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Patrão ecológico
O tema da sustentabilidade e das preocupações ambientais entraram em definitivo em todas as áreas da nossa vida e na competição não é excepção. 2022 foi um ano que marcou uma nova etapa no currículo do senense Mário Patrão, ao ser o primeiro piloto luso a participar numa prova de TT e MX aos comandos de uma moto elétrica. É essa mesma moto que apresentamos em teste nas páginas seguintes.
POR DOMINGOS JANEIRO • FOTOS PAULO RIBEIRO
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Era uma questão de tempo até que alguém o fizesse e o pluricampeão nacional de TT, Mário Patrão, aproveitou o desafio lançado por um dos seus principais patrocinadores, a Caixa Agrícola, para o fazer ele. A estreia teve lugar na Baja Oeste, em maio de 2022, seguindo-se depois novo desafio, no mesmo mês, com a estreia no nacional de MX, em Vila Nova de Paiva. Os resultado foi o que menos interessou, pois nesta estreia absoluta tudo resultou numa rica aprendizagem para o piloto dakariano. Além da experiência, nova, para o piloto da KTM, serviu também para lançar a debate o tema das elétricas nestas competições, com a Federação de Motociclismo de Portugal a estar já a estruturar algumas classes “0% de emissões” para o futuro. Mas e a moto, como será? É o que fomos descobrir no sopé da Serra da Estrela!
FICHA
TÉCNICA KTM FREERIDE E-XC

Motor
Cilindrada
Potência
Binário Caixa
Vel. Máxima Quadro
Suspensão dianteira
Suspensão traseira
Travão dianteiro
Travão traseiro
Pneu dianteiro
Pneu traseiro
Distância eixos
Altura assento Peso
Capacidade Cores Garantia Importador PVP
Elétrico, sem escovas brushless, refrigerado por líquido n.d.
18 kW (24,5 cv) às 5000 rpm
42 Nm automática n.d.
Tubular em aço e traves em alumínio
Forquilha invertida WP
Xplor 43 mm, 250 mm de curso
Monoamortecedor WP Xplor, 260 mm de curso
Permite-nos evoluir rápido
Segunda Gera O

Em 2018 a KTM deu a conhecer a segunda geração da E-XC Freeride, melhorada em diversos aspectos, entre os quais mais potência (18 kW), mais leve, com um quadro revisto para maior estabilidade e com mais cerca de 50% de capacidade da sua nova bateria “KTM Power Pack”. Outra das novidades foi o sistema de regeneração da bateria a baixa velocidade ou na fase de travagem com o motor.

Outra das novidades é o programa de carga rápida da bateria e a garantia de que temos 70% da capacidade total da bateria, mesmo passados 700 ciclos de carga. Além disso, esta atualização passou a vir equipada com forquilha invertida dianteira WP Xplor de 43 mm, bem como o amortecedor traseiro WP PDS Xplor com novas possibilidades de ajuste.
No que ao desempenho diz respeito, contamos com três modos de potência, facilmente selecionáveis, com o modo 1 a corresponder ao Economy (velocidade limitada aos 50 km/h com entrega muito suave), o 2 ao Enduro (potência limitada a 16 kW) e o 3 ao Cross (o pleno dos 18 kW). O funcionamento é muito simples, pois não temos nem embraiagem nem caixa de velocidades, é acelerar e andar! Os seus 910 mm de altura ao solo podem intimidar ao início, mas o baixo peso em conjunto com a grande agilidade tornam a moto muito divertida, quer para dos pilotos mais amadores como para os mais experientes ou profissionais.
O painel de instrumentos é muito simples e discreto, com a informação básica como velocidade, quilómetros total e parcial e as luzes de aviso. A chave da ignição está colocada na lateral direita, ao lado do painel de instrumentos.
Para carregar por completo a bateria KTM PowerPack da Freeride E-XC custa menos de 80 cêntimos



Em termos de distribuição de pesos está muito idêntica às tradicionais motos de combustão. Sente-se muito leve e ágil.

Curva após curva, volta após volta, os níveis de confiança vão crescendo e sentimo-nos muito seguros para testar cada vez mais os seus limites.
Uma das grandes vantagens da Freeride E-XC é o facto de podermos substituir a bateria em poucos segundos. Em competição, a autonomia aponta aos 30 minutos.
A eletrónica oferece-nos a possibilidade de termos três modos de potência distintos. Desde o mais acessível até ao mais potente.
(tomando como exemplo o preço de 20 cêntimos/kW x 3,9 kW). Já que estamos a falar em números, aproveitamos para referir que a potência máxima é de 24,5 cv (18 kW) às 5000 rpm, com um binário de 42 Nm. O motor é refrigerado por líquido, o tempo de carga estimado é de uma hora e meia e a travagem conta com um disco de 260 mm na frente e outro de 230 mm atrás.
Divers O
EM LARGA ESCALA j
O dia estava solarengo, a temperatura baixa e a brisa que soprava mostrava como é o frio da serra. O motor não necessitava de ser aquecido o local para o teste apresentava as condições perfeitas, pois o “Patrão” tinha arranjado a pista dias antes, para que tudo estivesse preparado. Tudo a postos para começar a diversão, pelo menos, durante os trinta minutos, de acordo com a nossa estimativa da autonomia da bateria... A primeira volta ao belíssimo traçado da pista do piloto da
A Experi Ncia Do Piloto
A KTM E-XC Freeride está totalmente de série, com algum trabalho feito ao nível das suspensões e com um pinhão de ataque com mais um dente face ao de origem. Não foram necessárias mais alterações porque a verdade é que a moto não é demasiado potente. O conceito deste modelo é completamente diferente, pois para se ter mais autonomia não podemos travar muito, temos que aliviar e deixar a moto ir, fluir e ela própria nos ensina a conduzir. Quanto mais se trava, mais bateria vamos ter que gastar porque a seguir vamos ter que dar gás para sair.
Começar a fazer provas com esta moto exigiu uma aprendizagem. Todo o “feeling” da moto, desde o estilo de condução, ao próprio conceito, se altera por completo. A maior diferença para uma moto de combustão é a potência. Neste modelo nota-se um pouco a falta de potência, ou seja, a potência acaba depressa. Quando devia começar a ir embora, corta a potência. Tem muita potência disponível de forma imediata, mas depois termina depressa. Para competir notam-se essas limitações, agora como moto de laser é muito divertida. Outra diferença é no travão de trás, porque muitas vezes vou à procura dele com o pé e esqueço-me que está colocado no punho esquerdo. Quanto ao peso, está equilibrada, dentro do que é normal numa moto de combustão. Mas imagina que vens depressa e vais para um salto que não é para saltar, que é um topo, se chegas lá a travar muito, quando a moto descola está desengatada... depois tens que acelerar logo para ela engatar de novo. Nestes momentos perdes um pouco o controlo sobre a moto. Mas no geral é muito divertida, com boa distribuição de peso. O trabalho que foi feito ao nível da suspensão foi com o intuito de as colocar mais firmes. Quanto ao futuro destas motos na competição, ainda estamos num estágio muito embrionário. Não vejo estas motos como sendo o futuro, mas sim como mais uma opção que vamos ter disponível em breve. Vai dar origem a classes mais divertidas, com custos mais reduzidos. Mesmo para quem vive na cidade, se tiver uma pista pequena, consegue divertir-se muito com uma moto destas. Faz sentido e faz falta termos uma classe específica para estas motos, aliás, está nos planos da Federação colocar isso em prática, mas não tenho conhecimento para quando será e a verdade é que ainda não há muitas opções destas motos para a competição. Nas corridas que tenho feito, vou substituindo as baterias, em vez de meter gasolina, substituo a bateria. Segundo a autonomia estimada pela KTM, a Freeride permite-nos andar durante uma hora e pouco, a rolar de forma tranquila, agora em ritmo de corrida ficamos com uma autonomia para pouco mais de 30 minutos. Por isso, é tão importante aprender a conduzi-la, não travar, tirar gás e deixar a moto ir fluída. Ao aprenderes a conduzir e retirar todo o partido de uma condução fluída, faz com que consigas poupar na bateria para teres mais autonomia. Uma das vantagens deste modelo em específico é a facilidade com que consegues trocar as baterias e não ficas refém dos carregamentos.
KTM, optámos por rodar no modo 1 para sentir o “pulso” à Freeride. Várias coisas saltaram de imediato ao nosso pensamento: primeiro, que os travões tipo scooter, são uma mais valia para quem não está tão habituado a estas coisas do “TT”, pois podem tirar os pés à vontade para apoiar nas curvas e mover o corpo à vontade em cima da moto que não vão falhar a travagem traseira (precisamente ao contrário do que os mais experientes estão habituados); em segundo, as suspensões mais firmes em relação às de série, são de uma eficiência extrema, com uma leitura perfeita do terreno, “falando” de forma muito simples e direta connosco; a agilidade da E-XC é algo de inesperado pela tamanha facilidade de condução, agilidade, boa distribuição de peso e segurança que transmite; a travagem é potente e muito fácil de dosear; a pista apresentava um “grip” fantástico e bastou meia volta para vermos que a potência era insuficiente neste “nível 1”. Selecionámos o nível 2 e seguimos por mais um par de voltas. As subidas ganharam uma nova alegria, bem como as curvas, feitas de forma determinada e rápida. Foi muito interessante ver o à vontade e os níveis de confiança a subirem de curva para curva, de volta para volta. Apenas nas saídas de curva sentíamos falta de um pouco mais. Arriscámos então passar sem mais delongas ao nível três, para dar início à sessão fotográfica. Que maravilha! Uma moto leve, ágil, com motor muito potente logo na fase inicial de abertura do punho do acelerador, e que me perdoem os mais puristas (eu também o sou... tem dias!) mas desfrutar deste cenário em quase total silêncio é memorável. Já não me divertia assim a andar em pista há muitos, muitos anos. Além de termos potência mais que suficiente, para nós, pilotos amadores, temos uma eficiência extrema de uma ciclística que não cansa e que nos permite aumentar o ritmo volta após volta com um crescendo de confiança e segurança poucas vezes sentido. As saídas de curva já se começavam a fazer sentir com a roda traseira a escorregar e a rapidez com que nos transportávamos de uma curva para a outra, fazia subir os nossos níveis de adrenalina. A postura de condução é simplesmente perfeita, assim como é a mobilidade em cima da moto, mesmo quando rodamos de pé, temos sempre pleno controlo e comodidade.

Eu, pessoalmente, fiquei rendido pela experiência e se tivesse uma pista assim perto de casa, seria seriamente de ponderar fazer o investimento e comprar uma moto destas. Que manhã tão bem passada!
A KTM Freeride E-XC já está à venda no nosso país, pelo preço estimado de 14.405€.