
8 minute read
Bela e surpreendente
18.499 EUROS
Sem dúvida que os adjectivos que melhor definem o novo modelo da marca italiana são “bela e surpreendente”. O primeiro é fácil de perceber e o segundo, só nos chega depois de tomarmos contacto efetivo com a V100. Os primeiros quilómetros são de descoberta, de surpresa e de uns rasgados sorrisos no rosto. Uma moto muito sensorial!
Advertisement
Lembro-me como se fosse hoje da primeira vez que vi as primeiras imagens da V100. Achei-a demasiado conservadora e em conversa com um dos responsáveis da marca para o nosso país, confidenciava-me que já tinha tido a oportunidade de a ver ao vivo e que de facto, era bastante diferente do que nos era transmitido pelas imagens. Depois, voltámos à conversa onde me transmitiu as primeiras “sensações” de quem já tinha tido o privilégio de nela andar, os pilotos de teste da marca italiana. Eram só aspectos positivos... fazendo crescer a minha desconfiança, na exata medida em que a curiosidade por a testar também crescia. Posso confidenciar que era uma das motos que mais curiosidade me despertava testar neste início de 2023. Será que correspondeu às expetativas? É o que vamos descobrir!
Uma Moto De Estreias
O caminho que a Moto Guzzi tem vindo a traçar nestes últimos anos, acaba por nos surpreender sempre. Se ao longo da sua história foi optando por algum conservadorismo das linhas, o mesmo não podemos dizer na ousadia de criar novos segmentos ou até, usar tecnologias não muito conservadoras. Depois da trail V85 TT que abriu caminho a uma nova era para a marca italiana, eis que chega agora o momento de quebrar preconceitos e ir mais além. Desde logo pela criação de um conceito que praticamente não encontra rival no mercado (o modelo que podemos considerar sua rival mais direta é a Honda NT1100 e com muita boa vontade a Yamaha Tracer 9...). Além disso, recorre a tecnologia de última geração, principalmente nesta versão S que monta de série quick shift, suspensões semi-ativas Öhlins, ABS em curva e uma completa unidade de medição de inércia. Ah, e a cereja no topo do bolo são as asas aerodinâmicas nas laterais do depósito de combustível, para efeitos de conforto em viagem. Uma moto compacta, com postura de condução mais direita e confortável, mas com clara vocação turística-desportiva como, aliás, podemos perceber graças ao para-brisas ajustável ou à pré-instalação das malas laterais.
100 ANOS, BEM COMEMORADOS
O centenário da marca italiana aconteceu em 2021 e esta V100 é um claro tributo a esse marco histórico. Uma moto que preserva a história e legado da marca, mas que diz claramente “Eu estou aqui!” e vão ter que contar connosco! E fá-lo através de um modelo disponível em duas versões, sendo esta S que aqui vos apresentamos nestas páginas, a mais completa no que a tecnologia e equipamento diz respeito. Para os mais apreciadores e conhecedores da marca, vão notar claramente a inspiração em modelos históricos da marca como a Le Mans 850 de 1976, ou a Le Mans 850 III de 1981. Às dimensões contidas juntam-se pormenores como o motor de dois cilindros que continua a assumir principal protagonismo, a iluminação em LED com destaque para a silhueta da águia na luz de presença diurna ou a traseira de inspiração na aviação.
A travagem Brembo confere-lhe uma potência extrema mas o tacto inicial da manete é algo brusco.
MOTOR “COMPACT BLOCK”

O painel de instrumentos TFT é muito completo e de fácil leitura. A navegação mostra-se simples e intuitiva.
O novo motor transversal de dois cilindros em V a 90º é totalmente novo, apelidado de “compact block” e que transporta a Guzzi para uma nova dimensão devido ao seu desempenho. O compacto e bem desenhado dois cilindros, mantém a “patine” dos modelos italianos e a tradicional arquitectura apresentando agora uma cilindrada de 1042 cc, refrigeração líquida, 115 cv de potência às 8700 rpm e 105 Nm às 6750 rpm. Um motor que se coloca entre o da V85 TT (853 cc) e o antigo 1200 8V, apresentando, face a este último, uns 50% menos de inércia, mais compacto, leve e económico. Na verdade, este novo bloco apresenta-se 103 mm mais curto que o da V85 TT e leve que o anterior 1200 8V. Os pousa pés estão acoplados diretamente ao cárter, com boa altura e revestidos por borracha para reduzir ao máximos a transmissão de vibrações. A embraiagem é deslizante, também foi submetida a uma cura de emagrecimento mas, por outro lado, ficou mais robusta. Novidade são também as cabeças dos cilindros colocadas a 90º que permitem assim mais espaço para as pernas e melhorar a posição de elementos como a admissão ou os corpos de injecção. A caixa de seis velocidades foi desenhada em específico para este motor com as duas primeiras mudanças mais rápidas de engrenar e mais suaves. Pela primeira vez, e apenas disponível nesta versão S, a Moto Guzzi introduz o sistema de quick shift bi-direcional.

Lembram-se de falarmos anteriormente da potência? Pois bem, temos cerca de 82% do total do binário logo disponível a partir das 3500 rpm até às 9500 rpm, altura em que atingimos o “red line”. De acordo com os dados indicados pelo fabricante, o consumo aponta aos 4,7 litros por cada 100 kms, mas a verdade é que sem andarmos sempre no limite, numa utilização perfeitamente normal, registámos uma média de consumo na ordem dos 5,6 litros! Para reduzir custos, os intervalos de manutenção é de 12 00o kms. O veio de transmissão está colocado no lado esquerdo, funcionando como monobraço, deixando bem exposta a bonita jante traseira. Mais um pormenor que enriquece e muito a estética geral do conjunto.
TURÍSTICA-DESPORTIVA
É assim que a Moto Guzzi define a sua V100 Mandello, que nos desafia com uma atitude mais desportiva, mas que depois também se sabe comportar muito bem na pele de uma tradicional turística. Isto porque conta com um compacto quadro em tubos de aço, que nos dá grande agilidade mas também um bom feedback da roda dianteira. A altura ao solo não sai penalizada, já que o assento está colocado a 815 mm do solo, com uma geometria de condução muito confortável e natural. Na base do projeto esteve ainda o conceito de viajar a dois e por isso, o passageiro goza de amplo espaço, conforto, segurança e até muitos acessórios a ele dedicado. Para aumentar a capacidade de carga para as grandes viagens, temos apenas que encaixar as malas nas ranhuras dedicadas, estas já disponíveis de série, bem disfarçadas no conjunto. No capítulo da travagem e suspensões, nesta versão S contamos com o topo dos topos, que é como quem diz, suspensões semi-ativas Öhlins Smart EC 2.0 (forquilha invertida NIX na frente e monoamortecedor traseiro TTX), capazes de se ajustarem automatica- mente ao asfalto (forquilha dianteira, monoamortecedor traseiro e amortecedor de direção) e ao nosso tipo de condução. Através do completíssimo painel TFT podemos optar por ter a suspensão no modo automático ou optar pelo ajuste manual. Disponíveis temos duas opções: Confort e Dynamic, que nos permite ajustar os diversos parâmetros de atuação da suspensão, ou simplificar e colocar no modo automático e desfrutar da condução!
Nesta versão S encontramos algumas diferenças para a base, uma das quais as suspensões semi-activas. Tem várias opções para maior conforto ou carácter desportivo.
Quanto à travagem, esta é assegurada pela Brembo, com dois discos de 320 mm na dianteira, pinças radiais de quatro pistões e atrás, um disco de 280 mm com pinça de dois pistões. Os pneus são os aderentes Pirelli Angel GT II.
Aerodin Mica
ADAPTATIVA
É a primeira moto do mundo a apresentar um sistema como estes de série! Na prática, são duas “asas” que se abrem nas laterais do depósito de combustível e cujo propósito é o que contribuir o mais possível para o conforto dos passageiros em longas viagens, fechando-se quando entramos em modo desportivo, onde se quer menos resistência ao ar. Estas abrem ou fecham dependendo do modo de condução selecionado e podem ser programadas para abrir à velocidade que nós queiramos. De acordo com a Moto Guzzi estas conseguem reduzir a pressão do ar no nosso corpo até 22%, o que é significativo. Para encerrarmos já o capítulo da proteção aerodinâmica, acrescentar que o para-brisas também é ajustável de forma eletrónica. Ao ter uma unidade de medição de inércia de seis eixos, consegue-nos oferecer toda a tecnologia de ponta como controlo de tração, ABS em curva, modos de condução, efeito travão motor e o ajuste das suspensões.


Eletr Nica De Luxo
À nossa disposição temos quatro modos pré-programados, que, ao contrário de muitos outros modelos, podem ser totalmente personalizados pelos utilizadores, sendo que cada vez que desligamos a V100 Mandello S estes, por defeito, regressam aos valores iniciais, pré-definidos de fábrica. Esses modos são o Tour, Rain, Road e Sport. No primeiro, o Tour, temos os settings prontos para viajar, o travão motor (MGFM) é significativo para ajudar a moto a desacelerar quando cortamos gás; a entrega de po- tência (MGCM) é progressiva (nível 2 de 3) e controlo de tração (MGCT) está no terceiro de quatro níveis de intervenção. Neste modo, as asas abrem automaticamente acima dos 70 km/h. Quanto à suspensão, na versão S, o “setup” da Öhlins Smart EC 2.0 ajusta-se ao nível 2 (Comfort). No modo Rain, todas as ajudas eletrónicas ficam no nível máximo de intervenção. A suspensão mantém-se no nível 2. Já no modo Road, todas as ajudas foram pensadas para permitir desfrutar ao máximo das estradas de montanha. O travão motor mantém-se no nível 2; o controlo de tração fica num nível intermédio (nível 2 de 4) e as asas laterais mantêm-se fechadas, a não ser que o utilizador defina a velocidade em que as quer abertas. A suspensão passa ao nível 1 (Dynamic). Por último, o modo desportivo foi pensado para oferecer ao condutor a máxima experiência possível neste modelo. Assim, o efeito travão motor está no nível mais reduzido possível; a entrega de potência passa ao nível 1, assim como o controlo de tração. Uma vez mais, as asas mantêm-se fechadas a não ser que o condutor defina a velocidade em que quer que estas abram. A suspensão mantémse no modo Dynamic. As asas podem ser programadas para abrir entre os
30 e os 95 km/h e fecham automaticamente abaixo dos 20 km/h.
O painel TFT a cores é muito rico e de fácil leitura, muito intuitivo de navegar. Temos ainda disponível de série o sistema MIA que nos permite emparelhar o nosso telemóvel para fazer/receber chamadas, ouvir música ou as informações do GPS.
TEMOS QUE A ENTREGAR? JÁ?
Como comecei por dizer no início do texto, esta era uma das motos que mais curiosidade me despertava testar neste início de ano. E não defraudou, é uma daquelas motos que ficamos com pena de a ter que entregar no final do nosso teste. No entanto, há pormenores que gostava de ver resolvidos numa próxima atualização como o tacto da caixa e até o funcionamento do quick shift principalmente entre a primeira, segunda e terceiras velocidades seja a subir as mudanças como a reduzir; a frente também requer um período de habituação pois nos primeiros quilómetros apresenta uma tendência de “cair” para o interior da curva; a travagem é fabulosa, muito potente mas o tacto inicial é também algo brusco, requerendo habituação e o arco das pernas tem ainda margem para “emagrecer” um pouco mais, embora tenhamos a opção de um assento mais baixo, que nos coloca a apenas 800 mm do solo, facilitando bastante a vida aos mais curtos de perna ou inexperientes.
Quanto ao motor, se rodarmos no modo Road ou Sport, notamos o punho do acelerador algo brusco, mas com uma faixa de utilização muito cheia, principalmente nos baixos e médios regimes, notando-se um pouco mais lenta nas recuperações quando rodamos por volta das 4000 rpm. Mas no geral, é um motor que nos deixa inebriados de tanto gozo. Os 115 cv que o bloco debita são muito apropriados para este modelo.
É uma moto de dimensões compactas, mas o peso (233 kg) faz-se sentir principalmente nas manobras paradas. Nesta versão S temos ainda o indicador da pressão dos pneus (TPMS). O funcionamento da caixa, em especial com o quick shift também necessitam de melhorias, mas no geral acaba por levar nota bastante satisfatória. A tomada USB por baixo do assento é útil, mas seria muito mais se estivesse no painel de instrumentos. Os punhos aquecidos dão uma preciosa ajuda nos dias mais frios e o barulho e estética do modelo, em especial nesta cor cinza/verde dão mais encanto aos nossos dias. As jantes são muito elegantes, principalmente a traseira que é monobraço. Fiquei rendido! Já disponível nos concessionários oficiais da marca, nas cores verde ou cinzento. O preço de comercialização é de 18 499€ e a gama de acessórios é muito completa, incluíndo as malas laterais ou top case, por exemplo.







