência na Fazenda Palmela, que era primitivamente, uma fazenda dos Jesuítas para a criação de gado chamada Nossa Senhora da Conceição do Maracu. Após a expulsão dos jesuítas das colônias portuguesas em meados dos anos 1700, passa a pertencer à Coroa. Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, então primeiro ministro, nomeia seu primo José Feliciano Botelho de Mendonça, juntamente com o mestre-de-campo José Nunes Soeiro para administrar a fazenda que, então, passa a se chamar Palmela, em homenagem à região dos seus antepassados em Setúbal, Portugal. José Feliciano Botelho de Mendonça, o "Adão do Pindaré", assim como José Nunes Soeiro, deixaram muitos descendentes na região da baixada e Maranhão afora, essencialmente no município de Viana. Os descendentes de Feliciano são os parentes de Marques de Pombal no Maranhão. Existem evidências de que as terras dos jesuítas foram divididas. A parte dos Mendonça passou a se chamar Palmela, enquanto a parte de José Nunes Soeiro passou a ser chamada “Engenho” do Maracu, cuja atividade principal era a criação de gado. Mendonça (2004) explica que seu pai, ficou com a fazenda Palmela, fundada nas terras onde existiu o engenho São Bonifácio do Maracu. A Fazenda São Bonifácio do Maracu abrangia a região próxima ao igarapé do engenho, a Palmela, as terras Ibacazinho , da Ponta e do Marinar. A fazenda Palmela pertence ainda à família Mendonça, que estão lá naquelas terras há pelo menos 250 anos, Wilson de Sousa Mendonça (Bidi) e dona Filomena Dias Mendonça (Filuquinha), residiram por muitos anos na fazenda Palmela, que continua sob posse de seus descendentes. Sálvio Mendonça residiu também na antiga Vila São José de Penalva, que foi elevada à categoria de município em 1915, depois Sálvio Mendonça retornou a Viana, onde estudou com o professor João de Parma Montezuma e Silva, em que a disciplina se impunha à base de bolos de palmatória, ou seja, um austero
método de ensino, que também vivenciei na minha infância quando fui aluno do Professor Paulo Carteiro, em Viana o futuro médico, cientista e escritor residiu na belíssima casa que depois pertenceu à família Duailibe, em frente ao antigo ginásio Antonio Lopes, na Rua Grande. Mais tarde passou a residir em São Luís, tornou-se aluno do Liceu Maranhense e recebeu aulas particulares do seu conterrâneo e parente Antônio Lopes da Cunha, Consta em notas no livro uma Região Tropical que a família Lopes da Cunha, os vianenses Manoel Lopes da Cunha, que foi governador do Maranhão e seus filhos Antonio Lopes da Cunha, historiador e Raimundo Lopes da Cunha, geógrafo, também vêm nessa mesma linha de descendência, Raimundo Lopes, faleceu em 08 Setembro de 1941, o ilustre geógrafo foi sepultado no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, tendo deixado além da família, um parente mais íntimo, mais entrelaçado aos seus antepassados, Sálvio Mendonça, médico e escritor. No ano de 1913 Sálvio Mendonça seguiu para Salvador, Bahia, “onde os bondes – como em São Luís eram puxados a burro”, e, em 1914 se matriculou na Faculdade de Medicina. A sua permanência como estudante de medicina na capital baiana teve lances de aventura: morou em republicas de estudantes, enfrentou dificuldades financeiras e quase passou fome. ”Eu fiz o meu orçamento para os 15 dias que deveríamos passar … o que representava pouco mais de um tostão por dia”. E mais: “Estabeleci o meu ritmo alimentar com batata doce e banana prata… as batatas eram adquiridas por cem réis no tabuleiro da baiana ambulante… as bananas eram de menor preço, e por isso um tostão correspondia a sete bananas”. O lado bom é que, em 1917, o estudante Sálvio Mendonça, se tornou, a convite, auxiliar do famoso professor Clementino Fraga, no Hospital Santa Isabel, que era, na época, o hospital escola da Faculdade de Medicina da Bahia.
Colou grau em medicina na faculdade da Bahia em 22 de dezembro de 1919 e, no ano seguinte, retornou para São Luís. Foi hóspede do seu colega Hamleto Barbosa de Godóis, na Rua do Sol, no centro da cidade. Por intermédio de Antônio Lopes conheceu e se tornou amigo de Jesus Norberto Gomes, o legitimo criado do Guaraná Jesus, proprietário da Farmácia Jesus, antes chamada Farmácia Galvão e depois Sanitária, na Rua do Sol, onde instalou consultório. Diz ele: “Jesus labutava dia e noite, e começou a ensaiar, na própria residência, o preparo de produtos injetáveis”. E mais: “Em 1922, estando já a Farmácia Sanitária em grande prosperidade, com seções de farmácia, drogaria e laboratório de produtos injetáveis, sugeri a Jesus que criasse também uma seção para o fabrico de águas gasosas e refrigerantes”. Em 1925, “aceita a minha sugestão, Jesus, já instalada a farmácia em casa própria à Rua Nina Rodrigues, começou, no barracão no fundo do quintal, a fabricação de refrigerantes: Guaraná, Cola-Guaraná e Gengibre”, essa foi, sem dúvida, a semente do hoje famoso Guaraná Jesus que surgiu de uma tentativa de refrigerante a base de gengibre. Sálvio Mendonça foi médico do Serviço de Saúde dos Portos do Maranhão e, por ocasião de uma epidemia de peste, integrou a Comissão Federal encarregada de combatê-la. Foi também diretor do Hospital de Isolamento do Lira (bairro de São Luís). mais tarde, se tornou Inspetor Sanitário Rural, e encarregado do Serviço de Profilaxia da Lepra e Doenças Venéreas do Maranhão. Em setembro de 1922, representou o Maranhão na Primeira Conferência Americana de Lepra, no Rio de Janeiro. A partir de 1926, fez cursos de pós-graduação na Alemanha e na Áustria, principalmente nos campos da Puericultura, da Gastroenterologia, sendo um dos primeiros, no Brasil, a ressaltar a importância da dieta alimentar, e suas consequências, para todas as pessoas, em todas as idades. após o seu retornou a São Luís “com grande material de consultório e, sobretudo, com a formação médica melhorada”. Após a Revolução de 1930, Sálvio Mendonça se transferiu para o Rio de Janeiro. Trabalhou na Santa Casa de Misericórdia (Serviço do Professor Clementino Fraga) e, mediante concurso, (Docência Livre), se tornou professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil e diversos de seus escritos, estão na Biblioteca
Em 2004 a Academia Vianense de Letras da qual o dr. Sálvio Mendonça é patrono da Cadeira numero 4, lançou a segunda edição do livro de Memórias “História de um menino pobre” e a bela foto que está na capa do livro do Dr. Sálvio Mendonça, chama-se crepúsculo no Lago de Viana de autoria do mestre da fotografia o Vianense Ribamar Alves. Além da Academia Vianense de Letras o Dr. Sálvio Mendonça também é patrono da Cadeira numero 39 da Academia Maranhense de Medicina.
O Dr. Sálvio Mendonça faleceu no Rio de Janeiro, em 13 de agosto de 1970, aos 77 anos de idade. , é Geógrafo, servidor publico federal e pesquisador. Fonte da pesquisa: Cordeiro, João Mendonça. 70 anos, Memórias. Edições AVL. Fort Gráfica. São Luís (MA) 2004. Cordeiro, João Mendonça. Retrato de Viana-MA, 1683 a 2013. São Luís. Segraf, 2016. Cordeiro, João Mendonça, 10 anos da Academia Vianense de Letras. Viana – MA 2012. Furtado. Raimundo Travassos. Minha Vida, Minha Luta, Belo Horizonte (MG): Editora São Vicente, 1977. Gomes. AL J. Jesus do Maranhão, 1ª Edição – Rio de Janeiro. Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2020. Lacroix, Maria de Lourdes Lauande. História da Medicina de São Luís, médicos, enfermidades e instituições. Publicação da Alumar. São Luís 2015. Lopes, Raimundo. Seleta de dispersos. São Luís: Edições AML, 2017. Lopes, Raimundo. Uma Região Tropical, edição sob o patrocínio da SUDEMA, 1970 Editora Fon - Fon e Seleta, Rio. Fevereiro, 1970. Mendonça, Sálvio. História de um menino pobre. 2ª Edição. São Luís, Aquarela, 2004. Raposo, Luiz Alexandre. Memórias de América Dias. São Luís: Edições AVL, 2012. Balby, Raimundo. Notas e Fragmentos Históricos. São Luís: Ponto a Ponto Gráfica Digital, 2021.
