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A DIFUSORA OPINA

ROBERTOFRANKLIN

Das lembranças que ainda tenho como ouvinte de rádio, uma na semana passada veio à tona, a prima Cláudia, pelo WhatsApp, perguntara o nome da música que fazia o fundo musical de um programa que gostava muito de ouvir com o meu pai. Tratava-se do programa “A Difusora Opina”, um programa jornalístico transmitido pela Difusora AM 680, “a poderosa”, tendo a produção e apresentação do grande jornalista escritor membro da Academia Maranhense de Letras, Bernardo Coelho de Almeida, o fundo musical era a música “Contrasts” interpretada pela Alumni Band. A Rádio Difusora foi fundada pelos irmãos Bacelar, ela foi a terceira rádio em São Luís – MA, foi ao ar no dia 29 de outubro de 1955. Os irmãos Bacelar foram pioneiros na comunicação em nossa cidade. Oito anos depois, inaugurava-se a primeira emissora de TV de nossa cidade. Era sempre assim, todos os dias, com exceção de sábado e domingo, almoçávamos na casa da minha avó materna, Dona Flora, e pontualmente às 12:00, na Rádio Difusora 680 AM, “a poderosa”, ouvíamos o programa “A Difusora Opina”, ouvíamos pelo rádio a voz de Bernardo Coelho de Almeida, com fundo musical, como afirmamos, da música “Contrasts”. Inesquecível o programa, no momento da sua transmissão era um silêncio, todos nós parávamos de falar para escutar o grandioso Bernardo Almeida lendo suas crônicas. Bernardo Coelho de Almeida era maranhense de São Bernardo, nascido em 27 de julho de 1927. Em 1938, já em São Luís foi seminarista no Seminário de Santo Antônio. Mais tarde foi estudar no Colégio Maranhense, dos Irmãos Maristas. Foi transferido depois para as cidades de Parnaíba e, posteriormente, para Fortaleza –CE, onde continuou os estudos. Voltando para São Luís, terminou seus estudos no Liceu Maranhense. Faleceu em São Luís em 04 de agosto de 1996. Em São Luís, o escritor, poeta, romancista e cronista iniciou-se na imprensa escrevendo para o Jornal do Povo, O Estado do Maranhão, Jornal Pequeno, O imparcial, onde semanalmente escrevia suas crônicas “Ponto de Prosa”. Foi membro da Academia Maranhense de Letras, onde ocupou a cadeira de número 14, patroneada por Nina Rodrigues, tendo como seus antecessores os escritores Achiles Lisboa e Odilon Soares. Ele foi presidente da Fundação Cultural do Maranhão, adido cultural do Brasil na Embaixada do Peru, e diretor da TV Difusora, de São Luís. Dentre tantos livros deixados, um que marcou muito foi o seu último livro com o título de “Éramos felizes e não sabíamos”, onde ele retrata nossa cidade dos anos de 1950 e 1960. Voltando ao programa da Difusora 680 AM, “A Difusora Opina”, dentre tantas crônicas, uma na época me chamava a atenção: foi uma crônica dedicada ao imortal recentemente eleito, Fernando Braga, que na época estava iniciando nas letras. Na crônica ele escreve sobre o nascimento de vários escritores jovens com bastante talento para as letras dentre, os quais o nosso, Fernando Braga. Abaixo, transcrevo a crônica escrita pelo nosso saudoso Bernardo Coelho Almeida: “Bernardo Almeida: A Difusora Opina, São Luís, 4 de março de 1968. “A poesia maranhense – essa que é motivo de glória para nós, pois tem suas raízes cravadas no mais profundo de nossa tradição de cultura – permanece viva e cada vez mais se fortalece com a contribuição de jovens e surpreendentes autores. Jovens e surpreendentes como um que se chama Fernando Braga, cuja estreia se deu há pouco tempo, com o livro Silêncio Branco. Fernando Braga, até então desconhecido pelo público, era um convivente assíduo de nossas rodas literárias, onde surgiu depois de ter passado algum tempo fora, no Rio e em Brasília. Graças à colaboração do Departamento de Cultura, ele pode ver o seu primeiro livro publicado, e publicado com aquela magnífica alegria do poeta estreante com o entusiasmo da crítica.

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Prefaciado por Erasmo Dias, uma espécie de mestre de nossa mocidade, e com recomendação do acadêmico Domingos Vieira Filho, Fernando Braga encontrou amplamente abertas as portas do mundo que acariciava desde quando tomou consciência de que a poesia viria a ser a constância de sua existência. Em nosso comentário, não temos por norma examinar a obra literária de autores maranhenses. Cabe-nos sempre a agradável tarefa de saudá-la e recomendá-la ao público, de promovê-la com o prazer natural de quem deseja um Maranhão cada vez maior em cultura. De um modo geral, os poemas de Fernando Braga são bons. Comunicativos e repassados do mais suave lirismo, eles correspondem ao tipo de poesia fácil, compreensível, sem que lhes faltem uma técnica moderna, ritmo e beleza. Fernando Braga é um poeta de grande futuro, de belas perspectivas. É fluente e natural. Superadas as falhas inevitáveis de todo estreante, ele partirá, sem dúvida para horizontes mais largos ao mesmo tempo em que mergulhará mais na profundeza da poesia, que quanto mais profunda é mais bela, misteriosa e eterna. Não temos o menor receio em afirmar que Fernando Braga tem um futuro promissor em nosso mundo literário. Achamos que o melhor, o que é mais válido numa estreia – além do mérito inerente à obra poética, é aquele compromisso, aquela necessidade que o autor sente em ir adiante. E o autor de Silêncio Branco poderá ir mesmo muito mais adiante em poesia.” Pois bem, assim termina mais uma vez o saudoso programa “A Difusora Opina” que através da lembrança da música “Contrasts”, traz a poesia de Fernando Braga, e a minha infância, relembrando momentos marcantes em companhia de meus familiares.

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