PREFÁCIO (ao livro "Há Pedras e Poesia no Meu Habitat", de Wybson Carvalho, 2021) EDMILSON SANCHES Mais de trezentos anos depois de Aristóteles e seus alunos terem dito e escrito a pioneira e basilar "Arte Poética",(1) o romano Horácio, também manuscritamente, legou-nos seu pequeno grande tratado de criação literária em obra homônima (2) – pelo menos na tradução e referência de tantos autores e especialistas do mundo ocidental, a partir mesmo de Quintiliano (35—95), que a chamou "Ars Poetica". (3) Filho de um escravo liberto, que desempenhava atividade que possibilitou recursos para a sua educação, Horácio estudou Literatura em Roma e na Grécia e veio a ser protegido de Mecenas, rico político romano, de quem se tornou amigo e perto de cujo túmulo foi enterrado. Horácio escreveu sobre talento ("ingenium") e técnica ("ars") em Poesia, (4) em carta (“epístola”) endereçada à família dos “Pisones”, mencionadamente “pater et iuvenes patre digni”, “pai e filhos dignos de tal pai”. (5) No conjunto de preceitos aos Pisões, um, entre tantos e tantos, é ressaltado logo ali, nas primeiras dez linhas da pequena grande Arte Poética: “Os pintores e os poetas sempre tiveram da mesma forma o poder de ousar o que quisessem”. (6) Passaram-se mais de vinte séculos depois da Arte Poética horaciana e até hoje artistas dos pinceis vão além de partes de potros, penas e peixes no desenho de um corpo “humano”, em suas licenças, liberdades e surrealismos artísticos. (7) Por sua vez, os artistas das palavras, os que (de)têm a arte de escrever com arte, tanto compõem suas extravasões quanto até assumem pequenas extravagâncias e extraordinariedades. Assim, pois: ...há poemas que têm sete faces – Drummond; ( ...há poetas que têm diversos nomes – Pessoa; ( ...há o mesmo livro várias vezes diferente – Whitman; (9) ...há autor maiúsculo que prefere as minúsculas – cummings... (10) E, enfim, há poesias escritas com imagens e as há, também, pintadas com letras. A pintores e poetas, a plena liberdade... Deste modo, não estranhe o leitor se neste "Há Pedras e Poesia no Meu Habitat (coletânea poética)", do poeta caxiense Wybson Carvalho, der de olhos com uma paleta de variadas tintas poéticas, delas de grande aderência, sensível brilho e cores fortes (muitas das vezes, ácidas; outras vezes, agônicas). É assim que, pela décima-segunda vez, o poeta caxiense apresenta-se em celulose e tinta, agora com uma seleção ampliada – e a seu gosto – com mais de cento e oitenta poemas, praticamente um terço do total que Wybson Carvalho já escreveu, poemas que se escondem e se eternizam em páginas de livros, revistas e jornais, inclusive poemas encontradiços nos bolsos de paletós e outras peças de vestuário do autor e poemas garatujados em papeis – inclusive os de mesa de bar – que repousam entre outros papeis que nem garrafas de vinhos envelhecem entre garrafas de vinhos. Envelhecer sem envilecer... A paleta artística de Wybson Carvalho forneceu tintas e cores, tons e meios-tons, entretons e "ton sur ton", "fumée" e "dégradée" e outros matizes e nuanças mais, para a composição desta pessoal coletânea poética. Tão pessoal que, neste entremeado de tessituras, o “eu lírico”, a voz – e vez – do autor nos poemas, é a referência das mais presentes nos textos. Tão pessoal que temas ditos difíceis, como morte e espiritualidade (com prevalência da primeira), ocupam fácil uma terceira colocação no total de composições. Há uma relevante presença do que é fúnebre... lúgubre... O corpo do autor dói, mas é a alma do poeta que sofre... Entretanto, o poeta está vivo e se movimenta. “Eppur si muove”.(11) E apesar de olhares inquisitoriais, como os que se lançaram sobre a verdade heliocêntrica de Galileu no século 17, Wybson Carvalho não murmura seu desdém e seu desdito/discordância em relação à realidade circundante, citadina, de incompetências, inapetências, inconsistências e, até, indecências de caráter político, social, político-administrativo, cultural e