revista corpo da matéria CURSO DE JORNALISMO PUCPR
Vida no picadeiro
Apesar das dificuldades, a arte circense resiste entre as novas gerações

Corpo da matéria
Ano 12 - Edição 30 - Maio de 2014 Revista Laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR
Pontifícia Universidade Católica do Paraná R. Imaculada Conceição, 1115 Prado Velho, Curitiba PR
REITOR Waldemiro Gremski
DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES Eliane C. Francisco Maffezzolli
COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Julius Nunes
COORDENADOR EDITORIAL Julius Nunes
COORDENADOR DE REDAÇÃO/JORNALISTA RESPONSÁVEL Paulo Camargo (DRT-PR 2569)
COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade
Alunos - 5º Período Jornalismo PUCPR
Amanda Louise Mitt Schause Satuf Silva, Ana Beatriz Villas Bôas Maruch, Ana Luiza Ferreira de Souza, Beatriz Chaves Pacheco, Bruna Carvalho da Silva, Bruna Mazanek, Carolina Andrade Chab, Carolina Silva Mildemberger, Caroline Martins Stédile, Fernanda Novaes Buffa, Fernando Burigo Guimarães Back, Gabriela Carolina Miranda de Oliveira, Getulio Xavier de Almeida Filho, Guilherme Osinski, Gustavo Lavorato Justino da Silva, Helem Caroline Barros, Helena Comninos, Isadora Teresa Carvalho, Jhenifer Wendy dos Santos Valentim, Jheniffer de Andrade, Jordan Marciano, Karla Letícia Tumelero Fernandes, Laura Umada Espada, Lucas Aquino de Oliveira, Lucas Prestes das Chagas, Manuella Costa Pires, Marcela Oliveira de Carvalho, Maria Fernanda Moretti Schneider, Mariana Dorneles Papi, Mayara Michelli Nascimento, Melvin Gavinho Quaresma, Rafaela Oliveira, Raíssa Gomes da Silva Ribeiro, Renata Nicolli Rodrigues, Sil via Yumiko Tokutsune, Thiana July Perusso, Vinicius Cordeiro da Silva, Vinicius Savaris Rech, Fernanda Brunken, Lydia Christina Brunato de Camargo, Alana Freiberger, Alessandro Pinheiro da Silva, Amanda Bedide Zanao, Amanda Luiza de Souza, André Gessi Rogal Wuicik, Beatriz Theiss Evaristo Hubert, Bianca Caroline Fragoso de Lima, Bruna Catache, Bruna Stefanie Kurth, Carolina Cristina Ferreira Rodelli, Guilherme Roberto Liça, Isabel Maria dos Santos, Isabella Santos Lanave, Jessica Mayara Cereja Dias, Jordana Figueiredo Machado, Juliana dos Reis Antunes da Silva, Katiucy Binhara Pinto, Lara Berbes de Farias, Mariana Therezio da Silva, Mario Spaki, Roberta Costa Gonçalves de Almeida, Rodrigo Soares Dornelles Pereira, Stacy Barbosa da Silva, Stephani Mantovani Diedrich, Hellen Crisley Ribaski
Imagem de capa: Melvin Quaresma - 5ºP Jornalismo





A

do
Obrilho no olhar e o sorriso no rosto de crianças e adultos que estão na plateia mostram que a magia do circo é capaz de encantar qualquer um, não importa a circunstân cia. Em meio a um mundo no qual os problemas e estresse tomam conta do dia a dia, despertar uma simples gargalhada de alguém não é tarefa fácil, mas, de acordo com os artistas circenses, o esforço é sem pre recompensado quando conseguem fazê-lo.
Buscando levar arte e cultura para toda a po pulação de Curitiba de maneira descentralizada, a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) investe há 37 anos na arte circense, percorrendo os bairros da região. Atualmente instalado no Alto Boquei rão, o projeto Circo da Cidade, que desde 2008 está com uma nova forma de funcionamento e novos equipamentos, em 2009, ganhou também um novo nome: o Circo da Cidade Zé Priguiça.
“O objetivo do projeto é que a população curitibana tenha acesso a produtos culturais de qua lidade na área do circo, desenvolvendo manifes tações artísticas e revelando novos talentos nas oficinas e cursos que oferece”, diz Albanir Moura, o coordenador de circo da FCC.
O Circo da Cidade Zé Priguiça abre espaço para inscrições de várias companhias, quando aprovadas, promoverem espetáculos no local. Mariana Zanette, 37 anos, diretora de uma das peças presentes no circo, atua há 22 anos no tea tro e pela primeira vez trabalha diretamente com circo. “Já havia colocado em outras apresentações elementos circenses, mas meu foco sempre foi a dramaturgia. Nos meus espetáculos busco além de entreter, questionar algo. Nessa que apresenta mos hoje, quisemos discutir os valores”, conta. Um pouco mais distante de Curitiba, o Circo




Irmãos Romanos está sempre rodando pela Região Metropolitana e já tem 156 anos de estrada. Muito tradicional, os artistas presen tes nesse circo aprenderam tudo por estarem inseridos no meio desde sempre.
Márcia Santos, 41 anos, entrou na vida de circo há 22 anos por conta de seu marido, Joarez Alves, 46 anos, que é malabarista. “Nós trabalhamos contratados e viajamos por diversas regiões do país. Antes eu era malaba rista com meu marido, mas há quatro anos larguei o palco e cuido apenas de barraquinha de comida.” Por influência do pai, os filhos de Márcia, Igor Alves, de 9 anos, e Junior Alves, 20, são um talento desde cedo. “Em breve, eu e minha família pretendemos abrir um circo nosso em Curitiba”, conta.
Os artistas do circo vivenciam dificuldades, assim como qualquer outra pessoa e, muitas vezes, é preciso passar por cima delas o mais rápido possível. Afinal, o espetáculo nunca pode parar. “O público paga para nos ver sor rir” são as palavras da dona Deolinda, que faz parte da primeira geração da família circense do Circo Irmão Romanos.


Além dos circos, Curitiba possui alguns grupos que contam com a presença apenas de palhaços, como a Trupe Novembro, que surgiu em novembro de 2012 com o objetivo de fazer renascer, em cada um, a vontade de voltar a ser criança. O grupo se conheceu em uma oficina circense e atualmente é composto por quatro palhaços: Caxias, Jujuba, Sementinha e Tchonsky.

Hoje tem
palhaçada?
Sementinha
Pode-se dizer que a palhaça Sementinha, ou melhor, Patrícia Barbosa Zupo, 31 anos, segue três caminhos diferentes. Por formação, fez Co mércio Exterior; pelo coração, virou fotógrafa e, por vocação, palhaça. Como Sementinha, ela faz parte da Trupe Novembro e considera que a “pa lhaçada” não é algo engraçado, mas sim dramá tico. “Você aprende a lidar com seu emocional, vai se expor ao ridículo. A pessoa busca algo legal em você, nada necessariamente engraçado, mas que vai tirar um sorriso”, destacou. Ser palhaço, segundo Sementinha, é lidar com os próprios defeitos, perder a vergonha de mos trar aquilo que você não gosta em você. Paty, como prefere ser chamada, acredita que a arte de ser palhaço nunca vai acabar: “Todo mundo precisa de algo diferente no dia a dia e a ‘palha çada’ é esse algo a mais.”

John Salgueiro
Da quarta geração de uma família circense chamada Salgueiro, John, 28 anos, confessa que na vida de circo, tudo é muito intenso. Além de estudar, como qualquer outra pessoa, o artista aprendeu cedo o dia a dia do circo, desde a parte de montagem até os números das apresentações. Por vontade própria e incentivo do pai, John entrou pela primeira vez no palco como palhaço, quando tinha apenas 4 anos, e a partir daí sua paixão pelo circo só cresceu. Com 6 anos, o rapaz começou a gostar de trapézio e, com 7, já estreou uma apresentação com um de seus tios. “Independentemente do tema do espetáculo, quero passar alegria, emo ção, inspiração e superação, para que as pessoas vejam que tudo é possível se você acreditar.”

Pimentinha
Se tem alguém que pode dizer que o circo é sua vida, esse alguém é Junior Alves, com 20 anos, e o mesmo tempo de circo: ele é um palhaço desde que nasceu e, há 18 anos, sustenta seu melhor personagem, o palhaço Pimentinha. Hoje, ele acompanha seus pais, Márcia Santos e Joarez Al ves, no Circo Irmãos Romanos. “Nasci no circo, meu avô era de circo, meu pai era de circo e eu não tive como escapar, fiquei no circo.” Além do Pimentinha, Junior Alves faz um pouco de tudo dentro do circo: trapézio, pêndulo, faixa, globo da morte e mais alguns personagens, como o Homem-aranha e Michael Jackson, mas tira do palhaço o seu lema, a alegria. “Tudo que eu faço é a alegria que eu tento passar, não importa o personagem.”

Paixão, dor e arte
A exposição Frida Kahlo - As Suas Fotografias chega em junho ao Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba.
Aexposição Frida Kahlo - As Suas Fotografias surgiu para mostrar imagens do cotidiano de uma das maiores artistas do mundo da arte. A mostra passará por Curitiba, no Museu Oscar Nie meyer, no mês de junho.
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón nasceu nas cercanias da Cidade do México, em julho de 1907. Aos 18 anos, sofreu um acidente que a prendeu em um colete de gesso por toda a vida. Sua dor foi retratada em suas obras, classi ficadas como surrealistas por críticos e historia dores, mas a artista não concordava “Não retrato sonhos, pinto a minha realidade”, dizia.


Revolucionária em sua vida e obra, Frida, ao contrário da elite de sua época, gostava de tudo
Ao lado, Frida Kahlo, por Guiller mo Kahlo, seu pai e influência astística. Retrato de 1932.

Primeira obra de destaque, Autorretrato em Vestido de Veludo Frida, tinha iniciado a prática da pintura após um grave acidente.
1926
1931
Casou-se com o pintor mexicano Diego Rivera, Mais uma obra importante para a carreira de Frida, Frida Kahlo e Diego Rivera.
Divorciou-se em 1939, apesar desse fato, eles continuaram a re lação por anos. Durante o período, a artista pintou As Duas Fridas.

o que era realmente mexicano. Usou tintas fortes para estampar em suas telas, na maioria autor retratos, dores físicas e dramas emocionais. Seu casamento conturbado com o artista Diego Rive ra, já renomado na época, a ajudou no reconhecimento de sua obra, mesmo assim ela chocava a todos com suas roupas e personalidade forte.
Hilda Trujillo, diretora do Museu Frida Kahlo, na Cida de do México, explica que a exposição que chega ao Brasil, em junho, “traz o lado huma no de Frida, o contexto histó rico da época em que ela viveu retratando o cotidiano dela”. Para a professora de História da Arte Fernanda Biazetto Vilar Fabricio a questão regional é importante, “Ela passou a ser referência e é muito legal que seja uma mulher, e que venha daqui da América, e não da Europa.”
Vanessa Frulani, aficionada pela artista diz: “Espero que essa exposição seja maravilhosa e eu tenho certeza que vai ser e, por isso, eu vou estar lá.”
Já reconhecida e com seu trabalho exposto em galerias na Europa, Frida começou a dar aulas de introdução à pintura, em 1943, na Cidade do México.

1939 1954 1946
A vida da artista foi marcada por vários períodos difíceis. Ela sofreu três abortos, passou por diversas cirurgias na coluna e tornou-se dependente do álcool. O quadro O Vea do Ferido (1946) trata da busca de Frida por uma fuga de seus problemas.

Na foto acima, pintando na cama, 1940; à esquerda, Frida no Hospital de Nova Iorque, em 1946; e, na foto abaixo, a artista pinta um retrato de seu pai Guillermo Kahlo , em 1951.



A CIDADE

SEM
FIM
Texto: Amanda Souza e Isabella Lanave
Fotos: Isabella Lanave
Todos os dias os paralelepidos do Largo da Ordem, no Centro Histórico de Curitiba, são testemunhas da fidelidade de um homem. A igreja já cansou de ver se repetir a cena. As pombas não ocupam o lugar que sabem ser dele. O vento já conhece fio por fio os cabelos grisalhos que balançam junto com as folhas dos livros que lê. E o pequeno senhor lê, sem parar. Todos os dias ele está no mesmo lugar, com os pés sob seus chinelos, em pé ou sentado. Não dá a nada nem a ninguém o di reito de o interromper. Este homem se chama Juscenir. Ou talvez Henrique. Repito: ele não deixa, sob nenhuma circuns tância, que, seja lá o que for, o interrompa. E se tentarem, ape nas olhará fundo nos olhos, mostrará o livro e mergulhará de volta em sua leitura. Sem nome, é a personificação do desejo de uma sociedade que quer que a rua seja seu quintal, onde é possível sair de chinelos para ler um livro e tomar um pouco de sol – quando as cí nicas nuvens curitibanas permitem que o raios as atravessem.
A rua, considerada não em seu aspecto físico, como uma conexão entre espaços da cidade – vias locais, coletoras, expressas –, mas sim como um local de trocas e vivências, com o decorrer da história, foi ganhando um novo significado e os indivíduos foram aos poucos
transformando sua relação com estas que se tornaram as veias e artérias das cidades.
Espaço público
Na Grécia Antiga, a pólis era um lugar de debate e tomada de decisões políticas. Os espaços públicos das cidades-estados serviram de palco para diversos acontecimentos que marcaram a história da humanidade. Contu do, os direitos daquela época eram válidos ape nas para pessoas do sexo masculino, excluindo as mulheres, jovens, estrangeiros e escra vos, que constituiam dois terços da po pulação, conforme afirma Lédio Rosa de Andrade, doutor em Direito e em Filosofía Jurídica, Moral e Política, pela Univer sidad de Barcelona.
“Hoje não há exclusão desse tipo, mas [...] os espaços públicos estão sendo abandonados e as pessoas estão frequentando espaços privados e de consumo”, completa Andrade. Com medo da violência, do trânsito, e se isolando cada vez mais em fortalezas de seguran ça com muros altos, alarmes e cercas elétricas, a opção da grande maioria dos indivíduos não tem sido as áreas públicas das cidades.
No ano de 2013, o mercado dos sho pping centers brasileiros atingiu uma média de 415 milhões de visitantes por mês e teve alta de 8,6% nas vendas em relação ao ano ante
“Não é inteligente incentivarmos o transporte individual.” Danilo Herek, coordenador de mobilidade urbana da prefeitura pela Setran.
rior, arrecadando o total de R$ 129,2 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). Para este ano, a expectativa do setor é de que as vendas cresçam 8,3%. “Os shoppings são espaços de convi vência controlada a partir de uma coisa muito específica, que é o estímulo ao consumo, e as pessoas entendem que aquilo ali é o entrete nimento”, diz Jorge Brand, mais conhecido como Goura Nataraj, coordenador da Associa ção de Ciclista do Alto Iguaçu (Cicloiguaçu), e completa, “Podia ter uma lei que proibisse ‘não vai mais abrir shopping na cidade’”.
Mobilidade

O planejamento dos centros urbanos em função dos automóveis, incentivando o uso do carro em detrimento de meios alternati vos de mobilidade, também demonstra que o espaço público é pensado mais para o capital e menos para o cidadão.
Danilo Herek, coordenador de mobili dade urbana da prefeitura pela Setran, acredita que o que está acontecendo é uma inversão de valores. “Hoje o espaço está todo pensado para o automóvel, e isso não é bom, porque apenas 30% das pessoas se locomovem desta forma, os outros 70% vão a pé, de ônibus.”
A greve do transporte público que aconteceu em Curitiba entre os dias 26 de fevereiro e 1.° de março deste ano, deixou os ônibus fora de circulação e fez com que o trânsito ficasse paralizado e a cidade, tomada pelos carros. Essa situação prova para o coordenador que o sistema adotado atualmente é falho. “Não é inteligente incentivarmos o transporte individual”, afirma Herek.
É necessário trabalhar culturalmente a cidade para que as pessoas possam entender que, além de muito trabalho, é preciso tempo para que as coisas realmente se alterem. “Co penhague conseguiu passar de 3% do uso da bicicleta pra 53% em 30 anos”, exemplifica o coordenador.
Contudo, mesmo com dados que comprovam o aumento da popularidade dos espaços privados e de consumo, existem pessoas e mo vimentos que, em meio ao turbilhão da Era da Informação, pararam para se questionar sobre a forma com que a cidade vem sendo ocupada e começaram a criar e defender formas de reto mar e resignificar esse espaço que é de todos, por direito. Enquanto os 30 anos não passam.
Do povo para o povo
“O melhor governo é aquele que me nos governa”, diz Goura, citando uma passa gem do livro Desobediência Civil, escrito pelo filósofo e crítico da ideia de desenvolvimento Henry David Thoreau. As pessoas já se subme tem a diversas imposições, ao sistema de transporte, medicina, que dita o remédio e o que fazer com o corpo, às instituições educacionais. E é nesse contexto que entra a bicicleta, afirma
Goura, como apenas uma das possibilidades de autonomia.
Caroline Lemes, estudante de Artes Visuais e organizadora do Criaturas Crônicas e participante do Crôquis Urbanos, duas inicia tivas que utilizam dos espaços da cidade para desenvolver as artes da pintura e da escrita, sente a bicicleta como um meio além de autô nomo, contemplativo. “Quando você está de carro, você só quer chegar. De bike ou a pé, as pessoas param para olhar as coisas, ao invés de ficarem ligadas apenas na velocidade e no stress diário do trânsito.”
O grupo criado por Lemes em no vembro de 2013, Criaturas Crônicas, tem o mesmo princípio: escritores, amantes da escrita ou apenas curiosos se reunem em um determinado espaço da cidade para, em uma hora e meia, escreverem inspirados pelo que está acontecendo ao redor.

No fim, todos compartilham com os outros as suas impressões. “E é essa troca que vale, você ver a visão de cada um daquele lugar, que mesmo que esteja sentado ao seu lado, será totalmente diferente da sua”, afirma a artista.
Os encontros, as interações com os –até então – desconhecidos e o bom dia inespe rado do “cara que dorme lá no passeio”, como diz Carol, ajudam a complementar os textos. “Essa troca quebra alguns preconceitos de que, por exemplo, a pessoa é maloqueira e vai me fazer mal. A mais bondade que maldade em cada esquina”, finaliza.
Uma outra iniciativa para ocupar o espaço público é o “Música para Sair da Bolha”, realização da Ciclo Iguaçu, que transforma, com bandas e intervenções, uma área de fluxo em uma área de presença no seu mo mento mais crítico: a hora do rush. Situando, são as pessoas construindo as situações da vida no cotidiano.

Ocupe
Talvez o Plano das Bicicletas Brancas –manifestação organizada pelos Provos, movi mento de contracultura dos anos 60, que tinha como objetivo a melhoria dos transportes de Amsterdã - não tenha alcançado o seu princi pal objetivo no momento em que foi realizado. Quem sabe qual realmente era esse objetivo? Tudo leva um tempo e Amsterdã é hoje a capi tal mundial das bicicletas.
Por aqui, as provocações dos Provos ain da navegam por esses mares mais cinzas, trazendo o ideal de um povo transformador, que se en caixaria perfeitamente no modelo de um espaço público bem utilizado para Goura. Um lugar onde houvesse a produção do próprio alimento, uma redução do lixo gasto individualmente, um deslocamento de forma sustentável e espaços onde as pessoas se sentissem livres para interferir construtiva e positivamente. Quem sabe aquele anônimo de cabelos grisalhos não esteja certo num aspecto: a rua é nosso quintal.
Nas ruas do Largo da Ordem, o homem que lê.

CAOS NO ^

TRAN SI TO
Chuva fina, barulho de buzina. Curitiba amanhece
Helena Comninos; Marcela Carvalho; Maria Fernanda SchneiderO homem sempre usou seus pés como for ma de locomoção. Com o decorrer dos anos, algumas invenções tornaram o deslocamento humano mais rápido. É o caso da roda, que depois daria origem a bicicletas e carros. Além disso, eram necessárias estradas de qualidade, que surgem com a construção dos grandes impérios. Na Grécia Antiga, aparecem os primeiros relatos de engarrafamentos, já que a largura das ruas era insuficiente para o nú mero de pessoas e veículos. Mais de 240 anos depois, os meios de locomoção lutam por espaços nas ruas das metrópoles e o trânsito harmônico torna-se utopia para quem busca alternativas viárias.
Dados de 2013, do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar do Paraná (BPTran), indicam que mais de seis mil acidentes ocorreram no estado. Sem contar com óbitos, o trânsito deixou quase 5.400 pessoas feridas.
Segundo Antônio Miranda, coordenador do plano cicloviário do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), o egoísmo ainda é a característica predomi nante no trânsito. “O engarrafamento nada mais é do que a busca por uma oferta im possível, que é quando você almeja fazer um deslocamento em um determinado tempo e todos ambicionam atingir o mesmo objetivo. É impossível porque não há como todos faze rem isso ao mesmo tempo”, relata Miranda.
O IPPUC, diante das necessidades, busca adaptar-se a novas leis e estratégias de trânsito. Segundo o coordenador, “o IPPUC refor ça o transporte coletivo para evitar engarrafa mentos de horas, também incentivamos o uso de bicicletas, pois elas são a oportunidade de fazermos mudanças”. Projetos como a melho ra de ciclovias, ciclofaixas e a criação de vias calmas (diminuição da velocidade de uma via para a melhor circulação de bicicletas), tam bém estão sendo implantados em Curitiba, segundo Miranda.

“O engarrafamento nada mais é do que a busca por uma oferta impossível.”
Antônio Miranda, coordenador do plano cicloviário do IPPUCFiscalização

Em uma cidade com aproximadamente 1 848 943 habitantes, a fiscalização no trân sito nem sempre é tarefa fácil. Segundo Caio Lopes Clem, responsável pelo departamento de informações da Secretaria Municipal de Trân sito de Curitiba (Setran), os agentes buscam sempre atuar da forma mais correta. “Fiscalizar motoristas é mais fácil. Pedestres e ciclistas são um pouco mais complicados. Para o motorista existem políciais de trânsito, em casos de paradas irregulares, por exemplo, e radares para controlar a velocidade. Já paraciclistas e pedestres, o controle é feito por meio da educação de trânsito, com folders e adesivos”, explica Clem. Para o funcionário, todos têm culpa no trân-
sito. ”Ás vezes é problema da prefeitura, falta sinalização e semáforos para pedestres. Mas o ser humano é responsável por muita coisa tam bém. O ciclista não pode andar nas canaletas e calçadas, o pedestre deve atravessar na faixa e os motoristas precisam respeitar o limite de velocidade, por exemplo”, afirma Clem. Depois de mais de dois séculos de existência, os meios de locomoção deixam de ser solução e tornam-se problema nas grandes cidades. Além do trânsito, a poluição do meio ambiente também agrava a situação. Faz-se necessário, portanto, inverter a ordem lógica e deixar de lado os carros para voltar a andar a pé, como no princípio.
QUEM
AMANDA OLIVEIRA
LARA STARLING


DUANE KÜRTEN Motorista Ciclista Pedestre
“ SÃO PREOCUPAÇÕES EX
TRAS E NEM SEMPRE ES TAMOS LIGADOS, PORQUE É DIFÍCIL ESTAR PRESTAN DO 100% DE ATENÇÃO EM TUDO.”

“Os pedestres nem sempre respeitam o sinal, o que causa muitos acidentes. Uma vez tive que frear bruscamente quando um pedestre atraves sou no sinal vermelho e quase ocasionei um acidente com os carros que estavam atrás. Os motoristas já têm que tomar cuidado com tudo o que está acontecendo a sua volta, quando tem um pedestre que atrapalha ou se joga na frente do carro fica ainda mais difícil. São preocupações extras e nem sempre estamos ligados, porque é difícil estar prestando 100% de atenção em tudo.”
“Me sinto ameaçada no trânsito. É muito comum os motoristas passarem a 50 centímetros de mim enquan to compartilho a faixa com eles. Sem esquecer dos sem escrúpulos, que buzinam pra mexer com as meninas. Eu acredito na cultura de prioridade efetiva para pe destres e ciclistas. Abrir mão dessa falsa necessidade absurda
“ME SINTO AMEAÇADA NO TRÂNSITO. É MUITO COMUM OS MOTORISTAS PASSAREM A 50 CEN TÍMETROS DE MIM EN QUANTO COMPARTILHO A FAIXA COM ELES.”
de possuir um automóvel parti cular, e essa mudança deveria partir de políticas públicas de infraestrutura e campanhas de conscientização.
“Como pedestre, nunca tenho vantagem nas ruas de Curiti ba. Quando desço em algum
“OS CARROS SÃO OBRI GADOS A PARAR PARA QUE OS PEDESTRES POS SAM ATRAVESSAR, MAS NEM ISSO ELES RESPEITAM.”
tubo de ônibus, por exemplo, existe uma faixa de pedestres para que eu possa completar a travessia até a calçada. Os carros são obrigados a parar para que os pedestres possam atravessar, mas nem isso eles respeitam. Quando vou atravessar a rua e o sinal está quase abrindo, várias vezes alguns motoristas não me deixam nem completar a travessia. É uma situação de total insegurança para quem está atravessando a rua.
CIDADE EM TRANSFORMAÇÃO
Mudanças no espaço reservado para as obras da Copa do Mundo já renderam muita dor de cabeça para os antigos e atuais moradores da região. A falta de planejamento marca o período de transformação.
Por Ana Beatriz Villas Bôas Bruna Mazanek Lucas PrestesCuritiba se tornou um canteiro de obras, e não é só o trânsito que sai prejudicado com essa situação. As pessoas que moram, ou moravam, nas proximidades da Arena da Baixada são as mais afetadas por todas as modificações que são realizadas nessa região em decorrência da Copa do Mundo.
O maior empecilho da obra do estádio está nas desapropriações. Seria esta um direito legítimo em nome de “um bem maior”? Edival Pereira, do Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), afirma que, perante a lei, o interesse coletivo se sobrepõe o interesse público, e como a Copa 2014, supos tamente, é de interesse coletivo, a desapropriação se faz legítima.

A permissão para essa retirada também
está na legislação, e faz parte do planejamento urbano, que é, de acordo com a arquiteta e ur banista Gislene Pereira, a “definição de regras para o atendimento dos interesses de diversos agentes, mas, principalmente, dos dominan tes, de forma a garantir um desenvolvimento que priorize a qualidade de vida”.
O planejamento mais recente da ca pital mostra que a área da Arena da Baixada é um espaço esportivo, entretanto, essa legisla ção foi alterada quando já havia casas, tanto as que sofreram desapropriação quanto as que continuam lá.
Segudo Pereira, as estratégias utilizadas nas obras para reduzir os transtornos, como, realizá-las no período noturno ou durante os finais de semana, são pouco viáveis, pois são
depois
de maior custo, comparado às obras feitas em horário comercial. “Além disso, em regiões residenciais, obras no período noturno inco modam a paz dos moradores”, explica.
O barulho das obras incomoda resi dentes que não foram retirados de suas casas. É o que conta Claudia Picone, publicitária que morava em uma das ruas de acesso ao estádio e se mudou devido às obras. “Eu tenho um filho pequeno, e os barulhos nos atrapalhavam muito. Além disso, não posso nem imaginar os transtor nos durante a Copa. Não íamos conseguir nem sair de casa nos dias de jogo.”
Victoria Cezimbra, moradora em um apartamento na Avenida Getúlio Var gas, cujas moradias não sofreram ameaças de retirada, conta que parte do terreno do prédio no qual reside foi desapropriado. “Os mora dores estão sendo indenizados por isso. Uma mixaria!”, conclui.
O que se espera agora é que o can teiro de obras traga reais melhorias para a capital paranaense e que todo o transtorno valha a pena.
As imagens mostram a de sapropriação de casas em torno do está dio durante as obras da Arena para a Copa 2014.

MUDANÇA DE PLANOS
A Prefeitura da cidade de Curitiba, anunciou em sua página no Facebook que os espaços não utilizados das desapropriações para a Copa do Mundo irão virar uma unidade de saúde do pro grama Mãe Curitibana, que oferece qualidade no atendimento à gestante e à criança Ainda de acordo com a prefeitura, as obras terão início assim que o espaço for entregue. Ao rece
berem a notícia, os internautas tiveram opiniões diversas, houve pessoas que apoiaram a iniciativa e parabenizaram a prefeitura, já outras disseram que a unidade é apenas uma maneira de esconder os erros e o desvio de dinheiro da Copa. Claudia Rocha aproveitou para contestar, “Vi circularem imagens indignantes do Rio, mas daqui ninguém falou nada. Ocorreu de forma tranquila ou só escondida mesmo?”
O novo que se cuide
A onda vintage e retrô vem conquistando muitos adeptos e chamando a atenção dos mais variados grupos. Será que todos eles sabem a diferença entre essas duas tendências?

Podem começar a tirar a poeira da vitrola da vovó e os casacos antigos do baú: o velho virou moda, ou melhor, o vintage. A palavra existe desde o século 18 e costu mava ser utilizada para representar o ano em que um determinado vinho era criado. Porém, ao longo dos anos, seu significado foi sendo alterado e passou a incorporar o vocabulário da moda para nomear estilos de objetos per tencentes a uma outra época. Ou seja, todas aquelas peças que tiverem mais de 20 e menos de cem anos são consideradas vintage. Mas, ao contrário do que todo mundo pensa, essas peças não são tão fáceis de serem encon tradas. Não é todo objeto que está encostado há algum tempo em um canto que é vintage.
“A dificuldade de achar peças antigas já é uma coisa, achar peças antigas que sejam bonitas é outra coisa, assim como de tamanho legal e em bom estado de conservação. Aí que é o porém da coisa, né?”, diz um dos proprietários do Libélula Brechó, Ricardo Gomes Savae. Além do mais, esse estilo não é para todos. “Tem também que ter bom gosto, né? Uma visão diferente de se vestir primeiro”, conta. Mesmo assim, ele ainda prefere o estilo: “Com certeza, o charme maior está em como a peça se conserva até hoje, como ela foi feita. Parece que ela foi feita agora.” E ele faz uma ressalva: “Vintage é uma caixinha de surpresa. Cada peça que você olha parece ter um brilho próprio”.
Aprendi com o vovô
O hábito de ter objetos antigos vem de família na casa de Felipe Mari, estudante de Medi cina, que com 8 anos de idade viu seu irmão mais velho ganhar do avô uma espada de ca pitão de 1958. Desde então, ele se tornou um aficionado por objetos colecionáveis e, prin cipalmente, vintage. Ele, geralmente, compra pela internet, mas também frequenta sebos, lojas de antiguidades, vendas de garagem e até mesmo seus familiares e amigos, sabendo de sua fissura, contribuem com a coleção. Aliás, não é apenas uma coleção de coisas antigas e inúteis – ele garante que faz uso de todos os objetos que possui. “Um álbum de figurinhas que fica guardado, e às vezes é folheado, está sendo usado, ain da que seja uma coleção”, diz. Além disso, o preço não depende apenas do material ou da raridade, o valor sentimental também con ta muito na hora de adquirir algum artigo. “Um item curioso ou que não pude possuir na infância é o que me motiva a pesquisá-lo e
Felipe
encontrá-lo no melhor estado possível. É um sentimento de conquista.” Como toda raridade, esses produtos vintage têm um preço elevado. Qual seria então a opção para quem deseja, mas não tem poder aquisitivo para possuir esses objetos? O mercado cultural trouxe uma solução viável: o retrô. São produtos com apelo antigo apreciado pe los consumidores em fabricações atuais. A estudante de moda Caroline Novak é o exemplo perfeito dessa inovação... que a transformou em uma bonequinha dos anos 70. “Eu gosto do apelo retrô, não tenho condição financeira pra comprar muitas peças vintage porque essas peças são difíceis de conseguir, mas toda vez que eu vou comprar uma roupa, eu vou atrás daquilo que são as minhas referências, que é o apelo retrô.” O mais legal dessa moda, de acordo com Caroli ne, é a possibilidade de resgatar o desconheci do, ou seja, trazer para o presente épocas que não foram vivenciadas. “Às vezes você tá tipo
Acima, o Mercado de Pulgas, loja de produ tos vintage e, abaixo, Certas Coisas Vintage, que vende produtos retrô.




num dia ‘ah, eu quero ser o Mick Jagger’, en tão vamos ver alguma coisa relacionada a ele no meu armário, então eu me sinto o próprio Mick Jagger.”
E o retrô?
No entanto, o cres cimento do mercado tem exigido sua especialização. Sabbag Neto percebeu essa opor tunidade e criou a Certas Coisas Vintage que, apesar do nome contraditório, já que vende apenas produtos retrô, contém itens para presentes e decoração. O próprio proprietário se diz adepto ao estilo retrô e não vintage. “Quando as pessoas querem dar um presente, querem dar uma coisa nova. Não querem dar uma coisa usada, que precisa de reparo”, comenta.
Mas não é todo mundo que concorda com Netto. A equipe da CDM foi conhecer o depósito do Caçadores de Relíquias, uma loja virtual que se tornou popular tanto no ramo comercial quanto artístico. Adriano José Viana, antes advogado, transformou seu hábito de co lecionador em seu trabalho, e passou a vender objetos dos mais variados gêneros,vintage e até mesmo antiguidades. Ele afirma que existe, sim, mercado, inclusive para produtos danifi cados. “Claro que ele também não pode estar completamente infestado de cupim gordo, mas isso porque tem pessoa que gosta de restaurar. Porque todo mundo tem que ter seu passa-
tempo, né? Acho que todo mundo tem que ter uma válvula de escape.”
Essa renovação de estilo tem crescido de maneira expressiva em todo o mundo e muita
Caroline Novak, estudante
gente acaba se perguntando qual razão disso. Segundo Caroline, as gerações atuais não têm uma perspectiva de futuro, pois tudo já foi inventado. Assim, buscam novidades no passado.
“Já tem TV que fala, carro eletrônico, então acho que já existe tudo. As pessoas não têm uma perspectiva de futuro e daí elas se apegam e querem resgatar aquilo que elas não tiveram”, explica.
Outro fator curioso é que esse público, que vem crescendo exponencialmente é, na maio ria, jovens. A Joaquim Livraria e Sebo, especia lizada em livros das áreas artísticas, humanas e vinis de rock e MPB, tem um grande número de frequentadores jovens. “Tem todo um público que é colecionador e tem todo um público, principalmente jovem, que acaba descobrindo na casa dos pais, dos tios ou dos avós, os aparelhos de vinil e mesmo os vinis que eventualmente estão guardados lá. Então esse público está cada vez mais interessado”, finaliza.
“As pessoas não têm uma perspectiva de futuro e daí elas se apegam e querem resgatar aquilo que elas não tiveram.”
A equipe da CDM fez a feira atrás dos preços dos produtos mais cobiçados por aqueles que querem uma pitada de retrô e vintage em suas vidas.

SA CO LÃO
Máquina de escrever
A primeira máquina de escre ver patenteada foi concebida na Inglaterra, em 1713, para o inglês Henry Mills. Ela foi muito utilizada antes, e até mesmo no começo da era dos computadores. O preço pode variar entre R$ 50 e R$ 900, dependendo do estado, da raridade e, é claro, do fato de que ela pode funcionar ou não.
Serviço
Vitrola
A vitrola era o objeto de de sejo dos que possuíam um poder aquisitivo alto. Ficava, geralmente, ao lado do piano da família, que passava o tempo ouvindo mú sica. Na internet, é possível comprar uma usada e vintage por R$ 300, mas algumas novas, versáteis e com tecno logias do século XXI, como entrada USB e a possibilidade de se ouvir tanto um CD quanto uma fita, passam dos R$ 1 mil.


Câmera analógica

Surgiram no final do século XIX por meio de George Eastman, fundador da Kodak Company. Eastman criou um dispositivo simples e de fácil acesso, o que resultou em uma grande difusão de câmeras durante o século XX. Como há um amplo merca do, com vários modelos, os preços variam muito. Uma polaroid, por exemplo, pode custar entre R$ 80 e R$ 500.
Libélula Brechó. Rua Mateus Leme, 291 - São Francisco, Curitiba. Tel.: (41) 3082-8632 www.facebook.com/libelulabrecho | Ca çadores de Relíquias Curitiba. R. Padre José Lopacinski, 755 - Jd Gabineto, Curitiba. Tel.: (41) 3088-6202 www.reliquias.net.br | Certas Coisas Vintage. Rua Rocha Pombo, nº 843 - Juvevê, Curitiba. Tel.: (41) 3359-1960 certascoisasvintage.com.br | Joaquim Livraria e Sebo. Rua Alfredo Bufren, 51 - Centro, Curitiba. Tel.: (41) 3078-5990 www.facebook.com/JoaquimLivraria | Mercado de Pulgas Curitiba. Rua 24 de Maio, 765 - Rebouças, Curitiba. Tel.:(41) 3225-5017 www.mercadopulgas.com.br
Espelho, espelho meu, existe alguém mais sarado do que eu?
O corpo definido das maiores celebridades e o estilo de vida perfeito das instagra mers, simbolizam tudo o que você já sonhou sobre a felicidade?
Por Beatriz Pacheco e Mariana PapiSSessenta e cinco quilos distribuídos em 1,64 m e muitos músculos. Essa é D.K, que nem de longe parece a esbelta menina de 23 anos que um dia foi. Suas costas ago ra cobertas por espinhas e as coxas inchadas revelam o que mais tarde seria admitido pela própria jovem: o uso de anabolizantes. Em sua busca, D.K. introduziu os esteroides em seu ritual de construção daquele que considera o corpo perfeito.
Hoje aos 25 anos, cerca de um ano e meio após o início do primeiro ciclo de uso da substância, ela perdeu as formas delicadas e torneadas e passou a ostentar uma silhueta bastante robusta e viril. “Desde o ano passa do, já ganhei seis quilos de massa magra, mas não tenho medo das consequências, pois uso uma dose muito baixa, apenas 10 miligramas”, gabou-se.
A educadora física Dáfine Zielinski, no entanto, refuta o discurso de D.K., ao alertar os perigos do uso de anabolizantes. “Não existe medida segura quando se trata desse tipo de método para ganhar músculos. Os hormônios
sintéticos são indicados apenas em casos de diagnósticos graves, como a deficiência na produção biológica de testosterona e, quando do ganho rápido de massa muscular, depende a vida do indivíduo. Mesmo assim, deve haver acompanhamento de uma equipe profissional e médica em todos os momentos do tratamen to, que geralmente tem a duração de poucos meses e lança mão de doses de cerca de três miligramas”, afirma Dáfine.
Nos últimos anos, ganharam destaque na mídia nacional casos trágicos do abuso de anabolizantes e outras substâncias ilegais, como hormônios para cavalos ou injeção de óleo mineral e silicone diretamente na fibra muscular. Vícios esses que trazem danos irre versíveis aos seus consumidores, tendo como
“Parece clichê, mas vivemos em tempos do ter em detrimento do ser“. Thayane Leonardi
consequências a amputação de membros em função da necrose dos tecidos, arritmia cardía ca, quando não, levar a óbito.
Mas de onde vem essa busca pela perfeição? Para a psicóloga Thayane Leonar dia, a resposta está na explicação de Zygmunt Bauman sobre a pós-modernidade e a efeme ridade que caracteriza as relações interpessoais. “Parece clichê, mas vivemos em tempos do ter em detrimento do ser. Da mesma forma que ostento ao exibir um carro, uma casa, um status social, eu ostento também com o meu corpo. Porque as pessoas param de olhar pra dentro delas mesmas e pensar no sentido que dão para sua existência, para aquilo que dá sentido às suas vidas e precisam do olhar do outro que o confirme como alguém bem sucedido. Estamos numa corrida louca, em busca de padrões pré-estabelecidos do que devemos vestir e ter. Isso se reflete também na nossa auto imagem”, diz Thayane.
Imitar a série de exercícios criados pelo personal training da Carol Buffara, consumir o cardápio da Gabriela Pugliesi, seguir as dicas de treino da Gracyanne Barbosa ou repetir os looks de ginástica da top Izabel Goulart não lhe trarão o corpo de nenhuma delas. Antes de pisar em uma academia ou marcar uma consulta com um nutricionista, é preciso aceitar o seu biotipo. “O que mais vemos nas redes sociais são dicas de dietas para ficar com o corpo definido. O que a maioria das pessoas não sabe é que há
Ilustração: João Papi
um risco enorme nisso. Pegar um cardápio nutricional de outro paciente e adaptar para o seu dia a dia é muito arriscado. Cada corpo reage e funciona de uma maneira única. O que pode funcionar para um tipo de pessoa, para outra, pode causar sérios danos. Se existe a vontade de comer melhor, ficar mais dispos to, ou até mesmo com um corpo mais boni to, deve-se ir a um profissional especializado no assunto, para que possa ser montada uma tabela de alimentos adaptada ao seu corpo”, defende a nutricionista Sandra Silva.
A explosão de perfis em redes sociais que promovem estilos de vida perfeitos mostram ape nas fragmentos da realidade. Essas celebridades do mundo virtual personificam o que todos querem ser e ter.
Com raras exceções, a maioria das pessoas quer ser bonita, popular, bem sucedi da, bem vestida, sarada e bem quista, resumidamente, aquilo que se entende por um alguém feliz. “Elas alimentam esse ciclo do consumismo que vende não apenas objetos, mas ideais e valores. Alguns conseguem absorver tudo isso de forma saudável, outros são absorvidos por esse sistema e se perdem porque acabam tendo prejuízos físicos, psicológicos e sociais”, analisa a psicóloga.
Ilustração: João Papi
LET ME TAKE A SELFIE
Quando malhar vira coisa séria
O físico de Guilherme Juliani mostra que, para ele, a musculação é muito mais do que apenas um hábito saudável, é coisa séria. Depois de deixar de lado a sua carreira na Engenharia Civil, para se graduar em Educação Física e atuar como professor, o jovem de 24 anos é só olhos (e palavras) para sua mais recente paixão: o fisiculturismo. “Treinar somente para mim mesmo já havia se tornado comum e fácil, algo que eu já vinha fazendo há muito tempo. Então resolvi encarar um novo desafio: aumentar a intensidade da musculação e ter resultados diferentes. Assim, pude ingres sar nas competições de fisiculturismo profissional”, conta Juliani.
Segundo o atleta, a rotina não é puxa da, apenas controlada. Estão banidos de sua dieta os vilões: gordura saturada, refrigerantes, doces gordurosos, chocolates e seus derivados. No entanto, Guilherme tem a permissão de se esbaldar em doces à base de farinha integral, sucralose ou geleias feitas somente com frutas. “A pessoa obcecada passa de duas a três horas treinando por dia. Já o meu treino é muito rápido, mas de alta intensidade”, difere. O agora estudante explica que seus treinos duram apenas uma hora e dez minutos. O res tante do tempo, dentro da academia, vem de sua recente atuação na área. Quanto a detectar um possível comportamento obsessivo, Juliani nega reconhecê-lo em sua postura, consideran do-a completamente normal.
Obssessivo, eu?
1. Você já se privou de algo de que goste muito em nome da estética?
SIM NÃO
2. Apesar de malhar muito, você continua achando que ainda não atingiu o corpo que gostaria de ter?
SIM NÃO (estou satisfeito com meu corpo)
3. Você tem um limite diário para a ingestão de calorias? Caso tenha, você fica muito preocupado ao ultrapassar esse limite?
SIM NÃO
SIM
4. Você já deixou de lado algo de que gosta para não atrapalhar sua rotina de exercícios?
SIM NÃO
5. Você fica muito ansioso se não consegue ir à academia mesmo durante uma via gem?
SIM NÃO
6. Já fez ou faz uso de ana bolizantes ou suplementos sem indicação de um profis sional?
SIM NÃO
PARA QUALQUER UMA DAS PERGUNTAS
1 A 3:
Cuidado! Você anda se privando demais de viver as coisas boas da vida. Nada muito preocupante, apenas fique atento para não abrir mão do que gosta em nome de um ideal ina tingível. Aquele pedaço de bolo do aniversário do seu amigo não é o responsável pelos pneuzinhos a mais. Deixe-o em paz, ele (sozinho) não tem culpa de nada!
SIM PARA QUALQUER UMA DAS PERGUNTAS
4 A 6:
Atenção! Você já está sacrificando uma parte muito impor tante em nome de um corpo sarado. Ser a próxima Sabrina Sato ou o Vin Diesel não é tudo na vida. Você pode ter o corpo que satisfaz, só não precisa ter pressa. Quando ir para a academia é mais importante que sair na sexta-feira à noite, ou quando seus músculos são mais valiosos que sua saúde, procure ajuda profissional com urgência. Você pode estar trilhando um caminho sem volta.
Guilherme Liça
Mulheres repudiam as cantadas recebi das em locais públicos e apoiam cam panha contra o assédio dos homens
Amanda Bedide Guilherme Liça Hellen Ribaski

Quem não conhece a clássica cena da mulher passando em frente a uma construção e se tornan do alvo de diversos olhares e cantadas dos profissionais envolvidos na obra? É uma realidade constante na vida de muitas mulheres, a qual quer momento e em qualquer lugar, deixando-as constran gidas, irritadas e sem reação. Histórias do tipo são o que não faltam. Para a jornalista Luciane Belin, atravessar a rua para fugir das cantadas dos homens, que trabalham no estacionamento ao lado do seu escritório, foi sua primeira reação à incômoda situação. “Depois de um tempo, decidi que eu não deveria mudar o meu caminho apenas porque esses homens não têm respei to. Mudei minha reação, ame açando-os com um processo”, conta.
O assuntou gerou uma grande repercussão recentemente, a partir de um levanta mento equivocado feito pelo Instituto de Pesquisa Econômi ca Aplicada (Ipea), do governo federal, que, em um primeiro momento divulgou que 65% dos brasileiros pensariam que a roupa utilizada pelas mulheres justifica o ato do assédio, quan do não o estupro, sendo que
o dado correto é de 26%, conforme divulgado nove dias depois. Em forma de protesto, movi mentos feministas aderiram à campanha “Eu não mereço ser estuprada”, na qual muitas pessoas, entre elas artistas, políticos e até a presidente Dil ma Rousseff, inconformadas com tal resultado, demonstraram sua indignação com fotos e textos divulgados em redes sociais e outros meios de comunicação, estampando a frase da campanha.
Antes da realização dessa pesquisa e de toda a movimentação recente, a revolta da jornalista Juliana de Faria fez com que ela idealizasse a campanha “Chega de FiuFiu”, em abril de 2013. Segundo uma das colaboradoras da campanha, Luíse Bello, a cantada tem um falso disfarce de “elogio”. “O assédio era um assunto ignorado, um monstro invisível. Mas nosso objetivo é mostrar que ele existe e que toda mulher tem o direito de ir e vir, com a roupa que quiser e a hora que quiser, sem ser tratada como algo público”, afirma.
O tema da campanha está de acordo com uma das pautas do feminismo, o repúdio às cantadas. Segundo uma das participantes desse movimento, Stephanie Back, as cantadas são fonte de uma cultura machista impregnada na nossa sociedade. “Essa é uma das maneiras que os homens usam para dominar, humilhar e constranger as mulheres. Mas eles precisam aprender que as mulheres não gostam, por isso, nós temos que repreendê-los”, diz.
Somente quando as agressões verbais partem de alguém que tenha algum grau de parentesco ou de um superior hierárquico, que a mulher pode recorrer à Delegacia da Mulher e abrir um inqué rito policial. “Quando o assédio sexual parte de um desconhecido, nós encaminhamos o procedi mento para o local correto dar sequência ao caso”, informa a delegada Iara Laurek Dechice.
Cantada afinada
Mostrar interesse é diferente de cantar uma mulher. Ainda existe a chance de conhecer pessoas legais em lo cais públicos e começar uma conversa de forma natural e nada agressiva. Como o caso do estu dante de História Wesley Veiga, e da acadêmica de Filosofia Thays May.
Nesse início de romance, a história em quadrinhos que a moça de cabelos roxos estava lendo dentro do ônibus foi o que mais chamou a atenção do rapaz. “Sentei ao lado dela e acompa nhei a leitura durante todo o caminho, e, quan do chegamos ao destino final, não pude deixar de perguntar quem era ela”, conta Wesley. Depois da pequena conversa, eles trocaram os números de telefones e se conheceram melhor. “Continuamos a conversar, percebemos as nossas afinidades e as coisas simplesmente foram acontecendo”, conclui o casal de namorados.
Eles nos entendem
Estudo mostra que os melhores amigos do homem reagem e compreendem ações e ordens determinadas
Alguns cachorros entendem até quando estão sendo fotografados.

Um mapeamento realizado por pes quisadores húngaros colocou 11 cães para realizar uma ressonância magnética e descobriram que o cérebro humano e o dos cães reagem da mesma maneira ao escutarem sons. De acordo com o site da BBC, do Reino Unido, 200 sons diferentes foram tocados para voluntários humanos e cachorros de estimação, e o lobo temporal, parte do cérebro responsável pela função de processar estímulos
auditivos, corresponde da mesma maneira para ambos. Alguns outros estudos também apon tam que os cães entendem diversas palavras e o que queremos dizer quando apontamos para algum objeto.
A estudante Amália Campos é dona do Neguinho José, um cão sem raça definida resgatado das ruas em maio de 2011, e garante que as expressões do seu companheiro conseguem traduzir diversos sentimentos. “Mo
ramos só eu e ele e conversamos várias vezes ao dia, o tempo todo ele fica me olhando e mexendo as suas sobrancelhas como se estives se realmente respondendo. Ele responde vários comandos, mas acho que o mais engraçado é a reação dele perante às minhas expressões corporais. Se eu paro na frente dele e o encaro, ele conclui que fez algo errado e já faz cara de cachorro sem dono”, finaliza.
Comportamento
Com base no seu trabalho de conclu são de curso, cujo tema foi “Efeitos fisiológicos e comportamentais em cães sob a influência da socialização”, a veterinária Stephanie Paola Sousa afirma que muitas pessoas adquirem um animal, mas desconhecem ou esquecem das reais necessidades biológicas e físicas do cão.
“A capacidade de assimilação vai aumentar conforme a raça.”
A compreensão dos cães é 80% visual e 20% verbal. É o que afirma o adestrador André Santana, que está na área há mais de dez anos. Para ele, os cachorros associam o gesto com a palavra, ou seja, você precisa mostrar o que você está querendo dizer. “A capacida de de assimilação vai aumentar conforme a raça, e entre as mais suscetíveis está o border collie, poddle, pastor alemão e rottweiller”, diz Santana.

“Muitos proprietários acabam tendo pouco tempo para interagir com seus animais e isso pode resultar em problemas comportamen tais”, afirma.
Desde filhotes os animais criam laços sentimen tais com seus donos
Assim, o comportamento de um cão está diretamente ligado à personalidade de seu dono, que define a educação desejada com base nas suas necessidades e condição de vida. A inteligência animal não é diferente da hu mana, é apenas expressada de maneira diferen te e vinculada a de seu proprietário.
“É só uma palmada?”
A Lei da Palmada foi criada para abolir a “palmada pedagógica”

Acriação da Lei da Palmada é considerada um avanço na legislação que protege as crianças e os adolescentes e presume a mudança da lei 8.069, de 1990, que assegura “o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos corporais ou de tratamento cruel ou degradan te”, segundo texto do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
A conselheira tutelar Fátima Lima relata que, no entanto, até o momento, a iniciati va da lei não mudou os índices de violência. “Apesar de não ter diminuído os índices, o nú mero de denúncias aumentou e a mais comum é a de agressão física”, afirma.
Um levantamento feito pelo Instituto Pa raná Pesquisas, em 2010, revelou que nove em cada dez pessoas já apanharam e 70% admi tem utilizar o mesmo método nos filhos.
Parte da população é contraria ao projeto de lei, pois reaplicam os castigos físicos nos filhos. A pesquisa apontou, ainda, que os pais acreditam que a palmada é justificável quando os filhos nao obedecem (44%) ou sao mal educados (37%).
Maria Aparecida Sotta conta que sofreu castigos físicos quando era criança e que isso nao a prejudicou, seja em aspectos físicos ou psicológicos. “Minha mãe me deu algumas palmadas e uma vez meu pai me bateu de cin ta. Nao foi por isso que cresci traumatizada.
Acho que os castigos físicos podem ser usados para ensinar as crianças”, avalia. Especialistas no assunto acreditam que a palmada não educa. Segundo a psiquiatra infantil Alice Koch no consultório é comum ouvir os pais justificando que sofreram pal madas quando crianças, mas mesmo assim se consideram pessoas corretas para os padrões da sociedade. “No consultório, é comum ouvir dos pais a seguinte frase: “Eu apanhei quando era criança e hoje eu não sou bandido, tenho minha profissão, meu trabalho e minha famí lia”, comenta.
Para Alice, mesmo que as agressões não deixem marcas físicas, as marcas psicológicas são inevitáveis. “As agressões têm repercussão sobre a autoestima da criança, seus vínculos afetivos, padrões de relacionamento e senso de justiça e respeito ao próximo”, diz.
Após a denuncia, são averiguadas as provas e, quando comprovadas agressões, tais como palmadas, beliscões ou xingamentos, os filhos são encaminhados para programas de proteção a família e, em alguns casos, para tratamento psiquiátrico. Médicos, professores e funcionários públicos que souberem do fato e não comunicarem as autoridades poderão pagar multa de até 20 salários mínimos.
O Projeto está aguardando Designação de Relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC).
Do alicate industrial
ao de unha
O
Rótulos de profissões masculinas e femininas rompem estereótipos e provam que competência não depende de sexo, mas de vocação e persistência
Por Roberta Gonçalves

s trabalhadores da construção civil, na década de 1970, já foram fon te de inspiração de grandes poetas brasileiros. Naquela época, bombava a música “Construção”, de Chico Buarque, em ver sos que diziam “Beijou sua mulher como se fosse a única”, além do poema “Operário em Construção”, do saudoso Vinícius de Moraes. Quase 50 anos depois, as obras de Chico e Vinícius já poderiam ser consideradas ultra passadas.
Marineide de Araújo, 39 anos, aluna dos cursos de alvenaria e PVC concretável, da empresa Mulheres que reformam, que o diga: “Soube dos cursos por uma associação de habitação popular que tem perto da minha casa. Fiz minha inscrição e já participo das aulas há mais de um ano. Nós somos mais detalhistas e caprichosas, os próprios clientes falam isso!”, gaba-se. Ela faz parte de um projeto desenvolvido pelo Instituto Construa, de São Paulo, que propõe mão de obra 100% feminina para a Construção Civil. Todos os cursos são gratuitos e encaminham as alunas, após a conclusão das aulas, para o mercado profissional. Dados do Ministério do Trabalho revelam que, entre 2000 a 2010, o número de trabalhadoras na construção civil cresceu 65%. As mulheres desempenham, principalmente, serviços de acabamento, fase em que o capricho e os detalhes, destacados por Araújo, são fundamentais.
Valquíria Renk, professora da PUCPR, há um consenso de que a sociedade tende a aceitar essa inversão dos gêneros ao longo dos anos.
E nessa “dança das cadeiras”, eles também invadem o espaço delas. Adauto Passos, 30
anos, até que tentou, mas acabou se rendendo à paixão pelas unhas: “Já tentei ser enfermei ro, atendente de vídeolocadora, cobrador de ônibus, vendedor de floricultura. Mas só me realizo mesmo sendo manicure”, afirma. Funcionário de um salão de beleza no bairro Portão, em Curitiba, ele admite que, no come ço, não foi fácil, mas aos poucos foi ocupando seu espaço: “Quando comecei a trabalhar aqui, as clientes nunca tinham visto um manicure masculino, até tinha um pouco de rejeição, e mas depois foram me aceitando mais”. Passos diz que sempre teve um bom relacionamento com os colegas de trabalho, que o acolheram tranquilamente. Ele se diverte ao lembrar da resistência de algumas clientes: “Sempre que chega uma senhora idosa, ela diz: ‘Ah, mas é um homem que vai fazer minha unha, não tem uma moça?’”
Bem humorado, ele garante que isso não o constrange e afirma que entende o estranha mento. No entanto, passada a primeira im pressão, a maior parte das clientes torna-se fiel a seus alicates. Milena Stella, cliente de Adauto há mais de dez anos, diz que a agenda do manicure é disputadíssima e que não o troca por nenhum outro profissional: “Ninguém tira as cutículas como ele, e é difícil marcar horário, no mínimo dois meses para conseguir uma vaga, é quase uma loteria”, avisa. E para aque
Para
les que pretendem trocar o alicate industrial pelo de unha, Passos revela os pré-requisitos: “Precisa ter sensibilidade para ouvir e dividir os problemas que contam para você. Muita gente entra nessa profissão só para ganhar dinheiro. É preciso entender que vamos lidar diretamente com pessoas”, ensina. Para gerar esse relacionamento mais próximo, o manicu re não economiza no tempo de atendimento: “Fico no mínimo 40 minutos, porque tento conhecer a cliente e criar uma identificação para ela voltar.”
Motivos
Valquíria Renk, professora da disciplina de Estudos Sociológicos e Antropológicos, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), observa que as situações mudam na medida em que a sociedade apresenta uma necessidade e que o contexto histórico se manifesta: “A necessidade impinge os gêneros a mudarem de campo de trabalho e a romperem barreiras culturais. Na época das guerras, os homens saíram para lutar nos conflitos, e as mulheres tiveram de ir para as fábricas trabalhar e garantir o sustento da família”, lembra a professora.
Na construção civil, Renk destaca que mulheres ocupam espaços que antes eram predo minantemente masculinos, caso de Marineide Araújo, da Mulheres que reformam. Contudo, a aprendiz de serviços na construção civil diz que, na prática, essa ocupação enfrenta dificulda des: “Por um lado, é inovador, por outro, é um desafio, porque ainda existe muito preconceito”. Confiante, Araújo não se deixa abater, e dispara um dos “mantras” de suas aulas: “Preconceito, a gente vence com competência”, orgulha-se.
A máxima de Marineide é comprovada também por Ana Maria Pacheco, 40 anos, motorista de ônibus da autoviação Redentor, em Curitiba: “Ser motorista era minha paixão desde criança, mas meus pais não deixavam, por eu ser menina”, lamenta-se. Pacheco cresceu, fez sua carteira de motorista, começou a distribuir cur rículos e pouco tempo depois foi chamada para a vaga: “Em janeiro de 2013, a empresa me chamou. Fui aprovada na prova escrita e no teste do volante, desde então, estou atuando”, comemora .


“Já aconteceram situações de o pas sageiro sair do ônibus quando me viu no volante” - Ana Maria Pacheco, motorista de ônibus
“Ser motorista era minha paixão desde criança.” - Idem
No dia a dia, ela relata que já houve situações de o passageiro entrar no ônibus e sair quando a viu no volante: “Faz parte da pro fissão, como motorista, tenho que saber lidar com a máquina e com as pessoas”. Mas, nem todos os constrangimentos foram driblados com tranquilidade pela motorista. Ela lembra dos momentos de tensão que passou no dia em que teve que ser escoltada para transportar a torcida organizada do Coritiba ao estádio Couto Pereira: “Foi terrível, pensei que iam quebrar tudo, mas só agitaram mesmo”.
Mercado de trabalho
A facilidade que Pacheco encontrou ao distribuir seus currículos, contudo, não traduz a realidade do mercado de trabalho, sobretudo, no que se refere à inversão de gêneros. Roberto e Jerusa Vargas, proprietários de uma agência de serviços domésticos em Curitiba, relatam que 99% dos candidatos a diarista são mulhe res: “Tivemos até alguns candidatos homens para essa vaga, mas a rejeição foi muito gran de”, observam. Eles descrevem o perfil dos homens cadastrados em sua agência: “Normalmente, procuram por funções como jardinei ro, caseiro ou motorista; têm idade que varia entre 25 e 55 anos, experiência comprovada e buscam por colocações fixas Questionados se contratariam um babá masculino para cuidar de seus filhos, os agenciadores admitem: “Não faríamos isso, pois nesta função, a mulher gera mais confiança pela delicadeza, pela experiên cia e até pelo instinto maternal.”
A professora reage com naturalidade às declarações de Roberto e Jerusa apresenta hipóteses para justificar tal visão: “Quan do lidamos com o impar do espaço em que
vivemos ou com o alimentar de uma criança, a resistência à figura masculina é muito gran de, e eles desistiram. As mulheres aprendem a cuidar desde a infância. Ganham panelinhas e bonecas com mamadeiras. Por isso, a resistên cia em aceitar diaristas masculinos”, analisa. Valquíria acredita que essas questões referem-se a construções sociais, que se formam ao longo dos anos de uma educação para os meninos e outra para as meninas.
Há um consenso de que a sociedade tende a aceitar essa inversão de gêneros nas profissões, na medida em que os grupos vão conquistando seus espaços. Um maquiador masculino, por exemplo, há algumas décadas, era visto com o mesmo nariz torto com que Adauto é encarado hoje por algumas clientes. As políticas educacionais já discutem questões de gênero, aceitação do diferente e talvez, em um futuro próximo, com a devida licença poética, os filhos de Marineide aprendam a cantar uma versão adaptada a música de Chico Buarque de uma maneira diferente: “Beijou seu marido como se fosse o único”...

“A necessidade impinge os gêneros a mudarem de campo de trabalho.”Valquíria Renk, professora de Estu dos Sociológicos e Antropológicos
OS DESAFIOS DA PREMATURIDADE
Além do transtorno psicológico, pais ainda precisam enfrentar problemas jurídicos e econômicos
Agestação é um período cheio de cui dados com a mulher. A família co meça a preparar o quarto da criança, vive a expectativa de descobrir o sexo do bebê, além de atender todos os desejos da gestante durante os nove meses. Porém, nem todas as histórias saem exatamente como o planejado.
O parto prematuro é cada vez mais frequen te no Brasil. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), aproximada mente 12% dos partos realizados em todo o país acontecem antes da 37ª semana de gesta ção. Os impactos que isso causa na família vão muito além do emocional, trazendo problemas financeiros e muitas vezes jurídicos. As famí lias precisam aprender a lidar com a rotina de visitas na UTI Neonatal, com os custos do tratamento e também necessitam arrumar meios de conseguir os medicamentos de alto custo que o bebê precisa, e o Sistema Único de Saúde (SUS) não disponibiliza. A licença maternidade é outro assunto que incomoda as mães de prematuro, já que os dias desse auxilio começam a contar a partir do nascimento da
criança e não quando elas vão para casa.
Ariane Deziderá Mello conheceu as difi culdades da prematuridade em sua primeira gestação. Bernardo nasceu na 26ª semana, equivalente a seis meses, pesando apenas 830 gramas. O parto, naquele período da gestação, estava longe dos planos da família. “Erronea mente, pensava que a prematuridade era culpa de pais que não têm os cuidados que uma gra videz precisa ter, de acompanhamento pré-Na tal, boa alimentação, enfim, coisas que toda
Número de partos prematuros em regiões do Brail
grávida precisa fazer”, explica. Ariane apresen tou incompetência istmo cervical, problema que faz com que o útero não consiga suportar o peso da criança. Essa deficiência é raramente diagnosticável na primeira gestação. Por conta disso, a mãe de primeira viagem não fazia ideia do que iria enfrentar na sua gestação e após o nascimento do bebê.



“O tratamento de um prematuro é bas tante complexo e demorado. O tempo de tratamento, em geral, dura o mesmo que uma gestação. Prematuros abaixo de 1 kg ao nasci mento necessitam de tratamento em unidade intensiva por cerca de três a quatro meses”, explica a pediatra especializada em doenças da prematuridade, Luciana Perrini. Além do impacto psicológico, os pais precisam lidar com os custos da internação. “O nosso plano
de saúde cobriu tudo, mas vimos casos de o plano não querer pagar a conta da nutrição parenteral, que custava na época R$ 1 mil por dia e, neste caso, era a nutrição de trigêmeos, que foi utilizada por dez dias. E aí, além de todo o sofrimento que já se está passando na UTI, ainda é preciso ir à Justiça para cobrar do plano esses gastos”, conta Ariane.
Licença maternidade
Ingrid Pilantir também enfrentou as com plicações emocionais e financeiras da prema turidade. Sua filha Gabriela, que nasceu com 28 semanas e precisou ficar internada por 215 dias. O prazo da licença maternidade acabou enquanto a criança ainda estava internada, dificultando a presença da mãe nas visitas da UTI e procedimentos médicos. “No meu
Durante os 86 dias que Bernardo ficou internado na UTI Neonatal, seus pais acompanharam diariamente a sua evolução


Quando a prematuridade acontece
A pediatra Luciana Perrini afirma que a prematuridade pode acontecer decorrente de vários fatores:
-Mulheres que já tiveram um parto prematuro anterior. -Grávidas de gêmeos ou múltiplos.
-Mulheres que não realizam o pré-natal.
-Mulheres com obesidade ou baixo peso.
-Mulheres com pressão alta ou pré-eclâmpsia.
-Mulheres que não tem uma alimentação balanceada.
-Em casos de gravidez na adolescência ou idade avan çada.
-A interrupção da gestação antes do inicio do trabalho de parto.
trabalho, eu expliquei a situação, mas eles não estavam muito pre ocupados. Quando chegou perto de ela receber alta, eu fui lá con versar. Já tinha vencido minha licença, peguei duas férias, e uma semana antes de ela dar alta, eu peguei mais 15 dias de atestado. Falei com meu chefe que eu não tinha condições: minha filha
no hospital à duração da licença maternidade comum. “Existe a possibilidade de a mulher conseguir mais tempo de licença, mas nem todas as empresas respeitam isso”, explica a advogada trabalhista Fernanda Heim Weber.
A proposta de lei ainda precisa ser votada em dois turnos pelo plenário da Câmara Federal.
precisava de acompanhamento”, conta. A única saída encontrada pela empresa foi a realização de um acordo, em que Ingrid se demitia, mas com a garantia de receber o seguro desemprego.
A Proposta de Emenda a Constituição (PEC) 58/11 traz a possibilidade de garantir com que a mãe de prematuro per maneça em casa com seu filho o mesmo tempo que a mãe de uma criança que nasceu de tem po gestacional normal. A ideia é que seja acrescido o número de dias que o prematuro ficou
Para Ariane, a obrigatorieda de de extensão da licença faria grande diferença na rotina das mães de prematuros. “Acredito que algo que ajudaria muito seria a aprovação da lei que modifica a licença maternidade para partos prematuros. Fiquei apenas um mês com meu filho em casa 100% do tempo e isso não é suficiente para se adaptar a nova rotina”, afirma. Para que eu pudesse voltar a trabalhar, Ariane contratou uma babá para ficar com o filho.
SUS
Sem condições financeiras de bancar o acompanhamento necessário que um bebê prematuro precisa, muitas famílias recorrem
“O tratamento de um prematuro é bastante complexo e demorado.”
ao Sistema Único de Saúde (SUS) para conse guir essa assistência. A Secretaria de Saúde do Estado do Paraná (Sesa) executa alguns programas para melhorar o acompanhamento das gestações no estado. O mais recente deles é o “Mãe Paranaense”, que visa a reduzir os índices de mortalidade materna e infantil no Paraná. A Sesa foi procurada pela equipe da CDM para comentar a respeito do auxilio que o governo disponibiliza para as mães de bebês prematuros. Até o fechamento desta edição, a secretaria ainda não havia se manifestado sobre o tema.
“EU NASCI PREMATURA”
Ingrid Pilantir precisou da ajuda do SUS para dar continuidade ao tratamento da sua filha, pois o plano de saúde que cobriu os tratamentos da criança durante a internação era bancado pela empresa em que a mãe traba lhava. “Eu fui atrás de especialistas pelo SUS, alguma coisa eles tinham que me dar. Uma amiga da minha mãe me indicou um centro especializado para crianças deficientes. Lá, eles tratam crianças prematuras também, tem tudo que a minha filha precisava”, comenta.
“Minha mãe, Neide Tumelero, não podia engravidar porque tinha ová riospolicísticos, síndrome que altera o ciclo menstrual, e DIU, dispositivo anticoncepcional que impede a fertilização, mas mesmo assim engravi dou. Quando ela foi até o ginecologista, ele queria realizar o aborto por que, segundo ele, a gravidez seria de risco e a possibilidade de o feto, ou ela não resistirem no parto era grande. Mesmo assim, ela procurou outros especialistas e decidiu continuar com a gravidez. Na primeira semana do sexto mês, ela sofreu de uma pré-eclâmpsia, doença comum na gravidez em que a mulher desenvolve hipertensão. O médico decidiu fazer o parto, e no dia 16 de setembro de 1994, eu nasci com 900g. Meus pais tiveram de vender o carro para importar um expectorante, que contribui para a formação do pulmão, e não era vendido no país. Após 73 dias, eu saí da incubadora e fiquei em observação até os 5 anos porque minha saúde era fraca, eu tinha asma, tosse cumprida e bronquite. Hoje, aos 19 anos, tenho boa saúde e nenhum resquício dos problemas anteriores”.





Caro leitor, façamos um trato. Experimen te ficar longe de seu aparelho celular até terminar de acompanhar esta matéria. Você já imaginou passar um final de semana intei ro sem usar o celular? Em casa, no trabalho ou no barzinho, é comum a cena de pessoas fazendo uso de seus smartphones enquanto interagem com o meio real. Afinal, são tantas as funcionalidades e tentações que, cada vez mais, os brasileiros se rendem às tecnologias e praticidades digitais. A questão é, será que não estamos usando demais, sem nem ao menos nos darmos conta dos malefícios disso?
Segundo recente pesquisa do Ibope, no Brasil, o uso da internet perde apenas para o da televisão, quando o brasileiro gasta em média, 3h38 minutos diários de seu tempo útil navegando na web. O número de aparelhos já supera a população do país: são 192 milhões de brasileiros, para 224 milhões de celulares.
A necessidade por estar sempre conec tado e antenado às novidades têm formado jovens cada vez mais dependentes de seus celu lares. A “Geração CrackBerry” como é chama da, não sabe mais o que é aproveitar o tempo útil sem, ao menos, postar nas redes a causa de seu tédio. “Na maioria das vezes é um desejo
de se distrair, tirar o foco de sua realidade, fugir dos problemas, aliviar a baixa autoestima e os sentimentos de impotência, culpa, ansie dade ou depressão”, explica a psicóloga Najara Martins.
A analista de mídia online, Mariana Lima Henning, 29 anos sabe bem o que é isso e considera a internet necessidade básica para sobreviver. “Quando chega uma notificação, já vem a vontade de ver logo, resolver logo. Assim, se eu estou com pessoas, isso atrapa lha. Também traz muito senso de urgência. É
como se eu não tivesse descanso. Se estou online, preciso resolver naquele momento.” Essa necessidade notada não só em Mariana, já tem até nome. “Nomofobia”, é a angústia relacionada à possível perda do celular ou à incapacidade de ficar sem o aparelho por mais de um dia. “Uma vez, em uma viagem para os Estados Unidos, fiquei passeando em uma loja pra poder usar a rede de wi-fi (internet sem fio). Outra coisa que fiz foi
“Na maioria das vezes é um desejo de se distrair, tirar o foco de sua realidade, fugir dos problemas.”
- Narjara Martins, psicóloga
comprar um carregador portátil, porque precisava de bateria no celular.”

O vício chegou a tanto, que a conta dora Thelma Scolar, de 32 anos, em uma via gem de sete dias em um cruzeiro, pagou US$ 27,90 por uma hora de serviços de internet a bordo. Foram R$ 69,75 gastos para saciar a necessidade de se comunicar pela telinha do celular, postar imagens e vídeos. Na visão da socióloga Gilmara Rank, o uso exagerado desse instrumento pode vir a prejudicar o con
vívio com as pessoas reais porque elas vivem em um ambiente virtual afetando assim não só o bem estar psicológico, mas o social. “Acaba sendo uma fuga da realidade conflitante e de seus problemas pessoais”. Caso completamente contrário é o que vive a estudante de direto de 19 anos, Ana Maria Garcia. A jovem só usa o aparelho (a que considera mais como “bugiganga”), para funções essenciais como ligações e mensagens. “Tem vezes que eu até esqueço de carregar o
celular, não sei se é porque meu inconsciente rejeita isso de ficar dependente de tomada, ou porque simplesmente sou esquecida. Mas já fiquei uma semana sem celular e, realmente, nem percebi.” Quando precisa falar com al guém, pede emprestado. A família também já acostumou. “Todos os meus amigos, e eu digo todos mesmo, ficam constantemente olhando seus smartphones para fazer qualquer coisa. Se estamos comendo algo em um restaurante ou estamos bebendo uma cerveja em um bar, lá estão os aparelhos, e é bem chato isso. O celular está sempre na mão ou do lado, nunca no lugar onde ele deve estar: no bolso ou na bolsa.”
A psicóloga Narjara reforça, que o uso da internet e do celular é saudável para as pes soas, até o momento em que elas não se prejudicam em outros setores de sua vida pessoal, como trabalho, relacionamentos, estudos e lazer. Nesses casos, uma boa saída é tentar abandonar, aos poucos, o vício, ou nos casos mais graves, tentar sessões de terapia.

Um alerta e atenção especial ainda é com relação também aos pais, que são os gran des responsáveis pela formação da “Geração CrackBerry”. O índice de dependência é entre os adolescentes de 9 a 16 anos, sendo duas vezes maior do que os adultos (acima de 16 anos). Se gundo Narjara, eles não têm as capacidades cognitivas e emocionais necessárias para se controla rem, porém é quase que impossível impedi-los. “Portanto, o aconselhável é o acompanhamento e estabelecimentos de regras e limites pelos pais ou responsáveis.”
Se ao final desta reportagem, você não se rendeu à curiosidade do sinal de notificação, parabéns! Você faz parte dos poucos brasileiros que ainda não se rende ram por completo, ao “mal” da era digital.
Sinais de dependência
O uso da internet é considerado excessivo (análise por um perío do de seis meses)
Tempo
Quando você perde a noção do tempo quando está online ou sempre fica mais tempo do que pretende originalmente/tem necessidade de usar cada vez mais tempo.
Relações
Quando a pessoa já correu o risco de perder um relacionamento significativo, emprego ou oportunidade educacional ou profis sional por causa da internet.
Mentiras
Já mentiu para familiares, terapeutas e outras pessoas para escon der o seu envolvimento com a internet.
Humor
Fica quieto, irritado, mal-humorado ou deprimido quando tenta diminuir ou parar de usar a internet.
Status de relacionamento: Online
Por que as pessoas estão cada vez mais se relacionando por meio de plataformas digitais?
Barbosa e Stephani MantovaneApopularização da internet e os avanços tecnológicos possibilitaram a criação de novas formas de contato entre as pesso as. Com essas novas plataformas, mais usuários se adequaram e criaram perfis em sites de rela cionamento, redes sociais e aplicativos móveis. Segundo a psicóloga Narjara Martins, muitas pessoas passaram a usar sites de relacio namentos para buscar alguém que faça compa nhia, seja como uma simples paquera ou algo mais sério. “Muitas pessoas já sofreram decep ções em relacionamentos anteriores. Conversar com alguém por trás de uma tela faz com que o usuário se sinta mais protegido, seja por timidez, medo ou insegurança”, afirma.
Narjara explica que aplicativos são facilitadores para começar um relacionamento, pois ambas as partes estão interessadas. “A conversa proporciona conhecer o outro melhor. Assim como em relacionamentos nos quais as pessoas se conheceram pessoalmente, o que pode vir a prejudicar é quando, na ansiedade de ser aceita, a pessoa fala só o que o outro deseja ouvir e não dá conta de manter o que foi dito no decorrer do envolvimento”, esclarece.
Aplicativos sociais fazem a cabeça dos jovens

Bruno Kutzke trabalha com sistemas de informação. Ele conta que suas experiências em contatos virtuais são positivas. “Creio que me dou melhor na conquista virtual, pois consigo me soltar mais. A internet dá liberdade para que você seja mais você”, diz.
Regiane Veiga, que é recepcionis ta, conheceu uma pessoa pela internet e marcou um encontro. “Foi bem diferente, era muito mais fácil conver sar virtualmente do que cara a cara. Pessoalmente parecia que não tínhamos assunto, apesar de tantas coisas em comum”, avalia.
Narjara salienta que mesmo que a conversa com a outra pessoa seja boa e você já confie nela, alguns cuidados de vem ser tomados antes de encontrá-la. “Procure conhecer a pessoa em outras redes sociais. Quando resolver que é a hora, dê preferência para encontros diurnos e quando chegar o dia controle a ansiedade para que tudo saia bem”, aconselha.
Números

75% das pessoas disseram se dar melhor em relaciona mentos digitais
75% das pessoas já marca ram encontro
50% das pessoas reco mendam o uso de Apps para encontrar o par ideal
100% das pessoas já men tiram sobre idade ou peso
Meu primeiro encontro
Certo dia uma menina me add no Facebook e eu aceitei. Passamos a nos falar sempre (pela internet). Percebemos que tínhamos muitas coisas em comum. Na época surgiu um novo aplicativo chamado Whatsapp, tirávamos fotos de onde estávamos e conversávamos por áudio... Um dia decidi mos nos encontrar. Marcamos em um parque de diversões perto da casa dela. Nos diverti mos muito...

Na volta do parque resolvi levá-la para casa, mas ela insistiu para que a deixasse há duas quadras de casa... Suspeitei, mas respeitei sua decisão. Nos despedimos e foi a última vez que nos vimos! Talvez ela quisesse sair um pouco de sua vida conturbada, ou se aventu rar. Aquele dia foi e será um segredo nosso!
Adnan Fhelipe Rauchback
Fonte: pesquisa aplicada pela reportagem por meio de questionário respondido via internt.
Em sintonia com a natureza
AComo a yoga gratuita nos espaços públicos tem proporcionado uma nova alterna tiva de estilo de vida para os curitibanos equipe da CDM foi até o Jardim Botânico de Curitiba para conhecer a yoga ao ar livre e relatar a experiência. O dia estava ensolarado. Encontrava-me na companhia de aproximadamente 40 pessoas. Inspirei, expirei. Nunca estive tão em sinto nia com meu corpo. Senti cada músculo que atuava na minha respiração, troquei energias com o sol e ouvi o canto de pássaros – que provavelmente teria passado despercebido. Praticar yoga ao ar livre é uma experiência que vai além do exercício, procura transcender o corpo e a mente e romper com a velocidade da rotina e a desarmonia entre o ser humano e a natureza.

Essa é a experiência que as duas repór teres vivenciaram ao lado das diversas pessoas que participaram do Yoga no Parque, uma associação que começou com a ideia do profes sor Silvio Lopes de proporcionar a yoga para amigos mais próximos nos parques de Curiti ba. Desde 2010, quando começou, a iniciativa vem atraindo mais participantes e ganhando maiores proporções, tornando-se uma ação inédita no país: “A ideia era formar um grupo de praticantes de yoga, mas o resultado foi tão surpreendente que, em pouco tempo, passamos a oferecer algo para a sociedade, contribuindo para o bem estar das pessoas, além de difundir a prática, valorizando a filosofia”, conta Lopes.
Com a popularidade do projeto, a Prefeitura Municipal de Curitiba firmou, em 2014, uma parceria com a associação. Na co operação técnica, a prefeitura cede os espaços e o Yoga no Parque garante as atividades in tegrativas semanais gratuitas à comunidade. A iniciativa não deixa de ser um serviço comu nitário, entre as campanhas promovidas, estão as aulas no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). “Temos que fortalecer a saúde dessas pessoas, que passam por dificuldades causa das pelas drogas e acabam sendo excluídas de todo processo social”, afirmou Marcel Bely, assessor de imprensa da Prefeitura.
Para algumas pessoas, o envolvimento com a iniciativa deixou de ser um lazer para tornar-se uma profissão e fonte de renda. É o caso dos instrutores que começaram a frequentar as aulas nos parques e acabaram re alizando o curso de formação. Maria Fernanda Lima integra o time de nove professores que ensinam a prática aos curitibanos. Para ela, a experiência ao ar livre é muito mais desafiado ra, pois exige um alto grau de concentração,
mas a conexão com a natureza é gratificante. “É muito diferente estar ao ar livre entre mais de cem pessoas em uma prática que preza a auto-observação constante, como é a yoga. Você se sente realmente conectado com si mesmo e com as pessoas ao redor, com a natureza e aquilo o que faz parte do todo”, explica a instrutora.
Outra vertente do Yoga no Parque é a atuação em empresas. As aulas podem ocorrer de duas a três vezes por semana, com duração de 20 a 40 minutos, nas ins talações da própria unidade de trabalho. Cabe à empresa decidir qual o período mais apropriado para a realização do exercício, sendo esta uma oportunidade para dar uma pausa na rotina e voltar para casa com mais tranquilidade.
Serviço: Locais: Parque Barigui – sábados, às 9h. Jardim Botânico – sábados, às 9h. Praça Abílio de Abreu – terças e quintas, às 15h. Mate rial necessário: toalha, canga ou tapete específico para yoga. Não é necessária inscrição.
Alunos aprovei tam a aula gratuita de yoga no Jardim Botânico de Curitiba para se co nectarem com o meio ambiente.

Casa da cerveja
Sucesso de vendas, a bebida é dividida em três tipos, sendo fabricada
Era cervejaria-escola do país, em Curitiba. strela de publicidade, difundida pelos quatro cantos do globo e, principal mente, consumida. Essa é a cerveja, bebida tão querida e muitas vezes vista como protagonista de festividades e, até mesmo, de excessos.
Pois, se adjetivos não faltavam para definir ou julgar a eterna e principalmente popular bebida do malte, poucos imaginavam que estava por vir uma característica não muito imaginável para ela em pleno século 21: gour met, artesanal ou até mesmo com certificado “premium”.
Segundo o relatório do instituto de pes quisa Mintel, logo em 2011, ano considera do como o do “boom’’ da venda de cervejas “premium”, o aumento de vendas do produto no Brasil cresceu em 18%.
Mas, se outrora a quantidade de consumo da cerveja era estimulada, a tendência gourmet da bebida cresce, e não é mais raro encontrar empórios, bares e até mesmo micro-cervejarias que incentivam o consumo responsável e de caráter de desgustação do produto.
É o caso do Clube do Malte, uma das lojas especializadas em cervejas especiais na cidade de Curitiba. Ali, consumidores têm a possi bilidade de experimentar marcas de todas as partes do mundo, que agradam (ou não) os mais diferenciados paladares.
Bodebrown é a primeira cervejaria-escola do Brasil.
Para Pedro Bianchi, sommelier de cervejas da casa, essa tendência cresceu junto com o poder de compra do consumidor brasileiro. ”Assim que o brasileiro teve maior poder aquisitivo, ele teve condições de viajar mais para outros países e de experimentar pratos e bebidas. Com a cerveja não foi diferente”, comenta Bianchi.
Dentro das vastas prateleiras do Clube do Malte é possivel encontrar diversas marcas estrangeiras e produtos de todas as três famílias de cervejas existentes.

A de estilo lager, que origina a subclassificação pielsen (predominante no Brasil), é, por exemplo, uma espécie produzida por baixa fermentação dos ingredientes.
As ales, mais encorpadas e de gostos fru tados, são de alta fermentação. Por último, as lambics provêm de fermentações espontâneas, e podem até se parecer com vinhos.
Premium para quem?
Que o universo das cervejas é muito mais complexo do que o senso comum poderia ima ginar, isso não é segredo. No entanto, a classifi cação premium para cervejas pode causar grande confusão e, muitas vezes, ressaltar o marketing da marca em detrimento do conteúdo.
É o que o degustador Pedro Bianchi ressalta, afirmando que ”podem ser vistas marcas populares de outros países sendo vendidas como produtos de luxo por aqui”.
Samuel Cavalcantti, dono da cervejaria escola Bodebrown, vai ainda mais longe. “Não gosto de classificar cerveja como premium por causa de seu rótulo (importado ou não).
Muitas vezes são cervejas repletas de aditivos, como as cervejas nacionais comuns”, explica o dono da primeira cervejaria-escola do pais.

Dentro desse conceito, Cavalcantti pro move a fabricação de cervejas artesanais, feitas por cervejeiros ou mesmo por seus alunos, que acompanham o processo de fabricação de ma neira artesanal em cursos que ele promove para quem almeja adentrar no mundo da cevada.
“Se há o cervejeiro, temos um produto de qualidade, que pode ou não agradar todas as pes soas, mas procuramos fazer uma bebida de persona lidade, com a alma do produtor”, comenta.
Ao dizer que “grandes empresas podem fabricar produtos artesanais, desde que o cer vejeiro trabalhe efetivamente” e que “estamos retomando o gosto pelas coisas feitas por nós mesmos, com carinho”, Cavalcantti ressalta o gosto por cervejas feitas de forma minuciosa, quase como uma grande equação.
O fato é que o consumidor ganha mais uma opção em seu cardápio, e que tem um gi gantesco universo para explorar da forma como preferir. Aproveite a vida, aproveite a cerveja!
Os três tipos
LAGERS
Cervejas de baixa fermentação. Normalmente são douradas e filtradas, mas também temos as variações escuras. Exemplo: pilsen - cerveja clara, filtrada, leve amargor, original da cidade de Pilsen.
ALES
Cervejas de alta fermentação. Geralmente possuem maior corpo e paladar frutado. Exemplos: weizenbier, weissbier ou weisse. Cervejas de trigo, ge ralmente não filtradas.
LAMBICS
Cervejas de fermentação espontânea. São bem distintas. Lembram a sensação de estar bebendo um vinho espumante.
Exemplo: kriek - cerveja lambic com adição de cerejas durante o período de maturação em barrica.
O seu estilo
de carro
Um veículo mal
escolhido pode trazer
prejuízos para o consumidor
Carros têm relação direta com a perso nalidade dos
Na hora de comprar um carro, existem diversos fatores a serem analisados, começando pelo perfil do comprador e a principal finalidade que ele quer dar para o automóvel. Podemos colocar a carroce ria como principal item a ser escolhido, pois esta é a estrutura que o envolve e define a sua forma que pode ser curta, comprida, quadrada ou arredondada. Em segundo lugar, a compra do veículo vai depender do valor que o cliente está disposto a pagar, pois os preços variam bastante de acordo com o tipo de automóvel, e no mercado podem ser encontradas classifica ções bem específicas para cada finalidade.

As classificações do carro começam em hatch compacto, que são os modelos mais simples e variam entre duas e quatro portas, com motor 1.0 até os modelos de utilitário esporti vo, importados, picapes e peruas que vêm com amplo espaço interno, motores mais potentes e tecnologia de ponta.
O engenheiro mecatrônico Arthur Nas rala afirma que o item mais relevante vai depen der do consumidor, pois se for uma pessoa que viaja bastante o importante vai ser a potência e o conforto. Se for para trabalho, será o tamanho e por ai vai. “Se o consumidor pretende comprar um modelo que o agrade, sem apertar o bolso, é um pouco mais complicado, porque no Brasil os preços são abusivos se comparados com outros países. Dessa maneira, comprar um carro sem dor de cabeça, independe do modelo, é privilégio de uma parcela bem pequena da população brasilei ra”, conta Nasrala.
Para as pessoas que se preocupam com o meio ambiente ao escolher um modelo de auto móvel, o engenheiro explica que esse fator ainda não é levado muito em consideração. “Muitos preferem o carro flex, não pelo fato de utilizar uma energia renovável, mas sim por ser mais barato. Porém, os carros híbridos ou totalmente elé tricos estão chegando. Vamos torcer para que no
futuro isso seja um ponto mais relevante, mas o desenvolvimento da tecnologia será dada aos carros na medida do possível. Posso garantir que carros elétricos com capacidade de rodar muitos quilômetros com uma carga de bateria e modelos autodirigíveis não fazem mais parte apenas de filmes de ficção.”, finaliza. Contudo, a escolha do veículo leva em conta também o estilo e a opinião pública. “Tudo depende da personalidade do comprador. Afinal, o carro é a primeira impressão que se tem do dono”, diz Fernando Machado, vendedor de automóveis. Machado afirma ainda que os carros é quem escolhem seus donos, pois seu design, motor e valor, entre outros fatores, é o que traduz quem o comprou. “Os modelos de carro são definidos pela sociedade e acabam ganhando rótulos. Alguns se tornam femininos pelo seu estilo. Outros agregam poder pelo seu valor de mercado. Dessa maneira, o comprador já chega à loja com algumas opções em mente.”, diz.
O consumidor
O estudante Gustavo Gama, de 18 anos, adquiriu seu primeiro carro há um mês, e optou por um Fiesta usado modelo 2012. “Bom, o carro era da minha cunhada, e como meu pai procurava por um veículo para mim, decidimos fazer uma proposta a ela, dando um valor de entrada e financiado o restante.
O carro estava em ótimas condições, com quilometragem baixa e, apesar do carro estar um pouco acima do valor da tabela, valeu a pena comprar, pois sabíamos os cuidados que a pessoa tomava com o automóvel”, relata o estudante.
Em contraponto, Nei Carvalho, de 48 anos, optou por uma Land Rover por causa do conforto e segurança, pois essas características sempre foram a base para a escolha de seus carros. “A altura do carro era o que eu mais procurava, gosto e com certeza a compra me deixou satisfeito”, conclui.
fotos: Reprodução

Os amadores do futebol
Associação Esportiva Montreal é um clube de futebol amador com veteranos de 40 a 50 anos, que têm seus recursos pró prios e privilegia a paixão pelo esporte praticado com os pés.
Por Alessandro PinheiroPara muitos o futebol é grife, status, di nheiro. As competições mais importan tes, seja no Brasil ou no resto do mun do, são televisionadas e, por trás daquele jogo, temos muito envolvido: pressão, marketing e dinheiro. Porém, não é só isso. Há também o outro lado da moeda: o futebol amador. E, em Curitiba, o amadorismo é visto com respeito. Exemplo disso é o trabalho que esta sendo realizado pelo time amador do bairro Xaxim, a Associação Esportiva Montreal, que não é um time qualquer. Como alguns dos atletas mesmo disseram, eles são uma família.
Ao som das músicas do cantor Leonardo, os jogadores do Montreal aquecem para mais um jogo em sua história, que teve início em 1985. O jogo é da categoria de veteranos, que não disputam campeonatos tradicionais da cidade, como a suburbana, por exemplo. “Nós não esperamos disputar a Suburbana. Estamos aqui por diversão, os ‘velhinhos’ dão exemplo. Tem gente com 40, 50 anos jogando. Enquan to muita molecada anda fazendo o que não deve”, relatou o goleiro Paulo Roberto, de 48 anos, que há 20 anos era jogador profissional, com passagens por Paraná e Atlético-PR.
Os uniformes são ganhos nas disputas da Copa Kaiser, uma competição de futebol ama dor, que fornece os trajes. Os craques vestem as cores azul e branco e, após o aquecimento, entram em campo com o apoio de suas espo sas e filhos.
Luciano Andreatta, presidente da Associação e ideali zador do projeto, é, durante a partida, técnico, roupeiro e massagista. Os recursos finan ceiros são mínimos, mas os próprios jogadores e diretores do time contribuem. “Nós pagamos as des pesas de campo, inscrições de campeonatos e ainda temos três patrocinadores que também ajudam. Nunca sobra, nunca dá lucro”, co mentou Andreatta.
O gramado não é padrão Fifa – argumento que vem sendo usado constantemente no fu tebol nacional após as exigências da Federação com as novas arenas para a Copa do Mundo –mas para estes atletas que disputam o torneio da regional Bairro Novo, isso não é verdade. “Nós jogamos nesse gramado como se fosse uma arena e disputamos o jogo com a determinação que espero do Brasil na Copa”, disse o meia Baiano ex-profissional com passagem pelo Vitória, da Bahia.
Depois da prece e do grito de guerra, a partida começa. Os jogadores apresentam relativa qualidade técnica, mas a principal característica é a forma dedicada com que eles disputam cada espaço. O tempo vai passando, o gol demora a sair. Técnico, jogadores e torce dores começam a ficar tensos. Porém, Baiano, numa cobrança de falta, abre o marcador para o Montreal. A cada minuto que passa, mais o jogo fica disputado. Mas a vitória é confirma da, para a festa dos jogadores. Depois do banho, os atletas vão para o salão do restaurante e começam a tomar a sua cerveja e comer alguns aperitivos. Música, dança e baralho encerram a tarde deste time amador. “Estamos aqui para nos divertir, isso é o que importa”, diz Paulo Roberto.
Associação Es portiva Montreal disputa campeo natos da catego ria de veteranos.

“Estamos aqui para nos divertir, isso é o que importa.” -Paulo Roberto, goleiro.
O mal terrível
O mundo do esporte vem testemunhando, com frequência, casos de discriminação racial, que vêm ganhando grande atenção de imprensa internacional
As agressões racistas mais recorrentes têm sido no futebol. O caso mais recente que ganhou uma grande repercussão foi do volante Tinga, do Cruzeiro, que foi hostilizado por torcedores da equipe Real Garcilaso, em partida válida pela Copa Bridgestone Libertadores, no último dia 12 de fevereiro, na cidade de Huancayo, no Peru. Visivelmente entristecido e inconformado com a situação, o jogador disse logo após a partida que trocaria todos os seus títulos conquistados na carreira por um mundo sem preconceitos e igual para todas as raças e classes.

O jogador das categorias de base do Nova Iguaçu (RJ) Leonardo Oliveira, que já teve passagem no futebol português, contou que sofreu com atos racistas mais de uma vez. “O agressor tenta colocar a sua autoestima lá em baixo quando pratica o ato racista. A principal intenção é tentar abalar o seu estado psicológi co durante uma partida. Por ser negro, já sofri muitas vezes com isso, tanto no Brasil como em Portugal. Hoje tento colocar em minha
cabeça para não ligar para isso e seguir em frente, mas ao mesmo tempo penso que isso não pode continuar assim. Eu preciso reagir para que isso um dia mude”, disse Leonardo. Segundo o professor de futebol Diego Gui marães, “a discriminação racial no futebol é um grave retrocesso que precisa ser erradica do, para que a violência que atinja o esporte não fuja do controle e degrade uma área na qual o Brasil é um exemplo incomparável no mundo todo. Problemas de racismo no esporte têm se propagado até a Europa, manifestados por grupos reacionários que não apresentam sincronia com a prática desportiva. O esporte, antes mesmo de ser um campo de disputas e
todos os meus títulos conquistados na carreira por um mundo sem preconceitos.”
Tinga, jogador do Cruzeiro.
títulos, é, por sua natureza, um espaço para confraternização e solidariedade entre pessoas e povos, independentemente de suas origens. ” Não é só no mundo do futebol que esse ato covarde acaba manchando o esporte. O brasileiro Julio Silva, jogador de tênis, sofreu ofensas racistas do também jogador de tênis, o austríaco, Daniel Koellerer. Durante a partida Challenger de Reggio Emilia, na Itália, Koel lerer teria dito, em alemão, “volta à floresta, macaco” e feitos gestos imitando o animal.
São inúmeros casos de racismo no mundo todo, independentemente do esporte, que devem ser repreendidos. Assim como as leis são rígidas em casos de racismo, é importante uma resposta igualmente vigorosa das entidades que comandam os esportes. As próprias torcidas, aliás, não deveriam tolerar esse tipo de atitu de entre seus pares. Somente com educação, respeito e a aplicação estrita da lei em casos de racismo podem evitar que esse câncer conta mine o mundo dos esportes.

“Trocaria