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Senhor feliz e senhor contente
Um ‘jogo’ em que ambas as equipas vencem é sempre um desafio interessante. Tanto mais que este é um embate entre formações de escalões diferentes, opondo a mais cara das scooters elétricas em Portugal e uma das mais vendidas no mercado nacional. Será que o estilo da BMW CE 04 bate a agilidade da Super Soco CPX?
Quem já andava de moto no século passado lembra-se, seguramente, da rúbrica humorística Sr. Feliz e Sr. Contente, protagonizada na RTP por Nicolau Breyner e Herman José. Entre ditos e desditos, fazia-se uma análise inconsequente ao estado da nação pós-25 de Abril, debatendo-se ideias com base em trocadilhos e piadas. E em que, questionando-se sobre tudo e mais alguma coisa, defendiam exatamente a mesma opinião.
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Pois assim é este ‘embate’, entre duas propostas elétricas situadas nos antípodas. A única semelhança é, passe a força da expressão, o facto de ambas serem movidas através do impulso elétrico fornecido por baterias de iões de lítio. Tudo o resto é diferente. Das performances ao preço, da estética ao sentido prático. Mesmo se na multiplicação de propostas elétricas de duas rodas há lugar à divisão
4.999 EUROS de opiniões ainda que, na generalidade, todas comunguem da soma de benefícios económicos e ambientais, por força da subtração dos combustíveis fósseis.
Mas, afinal, quem ganha nesta corrida a pilhas? Nenhuma! Ou melhor, as duas ganham. E não estamos a falar de um empate. São mesmo duas vitórias, dependendo apenas do ponto de vista de cada utilizador. Querem estilo ou preço? Querem velocidade ou agilidade? Querem brilhar à porta do café ou desenvencilhar-se de forma ágil no meio do trânsito?
UM UNIVERSO À PARTE


Chegada à eletrificação de duas rodas com a C evolution, a BMW deu um salto enorme com a CE 04, scooter de linhas futuristas que se imagina a sair de qualquer nave espacial a meio de um filme de ficção científica. Uma proposta que se destaca, desde logo, pela ousadia estética e irreverência, pelo desejo de rotura com o ‘establishment’ e inovação. Como ponto de partida, a casa germânica, habituada ao sucesso da gama automóvel a pilhas, procurou atender aos desejos de funcionalidade e realidade digital dos utilizadores atuais. Trabalhou assim num novo entendimento da mobilidade urbana, focado no utilizador e nas suas necessidades de deslocação, envolta numa estética verdadeiramente irreverente, incapaz de passar despercebida em qualquer ambiente.


Toda a estética é também um exercício estilístico onde os pequenos pormenores, como o pequeno ecrã, fazem a diferença.
As linhas baixas e alongadas derivam diretamente e sem grandes alterações da proposta conceptual Link (2017), evoluindo depois para o Concept CE 04, revelado no final de 2020. Mantiveram-se os traços diagonais na dianteira, de maior complexidade na seção frontal que vão aligeirando ao longo da scooter até à traseira minimalista definindo a CE 04. ‘C’ da família de scooters, ‘E’ de elétrico e ‘04’ do posicionamento dentro da gama, equivalente a uma 400 cc a combustão. Rotura estilística com o maior tradicionalismo da
C evolution, exaltando o design industrial e um minimalismo cativante, onde a função ganha espaço sobre a forma, ditando os traços e volumes desta.
É o caso do assento, plano e longo, a fazer lembrar uma prancha de skate e quase tão duro como uma. De forma surpreendente, revelou inusitado nível de conforto, contribuindo para boa ergonomia e apoiado por suspensão que desempenha o seu trabalho na perfeição. O abundante espaço para as pernas garante bem-estar a bordo para condutores de todos os tamanhos, e com boa visibilidade. Tal como o enorme ecrã de 10,25” de excelente legibilidade com conetividade absoluta, telefone e navegação, a que se junta a chamada de emergência inteligente (ECall), sistema ‘keyless’ ou tomada USB-C.
Tão pesada como uma BMW F850 GS e muito comprida, com distância entre eixos superior à gigantesca K1600GT, a CE 04 revelou-se fácil de conduzir, com uma estabilidade a toda a prova e apenas limitada no ‘tricotar’ urbano. O peso, elevado, está sempre omnipresente, mesmo



Motor Alimentação
Potência
Binário
Transmissão
Quadro
Suspensão dianteira
Suspensão traseira
Travão dianteiro
Travão traseiro
Pneu dianteiro
Pneu traseiro
Distância entre eixos
Altura do assento
Peso
Depósito
Consumo
Cores
Garantia
Importador
PVP
Síncrono, refrigeração líquida
Bateria de iões de lítio de 6,3 kWh, fixa
31 kW (42 cv)/ 4900 rpm
62 Nm/0 – 4900 rpm
Direta, por correia dentada
Duplo berço em tubos de aço. Caixa de baterias como elemento estrutural
Forquilha telescópica, diâmetro n.d., curso de 110 mm
Monobraço com monoamortecedor, curso de 92 mm
Dois discos de 265 mm, pinças de 4 pistões
Disco de 265 mm, pinça de pistão simples 120/70 x 15”
160/60 x 15”
1675 mm
780 mm
231 kg (em ordem de marcha) n.d. n.d.
Branco Light e cinzento Magalânico
5 anos sem limite de km
BMW Motorrad

Portugal
13.110 € que, em andamento, seja bem disfarçado pelo centro de gravidade bastante baixo e, nas manobras, pela existência da marcha-atrás!
Aspeto prático a que se junta o espaço, amplo e iluminado, por baixo do assento, mas de abertura lateral, onde pode ser guardado o capacete ou os cabos de recarga da bateria.
Em termos práticos, a BMW anuncia autonomia de 130 km, mas, em condições de utilização normal, rodando no modo Road ou Dynamic (opcional) nunca conseguimos chegar aos 100 km. O que não é nada mau!


As acelerações são simplesmente brutais nos modos mais ‘agressivos’ sendo notórias as diferenças para o Rain ou Eco e o simples facto de cortar gás ajuda a recarregar as baterias, melhorando ligeiramente a autonomia.
Quanto ao tempo total de carga, a partir do vazio total, ficou ligeiramente abaixo das 4 horas e 20 min. anunciadas pela BMW, bastando hora e meia para chegar dos 20 aos 80% enquanto, com um carregador rápido (opcional), com saída de 6,9 kW face aos 2,3 kW do ‘normal’, o tempo para carga total pode baixar até 1 h 40 mn.
Estética
Prestações
Comportamento
Suspensões
Travões
Consumo
Preço
O motor, colocado entre as baterias e a roda posterior, transmite a potência de forma instantânea através de uma correia dentada e o único ruído que se ouve é um silvo. Tanto mais agudo quanto mais acelera. A suavidade de funcionamento é enorme, ajudada pela correia de borracha que assegura a transmissão, e as acelerações brutais. Dos 0 os 100 km/h são apenas 9,1 segundos. Mais relevante, é que num semáforo, nenhum carro ou moto, por mais potente que seja, conseguirá arrancar à frente. Afinal, gasta 2,6 s. a atingir os 50 km/h. Depois, chega rapidamente aos 100 km/h e não para até aos 129 km/h no velocímetro, equivalente aos 120 km/h reais, devido à limitação eletrónica.





Velocidade que é atingida em total segurança graças à rígida estrutura tubular que serve de quadro, ligando a caixa das baterias e os outros componentes da ciclística. De que fazem parte um conjunto de travagem de origem Brembo (J.Juan/ByBre), com mais potência do que progressividade, acompanhado pela segurança eletrónica, do ABS ao controlo de tração ASC de série.
Urbana Por Excel Ncia
Posicionamento bem diferente tem a Super Soco CPX, modelo que partilha a origem chinesa com a quase tota- lidade das propostas deste segmento, com preço que a coloca, desde logo, noutro patamar. Mais atrativa para quem busca uma solução de mobilidade económica desde o momento da aquisição, de utilização fácil e silenciosa, com grande suavidade e agilidade, mas também robusta e boa porteção para uma utilização quotidiana todo o ano. Claro que, face à BMW CE 04 as diferenças são imensas, a começar pelo visual clássico de scooter de roda alta, com um desenho consensual e atrativo. O que não é sinónimo de apático ou banal, graças à moderna iluminação ‘full’ LED, ao generoso para-brisas ou à visibilidade do chassis, oferecedor de imagem de robustez e segurança.
A evidência urbana deste veículo verde fica bem patente no amplo e confortável assento para o condutor, na plataforma plana com gancho para a mala de mão ou saco das compras, e no grande porta-bagagens, mesmo a pedir a montagem de uma bem prática top-case. É que, debaixo do assento, o espaço está ocupado com uma bateria que, opcionalmen- te, até podem ser duas, e pelo carregador rápido e os indispensáveis cabos de carregamento. Revelando elevada qualidade de construção, com soldaduras cuidadas, plásticos bem alinhados e uma quase ausência de ruídos mesmo em pisos irregulares, a Super Soco CPX dispensa a exigência de uma garagem para carregamento, permitindo o transporte das baterias até casa.
Ponto importante numa análise do sentido prático que deve ser somado o sistema de comando à distância que permite colocar em funcionamento, substituindo a chave no canhão que, por seu turno, é imprescindível para o bloqueio da coluna de direção. Também o painel de instrumentos de cristais líquidos prima pela simplicidade, com boa legibilidade, embora a mudança das informações disponibilizadas exija alguma experiência no manuseamento dos botões.
Nada de intimidante, sublinhe-se, numa elétrica que é muito fácil de guiar, com um peso contido e, acima de tudo, muito bem distribuído, contribuindo de forma decisiva para uma agilidade estonteante. Sobretudo em cidade, o seu habitat natural, em-
Ficha T Cnica Super Soco Cpx



Motor
Alimentação
Potência
Binário
Transmissão
Quadro
Suspensão dianteira
Suspensão traseira
Travão dianteiro
Travão traseiro
Pneu dianteiro
Pneu traseiro
Distância entre eixos
Altura do assento
Peso
Consumo Cores
Garantia
Importador PVP
Bosch elétrico, 3 modos e marcha-atrás

2 baterias de iões de lítio 60V 45Ah
4,8 kW
59 Nm
Direta à roda
Em liga de alumínio e tubos de aço
Forquilha telescópica, diâmetro n.d., curso n.d.
Mono amortecedor lateral, curso n.d. Disco de 240 mm, pinça de 2 pistões Disco de 180 mm, pinça de pistão bora permita ligações interurbanas em vias rápidas ou autoestradas com estabilidade e precisão. Claro que há que contar com as performances limitadas, essencialmente nas subidas mais acentuadas e longas. Melhor mesmo optar pelas vias onde o diferencial de velocidade para os outros veículos não seja tão acentuado, já que dificilmente ultrapassará os 100 km/h. E isto no modo Sport, o mais espevitado, já que o Standard chega apenas aos 72 km/h e o Eco está limitado a 48km/h, sendo altamente aconselhável gerir bem a carga remanescente ou a parte final do ‘depósito’, os últimos 10% de carga, tornam a condução dolorosamente lenta, com uma velocidade tão lenta como a de qualquer bicicleta numa subida.
Também não seria de bom tom exigir muito mais a um motor elétrico com 4,8 kW de potência (6,4 cavalos) de potência, montado no cubo da roda traseira da CPX que não se ouve nem se sente. Nada de ruídos ou vibrações quando aceleramos, sempre de forma muito progressiva e suave. Por vezes, quicá, em demasia. E, claro, sempre em grande segurança, oferecida por uma travagem forte, com sistema combinado que atua em simultâneo sobre os discos nos dois eixos, mas sem ABS.


No capítulo da economia, referência aos consumos com uma autonomia na casa dos 90 quilómetros em utilização ‘full power’ sendo que, em utilização mais consentânea com o espírito da Super Soco CPX pode atingir os 150 km em meio urbano. Já o carregamento das duas baterias que montava a unidade testada fica ligeiramente abaixo das 7 horas! Vá lá que a manutenção é bem mais rápida e as revisões aconselhadas, a cada 3.000 km, custam cerca de 50 euros, com as baterias a terem um tempo de vida de 1500 ciclos completos de carga e descarga, ou seja mais de 150 mil quilómetros.
Conclus O
Bem equipada e com um estilo único e irreverente, a BMW CE 04 oferece elevada qualidade construtiva, surpreendente conforto a bordo, boa proteção para condutor e passageiro, e excelente dotação eletrónica. Mas será que o pioneirismo, a inovação estética e tecnológica, ou a diferenciação ‘justificam’ investimento de mais de 13.000 euros?
Ou será mais lógico investir bem menos de metade desse valor para aceder à mobilidade elétrica de forma mais racional ainda que menos vistosa? A Super Soco CPX é proposta urbana por excelência, enaltecendo valores de facilidade e economia, suavidade e destreza.
