RECORDAR
na Possante, combina ia com perfeição elegânc espírito desportivo
KAWASAKI GPZ 1000 RX
Inesquecível! Há momentos que perduram na memória, indiferentes à passagem dos anos. Estávamos na primavera de 1987 quando, adolescente a entrar na idade adulta, senti algo único. Uma paixão à primeira vista! Daquelas que nunca mais se esquecem. POR ALBERTO PIRES/MOTOX • FOTOS PAULO RIBEIRO E ALBERTO PIRES
E
ra uma das casas de referência no panorama portuense das duas rodas. O ‘Santos’ estava para a Kawasaki como a Motodouro para a Yamaha ou a Garagem Batalha para Suzuki. Locais de culto onde o coração sofria. Um dia, à entrada do stand e na companhia do meu pai, lá estava ela, do lado esquerdo, preta e cinzenta. A traseira bem esculpida, em primeiro plano, tornava-a mais atraente. Ele olhou para ela durante alguns segundos, e ficou imóvel. Depois olhou para mim, senti-lhe o enorme nó na garganta e não tive coragem de lha pedir.
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Eram tempos extraordinários. A proibição da importação de motos tinha terminado dois anos antes e éramos massacrados permanentemente com novas propostas de modelos desportivos, de todas as marcas e cilindradas. Não bastava o suplício de sonharmos com determinada companhia, que seguíamos com a precaução de não nos denunciarmos, juntava-se agora ao rol um infindável monte de opções com rodas, igualmente inatingíveis. O mundo das superdesportivas tinha entrado em ebulição dois
anos antes, com o lançamento da GSX-750 R e, a cada ano que passava, as marcas excediam-se nas propostas desportivas, com cilindradas entre os 600 cc e os 1100 cc! A Kawasaki, de certa forma pioneira no universo deste tipo de alucinações com a Ninja 900R, apresentada em ‘84, não dava tréguas à concorrência japonesa. Assim, no ano de 1987, respondeu à Honda CBR 1000F, Yamaha FZR 1000 e Suzuki GSX-1100R, surpreende-nos com um monstro de imponente elegância, a GPZ 1000 RX.
Era difícil categorizá-la esteticamente. Era menos ‘race spirit’ que a Suzuki, mais agressiva que a Honda e mais elegante que a Yamaha. Era também mais imponente que a Ninja 900R, e inspirava respeito. O quadro de secção retangular, o assento escavado, as reentrâncias nas carenagens laterais, as barbatanas na frente e na traseira, com os piscas a rematar, e os silenciadores esticados e elevados, como que extrudidos pelos gases de escape, não deixavam o olhar respirar. A cor preta adensava o mistério,