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A ESCOLA COMERCIAL DA ACREP

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A DIFUSORA OPINA

A DIFUSORA OPINA

AYMORÉ ALVIM

A Escola Comercial da ACREP é sempre uma doce lembrança. De vez em quando, povoa os meus pensamentos, envolvendo-me de grande emoção, dobrando-me ao convencimento de que a semente que lançamos deu os frutos que esperávamos. Recordo-me, então, daquela tarde ensolarada de outubro de 1961, quando, juntamente com outros tantos estudantes pinheirenses, fizemos de um sonho a causa maior da nossa luta. Ali estávamos com José Reinaldo, Abraão, Bernardino, Moema, Santos Alves, Fuad, José Carlos e Luís Domingues, Jurandy, Beckman, Socorro e Maria Helena, João Damasceno, Policarpo, José Roberto, Francisco Castro, José Roberto, Policarpo, Alaor Mota e tantos outros companheiros acrepianos. O auditório da Biblioteca Pública do Estado estava cheio. A alegria contagiava a todos. Era a primeira reunião plenária que fazíamos, fora dos limites de Pinheiro, após a fundação da ACREP. Naquele momento, já com o aval do Secretário de Educação do Estado, Dr. Eloy Coelho e com o apoio, desde a primeira hora, do Prof. Luís Rego, Inspetor Federal, demos por fundada a Escola Comercial da ACREP. Uma grande euforia permeou aquele plenário. Muitos não acreditavam no que presenciavam. Como era possível, àquela altura, um grupo de estudantes interioranos granjear a confiança dos governos estadual e federal para uma empreitada de tal responsabilidade? Como foi possível a um grupo de jovens estudantes conseguir um aval para instalação de um curso ginasial em tão curto espaço de tempo? Dez anos antes, após várias gestões, o bispo D. Afonso instalou o ginásio da Prelazia e, desde então, se iniciativa semelhante houve não foi concretizada. Fora, portanto, um voto de grade confiança. Mas o entusiasmo que marcou os momentos daquela inesquecível tarde começou a esmaecer sob o impacto dos percalços que forças contrárias passaram, sorrateiramente, a minar na família pinheirense e nos entendimentos da ACREP com os órgãos governamentais. “Os cabeças desse movimento comunista são todos da cidade, não vivem aqui, diziam uns”. “O que eles querem é acabar com o Ginásio Pinheirense e deixarem nossos filhos desamparados”, diziam outros. “Eles vão ensinar os empregados de vocês a tomarem conta dos seus negócios”, comentavam, à boca pequena, no comércio local. A pressão foi muito forte. Ninguém queria nos ajudar. O prefeito da época nos disse que esse negócio não iria dar certo e que não estava disposto a criar problemas para o seu pessoal. Pedia-nos que o entendêssemos.

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O nosso objetivo, contudo, era muito claro: criar um ginásio comercial noturno e gratuito para atender aqueles pinheirenses que trabalhavam durante o dia e que não dispunham de tempo nem de recursos para frequentar o Ginásio da Prelazia. Pretendíamos qualificar técnicos, na área comercial, que viessem, progressivamente, preparar o comércio de Pinheiro para a nova realidade da economia regional e do Estado. Queríamos construir e não destruir. Mas isto se revelou de difícil entendimento. Foi a nossa pertinácia e a impulsividade da nossa juventude que nos fizeram prosseguir com os nossos propósitos. Em fevereiro de 1962, o Prof. Luís Rego presidiu a realização do primeiro exame de admissão ao novo ginásio. A 11 de março seguinte, a Escola Comercial da ACREP foi instalada, no Grupo Escolar Odorico Mendes, por determinação expressa do Sr. Secretário, Dr. Eloy Coelho, de vez que era o único espaço físico que nos restou, em nossa cidade.

Por tudo isto, não posso esquecer, os bravos e valorosos pinheirenses e companheiros de todos os momentos que materializaram esse sonho acrepiano. Sem eles a ECA jamais seria uma realidade: Francisco Gomes, representante do Inspetor Federal, Francisco Reis Castro, que assumiu a Direção Técnica da Escola em face da defecção de outros pinheirenses convidados que sucumbiram no enfrentamento com a ordem vigente, Marieta Franco de Sá, Secretária, e os professores Maria Regina e Terezinha Durãns, Lenir Dias, Elizabeto e José Anastácio Soares e Roberval Melo que não se atemorizaram nem frente às veladas pressões exercidas nem, tampouco, com a escuridão que povoava, à época, as ruas de Pinheiro. Enfrentaram com destemor as fortes chuvas do inverno da Baixada e o desconforto de reger uma turma de alunos à luz de petromax. Mas, apesar de tudo, eles venceram e fizeram da sua vitória a nossa vitória. Conseguiram nos convencer com o seu desprendimento, elevado espírito de cidadania e grande coragem de que sempre vale a pena lutarmos por tudo em que acreditamos. Permitiram-nos exorcizar a máxima de que o jovem nada constrói, impulsionando-nos a outros empreendimentos. Cumpre-nos, pois, reiterar-lhes, com grande admiração e profundo respeito, o nosso preito de eterna gratidão, na certeza de que Pinheiro muito lhes deve pelo abnegado trabalho que muito contribuiu para o seu desenvolvimento e pela geração de oportunidades a muitos dos seus filhos.

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